A diminuição de casos registrados em vários países europeus é uma indicação de que o surto de varíola do macaco (monkeypox) pode estar diminuindo no continente, disse nesta terça-feira (30) o escritório regional da OMS (Organização Mundial da Saúde), que pediu mais esforços para eliminar a transmissão.
"Há sinais iniciais esperançosos, como foi visto na França, Alemanha, Portugal, Espanha, Reino Unido e outros países, de que o surto pode estar diminuindo", disse o diretor da OMS-Europa, Hans Kluge, em entrevista coletiva. Kluge estava convencido de que é possível eliminar a transmissão de humano para humano "se nos comprometermos a fazê-lo e colocarmos os recursos necessários para esse fim".
Dado que o surto surgiu entre homens que fazem sexo com homens e continua predominante nesse grupo, os esforços de prevenção e resposta devem ser focados lá, “com colaboração ativa e participação da comunidade, criando um ambiente livre de estigma e discriminação”.
A região europeia da OMS registrou até agora 22 mil casos nos 43 países que a compõem — e que incluem a Rússia e várias ex-repúblicas soviéticas —, o que representa mais de um terço do global.
"Estamos começando a ver uma queda nos casos, mas precisamos ser cautelosos, aproveitar o momento e agir rapidamente", disse a gerente de emergência do escritório regional, Catherine Smallwood.
Smallwood apontou a detecção precoce de casos e mudanças comportamentais como prováveis causas do declínio.
Uma nova vacina contra a Covid-19 desenvolvida no Brasil pode começar a ser testada em humanos ainda este ano.
O imunizante apresentou bons resultados nos estudos com animais, que foram divulgados este mês na revista Nature Communications. Os cientistas já receberam autorização da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) para dar início ao ensaio clínico e aguardam, agora, o sinal verde da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“Já entregamos à Anvisa toda a documentação necessária. A expectativa é que a resposta saia nas próximas semanas. Estamos prontos para começar”, conta à Agência FAPESP Ricardo Tostes Gazzinelli, coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisador sênior da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Para desenvolver a formulação vacinal, o grupo coordenado por Gazzinelli fundiu duas diferentes proteínas do SARS-CoV-2: a N (do nucleocapsídeo, estrutura que abriga o material genético do vírus) e uma porção da S (espícula ou Spike) usada pelo patógeno para se ligar e invadir a célula humana. A molécula quimérica resultante recebeu o nome de SpiN. A estratégia teve o objetivo de induzir no organismo a chamada resposta imune celular, ou seja, a produção de células de defesa (linfócitos T) especializadas em reconhecer e matar o novo coronavírus.
Em tese, esse tipo de proteção permaneceria eficaz mesmo diante do surgimento de novas variantes.
“As vacinas para Covid-19 atualmente em uso têm como objetivo principal induzir a produção de anticorpos neutralizantes contra a proteína S, que impedem o vírus de infectar as células humanas. Essa é a chamada resposta imune humoral. Mas, à medida que foram surgindo variantes com muitas mutações na proteína S, os anticorpos foram perdendo a capacidade de reconhecer esse antígeno. Já a proteína N se manteve mais conservada nas novas cepas”, explica a doutoranda Julia Castro, que conduziu os ensaios pré-clínicos sob a orientação de Gazzinelli.
Como explica o pesquisador, que também é professor visitante da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), a vacina baseada na proteína quimérica SpiN não induz, por si só, a produção de anticorpos neutralizantes.
No entanto, se usada como dose de reforço, pode estimular tanto a imunidade humoral gerada por vacinação prévia quanto a imunidade celular, conferindo uma dupla proteção. Testes de desafio
Os experimentos com animais foram feitos em um laboratório com alto nível de biossegurança instalado na FMRP-USP, graças a uma colaboração com os professores João Santana da Silva e Luiz Tadeu Figueiredo.
O trabalho contou com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A pesquisa também recebeu recursos da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), da Prefeitura de Belo Horizonte e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Em uma primeira etapa, a eficácia vacinal foi testada em camundongos geneticamente modificados para expressar a proteína humana ACE2, à qual o vírus se conecta (via proteína S) para infectar a célula hospedeira. Esse modelo mimetiza a forma grave da Covid-19.
Parte dos animais recebeu duas doses do imunizante, com intervalo de 21 dias, enquanto os demais receberam apenas placebo. Um mês depois, os roedores foram expostos a uma alta carga viral por via intranasal.
Diferentes experimentos foram feitos para testar a proteção da vacina contra a cepa selvagem dos SARS-CoV-2 (isolada na China em 2019), contra a variante delta (Índia, 2020) e contra a ômicron (África do Sul, 2021).
“No grupo que recebeu placebo, 100% dos animais infectados com a cepa de Wuhan [China] ou com a delta morreram. Já os camundongos expostos à ômicron não evoluíram para óbito, mas desenvolveram uma patologia significativa no pulmão. No grupo dos imunizados, todos os animais sobreviveram às três cepas e o tecido pulmonar estava muito mais preservado. Além disso, observamos uma redução na carga viral que variou entre 50 e 100 vezes”, conta Castro.
O passo seguinte foi testar a vacina em um modelo de doença moderada. Para isso, foram usados hamsters, que são naturalmente infectados pelo vírus, mas de forma não muito eficiente.
Os animais receberam duas doses do imunizante e, após um mês, foram expostos à cepa de Wuhan ou à Delta.
Em comparação ao grupo-controle (que recebeu apenas placebo), os vacinados tinham uma carga viral aproximadamente dez vezes menor e menos sinais de dano pulmonar. Estabilidade e segurança
No Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG foi criada uma plataforma para produzir a proteína quimérica SpiN em culturas de bactérias geneticamente modificadas.
Lá também foram feitos os testes de pureza – para garantir que não há contaminantes na formulação – e de estabilidade, que visam descobrir a durabilidade do imunizante em diferentes temperaturas.
“Os resultados indicam que a vacina se mantém viável por até duas semanas quando armazenada em temperatura ambiente. Se mantida a 4°C, porém, ela dura ao menos seis meses”, conta Gazzinelli.
Ainda segundo o pesquisador, a segurança e a toxicidade do imunizante foram testadas em experimentos com ratos.
“Já temos o lote clínico e concluímos todos os testes necessários para obter a aprovação na Anvisa. Por isso temos a esperança de começar o ensaio clínico em meados de setembro”, diz.
Os testes de fase 1 e 2 – para avaliar a segurança em humanos e a capacidade de induzir a resposta imune – serão feitos na Faculdade de Medicina da UFMG, sob a coordenação dos professores Helton Santiago e Jorge Pinto.
A proposta é imunizar indivíduos previamente vacinados contra a Covid-19 (que tenham recebido qualquer um dos imunizantes disponíveis no Brasil há no mínimo seis meses).
“Será uma dose de reforço. Os voluntários do grupo-controle vão receber a vacina da AstraZeneca. Depois vamos comparar a produção de anticorpos neutralizantes, anticorpos totais contra o SARS-CoV-2 e a resposta de linfócitos T. A expectativa é que a nossa formulação induza uma resposta celular ainda mais forte”, adianta Gazzinelli.
O artigo Promotion of neutralizing antibody-independent immunity to wild-type and SARS-CoV-2 variants of concern using an RBD-Nucleocapsid fusion protein pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41467-022-32547-y.
Agência Fapesp
Foto: National Reprodução/Institute of Allergy and Infectious Diseases
Dados da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, de 2021, mostram que o percentual de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1%, sendo 11,8% entre homens e 6,7% entre mulheres.
Desde 2006, o número de fumantes vem caindo. Naquele ano, mais de 15% da população tinha o vício em nicotina, a principal substância nos cigarros que causa dependência química. Parar de fumar não é fácil e está ligado ao reconhecimento de que se trata de uma doença e ao nível de dependência química de cada um. Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, explica que o primeiro passo é entender o que é a dependência química.
"Dependência é todo conjunto de alterações do comportamento da cognição e das sensações do indivíduo trazidos pela necessidade do uso repetitivo de uma determinada substância ou da repetição de um determinado ato", conta o médico. Ele detalha também as sensações causadas pela dependência. "Tradicionalmente vemos dois fenômenos muito bem descritos. Um deles é a tolerância, que é a necessidade de doses gradualmente maiores daquela substância. E o segundo a síndrome de abstinência, caracterizada pelo conjunto de sinais desconfortáveis para o paciente se ele diminui ou para de usar a substância."
Nesta segunda-feira (29), Dia Nacional de Combate ao Fumo, saber qual é o nível de dependência que você tem em relação ao cigarro pode ser o primeiro passo para abandonar o vício.
Para medir esse nível, existe um teste simples chamado Teste de Fagerström. A pessoa precisa responder a seis perguntas, e o nível será mostrado com base na pontuação.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz disponibiliza o teste em seu site (clique aqui para fazê-lo), e os resultados podem ser dependência muito baixa, baixa, média, elevada e muito elevada.
"Essa ferramenta é interessante porque pacientes com dependência elevada podem apresentar uma dificuldade maior de parar de fumar ou um risco maior de recaídas, que no longo prazo poderia estar associado a menores taxas de sucesso nesse processo de abandono do consumo de tabaco", afirma Prado.
Com os dados em mãos, o profissional de saúde também pode determinar de forma mais assertiva o apoio aos pacientes e o tratamento deles, valendo-se de recursos medicamentosos e não apenas de medidas não farmacológicas. Dicas de como parar de fumar
Abandonar o cigarro não é tarefa fácil, e o pneumologista ressalta que no meio do processo as recaídas são normais e não representam o fracasso do trabalho.
"Quando tratamos dependência, precisamos nos preparar para abordar o lapso e a recaída e preparar o paciente para entender que são fenômenos frequentes e não devem ser encarados com uma carga de culpa ou de falência daquele esforço, ou de incapacidade do indivíduo. A imensa maioria dos ex-fumantes tem de três a quatro tentativas antes de obter sucesso", afirma Prado.
O médico passa algumas dicas, que podem ser vistas como um caminho para quem efetivamente quer parar com o vício.
Dormir menos de oito horas por noite aumenta a possibilidade de um adolescente desenvolver problemas relacionados a sobrepeso e obesidade, segundo um estudo realizado no Centro Nacional de Pesquisa Cardiovascular da Espanha.
Pesquisadores analisaram a associação entre duração do sono e saúde de 1.229 adolescentes com idade média de 12 anos. O sono dos pacientes foi medido durante sete dias por meio de um rastreador de atividade vestível. De acordo com os resultados, os adolescentes foram categorizados como dormidores muito curtos, aqueles que dormem menos de sete horas por noite; dormidores curtos, os que dormem de sete a oito horas; e ótimos, que dormem mais de oito horas.
Os pesquisadores destacaram que, segundo a Academia Americana de Medicina do Sono, o recomendado é que crianças de 6 a 12 anos durmam de nove a 12 horas por noite e adolescentes com idade entre 13 e 18 tenham de oito a dez horas de sono. Os resultados revelaram que apenas 34% dos participantes com 12 anos dormiam uma média de oito horas por noite. Entre os adolescentes com 14 a 16 anos, o percentual dos que tinham uma rotina saudável de sono foi ainda menor, de 23% e 19%, respectivamente. Em relação ao gênero, o estudo mostrou que os meninos tendem a dormir menos nessa fase da vida.
“Atualmente, estamos investigando se os maus hábitos de sono estão relacionados ao tempo excessivo de tela, o que pode explicar por que os adolescentes mais velhos dormem ainda menos do que os mais jovens”, afirmou Jesús Martínez Gómez, pesquisador em treinamento no Laboratório de Saúde e Imagem Cardiovascular.
O reflexo da má qualidade do sono foi sentido diretamente na composição corporal dos adolescentes, de acordo com o IMC (índice de massa corporal): entre o grupo de 12 anos, pelo menos 27% estavam com sobrepeso ou obesidade; 24% na faixa etária de 14 anos; e 21% na de 16 anos.
Além disso, a pesquisa mostrou que os participantes com número de horas de sono abaixo do tempo considerado saudável foram 19% e 29% mais propensos a ter sobrepeso e obesidade.
Gómez também destacou que as conexões entre sono insuficiente e saúde se deram independentemente da ingestão de energia e níveis de atividade física praticada pelos adolescentes, o que evidenciou a importância do sono de qualidade para um bom funcionamento do organismo.
“O excesso de peso e a síndrome metabólica estão, em última análise, associados às doenças cardiovasculares, o que sugere que os programas de promoção da saúde nas escolas devem ensinar bons hábitos de sono. Os pais podem dar bom exemplo tendo um período para dormir consistente e limitando o tempo de tela à noite. Políticas públicas também são necessárias para enfrentar esse problema de saúde global”, afirmou o pesquisador.