O governo do Piauí entrou com um protocolo junto à Polícia Federal, em que pede autorização para iniciar o plantio do Cannabis Sativa, a maconha, para fins medicinais e produzir o canabidiol. O Piauí pode se tornar o primeiro estado brasileiro a cultivar a planta. A substância corresponde a 40% do extrato da Cannabis e, segundo estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, pode ser eficaz no tratamento de algumas doenças neurológicas.
Aqui no Piauí, as pesquisas sobre o uso do canabidiol são conduzidas pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi), em parceria com a Universidade Federal do Piauí (Ufpi) e o Centro Integrado de Reabilitação (Ceir). Para fomentar os estudos, o Governo destinou o montante de R$ 1 milhão. O medicamento deverá ser produzido pelo laboratório de farmácia da Ufpi e o teste de qualidade será conduzido pela Uespi. Já o Ceir deve ficar responsável pela aplicação nos pacientes e acompanhamento dos resultados, foi o que informou o Governo do Estado por meio de sua assessoria.
As discussões sobre a produção de canabidiol no Piauí são feitas desde o começo deste ano, quando o Governo assinou um decreto autorizando a abertura para as pesquisas da natureza. Em 2016, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza a prescrição de medicamentos a base de canabidiol. Dois anos antes, em 2014, o Conselho Federal de Medicina já havia autorizado o uso da substância extraída da maconha no tratamento de crianças e adolescentes que sofriam com epilepsia e convulsões, e que apresentassem resistências aos tratamentos convencionais.
Atualmente, a importação da substância para tratamentos médicos é autorizada pela Anvisa, no entanto o paciente precisa ter em mãos a consulta médica e a prescrição e ser cadastrado na junto à agência. Só então a Anvisa analisa o pedido e autoriza a importação, que é feita pelo próprio órgão após fiscalização.
Acredito que todos os geriatras já tenham lido a respeito dos efeitos terapêuticos (positivos ou negativos) da relação do médico com o paciente idoso. Infelizmente, aqueles em situação vulnerável, do ponto de vista social e econômico, e que mais necessitam desse apoio, são os que se veem às voltas com um sistema público de saúde deteriorado – mas mesmo os que dispõem de recursos nem sempre conseguem construir um relacionamento de qualidade. A velhice traz perdas em várias frentes: o ambiente de trabalho deixa de ser uma referência e um local para fazer amizades; o papel de destaque na família passa para uma nova geração; cônjuges e amigos se vão. Essa é uma porta para a depressão, que vai se somar a doenças crônicas que devem ser controladas para garantir a independência da pessoa. Diante de tantos desafios, o relacionamento com o médico se torna, como foi comprovado em inúmeros estudos, importante fonte de apoio e encorajamento, o que vai muito além do tratamento convencional de enfermidades.
Uma boa comunicação é o primeiro passo para essa relação funcionar, mas estudos mostram que isso não se resume a dar um diagnóstico, descrever o tratamento e prescrever a medicação. Na verdade, quando se trata de um indivíduo com doença crônica, é fundamental que ele seja parte ativa do processo, mas como garantir sua adesão se não há um laço de empatia e confiança com o profissional de saúde? Um estilo formal e distante certamente não ajuda, assim como o tom paternalista de tratar o idoso como uma criança. Com o aumento da expectativa de vida da população, teremos um contigente crescente de “novos velhos” que demandarão um outro padrão de relacionamento, cujo foco será o próprio paciente. Parece óbvio, mas não é: pesquisas realizadas nos EUA indicaram que os médicos davam menos informações a afrodescendentes; e que, no caso de um diagnóstico de câncer, os mais jovens recebiam dados precisos, enquanto os mais velhos ouviam explicações vagas e genéricas.
Seu médico é receptivo ao que você diz? A sua fala é ouvida com atenção e levada em consideração? Outra pesquisa norte-americana mostrou que, em média, os médicos interrompiam seus pacientes 23 segundos depois de eles terem começado a falar. Não são apenas os aspectos físicos, mas também os psicológicos e emocionais que devem ser discutidos no consultório, porque são informações pertinentes e com relação direta com o tratamento. E o que dizer das explícitas demonstrações de contrariedade quando os pacientes pesquisam na internet? Alguns chegam a considerar um insulto que a pessoa recorra ao “doutor Google”, mas não deveriam reagir dessa forma. Quem navega em busca de respostas está ansioso e precisa de um ambiente acolhedor para tirar dúvidas e aplacar temores. Aliás, esta pode ser uma boa oportunidade para mostrar que sites são confiáveis e quais devem ser descartados.
O “desafio do balde de gelo“, que viralizou em 2014, é um exemplo de que a generosidade pode ser contagiosa. A campanha, que contou com a participação de celebridades e anônimos ao redor do mundo, buscava incentivar doações para pesquisas sobre esclerose lateral amiotrófica (ELA). Como consequência, a onda de boas ações contribuiu para descobertas científicas importantes.
O pesquisador Jamil Zaki, professor da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, tentou responder, através de estudos, como as boas ações se disseminam pela sociedade. “Fundamentalmente, somos uma espécie social. As pessoas são muito motivadas a serem parte de um grupo e compartilhar um senso de identidade. Uma forma de fazer isso é imitando comportamentos, opiniões e emoções”, explicou à BBC.
Segundo ele, a melhor forma de compreender esta questão é avaliá-las sobre a ótica da conformidade, explicada pela tendência de alinhar atitudes e crenças às das pessoas ao redor.
Conformidade
O conceito de conformidade pode ser considerado negativo para muitas pessoas. Estudos prévios constataram que a pressão social é capaz de induzir indivíduos a adotarem comportamentos nocivos ou duvidarem do próprio julgamento. No entanto, Zakir preferiu abordar a conformidade por outro ângulo, analisando comportamentos positivos.
Durante experimentos, o pesquisador percebeu que doações generosas incentivaram um maior número de participantes do que contribuições menores. Os resultados, publicados pela revista Personality and Social Psychology, revelaram ainda que a generosidade não era apenas uma réplica de boas ações alheias; na verdade, elas influenciaram os participantes a serem mais solidários e empáticos diante de situações adversas.
Outro estudo, publicado em 2010 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), mapeou o modo como atos de cooperação podem se multiplicar pela sociedade. Pesquisadores das Universidades Harvard e Universidade da Califórnia, ambas nos Estados Unidos, apontaram que pessoas beneficiadas por doações durante um jogo estenderam a generosidade a outros participantes, que por sua vez, favoreceram um terceiro grupo. A descoberta mostra que uma gentileza inicial pode atingir até três graus de separação em relação ao primeiro benfeitor.
Nem tudo é generosidade
De acordo com Martin Nowak, professor de Harvard, essa cooperação não é totalmente desinteressada: trata-se de uma estratégia evolutiva. A cooperação – seja entre humanos, insetos ou células – quase sempre acontece mediante a expectativa de se obter algo em troca, mesmo que no futuro. Para ele, existem cinco mecanismos que explicam por que um indivíduo decide colaborar com outro:
Reciprocidade direta: eu te ajudo e você me ajuda;
Reciprocidade indireta: diante da ajuda oferecida, o indivíduo generoso ganha uma boa reputação e recebe auxílio de um terceiro;
Reciprocidade espacial: ajudar as pessoas para aumentar as chances de ser ajudado;
Seleção de grupos: grupos de “cooperadores” se dão melhor do que grupos de “egoístas”;
Seleção por parentesco: eu ajudo meus familiares porque tenho mais chances de compartilhar genes com eles e quero disseminar esses genes pela população.
“A cooperação – além da competição – está envolvida sempre que a evolução constrói algo novo, algo diferente. Por isso, eu tenho chamado a cooperação de ‘arquiteta mestre’ do processo evolutivo”, explicou Nowak.
Comunique-se
Apesar das vantagens evolutivas de adotar uma atitude cooperativa, em muitas situações da vida real as pessoas não estão dispostas a ajudar o próximo. Dependendo das circunstâncias, atitudes egoístas podem se espalhar pela sociedade, indicando que, assim como a generosidade, atos de indiferença também são contagiosos. Para Martin Nowak, apenas quando há mecanismos suficientemente fortes, a gentileza consegue se espalhar. Caso contrário, a cooperação vai perder e a indiferença ganhará.
Ele ainda afirma que a comunicação é um dos ingredientes essenciais para garantir a multiplicação de boas ações. Por isso, a divulgação de atos de generosidade podem ser fundamentais para disseminar a generosidade, como é o caso do ‘desafio do balde de gelo’. “A ideia é que a reputação do indivíduo que colaborou seja conhecida. É importante disseminar informações sobre as decisões que os indivíduos tomaram em termos de cooperação”, comentou.
Um estudo brasileiro com uma nova molécula sintetizada pode fazer com que seja desenvolvido em alguns anos um novo medicamento contra a malária no país.
Embora o medicamento ainda não tenha sido produzido, os resultados dos estudos com essa molécula, até o momento, estão sendo positivos. “Tem um grande potencial para, quem sabe, no futuro, termos um novo medicamento para a malária”, disse o professor Rafael Victorio Carvalho Guido, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Agência Brasil.
Os testes desenvolvidos mostram que a molécula é capaz de matar o parasita, e até mesmo a cepa, que vem sendo resistente aos medicamentos atuais usados no tratamento contra a malária.
O estudo é resultado de uma colaboração. Além de Rafael Guido, participam da pesquisa os professores Célia Garcia. da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USD), Glaucius Oliva, da USP de São Carlos, e Carlos Roque Duarte Correia, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre outros colaboradores.
A molécula
A pesquisa tem demonstrado que a molécula, derivada da classe das marinoquinolinas, tem apresentado seletividade e baixa toxicidade, atuando no parasita [o protozoário causador da malária] e não em outras células do hospedeiro. Ela foi desenvolvida no Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiado pela Fapesp. O estudo também recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Serrapilheira.
“Há alguns anos, o professor Roque já trabalha com uma classe de moléculas, produtos naturais marinhos, de bactérias marinhas, chamada de marinoquinolinas, e já havia sido publicado um trabalho, há algum tempo, sobre a atividade anti-infecciosa dessas moléculas”, explicou Guido.
No entanto, os produtos naturais apresentavam ação moderada ou fraca contra os patógenos. Mas, para esse estudo, a potência das moléculas foi aumentada. O objetivo inicial foi aumentar a potência das moléculas porque elas eram fracas.
"Precisamos de uma molécula que seja potente para matar o parasita e para poder ser um candidato. E conseguimos, finalmente, uma molécula que fosse bastante potente, de baixa concentração, ou seja, uma pequena quantidade dela que fosse capaz de matar o parasita”, disse Guido. “E, mais importante do que isso, a gente conseguiu fazer com que a molécula fosse seletiva, que matasse o parasita sem matar células ou serem tóxicas para células humanas”, acrescentou.
Durante o estudo, os pesquisadores começaram a observar que, além disso, essa molécula também tinha outra vantagem: ela agia em mais de uma forma do parasita. “Conseguimos ver que essa molécula não só matava essa forma [de parasita] que estava no sangue, como matava também a forma que estava no fígado”,disse o professor.
A molécula tem conseguido, ainda, matar cepas resistentes aos principais medicamentos. Atualmente, o medicamento mais usado no tratamento da malária é a artemisina, que, embora seja eficaz, já está com os anos contados. “Embora a gente tenha tratamento para essa doença, e ele é eficaz, já temos começado a observar o surgimento de cepas resistentes a esse medicamento”, explicou Guido.
Foi então que os pesquisadores descobriram outra vantagem da molécula. “Conseguimos ver que a malária, por ser um parasita que já está aqui há bastante tempo, consegue gerar resistência aos medicamentos atualmente em uso. Por isso, precisamos de novos tratamentos. Então, testamos contra cepas resistentes do parasita, aquelas que não são mais sensíveis ao medicamento. E conseguimos mostrar que essa molécula também conseguia matar esses parasitas resistentes.”
Desse modo, ressaltou Guido, há uma molécula potente para matar o parasita, que matava o resistente e era bastante seletiva.
Testes
Até agora, os estudos foram feitos em laboratório e testados também em camundongos afetados pela malária. Os estudos têm se concentrado na malária causada pelo protozoário Plasmodium falciparum. “O grupo não tratado [de camundongos doentes] morria por volta dos 15 ou 20 dias. E os camundongos que foram tratados sobreviveram durante os 30 dias de experiência, mostrando que a molécula era bastante tolerada pelo organismo e não chegou a ser tóxica. E o grupo tratado, além de ter sobrevivido durante esse período de estudo, tinha redução da carga de parasita no sangue”, destacou o professor, ao falar sobre o resultado dos testes em animais.
Ainda são necessárias várias etapas – e anos de estudo e de testes – para que o medicamento seja testado em humanos e produzido. Os estudos, até agora, foram desenvolvidos com a forma mais letal da malária e ainda é preciso avaliar com outras formas do protozoário, como o Plasmodium vivax, mais prevalente no Brasil. “Não publicamos esses resultados ainda, mas conseguimos ver que essa molécula consegue matar o vivax também.”
De acordo com Guido, outra etapa necessária é desenvolver a parte farmacocinética do projeto – a reação do organismo ao medicamento, ou seja, melhorar as características desta molécula para que ela possa ser administrada via oral. “Ela tem que entrar no nosso organismo, ser absorvida pelo intestino e ser distribuída - porque o parasita está em toda a corrente sanguínea, ser metabolizada, eliminada, excretada. Estamos melhorando essas características das moléculas.”
“Se conseguir isso, aí se teria um candidato pré-clínico e só então chegaríamos aos estudos clínicos”, acrescentou o professor. Ele lembrrou, porém, que todos esses processos e etapas ainda podem fazer com que sejam necessários entre 10 ou 15 anos até que o medicamento seja produzido.
A malária
A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles. Segundo o Ministério da Saúde, qualquer pessoa pode contrair malária, mas a cura é possível se a doença for tratada em tempo oportuno e de forma adequada. Contudo, a malária pode evoluir para forma grave e para óbito.
Os sintomas geralmente associados à malária são febre alta, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça, que podem ocorrer de forma cíclica. Muitas pessoas sentem náuseas, vômitos, cansaço e falta de apetite.
A doença mata, atualmente, cerca de 445 mil pessoas a cada ano, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Dividindo esse número pelo de minutos no ano, percebemos a razão de [quase] uma morte [por malária] a cada minuto”, destacou Guido. A malária é a parasitose que mais mata no mundo. “Se não fizermos nada hoje, daqui a alguns anos vai matar muito mais”, acrescentou.
A maior parte das mortes ocorre na África, e a maioria é de crianças. De acordo com o professor, entre as pessoas que morrem, 75% são crianças. “Então, esse estudo tem um impacto social imenso”, afirmou.