A Universidade de Stanford, na Califórnia, mantém há dez anos um centro dedicado à longevidade. Em 2010, a instituição reuniu um grupo de pesquisadores para discutir os riscos do sedentarismo. Já naquela época, o consenso não foi difícil: independentemente da falta de exercício, o fato de permanecer horas sentado representava um risco concreto à saúde. Em maio deste ano, o Baker Institute, uma entidade australiana, e a University of Minnesota reuniram parte daquele mesmo grupo de cientistas para um encontro com o objetivo de revisar as informações disponíveis. Há duas semanas, Stanford divulgou os principais pontos discutidos, reconhecendo que o comportamento sedentário é um desafio contemporâneo.
Do ponto de vista fisiológico, se avançou muito no que diz respeito ao mapeamento dos efeitos nocivos de se ficar sentado. Na verdade, há uma espécie de reação em cadeia provocada pelo sedentarismo que conduz ao risco aumentado para doenças crônicas, como diabetes, demências, acidentes vasculares encefálicos (popularmente conhecidos como AVCs), além de doença arterial periférica e renal. A relação com o diabetes está baseada na habilidade do corpo de regular a insulina durante longos períodos de inatividade. A função metabólica cai quando há uma redução do número e da intensidade de contrações musculares – o esforço que temos que fazer para nos manter eretos ou em movimento. Isso acarreta a diminuição de açúcar e gorduras que o sangue deveria levar aos músculos. Para compensar essa queda, o organismo se encarrega de produzir mais glicose e ácidos graxos para restabelecer o equilíbrio. Entretanto, isso só ocorreria se os músculos se movimentassem. Como eles estão parados e a função metabólica se mantém abaixo do que deveria, o resultado é um excesso de açúcar no sangue. É quando um “segundo sistema” é acionado: o pâncreas produz insulina para controlar a concentração de glicose. O acúmulo de situações como esta pode gerar um distúrbio metabólico que aumenta o risco de diabetes.
Sobre as consequências nocivas para o sistema circulatório: o sedentarismo leva à redução de movimentos que, por sua vez, demanda menos oxigênio para os músculos. Como a pressão sanguínea também diminui quando se está sentado, o resultado é uma menor velocidade do fluxo de sangue para os menores vasos. Ali estão pequenas células que desempenham um papel-chave, conhecido como função endotelial: regulam tônus vascular, coagulação, manutenção da circulação sanguínea e respostas inflamatórias. Seu comprometimento está associado à aterosclerose. Como o nível de atividade física cai com a idade, o quadro não é nada promissor para os mais velhos. Nesta terça, o jornal “The Guardian” publicou reportagem mostrando que dez minutos diários de exercício têm efeito benéfico sobre a memória. Estique para 30 minutos – não esqueça de incluir uma caminhada – e fuja do sofá. Para quem acha que é um caso perdido, basta programar o relógio ou o celular para soar um alarme a cada meia hora: caso esteja sentado (a), passe os cinco minutos seguintes em pé ou se movimentando. É um bom começo.
Pesquisadores da Universidade Queen Mary, no Reino Unido, acabam de colocar mais uma peça no quebra-cabeça dos efeitos da poluição atmosférica no corpo humano. Em um estudo inicial, eles encontraram partículas de materiais poluentes, comumente detectados em grandes cidades, nas células da placenta de cinco mulheres.
É a primeira evidência científica de que os componentes da poluição do ar atingem a placenta depois de passar pelos pulmões e cair na corrente sanguínea.
A nova pesquisa examinou as placentas de cinco mulheres não fumantes que tiveram bebês saudáveis no hospital da Universidade. Com o consentimento delas, os pesquisadores examinaram os macrófagos - células do sistema imunológico que "comem" partículas danosas ao corpo - presentes suas placentas.
Estas células estão presentes nos pulmões e também fazem parte do sistema que protege o feto no tecido da placenta.
O estudo foi apresentado neste mês de setembro no Congresso Internacional da Sociedade Respiratória Europeia (ERS, na sigla em inglês), mas ainda não foi publicado em revistas científicas.
Usando um microscópio óptico, os pesquisadores encontraram 72 partículas negras entre 3.500 células. As partículas, examinadas com instrumentos ainda mais potentes, se parecem com as partículas de sujeira encontradas nos macrófagos dos pulmões.
"Ainda não sabemos se as partículas que encontramos podem passar para o feto, mas as pesquisas sugerem que isso é possível", disse à BBC News Brasil a pediatra Norrice Liu, parte da equipe de pesquisadores da Queen Mary.
"O nosso próximo passo é examinar mais mulheres, mas também queremos entender como elas vivem e qual o nível de exposição que elas têm à poluição."
O sistema respiratório funciona como uma espécie de peneira para as partículas de poluentes. As maiores costumam ser destruídas pelas células de defesa pulmonares, mas as mais finas podem cair na corrente sanguínea e chegar a outros órgãos do corpo.
Em 2016, um estudo da Universidade de Lancaster feito em 37 pessoas encontrou partículas de poluentes em suas células cerebrais.
Menos troca de nutrientes e oxigênio entre mãe e bebê No Brasil, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP são alguns dos principais produtores de pesquisas que tentam compreender os efeitos da poluição urbana no corpo humano.
"O que sabemos? Que existe uma associação entre poluição e baixo peso ao nascer bastante consistente, mas não se sabe exatamente o porquê. Estudando um grupo de gestantes também vimos que as mulheres mais expostas à poluição têm mais alterações no fluxo de sangue da mãe para o bebê via placenta", disse à BBC Brasil o professor Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP.
Em dezembro de 2017, um estudo brasileiro comprovou, em camundongos, que a exposição a poluentes atmosféricos, antes ou durante a gravidez, altera algumas características da placenta, além de causar distúrbios em um sistema hormonal que controla a troca de substâncias entre a mãe e o bebê.
Os animais foram expostos a partículas PM 2,5 - poluentes comuns no ar em centros urbanos - dentro dos limites diários permitidos pela Organização Mundial de Saúde.
Um grupo foi exposto 15 dias antes da gestação, outro grupo teve contato com a poluição por 15 dias a partir do sexto dia da gravidez. Um terceiro grupo foi exposto das duas formas e um quarto foi poupado da poluição.
"A placenta das ratas diminuiu com a exposição às partículas de poluição em todos os casos de exposição. A superfície da placenta que fica em contato com a parede do útero diminuiu", disse à BBC News Brasil o médico Joel Claudio Heimann, professor da USP e orientador do experimento, que fazia parte de uma tese de doutorado.
"Essa superfície é um indicador funcional da transferência de alimentos e oxigênio da mulher para o feto. Quanto menor é ela, menor é a transferência."
Diferentemente da nova pesquisa britânica, no entanto, os brasileiros não chegaram a examinar as células placentárias em busca das partículas de poluentes que estariam lá.
"No resultado que obtivemos, não tínhamos outro fator de interferência que não a poluição. Então, as alterações que encontramos eram, sim, referentes à poluição", afirma a pesquisadora Sônia de Fátima Soto, a autora do estudo.
"Estamos indo para um caminho interessante de provar que a poluição, mesmo dentro desse limite que a OMS diz ser seguro, causa problemas à nossa saúde e à nossa prole. Mas é preciso solidificar mais esses estudos para poder, por exemplo, questionar os limites da OMS." 'Catástrofe de saúde pública' Nos últimos anos, cientistas vêm demonstrando que a exposição a poluentes durante a gravidez aumenta o risco de um parto prematuro e de que o bebê tenha um peso menor ao nascer.
Um estudo britânico que analisou 500 mil nascimentos e foi publicado em dezembro confirmou a conexão, e os pesquisadores afirmaram que o caso é uma "catástrofe da saúde pública mundial".
Em trabalhos anteriores, pesquisadores brasileiros e estrangeiros estabeleceram ligações entre a poluição e uma maior probabilidade de que o feto exposto desenvolva hipertensão e outras doenças.
"Já temos evidências suficientes de que as nanopartículas de poluição chegam a todos os órgãos. Mas qual vai ser a resposta do feto depende da genética do bebê, de características familiares e epigenéticas, ou seja, do que acontece durante gravidez", explica Saldiva.
Uma revisão de estudos coordenada pelo pesquisador e publicada em 2016 afirma que "a exposição pré-gestacional, gestacional e no início da vida aos poluentes do ar está associada com o comprometimento da função pulmonar e outras condições respiratórias negativas na infância e esses efeitos podem durar até a vida adulta".
Os mecanismos pelos quais isso acontece, segundo o artigo, ainda não são completamente conhecidos, mas podem incluir alterações no DNA do feto e alterações no corpo da mãe, como stress e inflamação das células e hipoxia - baixa concentração de oxigênio nos tecidos.
"A verdade é que a mãe não pode fazer nada do ponto de vista individual para se proteger dessa chegada de partículas tóxicas ao bebê", alerta Saldiva.
"Só podemos tentar diminuir a exposição à poluição."
A surdez é classificada em quatro estágios: leve, moderada, severa e profunda. O que diferencia uma da outra é o quanto uma pessoa é capaz de ouvir, sendo o parâmetro o decibel – medida de intensidade de som. Uma audição normal consegue ouvir abaixo de 25 decibéis, por exemplo, o canto de um passarinho, em torno de 10 decibéis, ou o ruído de um ponteiro de relógio de parede, 30 decibéis.
Uma pessoa com deficiência auditiva leve só ouve a partir de 30 decibéis; com moderada, a partir de 50, com severa, a partir de 80 e com profunda, a partir de 100, segundo a otorrinolaringologista Jeanne Oiticica, responsável pelo Ambulatório de Surdez Súbita do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para se ter uma ideia, a fala humana e o choro de um bebê têm 60 decibéis; o latido de um cachorro, 70; o som de um piano, 80; e o motor de um caminhão, uma moto ou uma serra elétrica, 100. Acima de 100 decibéis estão o som de um helicóptero e de uma vuvuzela, com 110 e 120 decibéis, respectivamente.
A prevalência da surdez total, chamada de anacusia, em bebês no Brasil é de 4 em 100 mil nascidos vivos, segundo a otorrinolaringologista. Isso significa apenas 0,4%. Já até os 31 meses, essa prevalência sobe para 9%. Em idosos, chega a 30%, de acordo com a médica. A perda auditiva pode se manifestar na infância ou ao longo da vida, principalmente após os 30 anos, de acordo com a otorrinolaringologista.
Determinados medicamentos podem servir de gatilhos para desencadear a deficiência auditiva em quem tem predisposição genética. Por exemplo, uma classe de antibióticos chamada aminoglicosídeos, alguns quimioterápicos, anti-inflamatórios e diuréticos.
O bebê que não se assunta com ruído merece atenção. Para identificar a surdez em bebê, a médica orienta a bater palma atrás dele ou mesmo louças, como panela. Se ele não voltar o olhar para trás, isso pode ser indício de deficiência auditiva. Ela afirma que até os 2 anos é esperado que a criança comece a falar. Caso isso não ocorra, uma das possibilidades é que ela apresente deficiência auditiva..
Ao nascer, os bebês passam pelo chamado teste da orelhinha, obrigatório nas maternidades, para identificar problemas de audição. O exame é realizado por meio de um aparelho de emissões otoacústicas, que capta as respostas das células da audição.
A otorrinolaringologista explica que, quando a surdez não é completa, muitas vezes ela só é percebida quando a criança começar a apresentar dificuldades de alfabetização, em torno dos 7 anos. Neste caso, para ouvir plenamente, a criança necessita estar próxima à fonte de som, no caso, a professora. Segundo a médica, normalmente a escola detecta o problema e recomenda o exame de audiometria.
Entre os problemas que levam à deficiência de audição estão a adenoide dentro do ouvido, com a qual a criança já pode ter nascido, que causa surdez parcial, e a síndrome do aqueduto do vestibular alargado (AVA), um defeito no osso do ouvido que progride conforme a criança vai sofrendo quedas.
A médica recomenda que, em geral, se faça audiometria uma vez por ano e lavagem do ouvido, com otorrinolaringologista, para retirada da chamada “rolha de cera” (acúmulo de cera). Segundo ela, muitas vezes a sensação de dificuldade de audição está relacionada a isso.
Ela afirma que às vezes a deficiência de audição é confundida com a desatenção causada pela hiperatividade. Para saber se a pessoa está perdendo a audição ou está apenas distraída, a médica orienta um exame de audiometria.
No adulto, é mais fácil perceber quando há algo errado com a audição. Jeanne explica que além de usar constantemente a interjeição “hã?”, a pessoa pede para repetir as frases e tem dificuldade ao telefone e quando muitas pessoas falam ao mesmo tempo.
Estudos mostram que quem tem perda de audição e não faz reabilitação auditiva tem 30% mais chance de apresentar declínio cognitivo, de memória e de atenção, segundo a otorrinolaringologista. Ela explica que o aparelho auditivo já é recomendado a partir de surdez moderada e que, ao funcionar como uma caixa de som, ampliando o volume, ajuda a ativar o cérebro. “Escutamos por meio do cérebro, não pelo ouvido”, afirma.
Falar como bebê para bebês pode ser uma demonstração de carinho dos pais com os filhos logo depois do nascimento. Mas quando as crianças começam a crescer, falar corretamente é mais importante para estimular o desenvolvimento da linguagem.
Os bebês começam a se comunicar por meio do choro. Com o passar do tempo, emitem sons mais como uma brincadeira, despertando a curiosidade pela fala.
Apenas com sete ou oito meses de vida, atribuem algum significado às palavras. A fala propriamente dita vai aparecer a partir de um ano de idade, dependendo da evolução de cada um. "Isso não significa que até os dois anos a criança não se comunica. Ela usa gestos, atitudes, bate palma quando solicitada. É uma comunicação muito imitativa nessa fase", explica a fonoaudióloga Marly Teixeira Kondo, integrante da equipe de Neurologia da Clínica Walkiria Brunetti.
Um estudo que acaba de ser divulgado no The Journal of Neuroscience apontou que uma das melhores maneiras para incentivar a criança a falar é conversar com ela. Os pesquisadores usaram gravações em áudio e exames de imagens do cérebro de 40 crianças, entre 4 e 6 anos de idade. As imagens mostraram que as crianças mais envolvidas nas conversas apresentaram conexões intensas em duas regiões do cérebro: na área de Wernicke e na área de Broca, ambas localizadas no córtex cerebral e ligadas à compreensão e à produção da fala.
A criança passa os primeiros meses de vida sendo exposta a todo tipo de som e comunicação. O bebê vive a fase da compreensão antes da emissão. E os pais podem ajudar muito, conversando, de fato, com o filho. "Então, você vai dar o banho, converse com a criança, mesmo bebezinho: 'vamos tomar banho, olha como está a água, vou colocar a fralda, a mamãe vai passar creminho no bumbum' e assim por diante", aconselha Kondo.
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Outra dica importante é, ao passear com o bebê, ir nomeando as coisas que vão surgindo, como paisagens, um cachorrinho na rua, as árvores, mas tudo de forma natural. "Não é para bombardear a criança com os nomes, não é isso. É mostrar o mundo através da fala e a criança vai internalizando tudo", afirma a fonoaudióloga.
E quando a criança pronuncia alguma palavra errada, deve-se corrigir? Para Kondo, existe um caminho melhor. "Sempre devemos falar com a criança com nomes certos das coisas. Nunca com a linguagem do bebê, por exemplo, se cair um brinquedo, um carrinho no chão. Você deve pronunciar a palavra 'carrinho caiu' e não 'o tainho taiu', que tem criança que fala assim", diz.
Por vezes, a criança ainda não consegue fazer os movimentos adequados para aqueles sons das palavras. É por isso que corrigir não é o remédio, na opinião da fonoaudióloga Marly Teixeira Kondo: "O adulto nunca vai corrigir com um 'não pode falar assim', mas repetir a palavra correta. Com o tempo é que acontece o amadurecimento. Então, a criança precisa do modelo correto e não da correção", conclui.