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Uma colaboração entre pesquisadores dos estados de São Paulo e do Ceará e da Universidade de Hong Kong resultou na descoberta de um novo coronavírus em morcegos, o primeiro na América do Sul intimamente relacionado ao causador da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês).

morcego

O estudo foi publicado no Journal of Medical Virology.

“Ainda não podemos afirmar se ele tem a capacidade de infectar humanos. No entanto, encontramos partes da proteína spike do vírus [que se liga à célula de mamífero e inicia a infecção] que sugerem uma potencial interação com o receptor utilizado pelo MERS-CoV. Para saber mais, planejamos realizar experimentos em Hong Kong ainda este ano”, conta Bruna Stefanie Silvério, primeira autora do estudo.

Silvério realizou mestrado na EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) com bolsa da Fapesp e atualmente faz doutorado na instituição.

No total, os pesquisadores identificaram sete coronavírus em amostras de cinco morcegos coletadas pelo Lacen (Laboratório Central de Saúde do Ceará), em Fortaleza, destacando a grande diversidade genética de coronavírus encontrada. Os animais pertenciam a duas espécies diferentes (Molossus molossus e Artibeus lituratus), sendo uma insetívora e outra frugívora.

Em outro estudo realizado pelos grupos do Lacen-Fortaleza e da Unifesp, foram encontradas variantes de vírus da raiva de saguis em morcegos (leia mais em: agencia.fapesp.br/44897).

“Os morcegos são importantes reservatórios de vírus e, por isso, devem ser alvos de vigilância epidemiológica contínua. Esse monitoramento permite identificar os vírus em circulação, antecipar potenciais riscos de transmissão para outros animais e até mesmo para os humanos”, lembra Ricardo Durães-Carvalho, professor da EPM-Unifesp e orientador de Silvério.

O pesquisador coordena o projeto “Morcegos: vigilância epidemiológica, filodinâmica de alta resolução, busca e design de peptídeos de interesse biotecnológico em vírus emergentes e reemergentes”, apoiado pela Fapesp.

Mers-CoV O coronavírus causador da Mers foi identificado pela primeira vez em 2012, na Arábia Saudita, e provocou mais de 800 mortes, com casos registrados em 27 países.

Os pesquisadores brasileiros conseguiram identificar uma sequência genética com 71,9% de similaridade ao genoma do Mers-CoV. O gene que codifica a proteína spike apresentou 71,74% de identidade com a spike do Mers-CoV, isolado de humanos na Arábia Saudita em 2015.

Para verificar se ela pode se ligar às células humanas, será necessário fazer experimentos em laboratórios com alto nível de biossegurança. Esses testes estão programados para acontecer na Universidade de Hong Kong ainda este ano.

Silvério se prepara para um estágio na Escola de Saúde Pública da instituição, onde será orientada pelo pesquisador Leo L. M. Poon, coautor do trabalho publicado agora.

Outro vírus, mesmo morcego Em trabalho prévio, publicado na mesma revista, os pesquisadores identificaram um vírus emergente em humanos, o gemykibivirus, descoberto na mesma amostragem realizada no Lacen de Fortaleza.

Os pesquisadores encontraram grande semelhança com um gemykibivirus identificado em amostras do líquido cefalorraquidiano humano. O mesmo vírus também foi identificado em amostras de bancos de sangue, o que havia dado origem a um trabalho liderado por pesquisadores do Hemocentro de Ribeirão Preto e do Instituto Butantan apoiados pela FAPESP (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/41787).

Trabalhos anteriores já haviam relatado a presença do gemykibivirus em pacientes com HIV, sepse de origem desconhecida, pericardite recorrente e casos de diarreia e encefalite de causa inexplicada. É a primeira vez que se identifica esse vírus em morcegos.

O vírus encontrado exigiu o desenvolvimento de novos primers, pequenos trechos de DNA que se ligam a determinadas partes dos genomas que se quer conhecer. Neste caso, os primers foram desenvolvidos especificamente com base na sequência genética do gemykibivirus detectado em humanos.

“A falta de sequências virais disponíveis em bancos de dados impediu que pudéssemos analisar mais a fundo esses vírus. Ao mesmo tempo, o fato de identificarmos agentes virais tão pouco conhecidos torna nosso trabalho uma base para futuras investigações”, afirma Silvério.

Para Durães-Carvalho, “nossos estudos demonstram a importância de tornar esse tipo de análise mais sistemática, otimizada e integrada, com a participação de diversos setores, gerando dados em plataformas unificadas que possam ser utilizados pelos sistemas de saúde para monitorar e até prever novas epidemias e pandemias”, conclui.

Agência Fapesp

Foto: Larissa Leão Ferrer de Sousa

Pesquisadores da Universidade de Oxford realizaram um estudo que sugere que a vacina contra herpes-zóster, conhecida como Shingrix, pode diminuir o risco de demência em até 17%. Os efeitos da vacina foram mais evidentes em mulheres, resultando em um aumento de 5 a 9 meses de vida sem demência, o que oferece uma perspectiva promissora para a saúde cerebral.

O que é herpes-zóster?

Herpes-zóster é uma infecção viral causada pelo mesmo vírus que provoca a catapora, o varicela-zóster. Esse vírus pode ficar adormecido no corpo por anos e se reativar com o enfraquecimento do sistema imunológico, levando ao surgimento de erupções cutâneas dolorosas. É mais comum em pessoas idosas, sendo potencialmente grave à medida que a idade avança.

O efeito da vacina na demência Estudos anteriores já haviam sugerido uma possível ligação entre a infecção por herpes-zóster e o aumento do risco de demência. Com base nesses dados, a vacina foi associada a uma redução significativa no risco de desenvolvimento de demência, retardando seu progresso. Os pesquisadores acreditam que isso ocorre porque a vacina não só protege contra o vírus, mas também pode ter efeitos benéficos diretos na saúde cerebral.

Mecanismos possíveis e a necessidade de mais pesquisa O professor John Todd, da Universidade de Oxford, explicou que uma das explicações para esse efeito pode ser a ação da vacina contra o vírus varicela-zóster, que é associado ao aumento do risco de demência. Além disso, a vacina pode conter substâncias que atuam diretamente no cérebro, contribuindo para a melhoria da saúde mental. No entanto, os pesquisadores enfatizam que mais estudos são necessários para compreender completamente o impacto da vacina nesse contexto.

Sintomas de demência: sinais ocultos Existem sinais de demência que raramente são reconhecidos. Segundo a matéria da Catraca Livre, mudanças na percepção de tempo, dificuldade para fazer tarefas diárias simples e alterações no comportamento podem ser indicadores de que algo não está certo. Fique atento a esses sintomas, que muitas vezes são negligenciados.

Catraca Livre

Café desidrata no calor? Estudos científicos mostram que o consumo moderado não prejudica a hidratação. Descubra mitos e verdades sobre café e saúde. — O termômetro dispara, mas o brasileiro não abre mão do seu cafezinho, nem mesmo durante a intensa onda de calor que assola diversas regiões do país nesta semana. Essa paixão nacional, no entanto, reacende uma antiga dúvida: faz bem tomar café com temperaturas tão altas? No passado, havia uma preocupação de que a cafeína estaria associada à desidratação. Mas não é bem assim.

cafeina

De onde vem a crença de que o café desidrata? A crença de que o café causa desidratação tem suas raízes em um estudo controverso realizado em 1928. Esta pesquisa, com apenas três participantes masculinos, concluiu que o consumo de água com cafeína aumentava o volume urinário em 50% após um período de abstinência de café e chá.

Apesar de suas limitações metodológicas, este estudo moldou a percepção pública sobre os efeitos do café na hidratação por décadas.

Pesquisa moderna revela: café pode ser tão hidratante quanto água Um estudo revolucionário publicado na renomada revista científica PLOS ONE em 2014 desafiou a crença comum de que o café causa desidratação. Pesquisadores da Universidade de Birmingham compararam os efeitos do consumo de café e água em 50 homens que habitualmente bebiam de três a seis xícaras de café por dia.

Surpreendentemente, os resultados não mostraram diferenças significativas na água corporal total, marcadores sanguíneos de hidratação ou volume urinário entre os grupos de café e água.

Cafeína e o efeito diurético: entendendo os limites O efeito diurético do café está principalmente ligado à cafeína. Uma pesquisa na Frontiers in Nutrition (2017) revelou que uma alta ingestão de cafeína (6 mg/kg de peso corporal) pode aumentar a produção de urina. No entanto, níveis mais baixos (3 mg/kg) não afetam significativamente o equilíbrio de fluidos.

Para contextualizar:

Uma xícara de café coado (240 ml): cerca de 95 mg de cafeína; Um expresso (30 ml): aproximadamente 63 mg de cafeína. Para uma pessoa de 70 kg, seriam necessárias cerca de quatro xícaras de café coado ou seis expressos para atingir o nível associado ao efeito diurético mais pronunciado.

Café após exercício Um estudo na Nutrition Today (2020) alerta que após exercícios intensos, o café pode dificultar a reposição de líquidos comparado à água. Em situações de exercício vigoroso ou calor extremo, é mais prudente optar por água ou bebidas esportivas para reidratação.

Consumo de café no calor: recomendações para manter-se hidratado Curiosamente, em condições de desidratação induzida pelo calor, o consumo de café não agrava a desidratação, segundo um estudo no International Journal of Sports Medicine (2001). A EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos) até recomenda incluir o café na contagem diária de líquidos.

No entanto, durante ondas de calor intenso, como a atual no Brasil, é aconselhável priorizar a ingestão de água e outros líquidos sem cafeína para garantir uma hidratação adequada.

Em conclusão, para a maioria das pessoas, o consumo moderado de café não causa desidratação significativa. Porém, em condições extremas de calor ou após exercícios intensos, é sempre mais seguro optar por água para manter-se bem hidratado.

R7

Imagem criada por IA/Adobe Firefly

Em novembro de 2024, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamentou o uso clínico de implantes hormonais e proibiu o manuseio e a propaganda do medicamento para fins estéticos e esportivos. Esses dispositivos estavam em alta no Brasil após serem usados para emagrecimento e ganho de massa muscular. De forma popular, eram conhecidos como “chips da beleza”.

Apesar da aplicação desses chips para benefícios estéticos e esportivos ser considerada controversa pela comunidade médica, ela foi vista como promissora em casos de tratamentos para condições como a endometriose.

O uso desses chips da saúde, ou pellets, como chamam especialistas, em mulheres com endometriose já é avaliado pela comunidade científica como promissor. O estudo Glade, realizado pelo Instituto de Pesquisa Science Valley, é pioneiro na área e identifica a eficácia desses medicamentos quando prescritos de forma correta.

A ginecologista e pesquisadora na área de terapia hormonal Fabiane Berta cita o Glade e afirma que a pesquisa é a mais importante na área, pois fez uma mudança no cenário de estudos sobre a condição.

A especialista explica que a proposta desses implantes hormonais é melhorar a qualidade de vida da paciente com endometriose e ter melhor desempenho no controle da dor em relação a outros métodos.

“As cirurgias são ótimas, mas ainda existe a possibilidade de recidiva de 20%. Então, quando você avança em uma tecnologia como o implante, no caso o pellet, a gente consegue ter uma perspectiva muito melhor”, analisa.

Berta diz acreditar que, no futuro, esse será um dos principais tratamentos para endometriose, “justamente pela praticidade, o benefício e o controle da dor, o que é o mais importante na doença”.

Palavra de quem já fez A consultora comercial Lílian Lima, de 46 anos, pôde sentir esses efeitos após realizar um tratamento com pellet durante seis meses. “Faz dois anos que renasci”, foi o que ela respondeu após ser questionada com que idade aplicou o implante.

Lílian é diagnosticada com endometriose profunda e relata que sentia cólicas insuportáveis, além de dores durante relações sexuais. Ela conta que era preciso fazer uma visita ao hospital todo mês no período menstrual para receber medicamentos para dor.

Acompanhado do ciclo, vinha o inchaço, que a deixava, segundo ela, com “sensação de grávida”. Hoje, ela considera que foi a melhor decisão que tomou e afirma ter recuperado a qualidade de vida.

“Hoje sou um ser vivo, tenho qualidade de vida, tenho alegria de viver, me sinto melhor para seguir sem aquelas dores enlouquecedoras. A endometriose acaba com famílias, com o físico e psicológico de qualquer mulher. Ela não nos deixa viver e o tratamento me trouxe liberdade. Estou livre de algo que por mais de 10 anos me deixou triste e inválida”, conta.

Como funciona o tratamento O especialista em ginecologia endócrina Jorge de Aguiar explica que os implantes hormonais são um veículo pelo qual são administradas substâncias diferentes no organismo dos pacientes de acordo com a indicação e necessidade de cada um.

Nesse tratamento, a gestrinona e o nestorone são os hormônios que se destacam.

Berta explica que os hormônios podem ser aplicados pelo canal vaginal, por adesivos aplicados na pele ou por implantes, como os pellets. No procedimento por pellet, o implante é absorvível e é aplicado em um período de cinco a seis meses.

A paciente é elencada para o procedimento quando o tratamento dela já é feito com uso de alguma substância que pode ser transferida para o implante, como explica Aguiar. O especialista aponta que a vantagem do “chip” é fazer uma dose personalizada que não depende da absorção pela via oral. Dessa forma, doses menores via sub dérmica podem ser aplicadas.

Efeitos colaterais Aguiar alerta para possíveis efeitos colaterais que são pertinentes ao tipo de substância que será usada. Drogas derivadas da testosterona são as que apresentam mais efeitos. Entre os principais sintomas estão queda de cabelo, acne e retenção de líquidos.

Ele aponta que o uso prolongado do implante vai depender da necessidade individual de cada paciente e recomenda que aquelas que fizerem tratamento crônico sejam avaliadas a cada seis meses.

“É feita a realização de exames de laboratório e imagem pertinentes ao tratamento específico que ela está fazendo para avaliar se teve alguma alteração clínico laboratorial que impeça a manutenção do tratamento. Caso não haja nenhuma alteração e a paciente ainda tenha a necessidade e, na balança de riscos e benefícios, os benefícios superem os riscos, que isso possa ocorrer a manutenção do tratamento”, explica.

É seguro? Os estudos continuam em andamento, mas a prática já apresenta segurança se for acompanhada da forma correta, como avaliam os especialistas. Entretanto, Berta reforça que existem circunstâncias em que não é recomendado o uso do medicamento.

Pacientes com obesidade ou com síndromes relacionadas ao metabolismo podem não ser favorecidas pelo implante em um primeiro momento. Isso acontece devido ao desequilíbrio metabólico e reserva hormonal mais debilitada, como explica a ginecologista.

Em todos os casos, com exceção dos citados acima, a segurança é criada a partir do acompanhamento médico. Berta recomenda que exames sejam feitos frequentemente para avaliar a fisiologia da paciente e identificar se há sobrepeso ou distúrbios metabólicos. Dessa forma, o organismo não fica sobrecarregado.

“Quando a gente trata uma mulher, olhamos uma integralidade, focando no resultado que a gente precisa. A gente mantém os tratamentos em acompanhamento laboratorial e ultrassonográfico, mas a melhor forma de avaliar se a paciente está com bom controle é o exame clínico”, afirma.

Quanto à credibilidade do aparelho hormonal, além de ser regulamentado pela Anvisa, a ANME (Associação Nacional Magistral de Estéreis) apoia as pesquisas na área de desenvolvimento de tratamentos para endometriose e está elaborando um selo de qualidade para certificar empresas que mantêm um padrão operacional alinhado às melhores práticas do setor.

A presidente da ANME, Manuela Coutinho, explica que a certificação representa um marco na busca por mais segurança e transparência, e garante que médicos e pacientes tenham acesso a implantes hormonais fabricados dentro dos mais altos padrões de qualidade.

Além disso, Coutinho afirma que a ANME investe em iniciativas de educação continuada e vai promover cursos, congressos e conteúdos técnicos voltados para médicos e farmacêuticos.

“Nosso objetivo é garantir que os profissionais da saúde tenham acesso a informações qualificadas e atualizadas, permitindo que ofereçam aos pacientes um tratamento seguro, eficaz e respaldado pela ciência”, completa.

R7