Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recebeu nesta terça-feira (29) pedido de uso emergencial em caráter experimental da Covaxin, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech e representada no Brasil pela Precisa Medicamentos.

A agência informa que iniciou a triagem dos documentos. "As primeiras 24 horas serão utilizadas para fazer uma triagem do processo e verificar se os documentos necessários para avaliação estão disponíveis. Se houver informações importantes faltando, a Anvisa pode solicitar as informações adicionais ao laboratório", divulgou por meio de nota.

O prazo para análise é de 7 ou 30 dias, o período depende de cada caso, ressalta a Anvisa. "O prazo será de sete dias quando houver desenvolvimento clínico da vacina no Brasil ou quando o relatório ou parecer técnico emitido pela autoridade sanitária estrangeira seja capaz de comprovar que a vacina atende aos padrões de qualidade, de eficácia e de segurança estabelecidos pela OMS [Organização Mundial da Saúde] ou pelo ICH [Conselho Internacional de Harmonização] e pelo PIC/S [Convenção de Inspeção Farmacêutica]", aponta no comunicado.

Em 13 de junho, a Anvisa autorizou a importação de 4 milhões de doses da vacina, com uso de forma controlada, mas ainda não há doses disponíveis no país. A solicitação desta terça-feira ocorre em meio a polêmicas que envolvem a compra da Covaxin pelo governo federal, entre elas a suspeita de superfaturação no contrato da aquisição de 20 milhões de doses. O contrato, com data de 25 de fevereiro, previa a entrega de cinco lotes a partir de março. A Índia acabou priorizando a vacinação interna à exportação de imunizantes, o que afetou a entrega de doses, ainda não realizada.

O fato de a Covaxin ainda não ter comprovação científica de segurança e eficácia levou o MPF (Ministério Público Federal) a apurar o contrato e abrir uma investigação preliminar. O caso também é tratado na CPI da Covid. Além do valor alto - cada imunizante seria comprado por US$ 15, sendo que cada dose da Pfizer custou US$ 10 -, a agilidade na negociação também chamou à atenção do MPF.

A Covaxin é considerada uma vacina tradicional. É feita com vírus inativado, na qual o vírus não consegue se replicar, mas sua presença no organismo faz com que o sistema imunológico reaja. É aplicada em duas doses, com um intervalo de quatro semanas. Segundo o fabricante, apresenta eficácia geral de 78% e 100% de eficácia para evitar casos graves da covid-19.

R7

goticulasPesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) constataram que o SARS-CoV-2 infecta e se replica em células das glândulas salivares.

Por meio de análises de amostras de três tipos de glândulas salivares, obtidas durante um procedimento de autópsia minimamente invasiva em pacientes que morreram em decorrência de complicações da covid-19 no Hospital das Clínicas da FM-USP, eles verificaram que esses tecidos especializados na produção e secreção de saliva são reservatórios para o novo coronavírus.

Os resultados do estudo, apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), foram publicados no Journal of Pathology. As descobertas contribuem para explicar por que o novo coronavírus é encontrado em grandes quantidades na saliva, o que viabilizou a realização de testes para diagnósticos dacovid-19 a partir do fluido, sublinham os autores do trabalho.

“É o primeiro relato de vírus respiratório capaz de infectar e se replicar nas glândulas salivares. Até então, acreditava-se que apenas vírus causadores de doenças com prevalência muito alta, como o da herpes, usavam as glândulas salivares como reservatório. Isso pode ajudar a explicar por que o SARS-CoV-2 é tão infeccioso”, diz à Agência FAPESP Bruno Fernandes Matuck, doutorando na Faculdade de Odontologia da USP e primeiro autor do estudo.

Os pesquisadores já tinham demonstrado, em estudo anterior, a presença de RNA do SARS-CoV-2 no tecido periodontal de pacientes que morreram em decorrência da covid-19 (leia mais em agencia.fapesp.br/35512/).

Em razão da alta infecciosidade do SARS-CoV-2 quando comparado a outros vírus respiratórios, eles levantaram a hipótese de que o novo coronavírus poderia infectar e se replicar em células das glândulas salivares e, dessa forma, surgir na saliva sem ter contato com secreções nasais e pulmonares.

Isso porque estudos internacionais anteriores mostraram que o ducto salivar apresenta o receptor ACE-2, com o qual a proteína spike do SARS-CoV-2 se liga para infectar as células. Mais recentemente, outros grupos de cientistas relataram ter observado em estudos feitos com animais que, além da ACE2, receptores como a serina protease transmembranar 2 (TMPRSS) e a furina, presentes nos tecidos das glândulas salivares, são alvos do SARS-CoV-2.

A fim de testar essa hipótese em humanos, foram feitas biópsias guiadas por ultrassom em 24 pacientes que morreram em decorrência da COVID-19, com idade média de 53 anos, para extração de amostras de tecidos das glândulas parótida, submandibular e menores.

As amostras dos tecidos foram submetidas a análises moleculares (RT-PCR) para identificação da presença do vírus. Os resultados indicaram a presença do vírus nos tecidos em mais de dois terços das amostras.

Já por meio de marcações imuno-histoquímicas – em que é colocado um corante em uma molécula que se gruda no vírus e nos receptores –, foi possível observar a presença do vírus in situ, no interior dos tecidos. E, por meio de microscopia eletrônica, foi detectada não só a presença, mas também o vírus se replicando nas células e identificado o tipo de organela que ele utiliza para essa finalidade.

“Observamos vários vírus aglomerados nas células das glândulas salivares – um indicativo de que estão se replicando em seu interior. Não estavam presentes nessas células passivamente”, afirma Matuck.

Porta de entrada

Os pesquisadores pretendem avaliar, agora, se a boca pode ser uma porta de entrada direta do SARS-CoV-2, uma vez que os receptores ACE2 e o TMPRSS são encontrados em vários locais da cavidade, como em tecidos da gengiva e da mucosa bucal. Além disso, a boca tem uma área de contato maior do que a cavidade nasal, apontada como a principal porta de entrada do vírus.

“Por meio de uma parceria com pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, dos Estados Unidos, pretendemos mapear a distribuição desses receptores na boca e quantificar as replicações virais em tecidos bucais”, diz Luiz Fernando Ferraz da Silva, professor da FM-USP e coordenador do projeto.

“Pode ser que a boca seja um meio viável para entrada direta do vírus”, estima Matuck.

Outra ideia é verificar se idosos possuem mais receptores ACE2 na boca em comparação com pessoas mais jovens, uma vez que têm uma diminuição do fluxo salivar. A despeito disso, os pesquisadores encontraram mesmo em pacientes idosos, que têm menos tecidos salivares, uma alta carga viral.

“Esses pacientes quase não tinham tecido salivar, era quase tudo tecido gorduroso. Mas, mesmo assim, ainda apresentavam uma carga viral relativamente alta”, relata Matuck.

Agência Fapesp

Foto: SEBASTIAO MOREIRA/EFE/EPA

Uma terceira dose da vacina contra covid-19, produzida pela AstraZeneca com a Universidade de Oxford, produz forte resposta imune, disseram pesquisadores nesta segunda-feira (28), acrescentando que ainda não há evidências de que essa dose de reforço é necessária, especialmente devido à falta de vacinas em alguns países.

O estudo, da Universidade de Oxford, mostrou que uma terceira dose da vacina aumenta as respostas imunes de anticorpos e de células T. Ao mesmo tempo, a aplicação da segunda dose pode ser adiada para até 45 semanas após a aplicação da primeira e, ainda assim, levar a um aprimoramento da resposta imune.

O governo do Reino Unido diz que analisa planos para uma campanha de aplicação de doses de reforço no outono do Hemisfério Norte, com três quintos dos adultos já com as duas doses de vacinas contra covid-19 aplicadas.

Andrew Pollard, diretor do Grupo de Vacinas de Oxford, afirmou que as evidências de que a vacina protege contra as variantes existentes por um período sustentável significam que uma dose de reforço pode não ser necessária.

"Temos de estar numa posição em que podemos aplicar a dose de reforço caso isso se mostre necessário. Não temos, no entanto, nenhuma exigência de que será", disse ele a jornalistas.

"Neste momento, com uma alta taxa de proteção na população do Reino Unido e nenhuma evidência de que isso foi perdido, aplicar terceira dose no Reino Unido, enquanto outros países têm zero dose, não é aceitável."

Estudos anteriores mostraram que a vacina, criada pela Universidade de Oxford e licenciada pela AstraZeneca, tem eficácia maior quando o intervalo de aplicação entre as doses é ampliado para 12 semanas, em vez de quatro.

A pesquisa anunciada hoje foi divulgada sem a revisão de outros cientistas e analisou 30 participantes que receberam uma segunda dose tardia e 90 que receberam uma terceira dose. Todos os participantes tinham menos de 55 anos.

O estudo ajuda a amenizar preocupações de que vacinas contra covid-19 baseadas em vetores virais, como as da AstraZeneca e da Johnson & Johnson, possam perder sua potência se aplicações anuais forem necessárias, dado o risco de que o corpo produza resposta imune contra os vetores que carregam as informações genéticas da vacina.

"Tem havido algumas preocupações de que não poderíamos usa essa vacina num regime de doses de reforço, e certamente não é isso que os dados estão sugerindo", disse a autora do estudo Tereza Lambe, do Instituto Jenner, de Oxford, à Reuters.

Reuters

vacinasResidentes de países como Itália, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Coreia do Sul, entre outros, estão recebendo vacinas contra covid-19 de diferentes fabricantes na segunda dose.

Embora ainda haja poucos estudos robustos a respeito da estratégia, ela é apontada como uma forma de evitar que as pessoas não tomem a segunda dose por falta do imunizante em determinado local de vacinação.

Um dos pioneiros na iniciativa foi o Reino Unido. A MHRA (Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde) britânica ressalta que estudos sobre a imunogenicidade (capacidade da vacina de provocar resposta imune) estão sendo conduzidos para casos em que há o uso de diferentes fármacos.

No entanto, o órgão admite a possibilidade de intercâmbio de imunizantes.

"Todo esforço deve ser feito para determinar qual vacina o indivíduo recebeu para sua primeira dose e para completar o esquema de duas doses com a mesma vacina. Para os indivíduos que iniciaram o esquema e que comparecem para vacinação em um local onde a mesma vacina não está disponível, por exemplo, se o indivíduo recebeu sua primeira dose no exterior, ou onde o primeiro produto recebido é desconhecido, é razoável nessas circunstâncias, oferecer um dose do produto disponível localmente para completar o cronograma", diz nota técnica da agência.

Em outros locais da Europa, a razão tem sido outra. Países como França, Espanha e Alemanha estão optando pela segunda aplicação de uma vacina diferente naqueles que receberam uma injeção da AstraZeneca.

A alteração envolve temores de formação de coágulos (considerados raros) em determinados grupos da população, especialmente pessoas abaixo de 60 anos.

Recentemente, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tomou uma dose da Moderna, após ter sido vacinada inicialmente com a AstraZeneca.

Mesmo sem consenso na comunidade científica, a EMA (Agência Europeia de Medicamentos) afirmou na última quarta-feira (23) que há "boas bases científicas" para sugerir que a mistura dos imunizantes contra covid-19 é segura e eficaz.

A justificativa do órgão regulador europeu é de que todas as vacinas de duas doses em uso no bloco — Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca — atuam de maneira parecida, com foco na proteína spike do coronavírus.

Todavia, a EMA ressalta que no momento "não está em posição de fazer recomendações definitivas sobre o uso de diferentes vacinas contra covid-19 para as duas doses".

Os estudos conduzidos no Reino Unido já tiveram dados preliminares sobre segurança divulgados. Foram analisadas as vacinas AstraZeneca e Pfizer.

"Os dados iniciais de reatogenicidade e segurança do ensaio clínico Com-COV2 mostraram que os participantes do ensaio que receberam vacinas diferentes para sua primeira e segunda doses experimentaram um aumento na taxa de reações após a segunda dose em comparação com aqueles que receberam a mesma vacina para ambas as doses. Os destinatários de vacinas mistas eram mais propensos a sentir febre, calafrios, fadiga, dor de cabeça, dor nas articulações, mal-estar e dores musculares. No entanto, não houve hospitalizações devido a esses sintomas, e a maior parte do aumento da reatogenicidade foi observada nas 48 horas após a imunização", diz a MHRA.

A parte do estudo que analisa o efeito da mistura de vacinas em relação à imunidade deve ser divulgada em breve.

No Brasil, a possibilidade de intercâmbio de vacinas não foi aventada até agora. Segundo a vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, não há aqui "um motivo plausível para começar com uma [vacina] e terminar com outra".

Ela salienta que tem sido possível desde o início garantir a vacinação das pessoas com doses do mesmo imunizante e que as programações de entregas dão certa segurança de que isto poderá ser mantido.

R7

Foto: YVES HERMAN/LUISA GONZALEZ/MIKE SEGAR/REUTERS