Se você é daqueles que terminam de comer e já estão de olho na sobremesa, saiba que esse é um hábito muito comum, em especial aqui no Brasil. Culturalmente, nossas refeições sempre terminam com algo doce.

doce

Entretanto, algumas explicações fisiológicas são plausíveis para justificar essa vontade de açúcar. A serotonina – neurotransmissor que regula uma série de funções no corpo, inclusive o humor e os movimentos do estômago e intestino – é produzida também com a ingestão de carboidratos, especialmente doces, explica o médico José Antônio Miguel Marcondes, cocoordenador do Centro de Diabetes do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo o especialista, uma vez que nosso corpo queima serotonina durante o processo digestivo, devido ao uso nos movimentos digestivos, existe a necessidade de sua reposição.

Os doces, por sua vez, liberam um aminoácido necessário para a produção de serotonina: o triptofano. "Quando começamos a comer, o cérebro emite um sinal no sentido de aumentar a quantidade de serotonina. O nosso corpo precisa do triptofano para produzir serotonina, e os carboidratos são ricos em triptofano. Dos carboidratos, os absorvidos mais rapidamente são os doces. Parece que o cérebro emite um sinal no sentido de procurarmos esses alimentos para repor o estoque de serotonina."

Além disso, a serotonina aumenta a sensação de bem-estar, tranquilidade e felicidade, o que faz com que a experiência de uma refeição seja, para muitos, mais prazerosa com esse empurrãozinho dos doces.

O médico nutrólogo Daniel Magnoni, presidente do Imen (Instituto de Metabolismo e Nutrição), por sua vez, diz que não há evidências científicas de que precisamos de doces após as refeições.

Para ele, a principal razão é psicológica, mas também há uma busca por contrapor elementos gustativos em alguns casos.

"Se há uma ocupação das papilas gustativas com sal, com comidas mais secas, isso pede mais hidratação. Então, a pessoa pode sentir vontade de mais água e mais doce à medida que [a comida] tenha alta dosagem de sal e pouca hidratação." Fugindo das armadilhas

O açúcar tem um potencial de vício semelhante ao da cocaína, o que faz com que sociedades médicas recomendem o consumo moderado.

Dessa forma, é preciso estar atento para que sobremesas com excesso de açúcar não virem um hábito ou até um exagero.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que não se ultrapasse a ingestão de 25 g de açúcar por dia. Todavia, estima-se que no Brasil esse consumo seja de mais de 50 g, em média.

Uma das recomendações de Marcondes é seguir uma dieta equilibrada que inclua alimentos ricos em triptofano, mas não necessariamente doces.

Alguns deles são:

  • ovos;
  • • leite;
  • • frango e peru;
  • • oleaginosas (especialmente amendoim);
  • • aveia;
  • • chocolate com alto teor de cacau (acima de 70%), em pequenas quantidades;
  • • frutas (com destaque para a banana).

"Se você introduz esses alimentos na refeição, um arroz integral, por exemplo, e uma fruta como a banana na sobremesa, de certa forma satisfaz esse mecanismo. Não necessariamente você precisa comer um doce, o que pode ser um problema."

R7

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O mundo vive uma ameaça constante de um tipo de vírus da gripe que já causou a morte de milhões de aves e pode ser transmitido para seres humanos. O alerta foi feito em um texto assinado pelos cientistas Michelle Wille (Universidade de Sydney, Austrália) e Ian G. Barr (Instituto Peter Doherty para Infecção e Imunidade/Universidade de Melbourne, Austrália), publicado nesta terça-feira (26) na revista científica Science.

O agente infeccioso em questão é o H5N1, uma cepa do HPAIv (vírus da gripe aviária de alta patogenicidade, na sigla em inglês), que tem causado um "surto sem precedentes", de acordo com os autores. O vírus é normalmente carregado por aves selvagens sem que necessariamente represente um grande risco a elas. Todavia, quando há migração ou interação com aves domésticas ou destinadas ao abate, existe risco de adoecimento e morte de grandes populações destas últimas, segundo o CDC (Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos).

Embora o H5N1 já tenha se tornado endêmico em alguns países do mundo (Bangladesh, China, Egito, Índia, Indonésia e Vietnã), foram registrados surtos recentes no Canadá e nos Estados Unidos.

Segundo os autores do artigo na Science, este tipo de vírus da gripe, ainda restrito somente a animais, está rapidamente se tornando uma preocupação global. "A onda em curso de 2021-2022 da gripe aviária H5N1 é sem precedentes em sua rápida disseminação e frequência extremamente alta de surtos em aves e aves selvagens, e é uma ameaça potencial contínua para os seres humanos", destacam.

Os cientistas chamam atenção para 15 milhões de aves abatidas ou mortas devido a infecções pelo HPAIv somente entre 2020 e 2021.

"Talvez o mais preocupante seja a capacidade do vírus de infectar humanos. Embora as infecções de aves para humanos tenham sido raras nas últimas duas décadas, e a transmissão sustentada de humano para humano ainda não tenha sido documentada, os vírus da gripe aviária altamente patogénicos representam um potencial risco pandêmico."

No Reino Unido, um caso de infecção por vírus de gripe aviária H5N1 em humano foi reportado em janeiro deste ano.

"A pessoa adquiriu a infecção por contato muito próximo e regular com um grande número de aves infectadas, que manteve dentro e ao redor de sua casa por um período prolongado de tempo", informou na ocasião a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, acrescentando que a população jamais deve ficar em contato com aves doentes ou mortas.

Quanto mais um vírus circula, especialmente se estiver em contato com outras espécies, maior é a capacidade dele de sofrer mutações que lhe confiram eficiência na infecção de outros animais ou até de humanos.

Michelle Wille e Ian G. Barr sugerem medidas para minimizar os riscos do vírus da gripe aviária H5N1.

A principal delas é tratar com mais seriedade os surtos do vírus, especialmente em ambientes onde humanos estão envolvidos, além de investimentos em vigilância de aves e aves selvagens.

R7

Um estudo apresentado no último dia 23 no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas acende um alerta para a possibilidade de superbactérias serem transmitidas de porcos para humanos, aumentando o problema da resistência dos medicamentos antimicrobianos que já existe atualmente.

Pesquisadores da Universidade de Copenhague e do Statens Serum Institut, na Dinamarca, analisaram amostras da superbactéria Clostridioides difficile em 14 fazendas de porcos no país. Eles descobriram o compartilhamentos entre suínos e humanos de vários genes que indicam a resistência a antibióticos, o que indica que a transmissão dos animais para humanos é possível.

A C. difficile é um tipo de bactéria que afeta o intestino humano, podendo causar forte diarreia e até morte. Atualmente, apenas três antibióticos disponíveis são capazes de eliminá-la.

"C. difficile é a causa mais comum de colite associada a antibióticos e é tipicamente adquirida em hospital, mas casos adquiridos em comunidades estão aumentando. A diarreia induzida por C. difficile ocorre em até 8% dos pacientes hospitalizados, sendo responsável por 20% a 30% dos casos de diarreia adquirida em hospital", descreve o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento. Nos Estados Unidos, cerca de 224 mil pessoas foram infectadas por essa bactéria em 2017, sendo que 12,8 mil morreram. Ela é considerada uma das maiores ameaças de resistência a antibióticos.

“Nossa descoberta de genes de resistência múltiplos e compartilhados indica que a C. difficile é um reservatório de genes de resistência antimicrobiana que podem ser trocados entre animais e humanos. Esta descoberta alarmante sugere que a resistência aos antibióticos pode se espalhar mais amplamente do que se pensava anteriormente e confirma os elos na cadeia de resistência que leva de animais de fazenda a humanos”, afirmou em comunicado o cientista Semeh Bejaoui, um dos autores do trabalho.

A resistência dos antibióticos está diretamente associada ao uso excessivo na medicina e também na produção de proteína animal.

"Este estudo fornece mais evidências sobre a pressão evolutiva relacionada ao uso de antimicrobianos na pecuária, que seleciona patógenos humanos perigosamente resistentes. Isso destaca a importância de adotar uma abordagem mais abrangente para o manejo da infecção por C. difficile, a fim de considerar todas as possíveis vias de disseminação", conclui o pesquisador.

R7

Uso de cocaína provoca mudanças rápidasUma nova pesquisa do Centro Universitário de Genética Humana da Universidade de Clemson (EUA) identificou agrupamentos de células específicas no cérebro da mosca-das-frutas comum afetados pela exposição aguda à cocaína.

cocaina

A novidade estabelece potencialmente as bases para o desenvolvimento de drogas destinadas a tratar ou prevenir o vício em humanos. As descobertas foram publicadas na revista Genome Research. Embora os efeitos neurológicos da cocaína sejam bem conhecidos, a sensibilidade genética subjacente aos efeitos da droga não é. Em populações humanas, a suscetibilidade aos efeitos da cocaína varia devido a fatores ambientais e genéticos, tornando seu estudo um desafio. Aproximadamente 70% dos genes da mosca-das-frutas comum, Drosophila melanogaster, têm homólogos humanos. Isso fornece aos pesquisadores um modelo comparável ao estudar características genéticas complexas.

A pesquisa colaborativa dos geneticistas Trudy Mackay e Robert Anholt descobriu que o uso de cocaína provoca mudanças rápidas e generalizadas na expressão do gene em todo o cérebro da mosca-das-frutas. As diferenças são mais pronunciadas em homens do que em mulheres. Expectativa de terapia

Moscas expostas à cocaína apresentaram atividade locomotora prejudicada e aumento das convulsões. O estudo mostrou que todos os tipos de células cerebrais da mosca foram afetados, especialmente as células Kenyon nos corpora pedunculata da mosca e algumas células da glia. Os corpora pedunculata são centros cerebrais integrativos associados a modificações comportamentais dependentes da experiência.

Essas descobertas podem futuramente levar à terapêutica.

“Esta pesquisa identifica as regiões do cérebro que são importantes”, disse Mackay. “Agora, podemos ver quais genes são expressos quando expostos à cocaína e se há drogas aprovadas pela FDA [a agência americana que regula remédios e alimentos] que poderiam ser testadas, talvez primeiramente na mosca como modelo. Já identificamos vários desses genes. Essa é uma linha de base. Agora podemos aproveitar este trabalho para compreender a terapia potencial.” A pesquisa

No estudo, as moscas machos e fêmeas puderam ingerir uma quantidade fixa de sacarose ou sacarose suplementada com cocaína por não mais do que duas horas.

Os pesquisadores observaram seu comportamento após a ingestão de cocaína. Eles encontraram evidências de que a exposição à droga resulta em efeitos fisiológicos e comportamentais, incluindo convulsões.

Para avaliarem os efeitos do consumo de cocaína na expressão genética do cérebro, os pesquisadores dissecaram os cérebros das moscas e os dissociaram em células individuais. Foi usada uma tecnologia de sequenciamento de última geração a fim de fazer bibliotecas dos genes expressos para células individuais. Cada célula possui milhares de transcrições.

O estudo analisou 88.991 células. Técnica ultrapoderosa

Por meio de análises estatísticas sofisticadas, os pesquisadores puderam agrupá-los em 36 grupos de células distintos. A anotação de aglomerados com base em seus marcadores de gene revelou que todos os principais tipos de células – neuronais e gliais –, bem como tipos de neurotransmissores da maioria das regiões do cérebro, incluindo corpora pedunculata, estavam representados.

“Descobrimos que os efeitos da cocaína no cérebro são muito difundidos e há diferenças distintas entre homens e mulheres. Há um dimorfismo sexual substancial”, disse Anholt, professor de genética e bioquímica. “Construímos um atlas de expressão gênica modulada por cocaína sexualmente dimórfica em um cérebro modelo, que pode servir como um recurso para a comunidade de pesquisa.”

A técnica de célula única é ultrapoderosa e oferece vantagens impressionantes sobre os estudos de perfil de expressão gênica padrão.

“Se um cérebro inteiro for usado e houver heterogeneidade na expressão do gene, de modo que ele esteja acima em uma célula e abaixo em outra, você não verá nenhum sinal. Mas com a análise de uma única célula, conseguimos capturar detalhes muito, muito refinados que refletem a heterogeneidade na expressão gênica entre diferentes tipos de células. É muito emocionante aplicar esta tecnologia avançada aqui”, explicou Mackay.

Msn

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