A textura que sentimos ao comer um chocolate é uma das explicações encontradas por cientistas para o fato de esse alimento ser tão prazeroso para a maioria das pessoas.
Pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, conduziram um estudo que decodificou o processo físico que ocorre na boca quando o chocolate é comido.
A textura que sentimos ao comer um chocolate é uma das explicações encontradas por cientistas para o fato de esse alimento ser tão prazeroso para a maioria das pessoas.
Pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, conduziram um estudo que decodificou o processo físico que ocorre na boca quando o chocolate é comido.
O grupo conseguiu determinar exatamente em quais locais a gordura torna o chocolate mais prazeroso.
"Estamos mostrando que a camada de gordura precisa estar na parte externa do chocolate, isso é o mais importante, seguido por um revestimento eficaz das partículas de cacau pela gordura, que ajuda a fazer o chocolate causar uma sensação tão boa", acrescenta Anwesha.
A pesquisa não foi conduzida somente para matar a curiosidade sobre os mecanismos envolvidos nesse prazer.
Os cientistas buscam formas de, no futuro, desenvolver chocolates que possam causar a mesma sensação e ao mesmo tempo serem mais saudáveis, afirma o autor principal do trabalho, Siavash Soltanahmadi.
"Acreditamos que uma próxima geração de chocolate pode ser desenvolvida, oferecendo o toque e a sensação do chocolate com alto teor de gordura, embora seja uma escolha mais saudável. [...] Nossa pesquisa abre a possibilidade de que os fabricantes possam projetar de forma inteligente o chocolate amargo para reduzir o teor geral de gordura."
Os resultados foram publicados na semana passada na revista científica ACS Applied Materials and Interfaces.
Basta começar uma atividade física que a maioria das pessoas já começa a procurar uma forma de perder peso e ganhar massa muscular de um jeito mais eficaz.
Com isso, começa também a busca por suplementos que oferecem mais nutrientes e da melhor dieta para chegar mais rápido ao objetivo desejado. É nesse momento que a creatina é lembrada. O aminoácido é um dos cinco suplementos alimentares que têm comprovação científica de eficácia na melhora da capacidade física. Os outros são: bicarbonato, cafeína, citrato e beta-alanina. Por isso, a creatina é amplamente prescrita por médicos e nutricionistas.
Para se ter uma ideia da febre, a creatina foi o item mais vendido em 2022 no Brasil pela plataforma de vendas online Mercado Livre.
A nutricionista funcional e esportiva Gabriela Cilla explica que o suplemento “funciona como se aumentasse a produção de energia dentro da musculatura". Com isso, pessoas que fazem atividades físicas com frequência e intensidade se beneficiam com o uso. “Por exemplo, um atleta que faz maratona, vai melhorar a capacitação para o sprint final, a resistência muscular e a percepção de esforço. Para uma pessoa que faz musculação, melhora a capacidade de força, a percepção de esforço em questão da fadiga”, afirma Gabriela.
O ganho de massa muscular, a melhora na performance e na recuperação após os exercícios já são sentidos a partir das primeiras semanas de uso do nutriente.
“O paciente vai ter ganho de força perceptivo, as fibras musculares vão melhorar e ficarão equilibradas. Fica mais fácil para fazer exercícios. A percepção depende do organismo de cada um, mas, geralmente, já nas primeiras semanas conseguimos observar o efeito”, diz o médico-nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Alexandre Giffoni.
No entanto, a nutricionista ressalta que as vantagens são maiores para quem faz treinamentos mais elaborados e avançados.
“Para ter o uso da creatina na forma ergonênica [substâncias usadas com o objetivo de melhorar o desempenho esportivo], a pessoa precisa ter um treinamento um pouco mais avançado. Quem está começando agora, com caminhada, musculação, precisa de um tempo para que o organismo tenha resposta adaptativa ao exercício.”
Os indivíduos produzem a creatina de forma endógena em quantidades baixas, e as principais fontes desse aminoácido são as proteínas animais — carne de vaca, aves, peixe e ovos — consumidas por meio da alimentação.
No caso de pessoas que querem melhorar performance ou precisam aumentar a massa muscular por questões de saúde, é necessária a suplementação.
A prescrição varia entre 3 g e 5 g por dia, mas a estratégia usada é sempre individual, por isso a utilização deve ser feita com prescrição médica ou de nutricionista.
“Podemos até fazer uma estratégia de dar uma dose maior de cinco a sete dias de 20 g todos os dias e depois adequar a dose de 3 g a 5g ”, diz o médico. Quem não pode usar a creatina?
A utilização do suplemento pode ser contínua, já que as contraindicações se restringem às pessoas com problemas renais — a substância é filtrada nos rins e pode sobrecarregar o órgão.
“Temos de tomar cuidado com aquelas pessoas que têm algum problema renal, quando passam por uma fase dialítica, um diabético descompensado ou hipertenso com insuficiência cardíaca, que tenha muita retenção [de líquidos]. Às vezes vamos evitar para essas pessoas”, destaca Alexandre.
Esse é um dos motivos pelos quais a creatina não deve ser usada sem uma indicação profissional.
O inchaço e a retenção de líquido podem ser os efeitos colaterais da creatina, mas os especialistas garantem que muitas vezes esses problemas acontecem devido à desidratação.
“A creatina tem ação intramuscular, não tem ação cutânea, nem para retenção. O que acontece é que a creatina é um aminoácido e tem filtragem renal. Então, se a pessoa não tem um consumo adequado de água, vai sobrecarregar o rim, não porque o suplemento faz isso, mas por falta de água”, diz Gabriela. Muito além dos marombeiros
A utilização da creatina se popularizou pela busca de corpos mais bonitos e musculosos, mas, observadas as contraindicações, os benefícios desse suplemento vão além da estética.
No auge da pandemia, o produto ajudou muitos pacientes graves na recuperação de massa muscular.
“Usamos muito a creatina no pós-Covid, para recuperação de sarcopenia [perda de massa muscular] e em pessoas que ficaram entubadas. Nesses casos, com o intuito de recuperação e não com o intuito ergogênico”, lembra a nutricionista.
O médico acrescenta ainda que a creatina traz melhoras cognitivas em idosos.
“Para além de força muscular há outros benefícios. Em alguns casos, há até melhora cognitiva relatada em pacientes com problemas de demência ou alguns pacientes com problemas inflamatórios crônicos, como o Parkinson, alguma distrofia muscular ou até doença de Huntington. Melhoramos o processo de perda muscular desse paciente e ajudamos a parte cognitiva”, comemora Alexandre.
E finaliza: “Receito a creatina para a minha avó, que tem 95 anos. Assim, ela tem fortalecimento muscular e consegue desenvolver melhor as atividades do dia a dia dela.”
Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Greifswald, na Alemanha, e publicado na edição de dezembro da revista Psychiatry Research: Neuroimaging, traz novas evidências de que a deficiência de vitamina D tem efeito significante na aceleração do envelhecimento do cérebro.
Os cientistas analisaram imagens de ressonância magnética cerebral de 1.865 pessoas entre 20 e 82 anos. O grupo focou aspectos como tamanho da massa cinzenta, da massa branca, volume intracraniano, idade do cérebro, além dos volumes totais do cérebro e do hipocampo esquerdo e direito.
Eles estimaram a idade cerebral a partir da própria idade cronológica do participante do estudo e pelo volume do cérebro. Já os níveis de vitamina D foram medidos por coleta de amostras de sangue.
Ao compilar os dados, os autores constataram que indivíduos com deficiência de vitamina D sofriam efeito significativo no envelhecimento cerebral, sobretudo adultos mais velhos. "Usando dados de uma grande amostra da população em geral, descobrimos que a deficiência de vitamina D estava associada a padrões de neuroimagem de envelhecimento cerebral avançado, o que apoia e amplia resultados anteriores sugerindo uma ligação entre déficits de vitamina D e alterações estruturais cerebrais em idosos", escrevem os autores.
Por outro lado, os "resultados revelaram que os níveis de vitamina D foram positivamente associados ao volume total do cérebro e da massa cinzenta, bem como ao volume do hipocampo".
Os pesquisadores ressaltam que estudos anteriores já apontavam uma relação entre deficiência de vitamina D e desempenho cognitivo prejudicado, como dificuldade de memória, aprendizado e processamento de emoções, por exemplo.
"Evidências convergentes sugerem que a vitamina D e sua forma ativa têm influência direta na estrutura cerebral, na integridade neuronal e na capacidade de memória em humanos e animais. [...] Em humanos, vários estudos investigaram a relação entre o metabolismo da vitamina D e as alterações estruturais do cérebro e particularmente a idade do cérebro, indicando um papel fundamental da vitamina D nos processos de envelhecimento do cérebro", acrescentam os cientistas.
A vitamina D, também conhecida como calciferol, está envolvida em vários processos metabólicos, particularmente na regulação do equilíbrio de cálcio e fosfato.
Existem duas formas naturais de obtê-la, incluindo alguns alimentos (em menor quantidade), e a exposição aos raios ultravioleta da luz solar. Neste último caso, ela é produzida no interior do organismo. O nutriente também pode ser obtido por meio de suplementos (vitamina D3).
"A vitamina D promove a absorção de cálcio no intestino e mantém as concentrações séricas adequadas de cálcio e fosfato para permitir a mineralização óssea normal e prevenir a tetania hipocalcêmica (contração involuntária dos músculos, levando a cãibras e espasmos). Também é necessária para o crescimento ósseo e remodelação óssea por osteoblastos e osteoclastos. Sem vitamina D suficiente, os ossos podem se tornar finos, quebradiços ou deformados", explica o Escritório de Suplementos Dietéticos (ODS, na sigla em inglês), ligado aos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.
O órgão ainda acrescenta que "a vitamina D tem outras funções no corpo, incluindo a redução da inflamação, bem como a modulação de processos como crescimento celular, função neuromuscular e imunológica e metabolismo da glicose".
A forma de saber se um indivíduo tem deficiência de vitamina D é pelo exame de sangue, que vai buscar a concentração sérica de 25-hidroxivitamina D [25(OH)D], nome da primeira hidroxilação do nutriente, que ocorre no fígado.
No Brasil, a Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) entende como ideais em adultos níveis de vitamina D acima de 20 ng/ml (nanogramas por mililitro). Todavia, para idosos, o indicado é entre 30 ng/ml e 60 ng/ml.
O mesmo vale para indivíduos que foram submetidos a uma cirurgia bariátrica, que tenham doença inflamatória intestinal, estejam em terapia antirretroviral ou em tratamento oncológico, entre outras condições.
A suplementação deve ser feita sempre sob supervisão médica, com acompanhamento rotineiro dos níveis de vitamina D no sangue.
Segundo a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, a dose diária recomendada é de 600 UI (unidades internacionais) para pessoas até 70 anos; acima desta idade, são 800 UI.
Em excesso, a vitamina D pode provocar sintomas como anorexia, perda de peso, arritmia cardíaca, endurecimento dos vasos sanguíneos devido ao aumento do cálcio no sangue, possíveis danos no coração e a formação de pedras nos rins.
A dor neuropática é um tipo de dor crônica decorrente de lesão no sistema nervoso provocada, principalmente, por doenças metabólicas, como diabetes e artrite, ou por efeitos colaterais de alguns tipos de quimioterapia.
Estima-se que afete entre 3% e 15% da população, dependendo do país, e não há medicamentos específicos para tratá-la – as drogas usadas atualmente foram desenvolvidas para outras condições, como epilepsia e depressão. Agora, após mais de uma década de estudos, um grupo de cientistas brasileiros conseguiu desvendar um mecanismo ligado ao desenvolvimento desse tipo de dor crônica. Com isso, abriu uma nova fase da pesquisa, na qual será possível buscar drogas capazes de atuar nessa via metabólica e traçar um caminho para terapias dirigidas.
O estudo revelou o papel das células dendríticas (que fazem parte do sistema imune) presentes nas membranas que recobrem o sistema nervoso central (as meninges) no desenvolvimento da dor neuropática por meio do aumento da via metabólica de quinurenina.
Responsável pelo metabolismo do triptofano – aminoácido essencial na produção de vitamina B3 –, essa via tem importante função em diversos processos fisiológicos do organismo humano, como a organização da resposta imunológica. Outros trabalhos já ligaram o aumento da produção de quinurenina ao desenvolvimento de sintomas depressivos e distúrbios psiquiátricos, por exemplo.
Na pesquisa, os cientistas descobriram que a dor neuropática é anulada quando a via metabólica de quinurenina iniciada por uma enzima chamada indoleamina 2,3-dioxigenase (IDO1, na sigla em inglês) é abalada geneticamente ou por meio de uma droga.
“Foi um trabalho muito longo porque sempre buscamos aprofundar cada vez mais para entender melhor os mecanismos que estavam por trás disso. O estudo exigiu colaborações nacionais e internacionais importantes, como a do professor Andrew Mellor [da Georgia Regents University], um dos maiores especialistas em IDO no mundo. Com os resultados obtidos, abrimos essa perspectiva de desenvolvimento de novos compostos para bloquear essa via. Acreditamos que inibidores dela possam ter um papel importante no controle desse tipo de dor”, diz à Agência FAPESP Thiago Mattar Cunha, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e orientador do estudo, cujo primeiro autor é Alexandre Maganin.
A pesquisa foi publicada na revista científica The Journal of Clinical Investigation e recebeu apoio da FAPESP por meio de um Projeto Temático e do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na FMRP-USP. Também participaram pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) e da University of Texas Health Science Center.
Segundo Mattar Cunha, a descoberta abriu uma nova área de trabalho, ainda não explorada, focada em analisar o papel das meninges no contexto de dor. Caminhos
O envolvimento da via de quinureninas (cuja formação depende de algumas enzimas, principalmente IDO1) com a dor já havia sido demonstrado. Como IDO1 é induzida durante processos patológicos, principalmente inflamatórios, por citocinas pró-inflamatórias, os pesquisadores partiram da hipótese de que essa neuroinflamação ocorrida durante a indução da dor neuropática pudesse aumentar IDO, elevando os níveis desses metabólitos neurotóxicos ou neuroestimulantes.
“Utilizamos várias ferramentas para provar e elucidar se realmente essas enzimas e esses produtos tinham um papel nesse tipo de dor. Usamos modelos em camundongos e demonstramos que animais deficientes para essas enzimas ou inibidores delas são capazes de reduzir a dor neuropática. A partir daí, buscamos entender o mecanismo”, detalha Mattar Cunha.
O grupo utilizou modelo de dor neuropática induzida por lesão do nervo periférico, além da ativação na medula espinhal de células microgliais (um tipo de célula do sistema nervoso central que atua nas respostas imunológicas). Na medula, a quinurenina foi metabolizada por astrócitos (células nervosas que dão suporte aos neurônios) e também houve ativação de receptor glutamatérgico.
“Mostramos pela primeira vez que, quando há uma lesão de nervos periféricos, ocorre uma infiltração de células imunes nas meninges que recobrem a medula espinhal e os gânglios das raízes dorsais, que produzem mediadores que vão causar ou manter a hipersensibilidade dolorosa. Nesse processo há produção de IDO1 e seus metabólitos. Demonstramos que esses metabólicos vêm principalmente de células dendríticas, presentes nas meninges, causando hipersensibilidade e amplificando a via glutamatérgica, cujos receptores têm um papel importante na dor crônica”, detalha o pesquisador.
De acordo com Mattar Cunha, apesar de o estudo ter sido realizado com modelos de dor causada por trauma físico (esmagamento ou rompimento de ligadura), o mecanismo é similar em outras condições neuropáticas, como doenças infecciosas provocadas por vírus como o HIV.
O grupo de pesquisadores busca agora parceria com farmacêuticas ou outros centros para colaboração na etapa de estudos de moléculas ou drogas que possam atuar no mecanismo e inibir a dor neuropática.
No final do ano passado, artigo publicado na revista Nature Neuroscience por cientistas do CRID, incluindo Mattar Cunha, e pesquisadores da Universidade Harvard (Estados Unidos) mostrou que um componente não letal da toxina antraz tem alto poder analgésico e pode atuar diretamente nos neurônios sinalizadores da dor, incluindo a neuropática.
A toxina antraz é derivada de bactérias Bacillus anthracis, que desenvolvem esporos quando submetidas a ambientes hostis que podem causar úlceras na pele e problemas respiratórios em indivíduos expostos, levando à morte em poucas horas. A pesquisa concluiu que, por se ligar a um receptor desses neurônios, esse pedaço do antraz pode ser usado como um carreador capaz de levar outras substâncias analgésicas até as células neuronais.