A caminhada, um hábito conhecido e sempre citado para a melhoria da saúde, se mostrou mais uma vez indicado por pesquisadores: no combate dos efeitos da demência e do Alzheimer. Um estudo publicado na revista Natural Medicine mostrou que uma caminhada de cerca de 3.000 passos por dia, o equivalente a 20 minutos do exercício, apresenta um ritmo mais lento no declínio cognitivo.
Conduzido no decorrer de uma década, a publicação acompanhou 300 pessoas com idades entre 50 e 90 anos para verificar os efeitos da atividade no cérebro dos participantes. Os pesquisadores ainda não sabem exatamente o que o exercício faz para proteger o cérebro, mas já é comprovado que melhora o fluxo sanguíneo, reduz inflamações e aumenta hormônios que auxiliam na regeneração das células cerebrais.
A conclusão dos pesquisadores é de que os benefícios são maiores conforme o aumento dos passos. Enquanto uma caminhada entre 3.000 e 5.000 passos por dia pode adiar em até três anos os efeitos da doença, para quem consegue alcançar os 7.000 passos diários, o equivalente a cerca de 50 minutos, o atraso pode ser de até sete anos.
A descoberta já é um grande passo para um mal que afeta milhões de pessoas no mundo todo. A doença está ligada ao acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro — com os cientistas percebendo que o corpo em movimento ajuda o cérebro a trabalhar melhor, diminuindo o avanço dessas substâncias.
Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro mostra que casos de AVC já causaram mais de R$ 10 bilhões em prejuízos à economia brasileira, por perdas salariais e de produção de bens e serviços.
A química Carina precisou ficar seis meses afastada do emprego após sofrer um acidente vascular cerebral. Com o apoio da empresa, ela conseguiu retornar às funções, mesmo com sequelas da doença. “Fiquei na parte de pesquisa e desenvolvimento do laboratório e tive todo o apoio e consegui me recuperar”, ela conta.
Leo Nascimento, coordenador da pesquisa, destaca que, só em 2023, casos de AVC resultaram em mais de 160 milhões de dias de trabalho perdidos. Além disso, hoje em dia, R$ 2,74 bilhões são despendidos para manter benefícios de pessoas acometidas pela condição.
Estudos comprovam que as condições oferecidas no ambiente de trabalho podem influenciar na manifestação da doença. Níveis de pressão sonora acima do limite de tolerância, calor excessivo no ambiente de trabalho e jornadas prolongadas estão entre os fatores desencadeadores, segundo a médica do trabalho Simone Assalie.
“A gente tenta mostrar com esse estudo que quando a gente previne, promove e trata com agilidade, a gente reduz economicamente os impactos para a sociedade”, conclui o coordenador.
A vacina contra a dengue desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda manteve proteção duradoura por até sete anos contra hospitalizações e casos sintomáticos da doença, segundo resultados atualizados do estudo TIDES (Takeda Dengue Efficacy Study), divulgados nesta semana.
O imunizante — comercializado sob o nome Qdenga — é o mesmo que vem sendo aplicado no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2024, atualmente disponível para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Eficácia sustentada e ampla faixa etária De acordo com os dados apresentados pela empresa, a Qdenga reduziu em 84% o risco de hospitalização e em 61% os casos sintomáticos de dengue ao longo de sete anos de acompanhamento.
A proteção foi observada tanto em pessoas que já haviam sido infectadas anteriormente pelo vírus quanto naquelas sem infecção prévia, o que reforça a segurança e abrangência do imunizante — uma diferença importante em relação à vacina anterior, da Sanofi, retirada do mercado.
Estudo global O estudo TIDES acompanhou 20.000 voluntários em oito países endêmicos, incluindo o Brasil, e avaliou a eficácia da vacina contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
Os resultados mostraram que a proteção permaneceu estável mesmo em áreas de alta circulação do mosquito Aedes aegypti, o que indica benefício sustentado mesmo após vários ciclos de exposição.
O cenário no Brasil No Brasil, o Ministério da Saúde adquiriu 9,5 milhões de doses da Qdenga para o ano de 2025. A aplicação segue restrita à faixa etária entre 10 e 14 anos, que concentra a maior taxa de hospitalizações após os idosos.
O imunizante é aplicado em duas doses, com intervalo de três meses, e pode ser usado por quem já teve dengue ou nunca foi infectado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou seu uso para pessoas entre 4 e 59 anos, mas não há estudos para maiores de 60.
Na rede privada, a vacina pode ser aplicada dentro da mesma faixa etária aprovada pela Anvisa, com preço entre R$ 350 e R$ 500 por dose.
É contraindicada para pessoas com imunossupressão, gestantes, lactantes e para alérgicos a componentes da fórmula.
O Brasil registrou 6,6 milhões de casos de dengue e 5 mil mortes em decorrência da doença em 2024 — os maiores números já observados.
Em 2025, metade dos casos notificados está concentrada em São Paulo e Minas Gerais, segundo o Ministério da Saúde.
Crianças expostas ao vírus da Covid-19 ainda no útero parecem ter maior risco de apresentar atrasos no desenvolvimento neurológico aos três anos de idade.
É o que mostra um estudo conduzido pelo Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, e publicado na revista Obstetrics & Gynecology — o maior até agora sobre o tema.
A pesquisa analisou 18 mil nascimentos entre 2020 e 2021 e encontrou uma associação estatística de 29% mais diagnósticos de atraso de fala, coordenação e autismo entre os filhos de mães que tiveram infecção por SARS-CoV-2 durante a gestação.
Mas os próprios autores alertam: os dados não provam relação de causa e efeito.
“Um estudo observacional desse tipo só pode avaliar associação, não causalidade”, diz ao g1 a obstetra Lydia L. Shook, professora-assistente da divisão de Medicina Materno-Fetal do Massachusetts General Hospital e uma das autoras do trabalho. “É sempre possível que fatores não mensurados — como estresse materno, nível socioeconômico ou acesso à saúde — exerçam influência sobre o resultado.”
O que o estudo mostrou Os cientistas revisaram os prontuários de 18.124 partos registrados no sistema de saúde Mass General Brigham, em Boston.
Entre as gestantes, 4,8% (861 mulheres) tiveram teste positivo para Covid-19 em algum momento da gravidez. Aos três anos, 16,3% das crianças expostas apresentaram algum diagnóstico de atraso no desenvolvimento — ante 9,7% entre as não expostas. Após ajustes estatísticos, o risco foi 29% maior no grupo afetado.
Os diagnósticos mais comuns incluem:
Transtornos de fala e linguagem (CID-10 F80); Transtornos motores do desenvolvimento (F82); Transtorno do espectro autista (F84.0). Os resultados apontam que efeitos foram mais evidentes em infecções no terceiro trimestre e entre meninos, grupo que apresentou 43% mais diagnósticos.
“O risco aumentado no fim da gestação e entre meninos está descrito no primeiro parágrafo da discussão”, afirma Shook. “Nosso estudo não pode determinar mecanismos biológicos, mas sabemos que a transmissão direta do vírus ao feto é extremamente rara.” Como a análise foi feita A equipe desenvolveu um modelo chamado regressão logística multivariada — uma ferramenta estatística usada para entender quais fatores realmente influenciam um resultado e quais apenas parecem ter relação.
Nesse tipo de análise, os pesquisadores colocam várias variáveis no mesmo cálculo, como idade da mãe, raça e etnia, tipo de hospital, tipo de seguro (usado como indicador socioeconômico), sexo do bebê, parto prematuro e status vacinal.
Assim, é possível isolar o efeito de cada um desses fatores e avaliar se a infecção por Covid-19, por si só, está ligada ao risco de atraso no desenvolvimento infantil.
Mesmo com esses ajustes, os autores reconhecem que pode haver viés de detecção — mães que tiveram Covid-19 podem procurar mais avaliações médicas para os filhos, o que aumentaria a chance de diagnóstico.
“Por isso, incluímos o tipo de hospital no modelo: hospitais acadêmicos tendem a receber gestantes de maior risco ou a realizar avaliações mais detalhadas”, explica a pesquisadora.
O estudo não analisou marcadores biológicos, como citocinas inflamatórias ou alterações na placenta, que poderiam esclarecer os mecanismos da associação.
“Nosso trabalho não foi desenhado para isso. Discutimos a plausibilidade biológica com base em pesquisas anteriores sobre ativação imunológica materna”, complementa Shook. Resultados sólidos e relevantes Para o neurologista Alan Eckeli, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), os resultados são sólidos e relevantes, mas precisam ser lidos com cautela.
“É um estudo bem feito, com metodologia adequada e análise estatística robusta”, afirma. “Mas, por ser observacional, o que ele mostra é uma associação, não uma relação de causa e efeito.”
Eckeli destaca que a causalidade depende de múltiplos critérios científicos — como comprovação biológica, consistência entre diferentes populações e estudos longitudinais.
“O que se pode afirmar é que as crianças de mães que tiveram Covid -19 na gestação têm maior risco de apresentar alterações no desenvolvimento com três anos. Isso é relevante e merece acompanhamento, mas não é correto falar em ‘causa direta’.” Próximos passos da pesquisa A equipe americana pretende continuar acompanhando as crianças conforme envelhecem, para avaliar se os atrasos persistem, melhoram ou desaparecem com o tempo.
Shook ressalta que novos estudos — incluindo pesquisas com neuroimagem e análises experimentais de placenta e inflamação materna — são necessários para entender os possíveis mecanismos.
“Caminhos causais são de grande interesse, mas exigem estudos básicos e translacionais”, diz. A pesquisadora também observa que o grupo analisado é majoritariamente não vacinado, e portanto não é possível avaliar o papel protetor da vacinação.
“Apenas 13 mulheres tiveram infecção após parcial ou total imunização”, detalha.
Relevância em saúde pública “Mesmo sem comprovar causalidade, os resultados reforçam a importância de monitorar o desenvolvimento infantil de crianças expostas à infecção materna — especialmente quando a infecção ocorre no fim da gestação”, diz Eckeli. “Do ponto de vista de saúde pública, é algo que precisa ser conhecido. Mostra efeitos de médio prazo da Covid-19 na gravidez, e isso merece vigilância contínua.”