• 1200x200.gif
  • prefeutura-de-barao.jpg
  • roma.png
  • SITE_BANNER.png
  • TV_ASSEMBLEIA.png
  • vamol.jpg

O câncer já superou as doenças cardiovasculares como principal causa de morte em 670 municípios brasileiros, o equivalente a 12% das cidades do país. O número, que considera dados compilados até 2023, representa um crescimento de 30% em oito anos — eram 516 em 2015.

Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (5) durante o Fórum Big Data em Oncologia, no Rio de Janeiro, pelo Observatório de Oncologia, que analisou 26 anos de registros do Ministério da Saúde.

O levantamento mostra que as mortes por tumores cresceram 120% desde 1998, mais que o dobro do aumento observado nas doenças cardiovasculares (51%). Se nada mudar em termos de políticas públicas, afirmam ao g1 os pesquisadores responsáveis pela análise, o câncer deve se tornar, até 2029, a principal causa de morte no país.

“Estamos vivendo uma transição epidemiológica”, explica o oncologista do Hospital Albert Einstein Abraão Dornellas, que também integra o Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer. “Com mais gente vivendo mais tempo e melhor controle de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC), o câncer ganha peso relativo nas estatísticas. Mas isso também revela desigualdade: onde há mais estrutura e melhor registro, ele aparece com mais força.” Metodologia do levantamento O estudo é uma análise quantitativa e descritiva baseada em microdados públicos do Ministério da Saúde, especialmente do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DataSUS). Foram incluídos óbitos ocorridos entre 1998 e 2023 no Brasil, segundo o local de residência das pessoas. A base populacional usada para padronização das taxas foi a do Censo de 2022 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE). Os pesquisadores compararam as mortes por neoplasias (cânceres) com as mortes por doenças do aparelho circulatório (como infarto e AVC), observando mudanças absolutas e relativas nos períodos de 2015, 2020 e 2023. O objetivo foi identificar em quais municípios o câncer já é a principal causa de morte, medir a velocidade de crescimento dos óbitos e descrever a distribuição dos casos por sexo, faixa etária e região do país.

Sul puxa a virada O avanço do câncer no Brasil tem um epicentro definido: o sul do país.

De acordo com o estudo, 310 municípios da região — quase metade (46%) de todas as cidades brasileiras onde o câncer já é a principal causa de morte — estão concentrados nos três estados da região Sul.

O Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional, com 168 municípios (34% do total estadual) nessa condição. Lá, 22% de todas as mortes já são provocadas por tumores, índice bem acima da média nacional, de 17%.

A pesquisadora Nina Melo, coautora do estudo, explica que o cenário gaúcho é resultado de múltiplos fatores.

“O Sul tem a maior expectativa de vida do país e uma rede de diagnóstico mais estruturada, o que naturalmente amplia os registros”, diz. “Mas há também fatores ambientais e genéticos: é uma população majoritariamente caucasiana, raça mais suscetível ao câncer de pele, e há municípios com uso intensivo de agrotóxicos e exposição industrial.” Dornellas complementa que o aumento pode refletir tanto o avanço das políticas de saúde quanto as desigualdades históricas.

“Em muitas cidades do Sul, o sistema é capaz de diagnosticar melhor. Já em outras regiões, o câncer mata sem diagnóstico — e essas mortes acabam subnotificadas”, afirma.

A epidemia nos pequenos municípios Quase metade das cidades onde o câncer já é a principal causa de morte tem menos de 25 mil habitantes. Ao todo, essas 670 cidades reúnem 9,2 milhões de brasileiros, a maioria em áreas com pouca estrutura de atendimento oncológico.

“O câncer deixou de ser um problema das capitais. Ele chegou aos interiores”, diz Nina. “Nessas regiões, o diagnóstico é tardio. A mulher não faz mamografia porque precisa se deslocar para outro município e perde o dia de trabalho. Quando sente um caroço, já é um tumor avançado.”

Dornellas reforça que o interior é o novo epicentro do desafio oncológico.

“Há verdadeiros desertos assistenciais fora das capitais. Faltam serviços de patologia, cirurgia oncológica e radioterapia. Muitos pacientes percorrem centenas de quilômetros para começar o tratamento — e isso reduz as chances de cura.”

O peso do envelhecimento Segundo o estudo, 77% das mortes por câncer ocorrem em pessoas acima dos 60 anos, e 56% entre homens. Os tipos mais letais continuam sendo pulmão, mama e próstata.

“O câncer é uma doença do envelhecimento celular. Quanto mais o país envelhece, maior o número de diagnósticos”, explica Dornellas. “Mas o problema é que os idosos chegam tarde aos serviços de saúde. E os homens, em especial, ainda fazem menos exames preventivos.” Para Nina, a desigualdade regional amplia o problema.

“No Norte e Nordeste, o câncer de colo do útero — que é evitável com vacina e Papanicolau — ainda é o que mais mata mulheres. Isso mostra que o acesso é desigual e que políticas preventivas ainda não alcançam todo o território.” Diagnóstico que demora, lei que falha Mesmo após a criação da Lei dos 60 dias, que obriga o início do tratamento oncológico em até dois meses após o diagnóstico, boa parte dos pacientes ainda espera muito mais.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) tem estrutura para curar muitos tipos de câncer, mas o gargalo está na demora”, diz Nina. “Quando o tratamento começa, o tumor já se espalhou. E aí a chance de cura cai drasticamente.”

“Se o número de casos continuar crescendo, o sistema não vai suportar a pressão”, alerta Dornellas. “Precisamos de rastreamento estruturado, de equipes regionais e de logística eficiente para que o diagnóstico não dependa do CEP do paciente.” A virada que o país não acompanha Os especialistas concordam que o Brasil não está preparado para a virada epidemiológica prevista para o fim da década.

“Tratar câncer é caro e complexo. Envolve medicamentos de alto custo, equipes multidisciplinares e infraestrutura tecnológica”, explica Dornellas. “Sem investimento consistente, o sistema não vai conseguir absorver essa nova demanda.”

“É hora de agir”, reforça Nina. “A prevenção é a única estratégia sustentável. Prevenir é mais eficaz — e mais barato — do que remediar.”

G1

Cirurgias robóticas, testes genéticos e novos medicamentos estão transformando o tratamento do câncer de próstata no Brasil.

cancerprostai

Os avanços combinam precisão cirúrgica, recuperação mais rápida e terapias cada vez mais personalizadas — um salto importante no enfrentamento do tumor mais comum entre os homens brasileiros.

Com a incorporação da cirurgia robótica ao Sistema Único de Saúde (SUS), pacientes passam a ter acesso a procedimentos mais delicados, com menor risco de sangramento, impotência e incontinência.

Ao mesmo tempo, testes genéticos ajudam a identificar o tratamento mais eficaz para cada caso, e novos fármacos ampliam o controle da doença com menos efeitos adversos.

“A robótica trouxe uma revolução silenciosa. As cirurgias ficaram mais delicadas e seguras, com maior preservação dos nervos responsáveis pela ereção e pela continência urinária”, explica o urologista Vinicius Paníco, do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.

Robótica no SUS A cirurgia robótica para o tratamento do câncer de próstata foi oficialmente incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) em outubro de 2025, conforme portaria publicada pelo Ministério da Saúde.

A medida inclui a prostatectomia radical assistida por robô para pacientes com câncer localizado ou clinicamente avançado, e prevê prazo máximo de 180 dias para que os hospitais credenciados implementem o procedimento.

Segundo o Ministério, o objetivo é oferecer cirurgias com maior precisão, menor perda sanguínea e recuperação mais rápida, reduzindo complicações como incontinência urinária e disfunção erétil.

A portaria também prevê a criação de centros de referência e a expansão de telecirurgias remotas, já testadas com sucesso no país, para garantir padronização e segurança no atendimento.

Um estudo conduzido no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o uso da tecnologia robótica pode diminuir em até 25% o risco de impotência no pós-operatório.

“Com a visão aumentada, conseguimos preservar estruturas próximas à próstata, o que reduz complicações e acelera a recuperação”, explica o urologista Vinicius Paníco, do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.

“O grande desafio agora é garantir que essa tecnologia chegue a todos. Ainda há uma diferença enorme entre o paciente do sistema público, que só terá acesso à cirurgia robótica em casos mais avançados, e o da rede privada, onde o procedimento já é usado inclusive em estágios iniciais”, afirma Paníco. Oncologista e diretor da Clínica First, Raphael Brandão destaca que a tecnologia já mudou a expectativa dos pacientes.

“A oncologia de próstata entrou na era da personalização. O foco não é apenas prolongar a vida, mas garantir que o paciente viva bem, com menos efeitos adversos e preservando sua função sexual.”

Genômica transforma o diagnóstico e o tratamento Se a robótica aprimora a cirurgia, a genômica está redefinindo o modo como a doença é classificada e tratada.

Testes de perfil molecular analisam mutações no DNA do tumor e ajudam a prever o comportamento biológico da doença — se será lenta e indolente, ou agressiva e de rápida progressão.

“Nem todo câncer de próstata é igual. Há tumores de crescimento lento e outros muito agressivos. Com os testes genéticos, conseguimos prever o comportamento e definir o tratamento ideal”, explica o oncologista Igor Morbeck, também do Instituto Lado a Lado pela Vida. Segundo ele, a genômica já é usada na prática clínica para identificar pacientes que podem se beneficiar de vigilância ativa, evitando cirurgias desnecessárias, ou para selecionar terapias específicas em casos mais agressivos.

“Isso muda completamente o manejo. Estamos deixando de tratar todo mundo da mesma forma e passando a tratar cada paciente como único.” Morbeck alerta ainda que casos familiares exigem atenção especial.

“Homens com histórico de câncer de próstata, mama ou colorretal na família devem ser avaliados por oncogenética. Muitos casos em pacientes jovens têm origem hereditária.” Novas drogas ampliam a sobrevida e controlam o avanço Nos casos mais avançados, quando o tumor deixa de responder à hormonioterapia tradicional — que reduz a produção de testosterona —, entram em cena os bloqueadores hormonais de nova geração, como apalutamida, enzalutamida, abiraterona e darolutamida.

“Essas medicações agem em pontos diferentes da via hormonal e impedem que o tumor continue crescendo, mesmo com níveis baixos de testosterona”, explica o urologista Maurício Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). “Elas reduzem o risco de metástase e aumentam a sobrevida, inclusive em pacientes metastáticos, com baixa toxicidade.”

O urologista Roni de Carvalho Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da SBU, reforça que o avanço é global.

Um estudo publicado pela comissão científica da revista The Lancet projeta que o número de casos de câncer de próstata no mundo deve dobrar até 2040, passando de 1,4 milhão em 2020 para cerca de 2,9 milhões de novos diagnósticos por ano. As mortes anuais também devem crescer 85%, saltando de 375 mil para aproximadamente 700 mil no mesmo período. Segundo os autores da pesquisa, o avanço está relacionado ao envelhecimento da população, ao aumento da expectativa de vida e à maior exposição a fatores de risco, como tabagismo, obesidade e sedentarismo.

O estudo alerta, ainda, que o impacto será maior em países de baixa e média renda, onde o diagnóstico tardio continua sendo um dos principais obstáculos ao tratamento eficaz.

Cuidar mais cedo, viver melhor Apesar dos avanços, o maior desafio ainda está no acesso e na conscientização.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima 71,7 mil novos casos de câncer de próstata em 2025, e 17,5 mil mortes anuais — cerca de 48 por dia.

“O paciente do SUS ainda chega com a doença avançada, muitas vezes por falta de acesso à atenção básica. Já o da rede privada costuma ser diagnosticado cedo. É um reflexo direto das desigualdades sociais e culturais”, aponta Paníco.

O rastreamento continua sendo a principal arma:

PSA e toque retal, quando feitos de forma individualizada e acompanhados por especialistas, permitem detectar a doença antes dos sintomas, quando a chance de cura ultrapassa 90%.

G1

Foto: Freepik

A caminhada, um hábito conhecido e sempre citado para a melhoria da saúde, se mostrou mais uma vez indicado por pesquisadores: no combate dos efeitos da demência e do Alzheimer. Um estudo publicado na revista Natural Medicine mostrou que uma caminhada de cerca de 3.000 passos por dia, o equivalente a 20 minutos do exercício, apresenta um ritmo mais lento no declínio cognitivo.

caminhada

Conduzido no decorrer de uma década, a publicação acompanhou 300 pessoas com idades entre 50 e 90 anos para verificar os efeitos da atividade no cérebro dos participantes. Os pesquisadores ainda não sabem exatamente o que o exercício faz para proteger o cérebro, mas já é comprovado que melhora o fluxo sanguíneo, reduz inflamações e aumenta hormônios que auxiliam na regeneração das células cerebrais.

A conclusão dos pesquisadores é de que os benefícios são maiores conforme o aumento dos passos. Enquanto uma caminhada entre 3.000 e 5.000 passos por dia pode adiar em até três anos os efeitos da doença, para quem consegue alcançar os 7.000 passos diários, o equivalente a cerca de 50 minutos, o atraso pode ser de até sete anos.

A descoberta já é um grande passo para um mal que afeta milhões de pessoas no mundo todo. A doença está ligada ao acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro — com os cientistas percebendo que o corpo em movimento ajuda o cérebro a trabalhar melhor, diminuindo o avanço dessas substâncias.

R7

Foto: Reprodução/ Record News

Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro mostra que casos de AVC já causaram mais de R$ 10 bilhões em prejuízos à economia brasileira, por perdas salariais e de produção de bens e serviços.

A química Carina precisou ficar seis meses afastada do emprego após sofrer um acidente vascular cerebral. Com o apoio da empresa, ela conseguiu retornar às funções, mesmo com sequelas da doença. “Fiquei na parte de pesquisa e desenvolvimento do laboratório e tive todo o apoio e consegui me recuperar”, ela conta.

Leo Nascimento, coordenador da pesquisa, destaca que, só em 2023, casos de AVC resultaram em mais de 160 milhões de dias de trabalho perdidos. Além disso, hoje em dia, R$ 2,74 bilhões são despendidos para manter benefícios de pessoas acometidas pela condição.

Estudos comprovam que as condições oferecidas no ambiente de trabalho podem influenciar na manifestação da doença. Níveis de pressão sonora acima do limite de tolerância, calor excessivo no ambiente de trabalho e jornadas prolongadas estão entre os fatores desencadeadores, segundo a médica do trabalho Simone Assalie.

“A gente tenta mostrar com esse estudo que quando a gente previne, promove e trata com agilidade, a gente reduz economicamente os impactos para a sociedade”, conclui o coordenador.

R7