A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), por meio das Regionais de Saúde, está capacitando os profissionais de saúde no microplanejamento da multivacinação, que tem como objetivo melhorar as estratégias de vacinação nos municípios.
Já foram qualificados agentes de 60 cidades piauienses que fazem parte dos territórios de saúde atendidos pelas regionais de Teresina, Campo Maior, Parnaíba e Bom Jesus. Os treinamentos serão realizados nos 11 territórios de saúde do Piauí.
"Após receberem o treinamento, junto ao Ministério da Saúde, objetivando desenvolver estratégias para melhorar as coberturas vacinais na Campanha de Multivacinação, nossas equipes técnicas estão capacitando todos os 224 municípios piauienses, desde o de 31 de agosto e vamos até 14 de setembro. É de suma importância participação de todos os municípios”,lembra a coordenadora de Imunização da Sesapi, Bárbara Pinheiro.
Nesta terça-feira (12) foram treinados profissionais que vão atuar no território de saúde Entre Rios, que engloba a capital Teresina e mais 29 municípios. A superintendente de Atenção Primária à Saúde e Municípios da Sesapi, Leila Santos, destaca que a capacitação será essencial para que o estado melhore os resultados da campanha de Multivacinação.
“O programa Saúde em Dia tem como um de seus objetivos melhorar os índices de vacinação no nosso estado e ter os profissionais de todos os nossos municípios treinados e alinhados para traçar ações de vacinação durante a campanha será essencial para que a nossa cobertura aumente”, destaca a superintendente.
A Campanha de Multivacinação vai de 30 de setembro a 14 de outubro no Piauí, e tem a intenção de atualizar o calendário de vacinas de crianças e adolescentes até os 15 anos de idade e retomar as altas coberturas vacinais.
Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e colaboradores da Austrália identificaram uma proteína bacteriana capaz de manter as células humanas saudáveis por mais tempo. A descoberta pode levar a novos tratamentos para uma variedade grande de doenças relacionadas com a disfunção mitocondrial (isto é, o mau funcionamento da mitocôndria, organela produtora de energia para a célula), como câncer e doenças autoimunes.
No estudo, publicado na revista PNAS, os pesquisadores identificaram que entre as mais de 130 proteínas liberadas pela bactéria Coxiella burnetii ao invadir a célula do hospedeiro pelo menos uma tem a capacidade de prolongar a longevidade celular a partir de uma ação direta sobre a mitocôndria.
Após a invasão da célula hospedeira, a C. burnetii libera uma proteína até então desconhecida, que foi denominada pelos autores MceF (sigla em inglês para mitochondrial coxiella effector F). A molécula interage com a GPX4 (glutationa peroxidase 4), uma enzima localizada na mitocôndria. Dessa forma, a bactéria promove a sobrevivência da célula em que está hospedada, já que MceF melhora a função mitocondrial ao promover um efeito antioxidante e retardar o dano e a morte celular – que pode ocorrer quando patógenos se replicam no interior das células de mamíferos.
“A C. burnetii utiliza diversas estratégias para que a célula invadida não morra e, assim, consegue se replicar dentro dela. Uma delas é a modulação da proteína GPX4 pela MceF – mecanismo que descobrimos neste trabalho. A realocação dessas proteínas na mitocôndria celular permite que as células de mamíferos vivam por mais tempo mesmo estando infectadas e com uma carga bacteriana muito alta”, explica Dario Zamboni, professor da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) e um dos autores correspondentes do artigo.
O estudo foi feito no âmbito do CRID (Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias) – um CEPID (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão) da FAPESP –, em colaboração com a professora Hayley Newton, da Universidade Monash, na Austrália. A investigação também contou com financiamento por meio de um projeto coordenado por Zamboni.
“Basicamente, encontramos uma estratégia usada pela C. burnetii para manter a célula saudável por mais tempo enquanto ela se replica intensamente. Observamos que a bactéria redireciona – por meio da proteína MceF – a enzima da própria célula hospedeira [GPX4] para a mitocôndria, de modo a atuar como um potente antioxidante para a célula infectada, o que impede o envelhecimento de componentes celulares”, explica Robson Kriiger Loterio, primeiro autor do estudo, que é fruto de seu doutorado.
Biologista celular A C. burnetii é a causadora da chamada febre Q, uma zoonose relativamente comum, mas pouco diagnosticada. A bactéria causa uma pneumonia atípica em humanos, além de coxiellose em diversos animais. Zamboni explica que esse patógeno é altamente adaptado para infectar macrófagos e monócitos (glóbulos brancos que atuam na linha de frente da resposta imune), inibindo uma série de respostas do hospedeiro contra a infecção.
“O interesse em estudar essa bactéria mais a fundo está justamente no fato de ela subverter as funções da célula. Diferentemente de outras bactérias, que só causam doenças quando já estão em grande número nos indivíduos, apenas uma C. burnetii já é o suficiente para adoecer uma pessoa saudável. Então, ela atua de maneira eficiente para modular as células invadidas. Brincamos que ela é uma biologista celular nata, capaz de modular tudo nas células hospedeiras”, conta Zamboni.
Outro aspecto interessante da C. burnetii, segundo o pesquisador, é que ela permanece cerca de uma semana se replicando dentro da célula. A título de comparação, a Salmonella (causadora de intoxicações alimentares graves) provoca a morte das células hospedeiras em menos de 24 horas.
“Observá-las [as Coxiellas] é uma ótima maneira de aprender sobre o funcionamento celular. No caso deste estudo, nos ajudou a entender como melhorar disfunções mitocondriais e nos deu insights sobre a morte programada de células humanas”, afirma o pesquisador.
No trabalho, os pesquisadores analisaram a capacidade da bactéria de subverter macrófagos e atuar diretamente na mitocôndria celular a partir de estudos in vitro e in vivo, utilizando larvas de uma espécie de mariposa chamada Galleria mellonella. Nessa primeira fase do estudo eles investigaram mais de 80 proteínas novas de Coxiella que apresentam potencial de interagir com a célula hospedeira e subverter seu funcionamento. “Focamos nossa investigação na MceF por ela atuar diretamente na mitocôndria, uma organela que é muito importante para regular o processo de morte celular”, explica Zamboni.
O grupo pretende agora trabalhar em duas novas frentes: aprofundar o entendimento sobre as outras proteínas de interesse e realizar mais estudos bioquímicos para compreender como a MceF influencia a proteína celular GPX4. "O bonito desse trabalho é que, a partir de estudos com uma bactéria, podemos aprender mais sobre sinalização, morte celular e novas maneiras de reverter a disfunção mitocondrial. Não precisa inventar uma nova técnica, o processo já ocorre durante a interação entre essas bactérias com as células”, diz.
Meningite pneumocócica? Apesar do nome pneumococo, essa família de bactérias está associada a doenças que vão além dos pulmões, podendo causar infecções graves nessas e em outras partes do corpo, incluindo quadros generalizados e letais. Além da pneumonia, a bactéria causa meningites, otites, sinusites, bronquites e laringites, e pode agravar para um quadro de sepse.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que as doenças pneumocócicas são responsáveis por 15% de todas as mortes de crianças menores de 5 anos em todo o mundo. Elas também são consideradas a maior causa de mortalidade infantil por uma doença prevenível por vacinas e, somente na América Latina e Caribe, causam até 28 mil mortes infantis por ano. A Sociedade Brasileira de Imunizações também ressalta a importância de se proteger contra o pneumococo, que é mais comum no inverno e causa quadros agravados associados ao vírus da gripe.
A boa notícia é que a infecção por essas bactérias pode ser prevenida por vacinas gratuitas disponibilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 18 de setembro de 2023. A imunização é importante principalmente no início da infância, já que as doenças pneumocócicas são especialmente graves para menores de 5 anos, idosos e pessoas com comorbidades.
A transmissão dos pneumococos pode ser silenciosa. Essas bactérias são disseminadas por meio de gotículas de saliva ou muco, eliminadas pela tosse ou espirro, por exemplo. As pessoas infectadas podem transmiti-las mesmo sem apresentar sinais ou sintomas da doença, o que torna a vacinação ainda mais importante como estratégia de prevenção. A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações Flávia Bravo explica que os não vacinados têm grandes chances de um caso grave de doença pneumocócica porque a bactéria causadora dessa infecção é protegida por uma cápsula de polissacarídeos, uma espécie de armadura capaz de enganar os sistemas de defesa do corpo humano, que têm dificuldade de contê-la.
Essa capa é o que determina o sorotipo da bactéria, que é sempre a mesma, e também é essa a estrutura que determina se a virulência de cada sorotipo será maior ou menor.
A proteção dos recém-nascidos contra os pneumococos começa aos 2 meses, com a primeira dose da vacina pneumocócica 10-valente, que recebe esse nome por prevenir contra dez tipos de pneumococo. O esquema de vacinação continua aos 4 meses, com a segunda dose, e, aos 12 meses, há uma dose de reforço.
Consideradas parte do grupo mais vulnerável, as crianças de povos indígenas devem receber, a partir dos 5 anos, a vacina pneumocócica 23-valente. Essa vacina também é indicada para pessoas com mais de 60 anos que estejam acamadas ou abrigadas em instituições de longa permanência. Apesar de conter mais sorogrupos do pneumococo, a 23-valente tem uma tecnologia menos eficaz que a 10-valente e a 13-valente, o que faz com que sua indicação só traga benefícios para grupos específicos que já estejam vacinados com alguma dessas duas vacinas.
“Ela tem tipos que não estão na 13-valente que são importantes para o idoso e para o paciente especial. O paciente com pior resposta imune é mais suscetível, e sorotipos que não são importantes para pessoas mais saudáveis aparecem nessa população”, explica Flávia Bravo. “Mas não faz sentido ela fazer parte da rotina infantil nem do adulto.”
A doença pneumocócica também é considerada grave para idosos. Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), os pneumococos adoecem 1 milhão de adultos americanos por ano com pneumonia pneumocócica - de 5% a 7% morrem da doença. A infectologista Elaine Bicudo explica que a proteção contra diversos sorotipos é importante pela variedade genética da bactéria e os diferentes quadros clínicos que esses tipos causam. A Organização Mundial da Saúde contabiliza mais de 90 tipos de pneumococos, mas apenas uma pequena parte causa quadros graves em seres humanos.
“O Streptococcus pneumoniae é uma bactéria que tem uma série de variantes. Assim como aprendemos com a covid-19, há uma grande variedade de sorotipos. Há os que podem evoluir mais gravemente, para pneumonias e meningites, há sorotipos mais prevalentes em cada região, e também os que mais causam otites e sinusites, por exemplo.”
A médica acrescenta que essa característica, inclusive, deve levar gradativamente à substituição da vacina pneumo 10 pela pneumo 13, mais abrangente. Nas clínicas privadas, a previsão é de inclusão da pneumocócica 15-valente.
Grávidas negras (pretas e pardas) que buscaram atendimento médico com sintomas de Covid-19 durante a pandemia do coronavírus chegavam no pronto-atendimento com quadros clínicos mais graves do que as gestantes não negras. A constatação é de uma pesquisa de mestrado realizada na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) que partiu da pergunta: “a cor da pele importa?” e analisou dados coletados pela Rebraco (Rede Brasileira de Estudos da Covid-19 em Obstetrícia) em 15 maternidades do país entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021.
Para chegar aos resultados, a pesquisa cruzou informações de 710 grávidas de várias regiões do Brasil e avaliou características sociodemográficas, testagem do coronavírus, tempo para procurar o atendimento médico após início dos sintomas e desfechos após o parto. Das 710 participantes, 301 eram mulheres que se autodeclararam pretas ou pardas e 409 não negras.
Um dos itens que indicava a gravidade dos quadros clínicos das pacientes foi o índice de saturação de oxigênio no momento do atendimento. Em uma pessoa saudável, sem doença pulmonar crônica, esse índice deve variar entre 95% e 100%. A pesquisa constatou que as gestantes negras apresentavam saturação abaixo de 93% quase quatro vezes mais frequentemente do que as não negras.
Além disso, a pesquisa observou que mais mulheres negras precisaram ser internadas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e necessitaram de intubação (suporte mecânico de oxigênio) – foram 27 negras e 21 não negras. Isso também demonstra que os quadros clínicos delas eram mais complicados e exigiam mais suporte. Outra constatação do estudo é que entre as mulheres negras havia uma maior proporção de adolescentes, menor escolaridade, menor IMC (Índice de Massa Corporal) e mais casos de gravidezes não planejadas.
Racismo na saúde Mas, afinal, o que explica essa disparidade? Segundo a pesquisadora Amanda Dantas da Silva, médica ginecologista e obstetra doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Tocoginecologia na Unicamp, não existe uma resposta única e sim um conjunto de fatores que levam essas mulheres a terem um pior acesso à saúde – entre eles, a dificuldade de acesso, tanto em questões de locomoção quanto em questões sociais relacionadas à emprego, por exemplo.
“É uma cascata de eventos. Em geral, essas mulheres vivem em regiões periféricas e têm piores condições socioeconômicas, o que faz elas terem mais dificuldades tanto para acesso no sentido de transporte quanto na questão da distância. Elas moram longe do serviço que é referência para gestantes. Elas também enfrentam mais dificuldades para deixar o trabalho, muitas não têm com quem deixar as crianças. E tem ainda a questão da percepção de sofrer discriminação. Muitas delas evitam procurar serviços médicos porque acham que vão sofrer preconceito”, afirmou Silva.
Em relação à mortalidade, quatro gestantes que participaram do estudo morreram: três eram negras e uma não negra. Segundo Silva, estatisticamente o número não é relevante diante da quantidade de pessoas avaliadas, mas a proporção três para um chama a atenção e merece uma avaliação mais cuidadosa.
“Essas mulheres demoram mais para buscar atendimento. O que a gente nota é que não chegar ao serviço de saúde é só a ponta do iceberg porque temos um conjunto de fatores prévios a isso, que incluem piores condições socioeconômicas da população negra, a gente tem o viés implícito, a percepção de sofrer discriminação e racismo. Todos os fatores em conjunto levam a maior dificuldade de acesso ao serviço de saúde”, avalia a pesquisadora.
A médica ginecologista e obstetra Rita Sanchez, coordenadora do setor de Medicina Fetal do Hospital Israelita Albert Einstein, concorda que entender as razões para a demora dessas mulheres buscarem atendimento é uma discussão profunda e complexa, que passa pela questão do racismo.
“Muitas vezes, quem não estuda as influências do racismo na sociedade e na saúde talvez não consiga enxergar a complexidade dessa questão. Em várias culturas, as mulheres de pele cor preta são subjugadas desde a infância e aprendem que não têm direito aos mesmos recursos que as mulheres de pele não preta. Elas ouvem histórias de suas famílias e aprendem que se reclamarem, seja de dor ou de qualquer outro sintoma, podem ser discriminadas”, diz a médica do Einstein.
Silva ressalta que os resultados demonstram que existem disparidades raciais na saúde e existe um racismo institucional, estrutural e cultural que precisa ser combatido porque ele reflete nos cuidados à saúde dessas pacientes. “O racismo é um sistema de opressão que se baseia em características fenotípicas para justificar uma desigualdade de acesso. A base na nossa sociedade é racista e isso tem um reflexo negativo direto nos resultados da saúde”, diz a médica.
Ainda segundo a pesquisadora, dados na literatura demonstram que as pessoas negras sofrem diferenças em relação à saúde. No caso da ginecologia e obstetrícia, as mulheres negras fazem menos consultas de pré-natal, sofrem mais complicações em decorrência de pré-eclâmpsia, têm mais hemorragia pós-parto, recebem menos medicação para dor e menos analgesia no trabalho de parto.
“Existe diferença no tratamento das pessoas baseada na cor da pele. As mulheres negras sofrem discriminação de gênero, de cor de pele, por questões socioeconômicas. O que a gente nota é que não chegar ao serviço de saúde é só a ponta do iceberg porque temos um conjunto de fatores prévios a isso. A gente precisa se reconhecer como sociedade racista para ampliar o debate sobre o racismo em saúde porque ele continua muito presente”, disse.
Na avaliação de Sanchez, os resultados dessa pesquisa da Unicamp são muito importantes pois vêm corroborar o que o Einstein já observou em duas ações colaborativas realizadas em conjunto com o IHI (Institute for Healthcare Improvement): uma chamada “Abraço de Mãe” e a outra chamada “Todas as mães importam”. Nessas ações, realizadas em 19 e 37 hospitais públicos espalhados em várias regiões do Brasil, um dos principais direcionadores de melhoria no atendimento à saúde era justamente classificar na admissão do hospital as pacientes pela cor da pele, e tratar as mulheres pretas como mais vulneráveis.
“Elas sentem dor como todas as mulheres, mas não reclamam. Elas se sentem mal, mas não reclamam. Elas não conseguem o acompanhamento pré-natal adequado por várias questões citadas [falta de conhecimento, de oportunidade, de transporte, falta de recurso financeiro], mas não reclamam. Por isso chegam mais tarde no atendimento à saúde. Portanto, devemos “dar mais voz a elas”, mostrar que estão em um ambiente seguro e que podem falar o que sentem. Assim, conseguiremos fazer o diagnóstico dos problemas de saúde das mulheres de pele preta e atuar a tempo”, finalizou Sanches.