Pesquisadores americanos fizeram um estudo que contradiz o que por muitos anos se difundiu: beber álcool pode fazer você ver uma pessoa de forma mais atraente. São os chamados "óculos de cerveja", mas que não funcionam exatamente dessa forma, segundo um artigo publicado nesta quarta-feira (30) na revista científica Journal of Studies on Alcohol and Drugs. O estudo foi conduzido com a participação de 18 pares de amigos do sexo masculino na casa dos 20 anos.
Todos foram convidados a avaliar a atratividade de pessoas mostradas em fotos e vídeos. Eles foram informados de que poderiam ter a oportunidade de interagir com uma dessas pessoas em um experimento futuro.
Os homens foram divididos em dois grupos: em uma ocasião, os participantes de ambos os grupos receberam álcool para beber (até cerca de 0,08% de concentração de álcool no sangue, que é o limite legal para dirigir nos EUA); em outro momento, receberam uma bebida não alcoólica.
Depois de fornecerem as classificações de atratividade, eles foram solicitados a escolher com quais pessoas eles mais gostariam de interagir.
Os resultados mostraram que o álcool não afetou a percepção da atratividade, mas aumentou a probabilidade de os homens quererem interagir com pessoas que já achavam atraentes quando estavam sóbrios.
Isso levou os pesquisadores a sugerir que o álcool não altera a percepção, mas aumenta a confiança nas interações sociais.
"O conhecido efeito dos óculos de cerveja causado pelo álcool às vezes aparece na literatura, mas não de forma tão consistente quanto se poderia esperar", diz Michael Sayette, um dos autores do trabalho, que é membro do Stanford Prevention Research Center, em Palo Alto, Califórnia.
O que os cientistas encontraram foi mais definido como "coragem líquida", devido ao papel desinibidor de bebidas alcoólicas na maioria das pessoas, acrescenta a investigadora principal do estudo, Molly Bowdring.
"As pessoas que bebem álcool podem se beneficiar ao reconhecer que as motivações e intenções sociais valorizadas mudam ao beber, de maneiras que podem ser atraentes a curto prazo, mas possivelmente prejudiciais a longo prazo."
A abordagem do estudo não visa estimular o consumo de álcool — muito pelo contrário. Os resultados da pesquisa podem ter implicações para terapeutas e pacientes a fim de evitar que o álcool seja uma válvula de escape para pessoas inibidas, por exemplo.
O relatório Esgotadas: empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres, desenvolvido pela ONG (Organização não governamental) Think Olga, indica que 45% das mulheres brasileiras têm um diagnóstico de ansiedade, depressão, ou outros tipos de transtornos mental no contexto pós pandemia de Covid-19. A ansiedade, transtorno mais comum no Brasil, faz parte do dia a dia de 6 em cada 10 mulheres brasileiras. A pesquisa foi realizada com 1.078 mulheres, entre 18 e 65 anos, em todos os estados do país, entre 12 e 26 de maio de 2023. A margem de erro é de 3 pontos percentuais e o intervalo de confiança é de 95%.
“O relatório não surpreende porque são dados que já sabíamos que aconteciam, ou seja, as mulheres estão cansadas e sobrecarregadas. Quase metade da população feminina tem algum transtorno mental e com muito pouco acesso a cuidados específicos. A maioria diz que, como ferramentas para conseguir lidar com essa questão, tem a atividade física ou a religião. Tem uma insatisfação com diversas áreas da vida. A questão financeira é a que mais preocupa e a dupla ou tripla jornada é o segundo maior fator de pressão sobre a psique feminina”, disse Maíra Liguori, diretora da Think Olga.
Com a proposta de entender as estruturas que impõem o sofrimento das brasileiras na atualidade, o relatório reúne dados que demonstram desde a sobrecarga de trabalho e insegurança financeira até o esgotamento mental e físico causado pela economia do cuidado, que enquadra todas as atividades relacionadas aos cuidados com a casa e com produção e manutenção da vida.
A situação financeira e a capacidade de conciliar os diferentes aspectos da vida têm as menores notas de satisfação entre as entrevistadas. Em uma classificação de 1 a 10, a vida financeira recebeu a classificação 1.4, já para a capacidade de conciliação das diferentes áreas da vida, a nota ficou em 2.2. A situação financeira apertada atinge 48% das entrevistadas e a insatisfação com a remuneração baixa alcança 32% delas. Cinquenta e nove por cento das mulheres das classes D e E estão insatisfeitas com sua situação financeira. Essa insatisfação atinge 54% das pretas e pardas. As mulheres são as únicas ou principais provedoras em 38% dos lares. Essas mulheres são, em sua maior parte, negras, da classe D e E e com mais de 55 anos de idade. Somente 11% das entrevistadas dizem não contribuir financeiramente para a manutenção de suas famílias.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio realizada em 2022, as mulheres gastam 21,4 horas da semana em tarefas domésticas e do cuidado, os homens usam 11 horas. Já o relatório Esgotadas mostrou que a sobrecarga de trabalho doméstico e a jornada excessiva de trabalho foram a segunda causa de descontentamento mais apontada, atrás apenas de preocupações financeiras. O trabalho de cuidado sobrecarrega principalmente as mulheres de 36 a 55 anos (57% cuidam de alguém) e pretas e pardas (50% cuidam de alguém).
Oitenta e seis por cento das mulheres consideram ter muita carga de responsabilidades. A insatisfação entre mães solo e cuidadoras é muito superior em relação àquelas que não têm esse tipo de responsabilidade. As cuidadoras e mãe solo também são as mais sobrecarregadas com as tarefas domésticas e de cuidado, com 51% das mães e 49% das cuidadoras apontando a situação financeira restrita como o maior impacto na saúde mental. Isso quer dizer que a sobrecarga de cuidado também é um fator de empobrecimento das mulheres ou “feminização da pobreza”, segundo o relatório.
Entre as entrevistadas mais jovens, 26% declararam que os padrões de beleza impostos impactam negativamente na saúde mental. Já o medo de sofrer violência é citado por 16% das entrevistadas.
Para 91% das entrevistadas, a saúde emocional deve ser levada muito a sério e 76% estão buscando prestar atenção à saúde mental, principalmente após a pandemia de Covid-19. Só 11% afirmam que não cuidam da sua saúde emocional de nenhuma forma. “É necessário que comecemos a entender o impacto do trabalho de cuidado e suas consequências, além de partirmos de discussões que desestigmatizem tabus sobre a saúde mental. É essencial incentivar ações do setor privado, da sociedade civil e, principalmente, do setor público para um futuro viável para as mulheres”, afirmou, em nota, Nana Lima, co-diretora da Think Olga.
Pesquisadores brasileiros e britânicos desenvolveram um biossensor eletroquímico capaz de detectar a infecção por febre amarela ao utilizar cápsulas de café recicladas. Além de tornar o sensor mais sustentável, a iniciativa deixa a ferramenta mais barata por ser construída a partir de produtos reciclados.
A ideia partiu da dificuldade de diagnosticar a infecção, que tem sintomas semelhantes aos de outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como a chikungunya, a dengue e a zika.
Desenvolvido por Cristiane Kalinke durante seu estágio de pós-doutoramento na Inglaterra, o projeto envolveu pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade de São Paulo, além da Faculdade de Ciência e Engenharia da Universidade Metropolitana de Manchester (Inglaterra), com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O sensor é feito em impressora 3D e cumpre os critérios estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para testes diagnósticos em locais remotos ou com poucos recursos.
O dispositivo funciona com eletrodos impressos em ácido polilático de cápsulas de café processadas e recicladas, que ficam em sua superfície. A reação eletroquímica acontece por meio da condutividade dos filamentos com nanotubos de carbono e negro de fumo como aditivos. Os fragmentos do DNA da febre amarela se encaixam na sequência genética de apenas uma gota de amostra de soro sanguíneo dos pacientes. Por meio da diferença de sinais antes e depois dessa ligação, o diagnóstico é feito. Além disso, também foi possível diferenciar resultados em amostras que con tinham o vírus da febre amarela e da dengue, o que permitiu o diagnóstico preciso da doença.
“Sensores miniaturizados como esse poderiam ser facilmente transportados a regiões ou comunidades remotas, onde a febre amarela é mais comum. Isso é especialmente importante no caso de doenças comuns em países tropicais e consideradas negligenciadas, que carecem tanto de estratégias de prevenção quanto de tratamento”, disse a pesquisadora.
Esta terça-feira, 29 de agosto, é a data que celebra o Dia Nacional de Combate ao Fumo, o principal fator causador do câncer de pulmão. Esse tipo de câncer é o segundo mais comum em todo mundo, depois do de mama. No Brasil, é o quarto em incidência, atrás dos cânceres de mama, próstata e intestino. Com o intuito de sensibilizar os fumantes a largar o vício, representantes da Fundação do Câncer estarão hoje na rodoviária do Rio de Janeiro para distribuir panfletos com um QR code que direciona para a Cartilha Prática para Parar de Fumar, com orientações a quem deseja abandonar o cigarro. A ação ocorre das 7h às 18h.
Quem passar pelo local poderá também participar da campanha interativa #FumoTôFora, tirando foto e escolhendo a sua mensagem para postar nas redes sociais: "Sou vitorioso! Larguei o cigarro", "Este ano, paro de fumar", "Abaixo o vape!" e "Cigarro nunca mais".
As equipes estão no setor de embarque superior do terminal, próximo à praça de alimentação e à passarela central. Os painéis eletrônicos da rodoviária exibirão mensagens de conscientização às cerca de 40 mil pessoas que circulam diariamente no terminal. A campanha se estenderá ao ambiente virtual, nas redes sociais da Fundação do Câncer e da rodoviária do Rio.
Outros oito terminais rodoviários do país sob gestão da Socicam, que recebem juntos 4,1 milhões de passageiros por mês, exibirão mensagens contra o tabagismo. Participam da campanha os terminais Tietê, Barra Funda e Jabaquara (na capital paulista), Ribeirão Preto, Campinas e Jundiaí (SP), Campo Grande (MS) e Brasília (DF). Outros parceiros da iniciativa são a Ecoponte e a Onbus, que divulgarão a mensagem da campanha nos painéis de LED da ponte Rio-Niterói e em pontos de ônibus e mobiliário urbano.
O diretor-executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, afirmou que a ideia é alcançar o maior número de pessoas de todas as camadas da população, especialmente das classes C e D, que, segundo recentes pesquisas, são as que mais compram cigarros. “Um recente estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelou que o percentual de gasto mensal com cigarro é maior entre os mais pobres e mais jovens”, disse Maltoni.
De acordo com o médico titular da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) Wesley Pereira Andrade, o tabaco também está relacionado aos cânceres de boca, orofaringe, esôfago, pâncreas e intestino. “O câncer de pulmão é o principal alvo. Entretanto, outros órgãos são afetados também.”
O especialista citou ainda o câncer de bexiga e o das vias urinárias, que também podem ser consequência do fumo, visto que boa parte do que é absorvido pelo organismo cai depois na corrente sanguínea e é excretado pelo rim. “Significa que as vias urinárias são alvo também dos efeitos do tabagismo.”
Diagnóstico precoce De acordo com Andrade, o tabagismo é responsável pela maioria dos cânceres de pulmão. “Cerca de 85% a 90% dos casos de câncer de pulmão são tabacorrelacionados. O tabagismo é um agente causal importante do câncer de pulmão.”
À Agência Brasil, o médico explicou que o câncer de pulmão tem uma peculiaridade: é difícil descobri-lo na fase inicial. Quando o câncer de pulmão é detectado, na maioria das vezes ele já está em fase mais avançada, em que a chance de cura é pequena. “A mortalidade do câncer de pulmão é muito alta”. O índice é de 80%.
Andrade informou que a chance de cura é bem reduzida (20%) porque, biologicamente, a doença é bastante agressiva. Hoje em dia, entretanto, há algumas estratégias de diagnóstico precoce. Para pacientes com mais de 55 anos que fumam muito, é recomendável fazer uma tomografia de tórax de rastreamento anual.
“A perspectiva é de tentar achar o câncer de pulmão antes de ele apresentar sintomas. Porque, quando ele dá sintomas, já está em fase avançada. A estratégia seria, então, detectar o câncer de pulmão pequenino.”
O médico explica que o exame de rastreamento não é padrão na maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil, “mas é recomendável”. Andrade defendeu a adoção dessa estratégia no país para tentar diagnosticar a doença no início, assim como é feito com os exames periódicos de mamografia para detectar o câncer de mama.
“A principal estratégia é não fumar, mas, para aqueles que fumam, a melhor estratégia é encontrar a doença em sua fase inicial, através da tomografia de tórax.”
Fumantes passivos O especialista advertiu para o risco de uma pessoa não fumante contrair câncer de pulmão por conviver com fumantes.
“Outro fator de risco é, realmente, o tabagismo passivo. Estar em um ambiente no qual as pessoas fumam, aquela pessoa que está consumindo o tabaco de forma indireta tem o risco aumentado de doenças pulmonares, inflamatórias e, também, de câncer de pulmão e outros cânceres relacionados ao tabaco.”
Tratamento Uma vez detectado precocemente, o tratamento do câncer de pulmão é cirúrgico e envolve a retirada da parte afetada do órgão. Isso pode ser complementado com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Há também a terapia-alvo, um tipo de tratamento que usa drogas para atacar especificamente as células cancerígenas e provoca pouco dano às células normais.
Para os casos avançados descobertos tardiamente, quando já existem sintomas, o tratamento é feito com medicamentos, quimioterapia e imunoterapia.
“Ou seja, quanto mais precoce se descobre o câncer de pulmão, mais estratégia cirúrgica de retirar a lesão vamos ter, com maior chance de cura. Para os casos avançados, a cirurgia já não tem papel importante.”
Sintomas Os sintomas que alertam o indivíduo para o câncer de pulmão são tosse diferente do padrão, escarros constantes, dor torácica, falta de ar e emagrecimento. Esses sintomas chamam a atenção da pessoa para que busque uma equipe médica o mais rápido possível.
Weley Pereira Andrade lembra que o tabagismo se relaciona com uma piora da qualidade de vida geral da pessoa do fumante: “Vai sentir cansaço, vai ter redução da capacidade de trabalho, da capacidade cognitiva, da atividade sexual, da chance de a mulher engravidar”.
O cirurgião conta que pacientes que descobrem a doença na fase idosa frequentemente sentem peso na consciência por não poderem sequer brincar com os netos.
Cigarro eletrônico Embora as frequentes campanhas contra o tabagismo tenham apresentado resultado no número de fumantes no país, o consumo de cigarros eletrônicos, especialmente por jovens, vem aumentando. Segundo os dados do sistema Vigitel (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, o número de brasileiros tabagistas caiu de 30%, em 2000, para 9%, em 2021.
Em contrapartida, o consumo de dispositivos eletrônicos vem aumentando no país. Uma pesquisa recente do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), realizada neste ano, mostra que 2,2 milhões de adultos (1,4%) consumiram cigarros eletrônicos até 30 dias antes do levantamento. Há seis anos, o índice entre a população era de 0,3%.
O geriatra Rafael Canineu, diretor médico de Health Analytics da Alliança Saúde, destacou a necessidade de concentrar esforços para mudar o cenário de consumo de cigarros eletrônicos no país. Ele explica que adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornar fumantes na vida adulta.