Ainda em caráter experimental, as pesquisas com células-tronco prometem grandes avanços em muitas áreas da medicina. A reprodução humana não fica para trás. Para o médico australiano Alan Trounson (foto), um dos pioneiros das técnicas de fertilização in vitro (FIV), as células-tronco podem mudar a maneira com que a reprodução humana é vista hoje. Ele esteve no Brasil em agosto para falar sobre o assunto no 16º Congresso de Reprodução Assistida, realizado no Guarujá (SP).
Alan foi o responsável pelo primeiro bebê de proveta da Austrália, em 1980. Desde então, seus estudos em reprodução humana contribuíram para aprimorar as técnicas utilizadas. Sua equipe gerou a primeira criança nascida de congelamento de embriões e foi pioneira no uso com sucesso de drogas de indução ovulatória nos tratamentos de FIV.
Para ele, muitas técnicas desenvolvidas desde que começou a estudar reprodução humana melhoraram o tratamento, como a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) e o diagnóstico pré-implantacional do embrião. Alan acredita também que o número de 5 milhões de bebês nascidos por FIV no mundo desde que a técnica passou a ser utilizada continuará crescendo rapidamente. "Em alguns países, 4% dos bebês são provenientes de FIV", diz.
Ele também considera importante o desenvolvimento de pesquisas com células-tronco embrionárias, que estuda desde 1998. Ele mudou sua linha de pesquisa devido a seu interesse na busca da cura para diferentes doenças, como HIV, diabetes e Parkinson. Hoje é presidente do Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia, nos Estados Unidos. O instituto recebeu neste ano US$ 150 milhões para realizar pesquisas com células-tronco e levar estudos à fase de testes clínicos.
Embora Alan não tenha como foco de suas pesquisas a reprodução humana, ele não descarta a importância das células-tronco nessa área. "No futuro, será possível produzir espermatozoides ou óvulos a partir de muitas células. O resultado vai ser mais efetivo, utilizando células do cordão umbilical, que são mais jovens", afirmou.
Lado ético
Embora liberados no Brasil desde 2008 e em muitos outros países, os estudos com células-tronco embrionárias ainda levantam discussões éticas. "Nós temos observado uma preferência pela utilização das células-tronco adultas e não as embrionárias, até porque consideramos o embrião uma vida, o que envolve toda uma questão de proteção e cuidado", Paulo Taitson, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e especialista em bioética e reprodução humana.
Para ele, os outros tipos de células-tronco seriam melhores. "Sob o aspecto científico, as pesquisas com células-tronco adultas têm dado resultados muito melhores com uma perspectiva mais adequada. Acreditamos que possam preencher toda a demanda", afirma.
Alan acredita que a sociedade deve aceitar e estimular a utilização das células-tronco em geral. "Os 5 milhões de bebês pós-FIV significam uma boa medicina. A mesma medicina poderá ajudar milhões de pessoas por meio das células-tronco. Boa medicina, baseada em evidências", afirma.
Cross Content