Um novo estudo, publicado neste domingo (15) na revista científica Nature Medicine, mostrou que injeções semanais de tirzepatida, associadas a mudanças prévias no estilo de vida, resultaram em uma perda de peso de 24,3% após 84 semanas (19 meses). Os participantes da pesquisa que aderiram a esse esquema emagreceram, em média, 29 kg.
Os voluntários que integraram o estudo eram adultos com obesidade ou sobrepeso e comorbidades relacionadas ao peso, exceto diabetes tipo 2. Eles passaram por um período de 12 semanas de intervenções, como mudança na alimentação e atividade física.
Em seguida, uma parte iniciou o tratamento com as injeções de tirzepatida, e a outra recebeu placebo (substância sem efeito terapêutico). Nenhum integrante sabia realmente se estava ou não tomando o medicamento.
"Esses são achados extraordinários, que mostram que os participantes — que já haviam perdido 6,9% de seu peso corporal em relação à linha de base com aconselhamento dietético e atividade tradicionais — perderam mais 18,4% do peso corporal quando receberam a tirzepatida, em comparação com um ganho [de peso] de 2,5% nos participantes que receberam placebo", comentou o principal autor do estudo, o pesquisador Thomas Wadden, da Universidade da Pensilvânia.
Para a segunda autora do estudo, a professora Ariana Chao, da Universidade Johns Hopkins, chama atenção a perda de peso significativa dos participantes que estiveram no grupo que mudou hábitos e tomou a medicação.
"Desde o início da intervenção intensiva no estilo de vida, os participantes tratados com tirzepatida tiveram uma perda média de peso corporal de 64 libras [29 kg]. Há muito tempo profissionais de saúde procuram estratégias para ajudar pacientes com obesidade a alcançar perdas dessa dimensão, o que pode beneficiar a saúde e a qualidade de vida deles."
Wadden reiterou algo que já havia sido observado em outros estudos e também se repetiu neste.
"Os pacientes que receberam intervenção no estilo de vida e tirzepatida alcançaram uma perda média de peso consistente com a produzida pela gastrectomia em manga, um procedimento amplamente utilizado na cirurgia metabólica e bariátrica. A tirzepatida pode oferecer uma alternativa segura e altamente eficaz à cirurgia em algumas pessoas com obesidade severa."
A tirzepatida, cujo nome comercial é Mounjaro, foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em setembro deste ano e deve chegar ao mercado nos próximos meses.
Embora o registro tenha sido concedido somente para o tratamento de diabetes tipo 2, estudos como esse divulgado hoje fazem com que médicos em todo o mundo já prescrevam essa droga em caráter off label (sem indicação em bula) também para a perda de peso em pacientes com obesidade ou sobrepeso e comorbidades associadas.
A tirzepatida é um agonista dos receptores de GIP (peptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e receptor do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1), combinados em uma única molécula, com aplicação por injeção subcutânea uma vez por semana.
O GIP é um hormônio secretado pelo intestino em resposta à ingestão de alimentos, enquanto o GLP-1 é secretado pelo intestino e pelo pâncreas em resposta à glicose.
Assim como a semaglutida (Ozempic), a tirzepatida promove redução da fome, aumento da saciedade e maior motilidade intestinal.
"Os efeitos colaterais mais comuns do Mounjaro incluem náusea, diarreia, diminuição do apetite, vômito, prisão de ventre, indigestão e dor de estômago (abdominal)", diz o laboratório fabricante, o americano Eli Lilly.
Efeitos colaterais mais graves podem incluir pancreatite, hipoglicemia, insuficiência renal, alterações na visão e problemas de vesícula biliar, entre outros.
É fundamental que o uso desse medicamento seja feito sob acompanhamento médico.
Um grupo de pesquisadores da Dinamarca descobriu diferenças significativas nas microbiotas intestinais de pessoas que desenvolveram lesões que podem se transformar em câncer colorretal, quando comparadas às de indivíduos que não as tiveram.
O estudo, apresentado neste domingo (15), na UEG Week 2023, evento da United European Gastroenterology, acompanhou mais de 700 participantes entre os anos 2000 e 2022.
Os participantes tiveram amostras de fezes coletadas de 2000 a 2015. As amostras de fezes dessa etapa foram coletadas antes que os participantes desenvolvessem lesões ou câncer colorretal.
As amostras de fezes de 2015 em diante foram coletadas após alguns participantes terem desenvolvido lesões ou câncer colorretal.
Os pesquisadores compararam os microbiotas intestinais dos participantes com base nas amostras de fezes coletadas nas duas fases do estudo.
Eles descobriram que os indivíduos que desenvolveram lesões ou câncer colorretal tinham microbiotas intestinais diferentes dos indivíduos que não desenvolveram nenhuma dessas condições.
Os cientistas também associaram bactérias da família Lachnospiraceae e dos gêneros Roseburia e Eubacterium ao desenvolvimento futuro de pólipos colorretais que podem se tornar cancerígenos.
"Embora não tenhamos investigado mecanismos neste estudo, é sabido de pesquisas anteriores que algumas das espécies bacterianas identificadas podem ter propriedades que poderiam contribuir para o desenvolvimento de lesões colônicas. Por exemplo, uma bactéria chamada Bacteroides fragilis é conhecida por produzir uma toxina que pode levar à inflamação crônica de baixo grau no intestino. A inflamação prolongada é considerada potencialmente genotóxica e cancerígena, o que significa que pode causar danos genéticos e promover o câncer", explica o autor principal do estudo, o pesquisador Ranko Gacesa, do Centro Médico da Universidade de Groningen.
O trabalho abre caminho para que bactérias intestinais possam ser usadas na criação de novos exames para a detecção precoce do câncer colorretal.
Os tumores colorretais de início precoce, que acometem pessoas com menos de 50 anos, devem se tornar em breve a principal causa de morte por câncer de indivíduos entre 29 e 50 anos nos Estados Unidos, segundo estimativas oficiais.
Desde o início da década de 1990, a incidência ajustada por idade desse tipo de câncer aumentou a um índice de 2% a 4% ao ano em muitos países, incluindo o Brasil, com crescimento ainda mais acentuado entre indivíduos com menos de 30 anos. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima que anualmente surgirão 44 mil casos aqui.
A maioria dos cânceres colorretais tem origem em crescimentos chamados pólipos, localizados no revestimento interno do cólon ou reto. Embora nem todos os pólipos se transformem em câncer, alguns tipos podem sofrer essa mudança ao longo de muitos anos. A probabilidade de um pólipo evoluir para câncer varia conforme o tipo em questão.
Insônia, depressão e acontecimentos estressantes podem aumentar o risco de mulheres pós-menopausa desenvolverem fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca. Isso é o que mostra um novo estudo feito por cientistas americanos de várias instituições, publicado no Journal of the American Heart Association.
Estima-se que cerca de uma em cada quatro mulheres vai desenvolver essa condição. Segundo os médicos, fatores como a idade avançada elevam os riscos de apresentar essa arritmia. Mas a nova pesquisa mostra a influência de aspectos psicossociais nesses casos, assunto que ainda é pouco estudado.
“Mulheres na pós-menopausa são o grupo de maior risco de complicações da fibrilação, e justamente elas não tinham sido bem estudadas até então”, diz a cardiologista Sofia Lagudis, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os autores revisaram dados de mais de 83 mil questionários do Women’s Health Initiative, um megaestudo americano em vigor desde a década de 1990, patrocinado pelo National Heart, Lung and Blood Institute.
Eles tiveram acesso a informações sobre histórico médico, hábitos de vida e de sono, estresse e eventos como luto, doenças e problemas financeiros das voluntárias. Nenhuma delas era portadora de arritmias no início do projeto.
Após uma década de acompanhamento, os pesquisadores observaram uma forte associação entre fatores como insônia, depressão e eventos estressantes e o desenvolvimento de fibrilação atrial.
Essa correlação se mostrou independente dos fatores de risco conhecidos, como idade, hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca e doenças das válvulas do coração.
Segundo Lagudis, essa associação provavelmente ocorre devido ao aumento dos níveis de inflamação no organismo e à ativação de vias neuro-hormonais que levam à liberação de hormônios do estresse, causando maior ativação e irritabilidade do coração.
Fatores psicossociais
“Os fatores psicossociais ainda não são estudados como deveriam, mas esse cenário deverá mudar nos próximos anos”, diz a médica. Ela lembra que eles são muito ligados entre si — por exemplo, insônia e apneia do sono, depressão e sedentarismo, depressão e abuso de álcool.
“É comum o cardiologista se deparar com um perfil de mulher com fibrilação atrial, idosa, hipertensa, depressiva. Essa mulher em geral se cuida menos, vai menos ao médico, não segue bem a medicação recomendada. Pode ter ficado viúva, pode ter o hábito de ingerir álcool em casa. Ela precisa ser mais bem identificada e ajudada”, diz.
A fibrilação atrial é o tipo mais comum de arritmia, apresentando alta prevalência e taxa de mortalidade. Afeta aproximadamente 10% dos idosos com mais de 80 anos, mas pode ocorrer em pessoas de qualquer idade.
Essa condição pode resultar na formação de coágulos sanguíneos e causar derrames e outras complicações cardiovasculares. Além disso, é importante destacar que, em mulheres, os desfechos geralmente tendem a ser menos favoráveis.
Além das causas genéticas, ela está associada a fatores ambientais e estilo de vida, como obesidade, tabagismo, sedentarismo, abuso do álcool e apneia do sono.
“A fibrilação é uma arritmia amplamente modificável pelo estilo de vida. Se queremos reduzir seu risco, precisamos melhorá-lo e, após esse estudo, dar também mais foco a questões de saúde mental”, finaliza.
Uma revisão das orientações sobre o momento ideal de iniciar e interromper o rastreamento do câncer colorretal, publicada em agosto pelo American College of Physicians, concluiu que o começo do monitoramento deve ocorrer aos 50 anos, em contraste com a indicação anterior, de 45 anos.
Essa nova diretriz segue a Organização Mundial da Saúde, que sugere aos 50 anos, mas contradiz as recomendações da American Cancer Society, da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) e da SBCP (Sociedade Brasileira de Coloproctologia), que preconizam o início do rastreamento aos 45 anos — ou até antes, se houver histórico familiar. Essa orientação leva em conta adultos de risco médio, aqueles da população em geral, sem nenhum histórico familiar ou diagnóstico prévio de pólipos (que é uma lesão pré-maligna) nem doenças inflamatórias intestinais.
Os pesquisadores analisaram diretrizes dos Estados Unidos e de outros países, publicadas entre janeiro de 2018 e abril de 2023. Eles compararam o início do rastreio aos 45 e aos 50 anos e constataram que, de fato, ao iniciar cinco anos mais cedo, foi possível prevenir poucos casos (de dois a três por mil rastreados), reduzir um pequeno número de mortes e garantir mais anos de vida.
Porém, os pesquisadores ressaltam que foi necessário fazer um número maior de colonoscopias (a quantidade de exames saltou de 161 para 784 por mil), e houve mais complicações geradas pelo exame — entre elas, problemas gastrointestinais, como perfuração do intestino, o que provocou eventos hemorrágicos.
De acordo com Rodrigo Fogace, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, a colonoscopia é um exame invasivo que não está isento de riscos.
Portanto, preferencialmente, deve ser realizado em ambiente hospitalar devido à necessidade de um preparo delicado, que pode causar diarreia e levar à desidratação, além dos riscos associados à sedação e ao próprio procedimento, como perfuração do intestino e sangramento. “Existe um risco associado. Mas, quando colocamos na balança o risco em comparação com o benefício, certamente o benefício de diagnosticarmos um câncer precocemente ou até mesmo descobrirmos um pólipo, que é uma lesão pré-cancerígena, será superior ao risco. Nós, particularmente, continuaremos indicando a colonoscopia aos pacientes a partir dos 45 anos”, disse Fogace.
Nas novas diretrizes, os pesquisadores também ressaltam que um rastreamento mais frequente pode resultar em excesso de diagnósticos e tratamentos que nem sempre são necessários, especialmente em um sistema de saúde com recursos limitados.
Assim, eles recomendam que a frequência do rastreamento em pacientes mais jovens seja avaliada caso a caso, em discussão entre médico e paciente.
Fogace explicou que esse debate sobre o excesso de diagnósticos sempre existiu quando se fala em início de rastreio precoce: se houver o aumento da triagem, provavelmente haverá mais diagnósticos e talvez mais tratamentos do que deveria (porque, em alguns casos, a doença não chegaria a causar sintomas nem problemas ao paciente).
O oncologista lembra que essa dúvida já existe há bastante tempo, especialmente no rastreio do câncer de próstata, que tem evolução lenta.
“A dúvida é: será que vamos tratar pacientes desnecessariamente? O que a gente sabe é que, quando olhamos pacientes na faixa etária dos 50 anos, a realização da colonoscopia trouxe redução no número de mortes. Então, se olharmos para o grupo de pacientes entre 45 e 50 anos, apesar dos riscos relacionados ao exame, certamente daqui a 20, 30 anos, teremos a redução da mortalidade, apesar do aumento do diagnóstico. E é isso que buscamos”, afirmou o especialista.
No Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer colorretal ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes (fica atrás dos tumores de próstata e mama).
O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima 45.630 novos casos para o triênio de 2023 a 2025 — 21,1 casos para cada 100 mil pessoas. Nos Estados Unidos, ele é o quarto tipo de câncer mais comum em incidência e o segundo em mortalidade.
Interromper aos 75 anos As novas diretrizes também ressaltam que os médicos devem interromper o rastreio em adultos com mais de 75 anos ou com expectativa de vida limitada, menor do que dez anos — eles concluíram que continuar o rastreio em pessoas com mais de 80 anos mostrou pouco ou nenhum benefício.
Segundo Fogace, alguns estudos demonstram que, entre o aparecimento de um pólipo e o desenvolvimento do câncer de intestino, leva-se em torno de cinco anos. Portanto, pessoas que tenham uma expectativa de vida baixa ou idade muito avançada talvez não apresentem benefícios em termos de tempo de vida com a realização da colonoscopia.
“Começamos a entrar numa questão de análise de riscos versus benefícios. Nesses casos, talvez o risco de realizar a colonoscopia, que é um exame invasivo, seja superior ao benefício, uma vez que não vai mudar o tempo de vida do paciente. Aqui, concordamos que não devemos realizar colonoscopia como rastreio. Mas, para pacientes que têm algum sintoma da doença provavelmente já instalada, aí continua valendo a pena a colonoscopia”, afirmou.
Sangue oculto Outras recomendações das novas diretrizes incluem a realização do exame de sangue oculto nas fezes e imunoquímico fecal a cada dois anos, além da colonoscopia a cada dez anos ou sigmoidoscopia flexível a cada dez anos.
No entanto, Fogace apresenta ressalvas em relação a essas orientações. Ele enfatiza que o exame de sangue oculto nas fezes é uma opção sensível e mais econômica para o sistema de saúde pública, mas observa que se trata de um teste pouco específico para o câncer colorretal.
“Doenças no orifício do ânus podem levar ao aparecimento de sangue oculto nas fezes — nesses casos, seria indicado fazer a colono. Mas a nossa grande preocupação com relação ao câncer colorretal é que nem todo tumor sangra, nem toda doença inicial sangra. Um pólipo dificilmente tem sangramento. Então, se nos basearmos apenas no exame de sangue oculto, diagnosticaríamos o câncer apenas quando ele já está instalado”, ressalta o especialista.
Rastreio no Brasil No Brasil, o Inca informou que não existe uma idade específica para o início do rastreamento e “recomenda o diagnóstico precoce do câncer colorretal, que é a identificação precoce de sinais e sintomas, seguida de tratamento oportuno”. Afirmou ainda que, no momento, está em elaboração o Projeto Nacional para a Detecção Precoce do Câncer Colorretal, que contempla em suas etapas a análise das principais evidências científicas para o rastreamento desse câncer, para, assim, subsidiar as recomendações nas diretrizes. Segundo o instituto, a partir dessa análise, a idade de início do rastreamento será definida.
A SBCO afirmou que acompanha a diretriz da American Cancer Society — que recomenda que pessoas com risco médio para câncer colorretal façam exames de triagem a partir dos 45 anos.
“É uma mudança que, se também adotada no Brasil, ajudaria a detectar precocemente este tipo de tumor. Um pólipo, para evoluir para câncer, leva cerca de dez anos. A colonoscopia nessa faixa etária reduzia exponencialmente a incidência e mortalidade por este câncer”, ressalta Héber Salvador, cirurgião oncológico e presidente da SBCO.
“É fundamental que os gestores de saúde pública avaliem, embasados nos estudos de custo-efetividade disponíveis, a possibilidade de antecipação do rastreamento de câncer colorretal", acrescenta.
Em nota, a SBPC informou que a própria recomendação da American Cancer Society deixa claro que existem discordâncias entre as sociedades médicas americanas sobre a idade de início de rastreamento do câncer colorretal em pacientes de risco moderado e diz que formou uma comissão para análise e atualização das recomendações — que hoje são de iniciar o rastreio aos 45 anos.
“A SBCP tem recomendado a ida ao médico a partir dos 45 anos para avaliar os fatores de risco e a necessidade de exames complementares ou não”, diz a nota. O parecer está previsto para ser publicado no primeiro semestre de 2024.
“Precisamos sempre individualizar o paciente, conversar sobre o risco do exame, em contrapartida ao benefício, que é diminuir o risco de desenvolver o câncer. Muitas vezes, o paciente tem receio de fazer o exame, mas, na prática, vale, sim, a pena. A colonoscopia não é apenas para diagnosticar uma lesão; ela também é feita para tratar pólipos e evitar que, no futuro, a pessoa tenha um câncer. Na nossa prática, na nossa orientação, continuamos com a indicação da colonoscopia”, concluiu Fogace.