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Sem sentir dores, a cuidadora de idosos Fabiana Pinto, de 42 anos, suspeitava estar passando por uma crise de ansiedade ou sofrendo de depressão. A moradora da cidade de Tupandi, com apenas 4.000 habitantes, na região metropolitana de Porto Alegre, procurou um psicólogo para tratar o que definia como “angústia”. Mas em 27 de outubro de 2017, o profissional estranhou os sintomas relatados e encaminhou Fabiana para o hospital da cidade mais próxima, Montenegro – Tupandi conta apenas com um posto de saúde. No hospital, os médicos descobriram que Fabiana estava, na realidade, sofrendo um infarto.

 

Por causa da gravidade do caso, a mulher foi transferida para o Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas, onde passou por uma cirurgia para desobstruir suas artérias. Porém, após o procedimento, seu coração parou três vezes. Fabiana precisou ser reanimada e corria risco de falência múltipla dos órgãos. Foi quando a equipe de um projeto custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e coordenado pelo hospital privado Moinhos de Vento, em Porto Alegre, foi acionada, na manhã do dia seguinte. Graças ao projeto, Fabiana passou 53 horas ligadas a uma máquina que executou todas as funções de seu coração e pulmão enquanto seu órgão se recuperava. Mesmo em um hospital privado, o tratamento foi totalmente gratuito. O procedimento não é inédito, mas ainda é raro no Brasil.

 

O aparelho, conhecido como ECMO (sigla em inglês para extracorporeal membrane oxygenation, ou oxigenação por membrana extracorpórea), bombeia o sangue por meio de “canos” ligados às artérias e oxigena o sangue através de uma membrana artificial, atividades que seriam normalmente executadas pelo coração e pulmão. Exceto pela função que desempenha, o equipamento não lembra em nada um coração de verdade: quadrado, ele parece uma caixa de onde saem as cânulas (tubos) ligadas ao corpo e fica instalado em uma estação de aço com rodas para deslocá-lo.

 

“Levei um tempo para entender o que tinha acontecido. Espero que o aparelho sirva para salvar mais vidas. Infelizmente, muitas pessoas morrem por falta de atendimento”, disse Fabiana em entrevista a VEJA . Atualmente, ela está em casa e recuperada.

 

O procedimento com a máquina que substituiu temporariamente o coração de Fabiana é resultado do projeto Dispositivos de Assistência Circulatória (DAC) do SUS, coordenado na Região Sul do país pelo hospital Moinhos de Vento. O DAC faz parte do Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), custeado por meio de isenção fiscal.

 

“A sequela de um infarto pode ser tão grande que o tecido do coração fica danificado, resulta em uma cicatriz, que pode gerar insuficiência cardíaca. O ECMO dá suporte para que o coração se recupere”, explicou o cardiologista e coordenador do projeto, Luís Eduardo Rohde.

 

Para a cardiologista Priscila Raupp da Rosa, um dos “segredos” do dispositivo é justamente garantir o tempo necessário para que o coração se recupere para funcionar sozinho. “O aparelho também é essencial para os casos de transplante de coração. Enquanto o paciente aguarda um novo coração transplantado, o ECMO cumpre as funções do órgão. ‘Compramos’ tempo”, explica a médica.

 

O equipamento chegou ao Moinhos de Vento em março do ano passado e foi usado pela primeira vez no hospital no caso de Fabiana. Quatro hospitais públicos do Sul do Brasil participam do projeto que avalia a efetividade de tratamentos avançados para doenças cardíacas e a viabilidade econômica no Sistema Único de Saúde: Clínicas e Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre, e as Santas Casas de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e de Curitiba, no Paraná.

 

O Moinhos de Vento é reconhecido pelo Ministério da Saúde como um dos seis hospitais de excelência do país. O hospital é o também o primeiro de Porto Alegre a receber a ISO 9001:2015 por seu sistema de gestão.

 

veja

sistemaPesquisadores de um hospital de Oxford, no Reino Unido, desenvolveram uma inteligência artificial capaz de fazer diagnósticos a partir de exames para doenças cardíacas e câncer de pulmão. O sistema pode economizar bilhões de dólares ao permitir que esses males sejam detectados precocemente.

 

A tecnologia para problemas no coração estará disponível gratuitamente no sistema público de saúde britânico, o NHS, a partir do fim do primeiro semestre de 2018. Segundo o governo, isso pode "salvar o NHS" ao reduzir em 50% os 2,2 bilhões de libras (cerca de R$ 9,8 bilhões) gastos anualmente com serviços de análise de patologias.

 

Atualmente, cardiologistas conseguem dizer se há um problema a partir do ritmo de batidas do coração identificado em exames. Mas até mesmo os melhores médicos falham em um a cada cinco casos. Pacientes acabam sendo mandados para casa e têm um ataque cardíaco ou passam por cirurgias desnecessárias.

 

O sistema criado pelo hospital John Radcliffe faz um diagnóstico baseado nestes exames com muito mais precisão e consegue detectar detalhes invisíveis aos olhos humanos. Ele dá recomendações ao concluir que o paciente tem risco de ter um infarto.

 

Economia

A tecnologia passou por testes clínicos em seis unidades cardíacas. Os resultados serão publicados neste ano em um períodico científico após serem checados por especialistas, mas o cardiologista Paul Leeson, que desenvolveu o sistema, diz que os dados apontam que a técnica superou em muito a performance de médicos.

 

"Como cardiologistas, aceitamos que nem sempre acertamos. Mas, agora, há a possibilidade de fazer melhor", afirma Leeson.

 

Hoje, são feitos 60 mil exames cardíacos por ano no Reino Unido, dos quais 12 mil são diagnosticados incorretamente. Estima-se que isso custe 600 milhões de libras ao NHS em operações desnecessárias e com o tratamento de quem infartou mesmo depois de ser liberado ao passar por exames.

 

Chamado Ultromics, o sistema foi treinado para identificar problemas em potencial ao ser alimentado com dados de exames de mil pacientes tratados por Leeson nos últimos sete anos, junto com informações sobre se eles tiveram problemas cardíacos depois. Os resultados apontam que ele pode gerar uma economia de 300 milhões de libras anuais.

 

Câncer de pulmão

Outro sistema em desenvolvimento busca por sinais de câncer de pulmão, como nódulos, nome dado a um aglomerado de células. Médicos não conseguem dizer se os nódulos são benignos ou se podem se tornar tumores, então, os pacientes precisam passar por mais exames para acompanhar seu progresso.

 

No entanto, testes clínicos mostraram que a inteligência artificial é capaz de idenficar os casos inofensivos, levando o NHS a economizar dinheiro, e os pacientes, vários meses de ansiedade. Também pode fazer um diagnóstico precoce de um câncer de pulmão.

 

O sistema também está sendo comercializado pela empresa Optellium. Timor Kadir, diretor de ciência de tecnologia da companhia, afirma que os testes feitos em Manchester apontam que mais de 4 mil casos podem ser diagnosticados mais cedo e, assim, aumentar as chances de sobrevivência deste pacientes.

 

"Em um sistema de recursos limitados como o NHS, em vez de nos concentrarmos na economia de custos, estamos investigando como oferecer um serviço de saúde melhor para as pessoas com o mesmo dinheiro. Esse é o potencial da inteligência artificial no Reino Unido."

 

Kadir estima que um sistema de diagnóstico de tumores pulmonares pode reduzir em 10 bilhões de libras os gastos na área se for adotado nos Estados Unidos e na União Europeia. Não há previsão para a chegada desse tipo de sistema de diagnóstico no Brasil.

 

 

BBC Brasil

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou no fim de dezembro a primeira vacina para a febre tifoide que pode ser ampliada em crianças maiores de 6 meses.A informação foi divulgada pelo organismo nesta quarta-feira (3). As vacinas conjugadas contra a febre tifoide (TCV, na sigla em inglês) são inovadoras por gerarem uma imunidade maior do que as mais antigas, requerem menos doses e podem ser administradas em crianças pequenas por meio de programas rotineiros de imunização.

 

Outras vacinas também foram aprovadas internacionalmente para serem usadas em humanas, mas só a partir dos dois anos.

 

O aval da OMS faz com que a vacina possa ser adquirida pelas demais agências da ONU, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Gavi, a Aliança Mundial para Vacinas.

 

A decisão foi tomada depois de o grupo de especialistas de assessoria estratégica sobre imunização, que aconselha a OMS, ter recomendado em outubro de 2017 a TCV para uso rotineiro em crianças maiores de seis meses em países onde a febre tifoide é endêmica.

 

O grupo de especialistas recomendou, além disso, a introdução da vacina conjugada de maneira prioritária em países com as taxas mais elevadas de febre tifoide ou de resistência antibiótica à bactéria Salmonella Typhi, que causa a doença.

 

O uso da vacina também deve ajudar a conter o uso frequente de antibióticos contra a doença e, portanto, auxiliar a reduzir o "alarmante aumento" da resistência da bactéria aos medicamentos.

 

Pouco depois da recomendação do grupo de especialistas, o conselho da Gavi aprovou um financiamento de US$ 85 milhões para adotar o uso da TCV a partir de 2019.

 

A febre tifoide é uma infecção grave, às vezes mortal, contraída através da água ou alimentos contaminados. Entre os sintomas da doença estão febre, cansaço, dor de cabeça, de estômago, diarreia e resfriados.

 

Para milhões de pessoas em países pobres, a doença é uma realidade diária. A cada ano são registrados entre 11 milhões e 20 milhões de casos, além de cerca de 161 mil mortes.

 

Agência EFE

tuberculoseNo Brasil, os números dos últimos anos apontam para uma desaceleração tanto no número de diagnósticos quanto na mortalidade por tuberculose. Mas a quantidade de novos casos da tuberculose a cada ano ainda é considerada alta, principalmente entre populações mais vulneráveis, como os indígenas, pessoas privadas de liberdade e em situação de rua.

 

Cerca de 75 mil casos novos e reincidentes de tuberculose foram registrados no país em 2016. O montante corresponde a aproximadamente 200 casos por dia no país. Estima-se que desse total aproximadamente, 6 mil pessoas (8%) vivem com HIV. No mundo, cerca de 10,4 milhões de pessoas foram infectadas por tuberculose em 2016, sendo que 10% das vítimas têm HIV.

 

O Brasil tem um terço (33%) de toda a carga de tuberculose das Américas e figura no grupo de países que congregam quase 40% de todos os casos de tuberculose do mundo e cerca de 34% dos casos de coinfecção com HIV. O dado preocupa a OMS, que tem visto com “cuidado o que a tuberculose vem causando no país”.

 

“Embora nos últimos 15 anos tenha havido uma queda de aproximadamente 2% dos casos ao ano, ainda é um número muito elevado. São 70 mil casos por ano, então a Opas vê com muita preocupação, embora considera-se que haja uma boa perspectiva de controle”, disse Fábio Moherdaui, consultor nacional de tuberculose da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).

 

A Agência Brasil publica esta semana uma série de matérias sobre a infecção simultânea de pessoas com o vírus HIV e a bactéria da tuberculose. Menos da metade das pessoas com ambas as infecções tomam antirretrovirais.

 

Questões sociais

A tuberculose está diretamente ligada a desafios sociais, como a pobreza, miséria, exclusão, invisibilidade e preconceito. Além das pessoas soropositivas, as populações indígena, carcerária e pessoas em situação de rua estão entre os mais vulneráveis a contrair a doença. Moradores de rua chegam a ter 56 vezes mais chance de contrair a tuberculose por combinar diferentes vulnerabilidades, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

“Quanto mais pobre é uma pessoa, maior é o risco de ela adquirir tuberculose. A população indígena, na hora de dormir, vai pra maloca, bota a fogueira e fica todo mundo encolhido, respirando o mesmo ar. E ainda tem a questão do fumo, ou da fumaça da fogueira, que reduzem a capacidade do pulmão de se proteger contra a infecção. Na população em situação de rua, muitas vezes eles estão desnutridos e com a imunidade baixa, e se você associa isso a pessoa que usa crack, ou que tem HIV, então tem um prato cheio pra tuberculose”, explica o infectologista Rafael Sacramento, integrante da Organização Médico sem Fronteiras.

 

Dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mostram que as pessoas privadas de liberdade, apesar de representarem cerca de 0,3% da população brasileira, correspondem a 9,2% dos pacientes de tuberculose no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, a cada 100 mil presos, 897 são contagiados dentro do sistema prisional, enquanto que entre a população geral essa taxa é de 36 a cada 100 mil pessoas.

 

Especialistas explicam que boa parte deles já chega infectado nos presídios, porque já viviam em situação de vulnerabilidade e pobreza antes de iniciar o cumprimento da pena. Mas a chance de desenvolver a doença aumenta dentro do presídio devido às condições insalubres do ambiente. “As pessoas vivem amontoadas, respirando o mesmo ar, com pouca ventilação, com pouca entrada de sol, e isso também favorece a disseminação da tuberculose lá dentro”, descreve Sacramento.

 

O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que vai lançar no segundo semestre deste ano uma campanha educativa em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para orientar profissionais de saúde, agentes e familiares que têm contato com os encarcerados. A ideia é sensibilizá-los para comunicar possíveis sintomas da doença.

 

Observação dos sintomas

A tuberculose se caracteriza pela infecção do chamado bacilo de Koch, entre outros agentes, e é transmitida pelo ar. A pessoa infectada pela tuberculose pulmonar tem geralmente os seguintes sintomas: tosse constante por duas ou três semanas, escarro (às vezes com presença de sangue), dor no peito, fraqueza, perda de apetite, de peso, febre e sudorese. Nos casos em que a tuberculose afeta outros órgãos, os sintomas podem variar.

 

Se o paciente seguir de forma regular a terapia padrão com os quatro medicamentos básicos, ele tem 100% de chance de cura, caso não esteja infectado pelo tipo resistente da tuberculose. O tratamento dura pelo menos seis meses e pode se estender por até um ano. Se não aderir ao tratamento adequadamente, o indivíduo pode infectar de 10 a 15 pessoas no período de um ano, segundo estimativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

 

Nem sempre a infecção evolui para a doença, mantendo-se de forma latente no organismo. Além das pessoas que vivem com HIV, pacientes com diabetes, fumantes ou alcoólatras, ou que apresentam qualquer condição que reduza a imunidade também estão mais propensos a desenvolver a enfermidade.

 

Os principais testes realizados no país para detectar a tuberculose pulmonar são a baciloscopia (conhecida como exame do escarro) e a cultura. Eles podem ser feitos na rede pública de saúde. “A gente tem também o exame molecular. O nome da máquina mais comum é genexpert e ela consegue dizer se tem a bactéria no escarro em duas horas e ainda diz se tem resistência primária à rifampicina e a isoniazida, que são as duas drogas do tratamento básico. Se esse tipo de teste fosse popularizado e estivesse realmente disperso em todas as unidades de saúde, a gente aceleraria o diagnóstico. E uma vez no tratamento, em cerca de 21 dias a pessoa já não transmite mais”, afirma o infectologista Rafael Sacramento.

 

Além da baixa capacidade de testagem, o médico aponta ainda que outro empecilho para o diagnóstico e tratamento precoce da coinfecção de tuberculose e HIV é o medo do preconceito em razão do estigma que ainda cerca as duas doenças. “Se a gente conseguisse reduzir o preconceito, as pessoas revelariam mais cedo, fariam o teste mais cedo e teriam acesso ao tratamento cada vez mais cedo e isso seria um grande promotor de saúde. O estigma e a baixa capacidade de testagem mantêm as pessoas distantes do tratamento, afirmou Sacramento.

 

Agência Brasil

Foto: Agecom Bahia

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