O leite materno continua a nos surpreender. Cada vez que consideramos ter informações mais que suficientes e cientificamente comprovadas de seus inúmeros benefícios nutricionais e psicoemocionais, algo novo surge e nos encanta com a perfeição da natureza.
Recentes estudos demonstraram que o leite materno possui algumas células pluripotentes, chamadas “stem cells” – como as células tronco - que são resistentes o suficiente para conseguir passar pela barreira ácida do estômago e entrar no intestino do bebê, onde são absorvidas. Atingem a corrente sanguínea e, a partir daí se alojam em determinados tecidos onde se diferenciarão nas células correspondentes.
Isto significa que estas células podem produzir, nos bebês que mamam, mais células musculares, células intestinais, neurônios, células do sangue ou do fígado, por exemplo. O leite materno, portanto, oferece ao pequeno bebê que acabou de nascer um “plus” de células novas.
Mas não é só isso. Descobriu-se também que o leite materno tem umas minúsculas estruturas chamadas de “micro RNAs” que podem modular alguns genes. Estudos demonstraram que um destes micro RNAs pode, por exemplo, modular e aumentar a expressão de um gene que produz a leptina, que é o hormônio que nos dá a sensação de saciedade. Mais importante: este efeito pode durar a vida inteira. Resultado: crianças que mamaram no peito tem mais rapidamente a sensação de saciedade e, consequentemente, são menos obesas.
Incrível, portanto, imaginar que um nutriente usualmente oferecido aos bebês por apenas alguns meses (6, 9, 12, ou 24) possa fazer tanta diferença na vida daquela pessoa.
A complexidade simples do leite materno reitera como a natureza capricha em seus poderes quando se trata de proteger e cuidar da vida.
Um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres terão câncer em algum momento de suas vidas. Além disso, um em cada oito homens e uma em cada onze mulheres irão morrer por causa da doença.
Os dados são do último relatório estatístico sobre a situação do câncer no mundo, da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), divulgado na última quarta-feira. Todos os anos, a Iarc avalia 36 tipos de câncer em 185 países.
O relatório também mostra que o número de casos da doença está aumentando. Neste ano, haverá 18,1 milhões de novos casos de câncer no mundo, estima o relatório da Iarc. Destes, 9,6 milhões vão resultar em morte. É um aumento em relação a 2012, quando houve 14,1 milhões de casos e 8,2 milhões de mortes.
"O aumento da incidência de câncer se deve a diversos fatores, incluindo o crescimento e o envelhecimento da população", afirma a publicação. Outra explicação é a mudança na prevalência de câncer à medida que os países se desenvolvem - caem os tipos de câncer relacionados à pobreza e infecções e aumentam os tipos de câncer associados ao estilo de vida de países industrializados.
Tipos de câncer mais comuns em 2018
O câncer de pulmão, de mama e o câncer colorretal (intestino grosso) são os três principais tipos, em termos de incidência.
O de pulmão é responsável por 11,6% dos casos da doença. O de mama registra o mesmo percentual de incidência. Já o câncer colorretal corresponde a 10%. Juntos, eles são responsáveis por um terço de todos os tipos de câncer e mortes pela doença no mundo.
Em seguinda, está o câncer de próstata (7%) e o câncer de estômago (5,7%).
Os autores do estudo dizem que o câncer de pulmão é responsável pelo maior número de mortes - cerca de 1,8 milhões. Um dos motivos é a falha no diagnóstico da doença. Em seguida, entre os mais mortais, estão o câncer colorretal, o câncer de estômago e o câncer de fígado.
Já o câncer de mama é apenas o quinto mais mortal. Isso se dá devido a acertos no diagnóstico.
Diversidade 'extraordinária'
Cerca de metade dos casos de câncer e das mortes pela doença este ano devem ocorrer na Ásia. Isso ocorre, em parte, devido ao grande número de pessoas que vivem no continente - 60% da população mundial. Além disso, alguns dos tipos de câncer mais mortais são mais comuns nessa região - entre eles, o câncer de fígado.
A Europa responde por um quarto dos casos de câncer. Já a América, por 21% - apesar de ter apenas 13% da população mundial.
Segundo os pesquisadores, há uma "extraordinária diversidade" nos tipos de câncer e padrões de doença ao redor do mundo. Por isso, a recomendação é que os países avaliem qual é a melhor maneira de prevenir e tratar a doença de acordo com as realidades locais.
Uma nova e importante pesquisa feita nos Estados Unidos e na Austrália sugere que idosos em boas condições de saúde não devem tomar uma aspirina por dia, como já indicaram outros estudos.
Há benefícios comprovados do uso diário da aspirina para as pessoas que sofreram um ataque cardíaco ou derrame, porque a droga ajuda a diluir o sangue, evitando assim um novo ataque.
Algumas pessoas completamente saudáveis optam por tomar aspirina para diminuir as chances de ataque cardíaco ou derrame e há pesquisas contínuas sobre o uso desse medicmamento para reduzir o risco de câncer.
Mas o novo estudo não encontrou benefícios para pessoas saudáveis com mais de 70 anos tomarem diariamente aspirina — pelo contrário, o medicamento aumentou o risco de hemorragias, os sangramentos internos que podem levar à morte.
Especialistas descreveram os resultados como muito importantes e alertaram contra a automedicação com aspirina.
A maioria das pesquisas sobre os benefícios da aspirina é realizada em pessoas na meia-idade e há evidências crescentes de que os perigos aumentam à medida que envelhecemos.
em efeito para saudáveis
O estudo foi feito com 19.114 pessoas nos EUA e na Austrália. Os entrevistados têm mais de 70 anos, boas condições de saúde e não possuem histórico de problemas cardíacos.
Metade delas recebeu uma dose diária de aspirina em baixa dose por cinco anos.
Três relatórios publicados na revista científica New England Journal of Medicine mostraram que as pílulas não reduziram o risco de problemas cardíacos ou proporcionaram algum outro benefício para quem as tomou.
A pesquisa diz que nessas pessoas o uso da aspirina aumentou o número de grandes hemorragias estomacais.
"Isso significa que milhões de idosos saudáveis em todo o mundo que estão tomando aspirina em doses baixas sem uma razão médica podem estar fazendo isso desnecessariamente, porque o estudo não mostrou nenhum benefício geral para compensar o risco de sangramento", diz o pesquisador John McNeil, da Universidade Monash.
"Essas descobertas ajudarão a informar os médicos que prescrevem há muito tempo essa droga para eles saberem se devem recomendar a aspirina a pacientes saudáveis."
O estudo também descobriu um aumento nas mortes por câncer, embora os pesquisadores achem que isso precise de uma investigação mais aprofundada, já que vai contra as descobertas atuais nessa área.
O professor Peter Rothwell, da Universidade de Oxford, que estuda essa medicação há muito tempo, disse que as descobertas são definitivas.
"Tome aspirina se você não estiver saudável e com mais de 70 anos e se não teve um ataque cardíaco prévio ou acidente vascular cerebral é algo realmente muito pouco benéfico. Portanto, a automedicação com aspirina, na ausência de uma indicação médica definitiva, não é aconselhável", diz.
As descobertas não se aplicam a pessoas que tomam aspirina devido a um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral — estas devem continuar a seguir os conselhos de seus médicos.
O juiz aposentado Albano Giannini, de 78 anos, levava uma vida normal e ativa até, no início de 2017, começar a sentir dificuldades para andar. "Eu tentava levantar e caía. Meu filho tinha até de me dar banho. A cada dia que passava, eu só piorava. Ia a médicos e nenhum me dava um diagnóstico. Para mim, eu estava morto", conta. Sem encontrar respostas, a família passou a desconfiar do início de um quadro de Parkinson.
No caso do aposentado Paulo Pires de Oliveira Camargo, de 79 anos, a dificuldade de locomoção veio acompanhada de incontinência urinária, perda de memória e confusão mental. Ele foi a cerca de 15 médicos e, entre os diagnósticos levantados, estava o temido Alzheimer.
As duas doenças são neurodegenerativas e não têm cura, o que significa que os pacientes poderiam somente tomar medicamentos para minimizar os sintomas e retardar a progressão. Como os diagnósticos não eram precisos, Giannini e Camargo, ambos incentivados pelas famílias, decidiram procurar um neurocirurgião. Descobriram que tinham, na verdade, hidrocefalia de pressão normal (HPN), patologia que leva a um acúmulo de líquido no cérebro, provocando sintomas que podem ser confundidos com doenças comuns da velhice.
Também conhecida como hidrocefalia do idoso, por atingir apenas pacientes acima de 65 anos, a HPN afeta cerca de 120 mil brasileiros, mas ainda é pouco conhecida da população e até de alguns médicos.
A maior diferença entre a HPN e doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, é que a primeira pode ser totalmente revertida com a implantação de uma válvula no cérebro, que drena o líquido em excesso e faz o paciente recuperar todas as funcionalidades, muitas vezes logo após a cirurgia. Dados da literatura científica mostram que 75% dos pacientes submetidos à operação têm melhora significativa em até um ano.
"Dois dias depois que operei, já tive alta e saí do hospital andando bem. Não acreditei quando me levantei da cama e estava caminhando. Parecia um milagre", conta Giannini, que teve a válvula implantada há cerca de quatro meses. "Hoje eu levanto de manhã, faço café, desço para fazer academia, ando a Avenida Paulista toda, vou aos bancos, tenho uma vida normal", diz.
Muitos pacientes com HPN, porém, não têm a mesma sorte de ter o diagnóstico correto. Camargo, por exemplo, demorou dois anos até descobrir a doença. Chegou a ficar em uma cadeira de rodas. "Eu já estava desacreditado de tudo", relembra.
Segundo o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, chefe do grupo de hidrodinâmica cerebral do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), é comum pacientes demorarem anos até terem o diagnóstico. "No HC, por exemplo, os pacientes chegam até a gente com um tempo médio de sintomas de dois a três anos", relata ele, que apresentou palestra sobre reabilitação neurológica para pacientes com doenças como HPN na 15.ª edição do Brain Congress, evento sobre cérebro, emoções e comportamento.
Confusão
Pinto diz que a confusão de diagnósticos se dá porque alguns dos sintomas da HPN são comuns a muitas doenças do idoso. Além disso é raro o especialista para o caso — neurocirurgião ou neurologista — ser o primeiro consultado.
Neurocirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e da clínica DFVNeuro, Eduardo Vellutini também atende pacientes que, antes de saber da HPN, receberam outros diagnósticos. "Não é uma doença tão rara, mas, na fase inicial, alguns médicos confundem, seja porque observam uma marcha (caminhar) típica do parkinsoniano, como se os pés estivessem grudados no chão, seja porque há um quadro de demência parecido com o do Alzheimer", destaca. Outras doenças que podem confundir são depressão, neuropatia diabética e acidente vascular cerebral.
Os especialistas ressaltam que uma diferença importante é que, ao contrário do Parkinson, a HPN não provoca tremores. Outra divergência é que o paciente com Alzheimer não tem consciência da sua confusão mental, mas o de HPN, sim.