Dos 5.570 municípios brasileiros, pelo menos 68% estão classificados atualmente como em risco alto ou muito alto para poliomielite, conhecida popularmente como paralisia infantil. O índice representa um total de 3.781 cidades, sendo a maioria (2.104) categorizada com alto risco para a doença. Há ainda 1.342 municípios brasileiros classificados como em médio risco e apenas 447 catalogados como em baixo risco para a pólio.
Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (18) durante a 26ª Jornada Nacional de Imunizações, em Recife, e constam no Plano de Mitigação de Risco de Reintrodução do Poliovírus Selvagem e Surgimento do Poliovírus Derivado da Vacina. Ao comentar os números, a consultora em imunizações da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) Franciele Fontana avaliou o cenário como preocupante.
“Vemos grande parte do país em vermelho e em vermelho forte”, disse, ao se referir às cores que sinalizam riscos elevados para a doença, erradicada do território brasileiro em 1994, após uma série de campanhas de vacinação em massa. O último caso de pólio no país foi confirmado em março de 1989. “A gente vem de uma série histórica de alto e muito alto risco de introdução no país e isso nos preocupa”, completou.
A série histórica a que Franciele se refere são os resultados de uma avaliação de risco feita pela Comissão Regional de Certificação para a Erradicação da Pólio na Região das Américas. Em 2020 e em 2021, por exemplo, o Brasil havia sido classificado como em risco alto para a doença. Já em 2022, a categorização subiu para risco muito alto, ao lado do Haiti e da República Dominicana. No ano passado, o país voltou a registrar risco alto para pólio.
As coberturas vacinais contra a doença no Brasil sofreram quedas ao longo dos últimos anos. Em 2022, a cobertura ficou em 77,19%, longe da meta de 95%. Em 2023, o índice subiu para 84,63%.
Recomendações Franciele lembrou que, em junho deste ano, a comissão emitiu uma série de recomendações ao Brasil, incluindo investigar as causas das baixas coberturas vacinais contra a pólio. Dentre as hipóteses elencadas pela entidade estão o acesso limitado a doses em áreas mais remotas, a quantidade insuficiente de doses em determinadas localidades e a hesitação ou desconfiança da população acerca do imunizante.
A comissão também pediu ao Brasil que priorize a vacinação em municípios classificados como em alto risco para pólio, iniciando as ações onde a taxa de imunização é inferior a 50%. Outra estratégia sugerida consiste num sistema de recompensa destinado a estados e municípios que cumpram metas definidas. A entidade solicitou ainda que uma comissão nacional se reúna uma vez ao ano para tratar do tema.
Por fim, a comissão sugeriu ao Brasil realizar um exercício de simulação para pólio que envolva todos os setores relevantes, encenando uma resposta a um surto da doença no país. “Precisamos que todas as nossas salas de vacina estejam abastecidas com insumos pra que a gente não perca oportunidades”, avaliou Franciele, ao citar ainda que serviços de rotina em saúde precisam estar prontos para captar eventuais casos da doença.
Agência Brail/Por Paula Laboissière* - Enviada especial - Recife
No mês em que celebra-se o Dia Mundial de Sensibilização para a Dissecção da Aorta, em 19 de setembro, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular - Regional São Paulo (SBACV-SP) promove a campanha Pense Aorta, para disseminar informações sobre a dissecção da aorta, uma doença rara e grave que muitas vezes não é identificada de forma imediata e clara, comprometendo o tratamento eficaz. O alvo da campanha é a sociedade em geral e os profissionais da saúde.
Segundo a SBACV-SP, dissecção da aorta é uma condição caracterizada pela ruptura da camada interna da aorta, a principal artéria do corpo. Esse rompimento pode dividir a parede da aorta, comprometendo o fluxo sanguíneo para órgãos vitais. Os principais sintomas incluem dor intensa no pescoço, nas costas ou no abdômen, muitas vezes descrita como uma sensação de rasgo interno.
O diagnóstico é feito por exames como a angiotomografia ou o ecocardiograma, e o tratamento urgente é necessário para evitar as complicações.
A prevenção envolve o controle de fatores de risco e acompanhamento médico regular, especialmente para pessoas com histórico familiar ou predisposição genética.
De acordo com a entidade, entre as ações de orientação e prevenção, estão campanhas e eventos sobre o diagnóstico correto. Neste sábado (21) o Hospital Santa Marcelina realiza sua 15ª edição de atendimento gratuito com a coordenação de um médico angiologista e cirurgião vascular.
“Em setembro, além das ações de conscientização em alguns hospitais, a SBACV-SP dedicará parte de sua Reunião Científica para não apenas estudar os tratamentos em evolução, mas também discutir a relevância das campanhas lideradas por pacientes ao redor do mundo. Vamos dar uma atenção especial aos impactos dessas iniciativas nas políticas públicas de saúde e na promoção de pesquisas científicas”, disse a diretora Científica da SBACV-SP, Grace Mulatti.
Mortalidade De acordo com dados da SBACV-SP, baseados em um estudo do professor titular de Cirurgia Vascular e Endovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Pedro Puech-Leão, a taxa de mortalidade por dissecção da aorta é de 2,3 por 100.000 habitantes, ou seja, 2.000 novos pacientes terão o diagnóstico a cada ano. Mundialmente, estima-se que 16 novos casos a cada 100.000 habitantes ocorram anualmente.
Segundo a entidade médica, os números do Brasil mostram a urgência de melhoria das estratégias de diagnóstico e tratamento, especialmente devido à subnotificação e à falta de diagnósticos em muitos casos.
“A questão da subnotificação está potencialmente relacionada à dificuldade de fazer o diagnóstico. Estudos mostram que aproximadamente um terço dos casos não é diagnosticado na primeira visita do paciente ao pronto-socorro, o que pode implicar em desfechos piores de sobrevida desta população”, alerta a SBACV-SP.o
A dor nas costas pode ter inúmeras origens, mas poucas pessoas sabem que pode ser sinal de um câncer de pâncreas, um dos mais agressivos.
A dor pode aparecer na parte média ou superior das costas ou na parte superior do abdômen (barriga) e vai e vem.
No início, essa dor pode ser de baixa intensidade e tende ficar mais forte com o passar do tempo.
Essa dor provavelmente é causada por um tumor que se formou no corpo ou na cauda do pâncreas porque ele pode pressionar a coluna.
O que é o câncer de pâncreas? O câncer de pâncreas é uma doença que ocorre quando células malignas se formam nos tecidos do pâncreas, um órgão localizado atrás do estômago que desempenha funções fundamentais na digestão e no controle dos níveis de açúcar no sangue.
O tipo mais comum de câncer de pâncreas é o adenocarcinoma pancreático, que começa nas células que revestem os ductos do pâncreas. Esse tipo de câncer tende a crescer rapidamente e se espalhar para outras partes do corpo, tornando-o um dos tipos mais agressivos e difíceis de tratar.
Sintomas do câncer de pâncreas Os sinais e sintomas do câncer de pâncreas muitas vezes não são evidentes nos estágios iniciais, o que pode atrasar o diagnóstico. Quando os sintomas surgem, eles podem incluir:
Dor abdominal ou nas costas: a dor pode começar de forma leve, mas se intensificar conforme o tumor cresce e pressiona órgãos vizinhos. Icterícia: amarelamento da pele e dos olhos, causado pelo bloqueio do ducto biliar pelo tumor, resultando no acúmulo de bilirrubina. Perda de peso inexplicada sem uma causa aparente. Náusea e vômitos, que podem ocorrer quando o tumor bloqueia parte do trato digestivo. Fezes de cor clara ou urina escura, que têm relação com o bloqueio do ducto biliar. Sensação de cansaço extremo. Diabetes recente: o câncer de pâncreas pode afetar a produção de insulina, levando ao desenvolvimento de diabetes em alguns pacientes. O câncer de pâncreas tem um prognóstico desafiador, e as chances de cura dependem principalmente do estágio em que a doença é diagnosticada.
Venda com confiança na Amazon Venda com a Amazon Venda com confiança na Amazon Publicidade Quando diagnosticado em estágios iniciais, enquanto o tumor ainda está restrito ao pâncreas, a cirurgia pode oferecer uma chance de cura.
No entanto, a maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados, quando o tumor já se espalhou para outros órgãos, tornando o tratamento mais difícil.
Outros cânceres que podem provocar dor nas costas câncer de pulmão câncer de mama câncer de próstata câncer colorretal No câncer de pulmão, quando ele se espalha (metástase) para a coluna vertebral, pode causar dor nas costas, especialmente na região torácica (parte média das costas). No câncer de mama, câncer de próstata e colorretal, a dor também aparece quando há metástase para os ossos, incluindo a coluna vertebral.
A mensagem estampada na janela de uma passarela no aeroporto de Burlington, em Vermont, surpreende por ser bem diferente dos cartazes turísticos e das faixas de boas-vindas habituais: “O vício não é uma escolha. É uma doença que pode acometer qualquer pessoa.”
A frase faz parte de uma campanha criada pelo serviço público de uma comunidade assolada pelo uso de drogas. Seu objetivo é reduzir o estigma e incentivar o tratamento.
Ao longo de décadas, a ciência médica classificou o vício como uma doença cerebra
Ao longo de décadas, a ciência médica classificou o vício como uma doença cerebral crônica, mas o conceito sempre foi difícil de ser compreendido pelo grande público, porque a escolha pessoal desempenha um papel importante, tanto no início quanto no fim do tempo de uso de drogas. Aqueles que usam drogas são tidos como os próprios culpados pelo problema. Recentemente, essa ideia ganhou força, impulsionando tentativas para endurecer as penas criminais relativas à posse de drogas e ampliando o esforço para cortar o financiamento dos programas de troca de seringas nos Estados Unidos.
Mas, agora, até mesmo cientistas e especialistas em tratamento estão repensando o rótulo de doença cerebral crônica.
Em julho, pesquisadores comportamentais publicaram o artigo crítico “Heterogeneity in choice models of addiction: the role of context” (Heterogeneidade nos modelos de escolha da toxicodependência: o papel do contexto), no qual afirmaram que a classificação pode ser contraproducente para os pacientes e seus familiares. “Não creio ser de muita ajuda dizer às pessoas que elas são cronicamente doentes e, portanto, incapazes de mudar. Que esperança vamos dar a elas? O cérebro é altamente dinâmico, assim como nosso ambiente”, disse Kirsten E. Smith, professora assistente de psiquiatria e ciências comportamentais da Escola de Medicina Johns Hopkins e coautora do artigo, publicado no periódico médico “Psychopharmacology”.
As críticas científicas mais recentes são motivadas por uma urgência sinistra: embora o vício seja há muito tempo classificado como uma doença, o desastre mortal que os dependentes químicos enfrentam nos serviços de saúde pública só tem piorado.
Quase ninguém está considerando o abandono total do modelo que dá ênfase à doença. Poucos contestam que o uso constante de estimulantes como a metanfetamina e de opiáceos como o fentanil tem um efeito prejudicial no cérebro. Mas alguns cientistas argumentam que a caracterização da dependência como doença centrada no cérebro não incorpora suficientemente outros fatores, como o ambiente social e a predisposição genética.
No artigo citado, os pesquisadores defendem que a definição de dependência deve incluir a motivação ou o contexto em que a pessoa optou por consumir drogas. Segundo eles, essa escolha tem mais a ver com a fuga de condições intratáveis, como um lar conturbado, transtornos de saúde mental e de aprendizagem não diagnosticados, bullying ou solidão. Pessoas com antecedentes de vício na família têm maior tendência a optar pelo uso de substâncias. E, em muitos ambientes, acrescentaram os articulistas, as drogas estão mais disponíveis do que opções saudáveis e gratificantes, incluindo educação e trabalho.
A escolha das drogas, portanto, poderia ser entendida não como uma falha moral, mas como uma forma de tomada de decisão, com sua lógica sombria. Em combinação com medicamentos que controlam os desejos por opioides, os terapeutas tentam ajudar os pacientes a identificar os motivos que os levaram a usar drogas. Só então começam a incentivá-los a fazer escolhas que resultem em recompensas significativas e sustentáveis.
Em um artigo de 2021, no periódico “Neuropsychopharmacology”, o dr. Markus Heilig, ex-diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo, defendeu o diagnóstico de doença cerebral, afirmando que as provas foram amplamente documentadas. Mesmo assim, seu artigo reconhece que “os relatos sobre o vício centrados exclusivamente no cérebro falharam durante muito tempo em prestar a devida atenção às entradas que os fatores sociais fornecem ao processamento neural por trás da procura e do uso de drogas”.
Abuso de substância Na prática clínica, o termo “vício” está se tornando cada vez mais matizado. John F. Kelly, psicólogo e professor de psiquiatria de dependência na Escola de Medicina de Harvard, define-o como “uma perturbação grave do consumo de substâncias a um ponto em que ocorrem alterações no córtex pré-frontal, bem como em áreas mais profundas do cérebro que regulam as emoções e o comportamento”. Mas ele explicou que apenas uma minoria de pessoas atende a esse critério. “Mesmo dentro dessa faixa grave, muitos graus diferentes de comprometimentos podem ocorrer”, disse Kelly. A genética pode exacerbar a gravidade da resposta.
Ele fez a analogia com o embarque em um trem em alta velocidade. “Começa sendo uma viagem emocionante, mas em algum momento sai do controle e descarrila. A questão principal é em que momento você pode puxar o cordão de emergência e sair”, afirmou, observando que alguns usuários de drogas nunca têm a chance de fazer isso antes que seja tarde demais.
Segundo Kelly, esse momento difere para cada um: “As pessoas só mudam quando sentem as consequências negativas, mas também quando há esperança e otimismo de que a mudança é possível, provável e sustentável.”
Ao contestar a caracterização do vício como uma doença marcada pelo uso compulsivo ou recorrente de substâncias, alguns especialistas argumentam que certos usuários de drogas e álcool podem parar sem tratamento ou até mesmo retornar ao uso seguro ocasional.
Para agravar a confusão atual sobre a natureza do vício, a psiquiatria continua refinando os critérios do que rotula como “transtorno por uso de substâncias”. Na edição mais recente de seu manual de diagnóstico, o DSM-V (livro da Associação Americana de Psiquiatria), uma pessoa será diagnosticada com um transtorno leve se apresentar pelo menos dois dos 11 sintomas classificados. Quanto mais sintomas, maior a gravidade do transtorno.
Cérebro e comportamento alterados Foi na década de 1970 que a pesquisa sobre o uso de drogas ganhou força. Anos mais tarde, em 1997, Alan I. Leshner, então chefe do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, publicou um artigo fundamental chamado “O vício é uma doença cerebral e deve ser levado a sério”.
Para o público, os formuladores de políticas públicas e até mesmo os profissionais de saúde, ele mandou a seguinte mensagem: “O vício, considerado como uma doença crônica e recorrente do cérebro, é um conceito totalmente novo.”
Mas Leshner não negligenciou os fatores contribuintes. “Não apenas a doença cerebral subjacente deve ser tratada, mas os componentes comportamentais e sociais também devem ser abordados”, escreveu.
Um ano depois que a Purdue Pharma introduziu o opioide de prescrição altamente viciante OxyContin, Leshner publicou um resumo de sua pesquisa que ainda hoje é muito citado; quando surgiu, o artigo teve um efeito poderoso e positivo. A designação de doença cerebral estimulou o financiamento para pesquisas, foi usada para expandir a cobertura de seguro para tratamento e promoveu mudanças na política pública e na lei criminal. Novos tribunais de drogas – cada vez mais chamados de “tribunais de recuperação” – passaram a encaminhar os réus para o tratamento. O quadro de doenças cerebrais acabou sendo adotado pela medicina tradicional, incluindo os clínicos gerais.
O modelo continua a ter valor, disse a dra. Nora Volkow, que agora lidera o instituto, referindo-se ao vício como “uma condição médica crônica e tratável”. Ela acrescentou em uma declaração: “O reconhecimento de que a toxicodependência envolve mudanças no cérebro não desconsidera os muitos fatores genéticos, sociais, ambientais e outros que também desempenham um papel importante.”
No entanto, descobrir se o cérebro algum dia se recuperará suficientemente depois de uma longa abstinência ainda vai requerer mais estudos, argumentou uma revisão da pesquisa de 2022, embora os autores tenham sugerido que os indícios são promissores.