Cerca de 30% das pessoas morrem imediatamente após um aneurisma. Entre as 70% que conseguem sobreviver, metade terá sequelas graves e a outra metade irá se recuperar totalmente. Emilia Clarke faz parte dessa minoria.
A atriz de 32 anos que interpreta a personagem Daenerys Targaryen, na série Game of Thrones, revelou à revista norte-americana The New Yorker que sofreu dois aneurismas. Fez duas cirurgias para sanar o problema, sendo a primeira quando ela tinha apenas 24 anos.
“Sobreviver a um aneurisma depende da quantidade de sangramento e do quadro clínico do paciente. Quando um aneurisma se rompe, não se sabe se vai sangrar pouco e causar sintomas como dor de cabeça súbita de forte intensidade, náusea e vômito, ou se vai sangrar muito [acima de 50 ml], provocando aumento da pressão craniana e levando à morte”, explica o neurocirurgião André Bianco, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
Emilia descreve no artigo que “sentiu como se uma cinta elástica apertasse seu cérebro”. “Quase me arrastando, cheguei ao vestiário. Entrei no banheiro e me ajoelhei, com náuseas. Enquanto isso, a dor me perfurava a cabeça cada vez mais. Sabia o que estava acontecendo: meu cérebro estava afetado”, afirmou à revista.
Ela se sentiu mal na academia, enquanto se exercitava. A atriz havia iniciado atividade física para aliviar o grande estresse das gravações, segundo seu depoimento.
Estresse pode interferir no problema
O aneurisma é uma dilatação da parede da artéria que, devido à pressão do sangue, forma uma pequena bolsa. Essa dilatação ocorre quando há uma fragilidade na artéria, de acordo com o neurocirurgião Mariano Fiore, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
“Geralmente há uma predisposição e o tabagismo ou a pressão alta vão fazer o aneurisma aparecer”, afirma. “Se o estresse eleva a pressão arterial, então ele pode, desta forma, desencadear o problema”, completa.
Como é uma doença da artéria, o aneurisma pode acontecer em qualquer parte do corpo, sendo mais comum no cérebro, no abdome, pernas, braços e na aorta, a mais importante artéria do corpo. Os casos graves são mais frequentes a partir dos 50 anos, segundo Fiore.
“Quando há casos em mais de um membro da família, há maior chance de a pessoa ter um aneurisma”, afirma.
Nesses casos, ele orienta a consulta de um especialista - que pode ser um cirurgião vascular ou neurologista - para rastrear o risco do surgimento de dilatações, já que não causa sintomas. Além disso recomenda o controle da pressão arterial, uma dieta saudável, a prática de atividade física e o não tabagismo.
Isolar aneurisma pode levar à vida normal
As sequelas do aneurisma estão relacionadas às áreas do cérebro afetadas, que vão desde alteração do movimento dos olhos, paralisia dos membros, como ocorre no AVC, até o estado comatoso, também chamado de vegetativo.
Os neurocirurgiões explicam que existem dois tipos de tratamento: a craniotomia, na qual o crânio é aberto e é feita a clipagem do aneurisma, ou seja, ele é isolado da artéria, e a técnica endovascular, na qual um cateter é introduzido na artéria femoral levando uma pequena mola metálica, que envolve o aneurisma, impedindo um novo sangramento.
"Uma vez que o aneurisma seja isolado, o paciente poderá levar uma vida normal, fazendo apenas exames de controle. No método cirúrgico, há 90% de chance de ele ser definitivo, ou seja, que seja preciso fazer uma vez somente na vida. Já o endovascular, não", explica Fiore. Segundo Bianco, geralmente opta-se pela clipagem, sendo a terapia endovascular indicada a pacientes com risco cirúrgico ou quando a localização do aneurisma apresenta risco ao procedimento.
O neurocirurgião explica que a sobrevida após a ruptura de um aneurisma varia de 10% a 80% e depende do quadro clínico do paciente antes do incidente e de quanto sangramento provocou esse aneurisma. “Um aneurisma que não rompeu pode ser tratado e o risco de ele se romper é muito baixo”, afirma.
A cientista Débora Foguel tem doutorado em bioquímica e é professora titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Membro da Academia Brasileira de Ciências e uma das coordenadoras da Rede Nacional de Ciência para a Educação, acaba de ser agraciada com a medalha Mietta Santiago, outorgada pela Câmara dos Deputados, junto com outras quatro personalidades. Seu campo de estudo é o enovelamento errado de proteínas, que tem despertado o interesse de pesquisadores no mundo todo, já que esse erro está associado a doenças como Alzheimer, Parkinson e a amiloidose senil, que pode afetar o coração de 15% dos indivíduos com mais de 80 anos.
A professora usa uma analogia para nós, leigos, entendermos seu trabalho: “em primeiro lugar, vale lembrar que as proteínas estão relacionadas a todas as atividades das nossas células. Da memória aos batimentos cardíacos, milhares delas estão por trás de cada função do nosso corpo. Cada proteína, quando é produzida dentro de uma célula, lembra o cadarço de um sapato, ou seja, é como um fio esticado. No entanto, para desempenhar sua função, ela precisa se dobrar com precisão sobre si mesma, como um cadarço quando se dá um nó e um laço. Nas doenças que estudo, determinadas proteínas não se dobram corretamente e acabam por se unir umas às outras, formando agregados, ou grumos, dentro ou fora das células. Com o envelhecimento, o que vemos é que aumenta a taxa de dobramento errado nas células e, por conseguinte, a quantidade de agregados que se formam e dão origem a doenças como o Alzheimer e o Parkinson”.
Quando as proteínas formam os grumos, ou agregados, acabam provocando a morte da célula. Se isso acomete os neurônios relacionados à nossa memória, o que aparece é o Alzheimer; se acomete os neurônios motores que produzem dopamina, causa o descontrole motor do Parkinson. “Esse é um processo que leva muitos anos, mas, quando os sintomas se manifestam, já há comprometimento dessas regiões do cérebro e os medicamentos de que dispomos no momento são apenas paliativos, isto é, não impedem a formação da doença”, afirma. Para contextualizar o sentimento de urgência que envolve os cientistas, ela diz que apenas de 5% a 10% dos pacientes com Alzheimer apresentam alguma mutação que justifique a enfermidade: “em 90%, 95% dos casos, não se tem ideia do que está por trás desse processo de agregação de proteína que leva à doença”.
A doutora Débora Foguel se dedica justamente a desvendar os mecanismos que levam uma proteína a mudar sua estrutura. Já foram mapeadas cerca de 50 doenças causadas por esse enovelamento, ou dobramento incorreto, e a maioria está associada ao envelhecimento. Como estamos vivendo mais, essas enfermidades se tornarão cada vez menos raras, daí a necessidade do investimento em pesquisa: o objetivo é um dia descobrir como deter o processo.
Uma curiosidade sobre a medalha: Mietta Santiago é o pseudônimo de Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira. Nascida em Varginha, em Minas Gerais, ela questionou a proibição do voto feminino no Brasil em 1928, por meio de um mandado de segurança. Conseguiu o direito de votar e o de concorrer ao cargo de deputada federal. A condecoração foi criada no ano passado para homenagear iniciativas relacionadas aos direitos das mulheres.
A Prefeitura de Santo André descartou, nesta segunda-feira 1º, que meningite meningogócica tenha sido a causa da morte de Arthur Araújo Lula de Silva, neto do ex-presidente Lula. O garoto morreu aos 7 anos, no dia 1º de março, e a doença foi apontada na época como motivo do óbito, conforme divulgado pelo Hospital Bartira, da rede D’Or, que ainda não se pronunciou sobre o novo laudo.
Na nota, a Secretaria Municipal de Saúde informa que encaminhou amostras coletadas no hospital para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e obteve resultados negativos para meningite, meningite meningocócica e meningococcemia.
O comunicado não aponta, porém, outras possíveis causas para a morte. “Informações adicionais relacionadas ao caso dependem de autorização expressa da família da criança”, escreve o município.
Em seu Twitter, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) classificou como “antiética e irresponsável” a divulgação do diagnóstico que apontava meningite como causa da morte
Lula, que cumpre pena na sede da Polícia Federal em Curitiba, obteve autorização da Justiça e participou do velório do neto, em São Bernardo do Campo, em 2 de março.
Leia, abaixo, a íntegra da nota da prefeitura de Santo André:
“Conforme amplamente noticiado, no dia 1°/03/2019 recebemos por volta das 14h20 a notificação de nº 5968951, informando que o paciente A.A.L.S, de 7 anos de idade, deu entrada no Hospital Bartira às 7h14 do dia 1°/3 com cefaleia, febre, mialgia, exantema, cianose, náuseas e dores abdominais. Evoluiu com confusão mental e o paciente veio a óbito por volta das 12h. O hospital informou na notificação que o motivo do óbito foi meningococcemia (meningite). Apesar da notificação, o resultado do exame de líquor realizado no mesmo dia pelo próprio Hospital Bartira, acusou bacterioscopia negativa.
Em face dessa constatação, na mesma data, a Secretaria de Saúde de Santo André, por meio do Departamento de Vigilância à Saúde, encaminhou as amostras de sangue e líquor coletadas no Hospital para análise e confirmação do Instituto Adolfo Lutz, que normalmente emite os resultados no prazo de 15 a 30 dias. Além de encaminhamento das amostras, realizamos esquema profilático dos comunicantes (pessoas com contato íntimo por mais de quatro horas diárias com o paciente nos últimos sete dias). Devido ao fato do paciente estudar em São Bernardo do Campo, a Vigilância Epidemiológica do referido município foi comunicada para que as medidas de profilaxia cabíveis fossem tomadas na escola, o que devidamente ocorreu.
As investigações foram finalizadas pela Secretaria de Saúde de Santo André, por intermédio do Departamento de Vigilância à Saúde, e segundo os resultados dos exames realizados pelo Instituto Adolfo Lutz, foram descartadas: meningite, meningite meningocócica e meningococcemia.
Todos os procedimentos de proteção e profilaxia dos comunicantes foram realizados seguindo os protocolos do Ministério da Saúde. Informações adicionais relacionadas ao caso dependem de autorização expressa da família da criança.”
Willian Chimura tem 25 anos, é programador e faz mestrado em informática para educação. Marcos Petry tem 26, é palestrante, escritor e tem dois livros publicados. Entre exatas e humanas, além da idade próxima os dois têm outro fator em comum: ambos foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista e contam como enxergam o mundo em canais do YouTube.
O dia 2 de abril foi escolhido para ser o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Conversamos com Willian e Marcos sobre tudo que uma pessoa neurotípica - que não tem autismo - deveria saber sobre quem tem.
O que foi a primeira coisa que ouviu falar sobre autismo? Se você foi informado por impressões que fazem parte do senso comum, provavelmente o que sabe até agora não é a melhor versão. Confira a seguir como o mundo pode ser visto a partir dos olhos de uma pessoa com autismo:
1 - Não somos iguais
O que se chama de autismo é, na verdade, uma gama de diagnósticos englobadas no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Todos eles têm em comum a dificuldade no relacionamento social e os interesses restritos específicos desde o início da vida.
"Se a pessoa estiver em uma das extremidades (a mais leve) desse espectro ela pode praticamente não apresentar sintomas, apenas ser considerada diferente ou se sentir diferente das outras", explica Fernando Mitsuo Sumiya, psiquiatra da Infância e Adolescência do Ambulatório de Diagnóstico da APAE de São Paulo.
Segundo ele, é possível dizer que, se existirem mil autistas em uma sala, todos eles provavelmente serão diferentes, como a impressão digital dos seus dedos.
2 - Não somos insensíveis
As dificuldades no relacionamento social podem estar ligadas à fama de insensibilidade das pessoas com autismo. Mas isso não é verdade. O fato é que essas pessoas podem ter formas diferentes de expressar sentimentos.
"Assim como a falta de iniciativa, existe também a falta de energia para se embrenhar pelo mundo pouco objetivo dos sentimentos, então creio que ao invés de afastar o autista de grupos de amigos ou até de festas, deve-se esperar um pouco até que ele se engaje com o mundo sentimental", esclarece Marcos Petry.
3 - Não tenho necessariamente deficiência intelectual
O autismo pode aparecer em uma pessoa junto com outros transtornos. A deficiência intelectual é uma delas, e atinge uma parte dos autistas. Mesmo que essa parcela pareça alta, nem pense em estereotipar os autistas assim. A deficiência intelectual é mais um conjunto de sintomas amplo, e as dificuldades podem ser inúmeras.
Além disso, é importante lembrar que até as dificuldades típicas que podem aparecer na maioria dos autistas - como a questão dos relacionamentos, por exemplo -, são tratáveis. Portanto, esses sintomas podem ser amenizados durante a vida.
4 - Mas não necessariamente sou um gênio
Não é difícil ouvir exemplos de pessoas com autismo que têm habilidades que impressionam a quem está em volta. Resolver problemas matemáticos difíceis ou falar várias línguas estão entre as coisas que podem tornar autistas ícones, assunto para bate-papos ou até tema de obras cinematográficas.
Essas habilidades podem ser decorrentes da forma como a mente dos autistas funciona. Uma característica que pode ajudar é, por exemplo, o hiperfoco, que consiste em um jeito intenso de se concentrar em um tema, tópico ou tarefa.
No entanto, acreditar que todos os autistas têm inteligência excepcional não é bem-vindo. ?Autistas não são geniais. Não mais geniais que qualquer pessoa. Acho que a genialidade não vem de uma hora para outra e autistas não são privilegiados neste quesito. O que ocorre é as pessoas confundirem retenção de estímulos e pequenos detalhes com genialidade nata!?, reclama Marcos.
5 - Também temos amigos!
Certa vez, antes de ser diagnosticado, Willian Chimura falou a uma psicoterapeuta sobre suas dificuldades em se relacionar com as pessoas. Ela descartou sua queixa apontando os amigos que tinha.
6 - Não estamos num mundo à parte
Lembro da primeira vez que ouvi a palavra "autista". Era adolescente, e questionei uma amiga sobre o seu significado. Ouvi: "São pessoas que ficam no mundo delas, não interagem". Mais tarde, entrando em contato com pessoas diagnosticadas com o TEA, percebi que essa definição era, além de errada, bastante prejudicial.
"Quando as pessoas falam que os autistas vivem no mundo deles, elas não conseguem compreender a forma como as pessoas querem se comunicar ou interagem com o ambiente e desistem de entender", explica Willian.
Ao contrário, autistas estão no mesmo mundo em que os neurotípicos (como se chamam pessoas que não estão no espectro do autismo ou de outro transtorno psiquiátrico). A diferença é que as interações entre estas duas esferas podem não ser tão óbvias assim.
"Se alguém ali em volta da pessoa com autismo passar um tempo observando, tentando entender o que ela quer dizer com suas expressões, com certeza vai encontrar uma maneira para se comunicar", completa o programador.
E fazer isso não implica em tratar de forma infantil. Marcos dá a dica: o que se precisa fazer é simplesmente dar "pitadas" de previsibilidade, principalmente explicando algumas nuances da linguagem que muitas vezes são difíceis de captar, como ironias e metáforas.
7 - Podemos fazer movimentos diferentes
Existe uma marca bem comum entre pessoas com autismo: as estereotipias motoras.
"Estereotipias são movimentos repetitivos como balançar o tronco, chacoalhar as mãos. Em geral, as estereotipias servem para que a criança se autorregule. É muito parecido com aquela pessoa que rói a unha o tempo todo porque está ansiosa e isso reduz a ansiedade. Quando a criança não consegue se expressar de maneira apropriada ela encontra maneiras de se autorregular", explica o psiquiatra Fernando Mitsuo Sumiya.
8 - Podemos repetir sons
Outra característica que pode aparecer entre pessoas com autismo é a ecolalia, que consiste na repetição de frases em diferentes contextos.
Para Willian, repetir as falas que aparecem em jogos é simplesmente uma atividade prazerosa. Ele compara com o hábito que os neurotípicos têm de cantar músicas que gostam. No entanto, nem sempre acontece no contexto esperado.
O psiquiatra Fernando ressalta que a ecolalia também é sintoma de outros transtornos e, por isso, deve ser avaliada.
9 - Não é qualquer barulho que me atrapalha
Autistas sentem o mundo de uma maneira diferente das pessoas neurotípicas. É o que se chama de atipicidade sensorial. Por isso, não faz sentido afirmar que eles não gostam de barulhos, necessariamente.
"Quando estou em meio, não só a barulho, mas também a objetos de cores berrantes, luzes ou outdoors muito chamativos, fico desestabilizado: Acontece porque as informações me vem aos poucos e se aglutinam de tal maneira que fazem a mente esgotar as energias", relata Marcos.
Cada pessoa tem certas sensibilidades diferentes das outras. E ele reforça que isto é treinável."Já lido com estímulos ambientais muito melhor do que quando era criança por exemplo", completa.
10 - Nem sempre somos diagnosticados
É possível que uma pessoa adulta tenha autismo e não saiba? Sim, já que o espectro abrange formas do autismo com sintomas mais brandos.
No entanto, o diagnóstico precoce é importante para que as equipes realizem as intervenções necessárias.
"Lembra, quando a gente era criança, a gente caia e ralava o joelho? Nosso joelho ralado melhorava mais rápido que hoje! Da mesma forma o cérebro das crianças tem uma maior facilidade de realizar ligações e conexões. Chamamos essa capacidade de neuroplasticidade. Quanto mais precoce for a estimulação e a intervenção, maiores são as chances da criança em qualquer grau terem a oportunidade de ter um melhor funcionamento", detalha o psiquiatra Fernando.
Autismo: entre em contato
Se você ainda não conhece alguém que tem autismo, provavelmente ao longo da vida irá entrar em contato. Saber mais sobre as características das pessoas com autismo a partir da própria perspectiva delas é a melhor forma.
Tanto Marcos Petry como Willian Chimura, que conversaram com a gente e nos ajudaram com esta reportagem, podem contribuir para isso.