Essa é mais uma boa notícia que vem da ciência brasileira. Jerson Lima Silva e Guilherme A. P. de Oliveira, ambos professores do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), identificaram estruturas proteicas ligadas ao início da Doença de Parkinson. O estudo foi feito em parceria com pesquisadores da University of Virginia School of Medicine, nos EUA – onde Guilherme se encontra atualmente – e publicado na revista “Communications Biology”, do grupo Nature.
O Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva. Um dos grandes desafios da ciência é mapear os estágios iniciais da enfermidade, porque, hoje em dia, ela só é detectada quando surgem os sintomas que mostram que o cérebro já foi afetado. “As doenças neurodegenerativas surgem cerca de dez anos antes dos primeiros sintomas se manifestarem”, explica o professor Jerson Lima Silva. “O objetivo da pesquisa era entender o que ocorre nas etapas iniciais, porque assim poderemos, no futuro, intervir precocemente, talvez retardando o desenvolvimento do Parkinson”, acrescentou.
E foi o que os cientistas fizeram. Utilizando uma técnica de ponta, pela primeira vez foram observadas como variantes da alfa-sinucleína, proteína associada à doença, interagem ao longo do tempo, formando agregados conhecidos como filamentos amiloides. O professor Silva se vale de uma imagem de fácil compreensão para detalhar o que acontece: “a proteína é pequena, podemos compará-la com uma uva, mas os agregados são como uma plantação de videiras. Para essas ‘uvinhas’ se unirem, elas formam estruturas intermediárias, chamadas oligômeros. Os oligômeros competentes são aqueles capazes inclusive de passar de uma célula para a outra a fim de cumprir essa tarefa. Quanto mais soubermos sobre o processo, mais perto estaremos da possibilidade de neutralizar essa competência dos oligômeros”.
Os cientistas recorreram ao que há de mais moderno em bioimagem, o que permitiu visualizar os diversos estágios de associação da proteína. Também desenvolveram condições que possibilitaram observar estruturas que antes não eram mostradas. O marcador fluorescente utilizado permite ver dois estágios: sem agregação, quando as moléculas estão escuras, e com agregação, quando estão iluminadas. Oliveira e Silva conseguiram conferir gradação à luminosidade – como num filme, foi possível mapear os oligômeros correspondentes num estágio intermediário. “Isso nos abre um leque de possibilidades”, afirma o professor Silva. “Os próximos passos incluem buscar uma molécula capaz de bloquear essa multiplicação, para depois realizarmos testes em modelos animais e, posteriormente, testes clínicos em humanos”. O estudo foi financiado por Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Estrutural e Bioimagem.
O útero artificial foi desenvolvido no Hospital da Filadelfia nos Estados Unidos. Ele foi pensado para bebês prematuros extremos, ou seja, que nascem com 23 a 24 semanas de gestação, o limite para que exista chance de sobrevivência. O governo americano autorizou os primeiros testes em humanos no ano que vem.
O professor Lourenço Sbragia Neto, chefe da Divisão de Cirurgia Pediátrica do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP, afirma que o sistema foi testado com sucesso em ovelhas e consiste em uma bolha que imita as condições do útero.
Além disso, um cateter é implantado no feto e sangue é bombeado através dele para levar nutrientes para o bebê, funciona como o cordão umbilical. Segundo Neto, os filhotes conseguiram praticamente o mesmo desenvolvimento de uma gestação normal de 37 semanas.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), dos 30 milhões de bebês que nascem prematuros todos os anos no mundo, 1 milhão morre devido à prematuridade.
Além do risco de morte, bebês com prematuridade correm o risco de ficar com sequelas. O professor explica que um bebê de 24 semanas tem por volta de 500 g, enquanto o mínimo para bebês que nascem no tempo adequado é de 2,5 kg.
A principal sequela é o retardo mental. O bebê possui os vasos da cabeça muito frágeis, variações na quantidade de oxigênio podem causar sangramentos, uma espécie de derrame. De 5% a 10% dos prematuros extremos apresentam enterocolite necrosante, quando o intestino necrosa.
Além de problemas pulmonares, já que o pulmão não está totalmente desenvolvido, e quadros graves de infecção como meningite, uma vez que o sistema imunológico não está preparado para o contato com o mundo externo.
“Se funcionar bem para os bebês prematuros, pode também ser uma solução para cirurgias fetais. Ao invés de operar o bebê dentro do útero, poderíamos tirar o bebê da barriga da mãe, operar e colocar no útero artificial para terminar o desenvolvimento”, afirma o professor.
Diante da identificação dos pontos de contaminação por petróleo cru na costa do nordeste brasileiro, ainda de fonte desconhecida, o Ministério da Saúde (MS) divulgou uma nota com recomendações e orientações para os profissionais de saúde, voluntários e população em geral, sobre os cuidados relacionados ao contato direto com o óleo.
De acordo com a nota, nove estados do nordeste foram afetados pelo vazamento, atingindo 88 municípios dessa região.
No documento, o MS divulgou a lista dos Contatos dos Centros de Informação Toxicológica – Nordeste (CITOX), dos nove municípios afetados para atendimentos ocasionados por intoxicações. No Piauí, o Citox é vinculado a Secretaria de Estado do Piauí, por meio da Diretoria de Vigilância Sanitária do Estado (DIVISA).
Em casos de ocorrências por intoxicação, os profissionais de saúde poderão receber atendimento por este serviço através dos números 0800 280 3661 e (86) 99466 8097.
O Citox funciona 24 horas, com médicos plantonistas preparados para orientar sobre as ocorrências relatadas pelos profissionais de saúde que atendem pacientes intoxicados nos serviços de emergência dos hospitais públicos e privados. "Para facilitar o acesso e agilizar o fluxo de informações e orientações pertinentes às intoxicações, a SESAPI disponibiliza ainda aos profissionais de saúde o contato através do celular, que permanece diretamente com o médico toxicologista, priorizando o atendimento em tempo hábil e com segurança", explicou a diretora da Divisa, Tatiana Chaves.
Um alvo terapêutico para o câncer de ovário foi identificado por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos. Em artigo publicado na revista Cancer Research, os pesquisadores descreveram a ação de uma pequena molécula de RNA (ácido ribonucléico) capaz de bloquear o processo de metástase (formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra), e reduzir o tumor quase por completo, ao silenciar a expressão de genes envolvidos na migração celular e no metabolismo energético do tumor.
A molécula conhecida como miR-450a geralmente tem baixa expressão em tumores. Porém, testes in vitro e em camundongos mostraram que, quando superexpressa (aumentada na célula), pode ter efeitos positivos no tratamento do câncer de ovário.
O estudo foi realizado no Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (FAPESP) na Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. Contou com a colaboração do professor do Laboratory of Muscle Stem Cells and Gene Regulation, do National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos, Markus Hafner.
“Trata-se de uma molécula promissora. Podemos desenvolver, no futuro, com nanotecnologia, estratégias terapêuticas contra o câncer de ovário”, disse o pesquisador do Centro de Terapia Celular e coordenador do estudo, o geneticista Wilson Araújo da Silva Junior.
Por ser inicialmente assintomático, o câncer de ovário tende a ser detectado já em estágio avançado. “A principal arma no tratamento hoje é a cirurgia. A miR-450a pode ser um bom alvo terapêutico, que associado ou não a quimioterapia, pode ter o potencial de contribuir como terapia neoadjuvante [tratamento pré-cirúrgico], aumentando taxas de resposta pré-operatórias, bem como, em casos de estadiamento avançado, diminuir o risco de progressão ou morte pela doença, com possíveis efeitos colaterais menores que o da quimioterapia. Outro ponto interessante da molécula é o bloqueio da metástase”, comentou o geneticista.
Os chamados microRNAs, como o 450a, são pequenas moléculas de RNA que não codificam proteína, mas desempenham função regulatória no genoma e, por consequência, em diversos processos intracelulares. A estratégia de atuação dessas moléculas consiste em se ligar ao RNA mensageiro expresso por um gene, impedindo sua tradução em proteína.
Corte de energia
Os testes in vitro e in vivo realizados no Centro de Terapia Celular, como parte do doutorado de Bruna Muys, bióloga bolsista da FAPESP, mostraram que, quando superexpresso, o miR-450a não só reduzia o tumor como também bloqueava o processo de metástase. No entanto, era preciso identificar ainda quais genes de proliferação e invasão celular estavam sendo inibidos pela molécula.
Nesta etapa, os pesquisadores trabalharam em colaboração com o grupo do NIH. O estudo teve apoio a FAPESP por meio de uma Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE). “Depois de toda a etapa inicial e de caracterização, precisávamos descobrir quais genes de migração celular e invasão a molécula miR-450a estava regulando. Com a tecnologia que o laboratório do NIH dispõe para procura de alvos de RNA não codificadores, descobrimos que esse microRNA atua também na redução de energia da célula, levando-a à morte”, disse Silva Júnior.
Os pesquisadores identificaram que o miR-450a bloqueia genes relacionados à proteína vimentina, que integra a via de invasão celular. Atua também na desregulação dos genes da via de transição epitélio-mesenquimal – essenciais para a capacidade de migração, invasão e resistência à apoptose celular –, inibindo a ocorrência de metástase.
Em relação ao crescimento tumoral, a molécula atua em um gene mitocondrial (MT-ND2), e três do genoma nuclear (ACO2, ATP5B e TIMMDC1), envolvidos em uma das etapas da respiração celular e na produção de energia (fosforilação oxidativa).
Ainda como consequência das alterações no metabolismo energético, foi observada diminuição da taxa de glutaminólise e aumento de glicólise. De acordo com os pesquisadores, esse desequilíbrio energético pode resultar na produção ineficiente de lipídios, aminoácidos, ácidos nucleicos pelas células tumorais e, com isso, inibir as vias de sinalização associadas à migração e invasão (metástase).
Papel da placenta
A descoberta da molécula e de seu mecanismo de atuação surgiu como resultado do projeto de mestrado de Muys, também apoiado pela FAPESP e vinculado ao Centro de Terapia Celular. No estudo, mostrou-se que ocorre expressão elevada do miR-450a na placenta e baixa expressão em tumores, incluindo o câncer de ovário. A conclusão do grupo foi que, na placenta, essas moléculas estariam regulando mecanismos análogos ao desenvolvimento do tumor.
Embora a formação da placenta e dos tumores sejam processos completamente diversos, existe, até certo ponto, muita semelhança na programação genética de ambos. “A placenta cresce, invade o útero, prolifera e passa por uma vascularização – processo conhecido como angiogênese. É tudo o que o tumor precisa. Porém, diferentemente dos tumores, na placenta esses programas genéticos estão ativos de forma controlada”, disse Silva Junior.
“Por isso, nossa ideia foi buscar novos alvos terapêuticos estudando genes altamente expressos na placenta, mas que não estão ativos em tumores. Essa correlação significa que moléculas como a miR-450a deixam de regular processos biológicos importantes para o desenvolvimento do tumor. Pelos nossos achados, se um gene aparece com essas características é sinal que ele pode ser um bom alvo terapêutico”, disse.
O artigo miR-450a acts as a tumor suppressor in ovarian cancer by regulating energy metabolism, de Bruna Rodrigues Muys, Josane F. Sousa, Jessica Rodrigues Plaça, Luíza Ferreira de Araújo, Aishe A. Sarshad, Dimitrios G. Anastasakis, Xiantao Wang, Xiao Ling Li, Greice Andreotti de Molfetta, Anelisa Ramão, Ashish Lal, Daniel Onofre Vidal, Markus Hafner e Wilson A. Silva, pode ser lido pelo site.
Tratamento
Segundo o professor Silva Junior, para que uma terapia seja desenvolvida com o uso da molécula miR-450a é preciso que haja investimento e interesse da indústria farmacêutica. “A academia tem uma etapa que é mostrar os melhores biomarcadores, mas o interesse da indústria farmacêutica acelera esse processo de ter um produto que possa ser colocado no mercado, agora com a publicação deste artigo vai despertar o interesse de alguma empresa. Mas o desenvolvimento de um produto pode levar de 10 a 20 anos, temos a etapa de desenvolver o produto, mas tem todo o trabalho de regulamentar e aprovação nos órgãos competentes para realmente se transformar em um medicamento”, finalizou.