Uma pesquisa feita por cientistas e publicado na revista especializada Nejm (The New England Journal of Medicine) mostra que ao contrário do que se pensava, a vacina da BCG, contra a tuberculose infantil, não protegeu os profissionais de saúde durante o período agudo da pandemia de Covid-19 contra casos sintomáticos da doença, nem internações e nem mortes. Participaram do estudo 40 cientistas pesquisadores.

Na pesquisa, os voluntários receberam doses de placebo (medicamento elaborado para ter aparência exata ao original), e a substância original. Os casos sintomáticos que receberam placebo e os que receberam o original não houve uma diferença grande em contaminação. Já para casos graves, o grupo que recebeu o placebo formou 6,5% e os que receberam o imunizante real 7,6%, ou seja, para os cientistas ficou comprovado que realmente a BCG não foi eficaz contra a Covid-19.

Quando foi decretado a pandemia pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, e não havia ainda estudos para uma vacina, acreditava-se que o imunizante BCG ajudaria o organismo a ter uma resposta imune ao novo vírus, pois a BCG ajuda o corpo a ter uma resposta contra diversas infecções respiratórias, e, portanto, poderia também ajudar na proteção contra Covid.

Foram testados ao todo 3998 profissionais da área de saúde, com 1703 recebendo a substância original e 1683 com placebo. Durante a realização do estudo, deu-se também início a vacinação contra a cepa original da Covid e muitos desses que estavam no estudo, tomaram o imunizante específico para a Covid-19 e segundo o cientista Curtis que dirigiu os estudos, esse evento pode ter influenciado nos resultados. Ele disse que "Sintomas de Covid refletem que o sistema imune está trabalhando para combater o vírus. Uma resposta protetora induzida pela BCG pode ser benéfica, eliminando o vírus mais rapidamente do organismo, o que reduz os casos graves. No recorte acima de 60 anos, o tempo até a resolução dos sintomas foi menor nos indivíduos vacinados com BCG do que no placebo".

O estudo contou com voluntários brasileiros e representou 64% do total de participantes. O estudo foi dirigido por Margareth Dalcolmo, Júlio Croda e Marcos Lacerda, médicos e pesquisadores da FIOCRUZ. Segundo Croda, no Brasil não se conseguiu comprovar se realmente a vacina da BCG protege contra casos graves da doença ou normais.

A BCG pode não ser eficaz contra a Covid, conforme o estudo comprovou, mas ela é fundamental contra outras doenças do trato respiratório por outros vírus. Os profissionais de saúde seguem recomendando para que se mantenha a caderneta de vacinação sempre atualizada, protegendo a si mesmo e a sociedade.

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Pesquisadores do Reino Unido publicaram um artigo nesta semana em que relacionam problemas de ouvido, nariz e garganta em crianças em idade pré-escolar a um risco aumentado de autismo ou a altos traços de autismo demonstráveis.

autismo

O trabalho, publicado no BMJ Open, analisou dados abrangentes de mais de 10 mil crianças pequenas que foram monitoradas de perto durante os primeiros quatro anos de vida. As mães preencheram três questionários quando os filhos completaram 18, 30 e 42 meses. Entre as perguntas, estavam sinais e sintomas relacionados ao ouvido, nariz e garganta, bem como quaisquer problemas auditivos.

Além dos quatro anos de monitoramento mais próximo, a pesquisa continuou por meio de questionários quando as crianças completaram 3, 6 e 9 anos.

Nessa fase, as mães respondiam a questões que envolviam a coerência da fala, problemas sociais e de comunicação, comportamentos repetitivos e anormais, além de sociabilidade, traços que são característicos do autismo.

Posteriormente, 177 crianças tiveram diagnóstico provável de autismo (139 meninos e 38 meninas), a partir de registros educacionais, feedback dos pais e outras fontes de informação.

As pontuações mais altas para definir o autismo ocorreram justamente em crianças que tinham evidências precoces de respiração pela boca, ronco, puxões ou cutucadas nas orelhas, orelhas avermelhadas e doloridas, pior audição durante um resfriado ou que raramente ouviam.

Os pesquisadores também associaram pus ou secreção pegajosa das orelhas aos casos de autismo.

Segundo os autores, as associações entre condições otorrinolaringológicas foram observadas com mais evidência entre 30 e 42 meses de idade.

"O próprio autismo foi significativamente associado a todos os sinais, exceto para sintomas de apneia do sono (respiração interrompida durante o sono)", salientam os pesquisadores.

Por outro lado, os estudiosos fazem uma ressalva.

"Esses sinais e sintomas otorrinolaringológicos são muito comuns na infância e a maioria das crianças que os experimentam não são diagnosticados com autismo. Por exemplo, do grupo de cerca de 1.700 crianças que roncam aos 30 meses, a maioria (1.660) não foi diagnosticada com autismo mais tarde."

Entre as limitações do trabalho estão algumas falhas no monitoramento permanente das crianças, bem como o fato de o diagnóstico de autismo não ter sido definitivo.

De qualquer modo, os autores defendem que os sinais auditivos ou respiratórios podem, sim, ser marcador precoce de risco aumentado de autismo, além de darem pistas sobre as origens dessa condição.

Além do mais, o tratamento dessas condições poderia levar as crianças a uma qualidade de vida melhor.

"Não é possível determinar se essas condições otorrinolaringológicas têm um papel causal no desenvolvimento de traços autistas ou estão relacionadas a um fator não medido. Uma possibilidade, por exemplo, poderia ser a consequência do aumento da prevalência de pequenas anomalias físicas em indivíduos com autismo, incluindo diferenças anatômicas na estrutura e/ou posicionamento da orelha, com tais diferenças na morfologia da orelha aumentando o risco de condições otorrinolaringológicas", finalizam.

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A FDA, agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, aprovou, na quarta-feira (26), a primeira cápsula oral de microbiota fecal. A tecnologia torna mais fácil um procedimento já usado para o tratamento de colite pseudomembranosa, uma infecção intestinal pela bactéria Clostridioides difficile (C. difficile), ou CDI: o transplante de fezes.

O transplante fecal se faz necessário no momento em que os medicamentos não conseguem conter a infecção bacteriana, em casos recorrentes. No entanto, tradicionalmente, ele é feito com fezes doadas e por meio de endoscopia ou colonoscopia. A FDA, agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, aprovou, na quarta-feira (26), a primeira cápsula oral de microbiota fecal. A tecnologia torna mais fácil um procedimento já usado para o tratamento de colite pseudomembranosa, uma infecção intestinal pela bactéria Clostridioides difficile (C. difficile), ou CDI: o transplante de fezes.

O transplante fecal se faz necessário no momento em que os medicamentos não conseguem conter a infecção bacteriana, em casos recorrentes. No entanto, tradicionalmente, ele é feito com fezes doadas e por meio de endoscopia ou colonoscopia. Chamada de Vowst, a cápsula foi desenvolvida pelo laboratório norte-americano Seres Therapeutics, em parceria com a Nestlé Health Science. Ela usa matéria fecal humana doada por indivíduos qualificados, segundo a agência reguladora.

A previsão dos fabricantes é que o produto esteja disponível nos EUA em junho.

Os pacientes que fizerem o tratamento precisarão tomar quatro cápsulas uma vez ao dia, durante três dias seguidos.

O transplante fecal substitui a flora intestinal da pessoa que recebe pela dos doadores. O objetivo, no caso da colite pseudomembranosa, é que a nova microbiota elimine a C. difficile, curando, portanto, o quadro inflamatório.

Os testes mostraram que 12,4% dos que tomaram as cápsulas tiveram novos episódios de colite pseudomembranosa, enquanto entre os que tomaram placebo, 39,8% voltaram a ter sintomas da doença. O problema da recorrência das infecções por C. difficile é justamente o fato de elas se tornarem mais comuns nos pacientes que tiveram uma ou duas vezes. O tratamento também passa a ser menos eficaz.

"O risco de recorrências adicionais aumenta com cada infecção, e as opções de tratamento para CDI [C. difficile] recorrente são limitadas. Acredita-se que a administração da microbiota fecal facilite a restauração da flora intestinal para prevenir novos episódios de CDI", afirma a FDA.

Os principais efeitos colaterais foram inchaço abdominal, cansaço, constipação, calafrios e diarreia.

Outra técnica de transplante fecal para casos de colite pseudomembranosa já havia sido aprovada pela FDA em dezembro do ano passado. O método da empresa suíça Ferring Pharmaceuticals, chamado de Rebyota, envolve o uso de um enema.

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Pesquisadores da NYU (Universidade de Nova York) em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, do Brigham and Women's Hospital e do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) desenvolveram uma cápsula eletrônica que pode ajudar no tratamento de doenças metabólicas e neuropsiquiátricas e gastrointestinais.

capsula

O dispositivo demonstrou capacidade de modular os níveis de um hormônio que atua diretamente na sensação de fome. Chamada de FLASH, a cápsula é classificada como "um dispositivo eletrocêutico ingerível para a neuromodulação do eixo intestino-cérebro, a via de sinalização entre o trato gastrointestinal e o sistema nervoso central". As terapias eletrocêuticas têm sido descritas por muitos cientistas como o futuro dos medicamentos tradicionais. Estudos apontam uma variedade de usos para doenças que afetam o sistema nervoso e outros órgãos.

"Uma pílula ingerível que contém componentes eletrônicos em vez de produtos químicos ou drogas é muito promissora”, afirma em comunicado um dos autores do trabalho, o professor Khalil Ramadi, da Universidade de Nova York.

Em um artigo intitulado "Cápsulas eletrocêuticas ingeríveis bioinspiradas, absorventes de fluidos para modulação hormonal reguladora da fome", publicado nesta quarta-feira (26) na revista Science Robotics, a equipe de Ramadi detalha os resultados do estudo de desenvolvimento da tecnologia.

O desenho da cápsula FLASH foi inspirado no lagarto australiano, cuja pele é conhecida pelas microestruturas que coletam água por capilaridade.

Os padrões ranhurados e uma superfície hidrofílica (compatível com água) não deixam que haja interferência fluído gástrico do estômago, obtendo um contato direto do eletrodo com o tecido da parede do órgão.

O dispositivo demonstrou condições de modular os níveis de um hormônio excretado no estômago, a grelina, que é responsável por aumentar os níveis de apetite.

A cápsula é alimentada por baterias ingeríveis que fornecem estimulação por 20 minutos. Elas são excretadas em até duas semanas após a ingestão, conforme testes realizados em animais de grande porte.

Os autores do trabalho consideram que ele possui uma vantagem em relação aos medicamentos hormonais habituais, já que estes têm uma baixa biodisponibilidade (porção ativa do fármaco que entra no organismo) – é por esta razão que a insulina, por exemplo, tem de ser injetada.

“Este desenvolvimento oferece muitos novos caminhos para pesquisas sobre as complexas interconexões entre o cérebro e o intestino e para promover o uso de eletrocêuticos como intervenção clínica”, disse James McRae, outro autor do trabalho.

Ramadi classifica esse tipo de terapia como "a próxima fronteira da neuromodulação".

"O FLASH é um dos primeiros eletrocêuticos ingeríveis que pode regular circuitos neuro-hormonais precisos, evitando o desconforto que os pacientes podem sentir com tratamentos invasivos. Futuros sistemas eletrocêuticos ingeríveis podem ser projetados e personalizados para aplicações específicas além da estimulação gástrica aguda e de curto prazo", afirma o cientista.

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