Ontem foi o Dia da Memória Transgênero (TDoR em inglês), que homenageia as vítimas trans mortas por causa do ódio. Em 2022, o Brasil bateu a triste marca de país com mais mortes de pessoas trans e travestis no mundo, pelo 14º. ano consecutivo, seguido por México e Estados Unidos. Foram 131 assassinatos e 20 suicídios relacionados ao preconceito e à discriminação. Quase 90% tinham entre 15 e 40 anos, com um perfil semelhante: mulheres trans e travestis negras e pobres, tendo a prostituição como fonte de renda mais frequente. As informações constam de dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgado em janeiro.
O peso do preconceito não dá trégua a quem sobrevive. Pesquisa divulgada ontem alertava para taxas alarmantes de pensamentos suicidas nesse grupo: um quarto das pessoas havia considerado seriamente a alternativa de acabar com a própria vida nos últimos 12 meses. Os números são devastadores: na população em geral, ideias suicidas afetam 4.7% dos indivíduos, chegando a algo entre 11% e 17% entre os idosos – mas alcançam estratosféricos 25.8% entre adultos transgênero com 50 anos ou mais nos EUA. O trabalho foi publicado na revista científica “Aging and Mental Health” e aponta para a urgência de políticas públicas que viabilizem uma rede de apoio.
“Nossa pesquisa expõe uma dolorosa realidade causada pelo acúmulo e multiplicidade de fatores adversos em suas existências”, afirmou Alex Washington, professor da faculdade de serviço social da Universidade do Estado da Califórnia. O estudo se baseou em levantamento nacional com 3.724 pessoas trans 50 mais. Na faixa entre 50 e 54 anos, o percentual atingia seu pico: 31.7% tinham pensamentos suicidas recorrentes. Depois dos 70, o índice baixava para 12%. Foram relacionadas cinco áreas diferentes de grande potencial para causar angústia e sofrimento: problemas no ambiente de trabalho; uso de serviços públicos; segurança pessoal; desvantagens socioeconômicas; e interação com profissionais. Quando ocorria uma exposição negativa nos cinco domínios, o risco aumentava 861%.
Os dias quentes são acompanhados de uma sintomatologia clássica: suor, desidratação e tonturas, que podem configurar um quadro de pressão baixa. O cardiologista do Hcor Celso Amodeo explica que a queda da pressão arterial no calor ocorre devido à vasodilatação.
"Quando temos um excesso de calor, o organismo elimina essa alta temperatura por meio do suor e aumentando a dilatação dos vasos sanguíneos", afirma.
O cardiologista André Gasparoto, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, complementa que a perda de líquidos, nem sempre repostos adequadamente, pode auxiliar os quadros de hipotensão.
Entre as pessoas mais suscetíveis a tal efeito pelo calor estão aquelas que se encontram nos extremos das idades (crianças e idosos), assim como pacientes com problemas cardiovasculares.
Isso ocorre pela baixa ingestão de líquidos causado, às vezes, pela eventual necessidade de ajuda para seu consumo, por desidratação, intolerância à quantidade de líquidos necessários e descompensação das doenças preexistentes.
"Pessoas com padrões hemodinâmicos mais baixos, muito comum entre mulheres por já nascerem com essa tendência, ou devido ao excesso de peso, sedentarismo e flacidez muscular, tendo uma maior vasodilatação dos membros inferiores e apresentando pernas inchadas, possuem maior propensão à queda da pressão arterial", acrescenta Amodeo.
Além da própria elevação da temperatura e da desidratação, pode-se somar o uso de roupas incompatíveis com o calor, exposição excessiva e em horários em que o sol é mais agressivo ao organismo, excesso de bebidas alcoólicas e má alimentação entre as razões que podem levar à hipotensão.
Os sintomas do quadro podem envolver tontura, visão embaçada, palpitações, dor no peito, desmaio, arritmias, AVC (acidente vascular cerebral) e, em casos extremos, levar até à morte.
O que fazer diante da pressão baixa? Os especialistas alegam que, ao constatar a hipotensão, é preciso retirar a pessoa do ambiente que esteja sob o sol e conduzi-la a um ambiente mais fresco e, se estiver consciente, ofertar água.
É recomendado deitar o paciente e levantar as suas pernas em até 45° (posição de Trendelenburg), permitindo a circulação de sangue no cérebro.
"A ideia de colocar sal na boca não é a correta. A relação do sal com a pressão está associada ao seu uso crônico, e não com ingerir o sal pontualmente. Eu não terei um pico de pressão comendo sal. Ele vai reter líquido, expandir em maior volume e, cronicamente, sim, um quadro de hipertensão", esclarece o Amodeo.
Assim, a solução é manter a hidratação adequada.
Para evitar os episódios, os médicos aconselham manter a hidratação adequada e evitar a exposição solar, especialmente em horários mais críticos; também recomendam o uso de roupas adequadas, de cores claras, que não absorvem o calor, e mais abertas; e ter uma dieta mais leve, evitando alimentos ricos em gorduras.
A chance de sucesso na amamentação é maior quando o pai do bebê também considera isso importante, segundo um novo estudo americano, publicado no Pediatrics. O objetivo dos autores era desvendar a influência das características paternas na iniciação e na manutenção do aleitamento materno, bem como nas práticas seguras de sono da criança.
Os pesquisadores avaliaram questionários de 250 participantes do Pregnancy Risk Assessment Monitoring System (PRAMS) for Dads [Sistema de monitoramento de avaliação de risco na gravidez para pais, em tradução livre], um estudo populacional conduzido em 2018 e 2019 nos Estados Unidos que avalia necessidades de saúde de homens e suas famílias na transição para a paternidade.
A taxa de início de amamentação foi quase total, 95,4% dos bebês de pais que queriam que eles mamassem no peito. Esse número foi de 68,7% naqueles em que os pais eram indiferentes neste quesito. E essa diferença se manteve após oito semanas: o número dos bebês que continuavam sendo amamentados pela mãe foi 77,5% contra 33,3%.
Sabe-se que conseguir iniciar e manter a amamentação é um grande desafio. Para os pesquisadores, engajar pais ou parceiros e parceiras que não deram à luz na discussão sobre o aleitamento, bem como mostrar como eles podem apoiar mães e bebês, pode ser um caminho para ajudar a aumentar as taxas de aleitamento materno.
“É um período que pode ser entremeado por dificuldades, frustrações e angústia para algumas mães. Por isso o apoio da família e do companheiro é um ponto essencial para o sucesso dessa jornada”, diz a pediatra Romy Zacharias, médica coordenadora da equipe de neonatologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
“A vontade conjunta e a presença física dos pais ou companheiros que apoiem esse objetivo oferece suporte emocional nos momentos difíceis e ajuda na divisão de tarefas com os cuidados com o recém-nascido. Assim, a mãe não se sente sozinha e observamos que a amamentação se torna mais eficiente e prolongada”, avalia a médica.
Foi o que aconteceu com Robson Celestino Prychodco, de 39 anos. Ele conta que, quando a mulher engravidou, procurou fazer sua lição de casa: fez cursos, acompanhou ela nas consultas, buscou informações e se envolveu no planejamento do parto. “Sempre tive essa disponibilidade e vontade de participar”, diz.
“Depois que meu filho nasceu, procurava ajudar na organização da rotina, criar um ambiente favorável para facilitar a amamentação e dar o suporte que ela precisava, inclusive com detalhes como lembrá-la de se hidratar.” O filho Dimitri, hoje com 11 anos, mamou até depois dos dois anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento exclusivo até os seis meses de vida e, de forma complementar a outros alimentos, até os dois anos ou mais.
“Tradicionalmente o homem ocupa uma posição acessória em tudo o que envolve os cuidados com os filhos e isso não precisa ser assim. Hoje vejo o quanto a falta de um pai desde cedo afeta a vida da criança e o quanto esse envolvimento te aproxima do seu filho e da sua mulher”, conta Prychodco.
Agora eles estão começando o desmame do caçula, Ravi, que está com dois anos e quatro meses. “Minha mulher queria muito amamentar e é muito determinada. Mas acho que a qualidade da amamentação e o custo seriam diferentes se eu não tivesse me envolvido tanto”, avalia o pai.
Sono O estudo também mostrou que quase todos os pais (99%) colocavam o bebê para dormir e a enorme maioria deles (85%) conhecia a posição correta na hora do sono. No entanto, cerca de um terço desconhecia alguma das demais recomendações. Vale lembrar que o bebê deve sempre dormir de barriga para cima, no berço, em uma superfície firme. Não se deve colocar sobre almofadas ou sofás, por exemplo, nem compartilhar a cama dos pais. O berço também deve estar livre de objetos macios como travesseiros, brinquedos e pelúcias, edredons, colchas e lençóis soltos.
Dados americanos mostram que cerca de 35% das mulheres em idade reprodutiva (com menos de 50 anos) possuem déficit de ferro no organismo. No Brasil, a estimativa é ainda maior: calcula-se que entre 40% e 50% das mulheres jovens sofram com alguma deficiência de ferro, muitas vezes não identificada porque a dosagem desse nutriente não costuma fazer parte dos exames rotineiros. A deficiência de ferro é a principal causa de anemia, a deficiência nutricional mais prevalente no mundo, que afeta 33% das mulheres não grávidas, 40% das mulheres grávidas e 42% das crianças em todo o mundo, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
O principal fator que leva à deficiência de ferro na mulher é o ciclo menstrual intenso, com muita perda de sangue — a eliminação de coágulos pode ser uma maneira de identificar a quantidade do fluxo.
“Muitas vezes, a mulher não consegue recuperar esse ferro perdido no intervalo de uma menstruação para outra. Além disso, há casos de deficiência de ferro causada por alimentação inadequada, com dietas muito restritivas [pouca carne e pouco alimento rico em ferro], tanto por imposição da beleza quanto por situações em que as pessoas não têm acesso à comida mesmo”, observou Ana Paula Beck, ginecologista e obstetra do Departamento Materno Infantil do Hospital Israelita Albert Einstein.
Outras situações também levam ao problema, como cirurgia bariátrica desabsortiva (que altera o trânsito intestinal e, consequentemente, reduz a absorção de vitaminas e nutrientes), alimentação inadequada e dietas restritivas. Inclusive, em um comunicado emitido em 2021, a OMS afirmou que reduzir a anemia era um dos componentes dos esforços para erradicar todas as formas de má nutrição. Em 2020, segundo a organização internacional de saúde, havia 614 milhões de mulheres e 280 milhões de crianças em todo o mundo que sofriam de anemia.
O sexo masculino também pode ter deficiência de ferro. A principal causa da anemia nesse grupo é a perda de sangue no tubo digestivo, que precisa ser investigada. Outras causas são desabsorção intestinal ou doenças crônicas. No caso dos homens, no entanto, a anemia não é tão frequente, uma vez que não há perda mensal de ferro, como ocorre com as mulheres, devido à menstruação.
Atualmente, os níveis considerados saudáveis de ferro e ferritina no sangue em mulheres são acima de 50 mcg/dl e 15 mcg/l, respectivamente. Existe uma discussão em torno do aumento desses níveis para o sexo feminino, visando reduzir o risco de anemia e melhorar as funções dessas substâncias no organismo, mas ainda não há um consenso definitivo.
“É um tema absolutamente discutível, mas o ideal é manter pelo menos os níveis mínimos já determinados”, comentou o hematologista Nelson Hamerschlak, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Para que serve o ferro? O ferro é usado para fabricar hemoglobina, que é uma proteína dos glóbulos vermelhos que transporta oxigênio dos pulmões para o resto do corpo. Ele também é fundamental para outras funções, como a síntese de DNA e o metabolismo energético.
“O ferro ainda ajuda na cadeia respiratória das células nas chamadas mitocôndrias e na fixação do nitrogênio. Ele contribui diretamente na fabricação dos glóbulos vermelhos, da mioglobina dos músculos e de elementos do fígado”, explicou Hamerschlak.
Quando não usado para a produção de hemoglobina, o ferro é armazenado nos tecidos de forma geral, principalmente na medula óssea e no fígado, onde é ligado a uma proteína chamada ferritina (um indicador das reservas de ferro). Quando as reservas de ferro diminuem, o que está disponível é redirecionado para a manutenção dos glóbulos vermelhos, em detrimento de suas outras funções. Se o corpo esgota suas reservas, a deficiência de ferro leva a uma redução da hemoglobina e do número de glóbulos vermelhos saudáveis — e é aí que surge a anemia ferropriva, a principal causa de anemia no Brasil e no mundo.
“Existem outros tipos de anemia, entre elas a doença falciforme, a talassemia, deficiência de B12, ácido fólico, autoimune etc., mas a anemia por deficiência de ferro é de longe a mais comum”, ressaltou Hamerschlak.
Sintomas e tratamento da deficiência de ferro Os sintomas da deficiência de ferro costumam ser bem inespecíficos e incluem desde falta de ar, cansaço, confusão mental, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, tontura, aumento da sensibilidade ao frio até palpitações cardíacas. O principal problema é a anemia, que, se não for identificada e tratada, pode progredir para um quadro grave e levar à insuficiência cardíaca e alterações no metabolismo celular e na produção de energia.
Nas mulheres grávidas, a preocupação é ainda maior, devido ao aumento da necessidade de sangue circulando para o feto e a placenta. Uma deficiência de ferro na gestação pode causar anemia, baixo peso do bebê ao nascer e parto prematuro. Além disso, tem sido associada a problemas de desenvolvimento neurológico, com efeitos significativos no desenvolvimento cerebral, levando a atrasos no progresso neuropsicomotor e consequências negativas na aprendizagem e no desempenho escolar posteriormente.
A Figo (Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia) emitiu recentemente uma recomendação para que todas as pacientes tenham os níveis de ferro medidos regularmente, independentemente se estão ou não grávidas. Aqui no Brasil, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) publicou uma recomendação parecida no ano passado, em que orienta investigar e tratar com reposição de ferro todas as mulheres com sangramento uterino anormal.
Segundo a ginecologista do Einstein, ainda não existe nenhuma orientação ou diretriz no Brasil para o rastreio rotineiro de dosagem de ferro em todas as mulheres em idade reprodutiva, mas ela ressalta que existe um esforço principalmente no terceiro trimestre da gestação para que a mulher não vá para o parto com anemia nem deficiência de ferro.
“O mundo ideal seria avaliar a anemia e o ferro de todas as nossas pacientes, mas nem sempre conseguimos fazer isso de forma generalizada. Temos aumentado muito os pedidos de exame de ferro e a procura pela anemia ferropriva, que é, sem dúvida, a principal causa de anemia no Brasil”, disse Beck.
A anemia ferropriva é um problema de saúde pública mundial. A partir do momento em que ela foi diagnosticada e a causa foi identificada, o tratamento envolve a reposição de ferro com suplementação oral ou endovenosa, dependendo da gravidade do caso, além de uma dieta adequada principalmente baseada em carne, peixe e frango. Alguns vegetais também são ricos em ferro, mas, para melhor absorção pelo organismo, eles precisam de vitamina C. “O uso de panelas de ferro, por incrível que pareça, também pode ajudar”, completou Hamerschlak.