Acredite na ciência e nos especialistas: não há evidências consistentes de que o uso de suplementos melhore a memória ou a habilidade cognitiva na velhice. Um relatório do Global Council on Brain Health, uma entidade internacional que se dedica ao estudo do cérebro, reuniu avaliações de experts e divulgou os resultados no mês passado. “As pessoas estão desperdiçando seu dinheiro em produtos que equivalem a um placebo”, afirmou o médico Gary Small, diretor do centro de longevidade da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. “Suplementos também podem ter efeitos colaterais e interagir com outros medicamentos, interferindo na sua eficácia”, completou.
Em 2016, apenas em suplementos para o cérebro, foram gastos mundialmente 3 bilhões de dólares, o equivalente a 12 bilhões de reais. Se pensarmos no mercado total de suplementos, o montante foi de 121 bilhões de dólares (R$ 484 bi) em 2018. Nos EUA, eles não são controlados pelo FDA, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) norte-americana, já que seu objetivo não é prevenir ou curar doenças. Mesmo assim, no começo do ano, o órgão processou 17 empresas acusadas de vender produtos que prometiam a cura do Alzheimer. Entre adultos acima dos 50 anos, 81% acreditam que seu uso pode beneficiar o estado geral da saúde e 26% consomem algo com o propósito de estimular o cérebro.
Para o médico Jacob Hall, professor de neurologia na Universidade de Stanford, as conclusões do levantamento estão em linha com o que observa no dia a dia da clínica: “o comércio desses suplementos se aproveita do medo que as pessoas têm de perder a memória. A não ser em condições médicas bem específicas, como deficiências nutricionais e que devem ter a supervisão de um profissional, eles são um desperdício de dinheiro e potencialmente perigosos”, disse ao site Healthline.com.
Os médicos são unânimes em garantir que intervenções no estilo de vida, que englobem atividade física, alimentação saudável e sono de qualidade, são muito mais eficientes para retardar um eventual declínio mental. Além disso, advertem que suplementos representam um risco elevado antes de cirurgias ou para pacientes com câncer, porque podem interferir na ação da quimioterapia.
Adolescentes residentes no Brasil, de faixas mais pobres da população, estão mais obesos e ainda sofrem de desnutrição.
É o que mostra estudo feito por pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia (Cidacs/Fiocruz Bahia).
Esta é a primeira vez que uma investigação como essa é feita no Brasil, observando fatores socioeconômicos associados à desnutrição e à obesidade.
Para fazer o trabalho, os técnicos utilizaram dados das edições de 2009, a primeira, e da mais recente, de 2015, da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho investiga doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros.
O estudo comparou os índices nutricionais de alunos de 13 a 17 anos, separados entre os que apresentam somente sobrepeso ou baixa estatura e aqueles que apresentam as duas condições.
Sobrepeso
Na visão dos pesquisadores, houve aumento de sobrepeso entre os adolescentes de todos os níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a desnutrição, revelada pela baixa estatura.
Segundo o estudo, os adolescentes de escolas privadas têm maior chance de desenvolver excesso de peso em relação aos estudantes da escola pública, mas ao longo do tempo a diferença se reduziu. Entre 2009 e 2015, o índice de adolescentes com excesso de peso na rede privada, que era 28,7%, permaneceu inalterável, mas a taxa entre os da rede pública aumentou de 19% para 23,1%.
Dupla carga
No estudo, os pesquisadores identificaram que a dupla carga de má nutrição, uma característica de desnutrição e obesidade, simultâneas, atinge menos de 1% dos estudantes.
Apesar disso, nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas vem acompanhada de maior qualidade nutricional.
“O indivíduo que tem dupla carga é aquele adolescente que apresenta baixa estatura, um sinônimo de desnutrição crônica e excesso de peso. A dupla carga pode se manifestar de três formas. Tanto em nível individual, que é o caso do nosso estudo, sendo os dois desfechos no mesmo indivíduo. Pode ser também em nível familiar, por exemplo, uma mãe com excesso de peso e um filho com desnutrição, ou em nível comunitário, onde em um mesmo local temos taxas altas tanto de desnutrição quanto de obesidade. No nosso estudo foi bem específico, com adolescente de baixa estatura e excesso de peso”, disse a pesquisadora da UFBA, Júlia Uzêda, em entrevista à Agência Brasil.
Em 2009, na análise separada, o grupo que apresentou os dois desfechos de saúde, independentemente de sexo, e diferenciando entre estudantes de escola pública e privada, a simultaneidade aparece em 29 estudantes do ensino particular (0,2%) contra 185 do público (0,4%).
Isso significa que a dupla carga é maior entre estudantes da rede pública. Em 2015, a taxa de dupla carga entre os estudantes de escola privada atingiu 0,3% e nos da rede pública permaneceu em 0,4%. As meninas, com 0,4%, ainda são maioria, enquanto entre os meninos ficou em 0,3%.
Fatores
De acordo com o pesquisador do Cidacs Natanael Silva, embora o estudo não tenha se baseado em classes sociais, há variáveis analisadas que indicaram um crescimento de obesidade, atingindo cada vez mais a população menos favorecida socioeconomicamente.
Segundo ele, os alimentos processados podem ser um dos fatores da obesidade, por serem também de preços mais baixos.
“Os alimentos processados acabam sendo mais baratos do que qualquer alimento natural e por terem maior aporte calórico, muitas vezes serem vendidos em grandes quantidades, mais baratos e atrativos, chamam bastante a atenção do público mais vulnerável”, disse.
Além disso, foram selecionadas informações socioeconômicas de adolescentes, como escolaridade da mãe, raça, sexo e tipo de unidade escolar.
Os filhos de mulheres que completaram a educação primária revelaram melhores índices de nutrição, apresentando a metade da taxa de dupla carga do que os estudantes cujas mães não finalizaram essa etapa.
Júlia Uzêda informou que há estudos comprovando que a desnutrição em período intrauterino provoca mecanismos no corpo que aparecem futuramente na vida da criança, por causa de problemas na absorção de gordura, que resultam na obesidade.
“O adolescente é um público vulnerável por todas as mudanças físicas, então, quando o indivíduo tem dupla carga, ele passa a ter riscos tanto de desnutrição quanto de obesidade, por isso o nome de dupla carga”, observou.
Políticas Públicas
Os pesquisadores defenderam que o estudo serve para ajudar na elaboração de políticas públicas.
Para Júlia Uzêda, existem fatores que não foram analisados no estudo, como o consumo alimentar e, principalmente, a qualidade dos alimentos ingeridos, mas as informações encontradas já podem servir para a adoção de medidas com o foco na qualidade da nutrição.
“Muitas vezes as políticas públicas são destinadas isoladamente à obesidade ou à desnutrição e acabam tratando um e esquecendo outro. A transição nutricional tem o perfil que é a diminuição da desnutrição, mas não deixa de existir, enquanto a obesidade e o excesso de peso aumentam. Isso muda o foco das políticas públicas”, disse a pesquisadora.
Os surtos de doenças causadas por alimentos ou água contaminados têm como origem em 36,9% dos casos o ambiente doméstico, segundo dados do Ministério da Saúde.
Em seguida, aparecem os restaurantes ou lanchonetes (15,8%).
O Ministério da Saúde considera surto de DTA (doença transmitida por alimento) casos em que duas ou mais pessoas apresentam sintomas semelhantes após ingerirem alimentos e/ou água da mesma origem, normalmente em um mesmo local.
Em 2018, foram ao menos 597 surtos, número praticamente igual a 2017, sendo que 8.406 pessoas ficaram doentes, 916 foram hospitalizadas e nove morreram. Os dados do ano passado ainda são preliminares.
No entanto, o número de casos não reportados faz com que, segundo médicos, as infecções alimentares sejam mais comuns do que os números oficiais mostram.
A água contaminada é a principal causa (35,8%) dos surtos, seguida de alimentos mistos (16,7%), em que a composição possui mais de um grupo alimentar (por exemplo, uma maionese caseira), segundo o ministério.
Três famílias de bactérias respondem por boa parte dos casos de infecção alimentar: Escherichia coli, conhecida como E. coli (24%); Salmonella spp. (11,2%) e Staphylococcus aureus (9,5%).
A médica infectologista Raquel Muarrek Garcia, do hospital São Luiz Morumbi, em São Paulo, explica que essas doenças estão quase sempre ligadas à higiene pessoal (lavar as mãos), à qualidade dos alimentos, à manipulação inadequada de determinados alimentos e também à água contaminada.
"As bactérias são semelhantes porque provocam doenças diarreicas por ingestão de alimento ou água, inclusive água contaminada usada para lavar alimentos."
Os principais sintomas são: mal-estar, náusea, vômito, diarreia, febre e dores abdominais.
"O problema da diarreia é que você perde de 200 ml a 250 ml de água cada vez que vai ao banheiro. Então, sendo muitos esses episódios, você pode não conseguir ingerir essa água de volta e desidratar rapidamente. Há quadros de desidratação que são graves, com choque [convulsões] e queda da pressão arterial", acrescenta a infectologista.
E. coli As bactérias E. coli podem provocar sintomas que duram até duas semanas — como é o caso da cepa enteroinvasiva — e incluem disenteria e febre.
Já a E. coli entero-hemorrágica evolui de diarreia aquosa até com a presença de sangue. É raro que o paciente apresente febre, mas o vômito é comum.
A médica do hospital São Luiz recomenda procurar atendimento médico se a diarreia persistir por alguns dias.
"Normalmente, a E. coli faz uma alteração de permeabilidade intestinal e provoca diarreia mais prolongada." A salmonelose — doença causada pela Salmonella — tem como característica causar diarreia pastosa, aquosa, podendo ter sangue, além de febre e vômito.
Os sintomas duram de cinco a sete dias.
As infecções da pela Salmonella, normalmente, têm cura sem necessidade de intervenção médica. A recomendação é repouso, consumo de água e antitérmicos em caso de febre.
Como evitar As doenças alimentares são causadas principalmente pelo consumo de água contaminada por esgoto, alimentos que não foram lavados de maneira certa, carne não cozida acima de 70°C (por um período de pelo menos 10 minutos), laticínios não pasteurizados, entre outros.
Raquel cita alguns hábitos rotineiros que podem fazer com que alguém tenha uma infecção alimentar.
"É muito comum em casa as pessoas deixarem a comida fora da geladeira, não limparem a pia, não trocarem as buchas usadas para lavar a louça, usar a mesma tábua de frios para vários tipos de alimentos, não limpar a a geladeira periodicamente."
A Salmonella pode estar em alimentos contaminados com fezes de animais, como no caso das carnes e ovos que não foram cozidos por tempo suficiente. Não lavar as mãos antes de pegar na comida também aumenta o risco de contágio.
A pia da cozinha é um local propício para o que se conhece por contaminação cruzada.
Uma salada de folhas, por exemplo, se colocada sobre a mesma tábua onde se cortou frango cru, pode provocar infecção por Salmonella.
As condutas para evitar as doenças alimentares incluem:
• Utilizar apenas água filtrada, mineral ou fervida para consumo ou para cozinhar;
• Lavar frutas, verduras e legumes que forem consumidos in natura com água e água sanitária;
• Evitar carnes mal-passadas e ovos com gema mole;
• Lavar as mãos antes e durante a manipulação dos alimentos;
• Manter limpos geladeira, pia e utensílios usados para cozinhar.
Organizações, sociedades médicas e profissionais da medicina já estão acostumados com dados e estatísticas apresentadas constantemente em todo mundo no que se refere ao câncer de próstata. É ainda uma doença comum entre os homens, sendo o segundo tipo de câncer, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, mais prevalente no sexo masculino.
Apesar de ser considerado como uma “doença da terceira idade”, atualmente, o câncer de próstata acomete pacientes mais jovens, melhor dizendo, que ainda não entraram na chamada melhor idade. Quando relacionados a fatores genéticos, hereditários ou de etnia, a prevenção já começa muito cedo, aos 50 anos de idade, ou até mesmo antes. Ou seja, a idade passa a ser um fator relativo, e não uma característica absoluta.
A prevenção, que inclui um novo estilo de vida, hábitos saudáveis, como a prática regular de atividade física é essencial e recomendada em primeira e última instância. Aliada a isso, há na literatura médica farta documentação sobre a relação entre exames periódicos, diagnóstico precoce e maior tempo de vida após o câncer de próstata. Como se vê, o tempo vale ouro, antes, durante e depois.
Avanço da medicina À relatividade do tempo, outro ponto importante é a relatividade das palavras. A medicina não comporta muito bem termos como “nunca”, “sempre”, “todos” ou “único”. O benefício da dúvida (e a própria relatividade do tempo) deve se encaixar na fala do médico e na escuta do paciente. E vice-versa, uma vez que o diálogo entre um e outro faz parte do agir no século XXI. É claro que precisamos discutir diagnósticos, tratamentos e condutas já consolidadas, mas é imprescindível enxergar um pouco mais além, “fora do quadrado”: observar e estudar novas técnicas, medicamentos, procedimentos minimamente invasivos e outros promissores que estão por vir.
Veja também A medicina avança de forma rápida, exponencial e digital. Não perceber a evolução da medicina (e dos médicos) pode representar retrocessos, lentidão aritmética e processos analógicos, o que tem pouco a ver com os avanços tecnológicos e inovações que estão a nosso dispor nos dias de hoje.
Até bem pouco tempo, a urologia tinha por base fincar os pés em termos e procedimentos conhecidos, postos à mesa como verdades absolutas. Já não é mais assim. A biópsia é um caso clássico: hoje, menos frequente, a biópsia negativa não apresenta 100% de confiança no resultado. É pouco comum, mas pode existir falso negativo. Existem indícios de que a biópsia pode permitir a disseminação de células ou elementos celulares da próstata na corrente sanguínea.
Entretanto, ainda não há evidência científica de que isso tenha importância prática, clínica. Da mesma forma, nem todo exame de toque retal alterado ou PSA (Antígeno Prostático Específico) elevado significa presença de câncer. A conduta pode ser observadora, e o urologista pode optar por formas de tratamentos individualizados, dependendo de cada caso.
Vigilância ativa Recentemente, participei de um painel no congresso da Sociedade Americana de Urologia, realizado em Chicago, sobre vigilância ativa. A contrário do que pode pensar, a vigilância ativa não é tratamento, mas sim uma conduta observadora em face ao diagnóstico do câncer. Só o acompanhamento ativo do paciente pode ser uma opção válida em muitos casos, mas não pode ser regra porque, às vezes, estamos lidando com uma “bomba relógio”. Uma briga contra o relógio, sobretudo em casos de doenças mais agressivas.
Sem determinismos, mas observando a evolução da ciência para a medicina, o que está por vir é muito promissor no que se refere à relatividade do tempo. A começar pelas novas tecnologias, que poderão tanto diagnosticar com mais precisão quanto aumentar a cura e, tão importante quanto, reduzir os efeitos colaterais nos pacientes submetidos aos mais diversos tratamentos para o câncer de próstata.
As novas ferramentas para o combate ao câncer de próstata abrangem aspectos que já conhecemos hoje, como fatores de risco mais elevados em grupos específicos, por hereditariedade ou etnia. No primeiro caso, homens cujos pais, irmãos, primos e tios já tiveram câncer de próstata, os exames devem começar mais cedo, por volta dos 40 anos, e da mesma forma, no segundo grupo, para os afrodescendentes. Embora os motivos ainda não estejam cientificamente claros, o câncer de próstata é mais frequente em homens de ascendência africana do que em homens de outras raças.
Epigenética entra em campo Nesses novos tempos, entra em campo a epigenética, área da biologia que estuda mudanças no funcionamento de um gene que não são causadas por alterações na sequência de DNA e que se perpetuam nas divisões celulares. Este talvez seja um dos maiores trunfos da medicina nos próximos anos.
A epigenética pode ser a chave para a detecção precoce do câncer de próstata. Com ela, será possível avaliar a idade biológica do paciente, o que determinará a realização de exames específicos e determinar diagnósticos de forma bem mais precisa do que hoje, quando nossa atenção ainda é baseada estritamente na idade cronológica do indivíduo.
Numa época em que somos mais longevos, evitar os efeitos colaterais, físicos, mentais e psicológicos pode ter incomensuráveis ganhos em uma segunda etapa da vida, que poderá ser tão longa ou mais que a primeira. Por isso, cuidar do paciente como um todo é ainda uma parte que a medicina deve se debruçar com estudos, ampliar conhecimentos de biologia molecular, genéticos e epigenéticos. Porque o tempo poderá ser (ou não) o senhor da razão. Mas o propósito deve ser sempre o de perseguir a assertividade, como foco na essência da medicina, na prevenção, no tratamento, na cura e, principalmente, na qualidade de vida do paciente.