Desde o início da pandemia, especula-se por que os homens sofrem mais com a infecção pelo novo coronavírus. Entre os argumentos estão os de que eles supostamente prestam menos atenção à saúde, fumam mais, se alimentam pior. Especialmente a geração mais velha teria um estilo de vida pouco saudável. Além disso, alguns afirmam, os homens geralmente costumam demorar mais para procurar um médico.

Segundo a iniciativa de pesquisa Global Health 50/50, dados de mais de 20 países confirmam que as mulheres são infectadas pelo vírus com a mesma frequência que os homens. Mas é mais provável que os homens contraiam covid-19 e morram da doença. Nos países pesquisados, os homens representam cerca de dois terços das mortes.

Isso certamente também se deve à condições de saúde pré-existentes. Por exemplo, os homens sofrem com muito mais frequência de doenças cardiovasculares, das quais eles também morrem com maior incidência do que as mulheres.

Outro fator decisivo é a estrutura etária: de acordo com o Instituto Robert Koch (RKI), da Alemanha, pelo menos duas vezes mais homens do que mulheres morreram em todas as idades até a faixa etária de 70 a 79 anos. Somente então a proporção se estabiliza. Depois, ela se inverte novamente, a partir da faixa etária de 90 a 99 anos.

No entanto, é provável que isso se deva ao fato de que existem significativamente mais mulheres muito mais velhas do que homens. Mesmo o instituto alemão é incapaz de citar as razões para essa diferença entre os sexos.

Receptor mais presente nos homens

O receptor da enzima ECA2 pode desempenhar um papel importante, porque serve como uma espécie de porta de entrada para as doenças covid-19, sars e mers, causadas por coronavírus. Os homens também foram mais afetados pela mers, diz Bernhard Zwissler, Diretor do Departamento de Anestesiologia do Hospital da Universidade de Munique (LMU).

De acordo com um estudo do Centro Médico Universitário Groningen, na Holanda, o receptor da ECA2 é encontrado em concentrações mais elevadas nos homens. Os pesquisadores descobriram esta diferença entre os sexos enquanto investigavam uma possível correlação entre o receptor e a insuficiência cardíaca crônica.

De acordo com Zwissler, os pesquisadores estão atualmente investigando se a administração de inibidores da ECA, como drogas anti-hipertensivas, leva ao aumento da formação do receptor da ECA2 nas células, o que as tornaria mais suscetíveis à infecção. Segundo os pesquisadores, isso é certamente concebível, mas ainda nada foi provado.

ilustração mostra o coronavírus Sars-Cov-2

Coronavírus usam os receptores da enzima ECA2 como porta de entrada para células

Sistema de defesa das mulheres

Em comparação, o sistema imunológico feminino é mais resistente que o dos homens. O hormônio sexual feminino estrogênio é o principal responsável por isso. Ele estimula o sistema imunológico e age mais rapidamente e de forma mais agressiva contra patógenos. A testosterona masculina, por outro lado, inibe as próprias defesas do corpo.

Segundo virologistas, o fato de que o sistema imunológico das mulheres geralmente reage mais rapidamente e de forma mais intensa às infecções virais do que o dos homens também é evidente em outras doenças virais, como influenza ou simples resfriados.

Por outro lado, as mulheres sofrem mais frequentemente de doenças autoimunes, nas quais o sistema imunológico reage em excesso e ataca suas próprias células – uma possível complicação também com a covid-19.

De acordo com o virologista molecular Thomas Pietschmann, há também "razões genéticas" que favorecem as mulheres. Ele explica que alguns genes relevantes para a imunidade, como por exemplo, genes responsáveis pelo reconhecimento de patógenos, são codificados no cromossomo X. E como as mulheres têm dois cromossomos X, e os homens, apenas um, as mulheres têm vantagens.

Índia, um caso especial

Na Índia, a tendência é contrária. Pesquisas mostram que as mulheres no país asiático têm um risco maior de morrer de covid-19 do que os homens. A taxa de mortalidade para as mulheres infectadas é de 3,3% em geral, enquanto a taxa para os homens infectados é de 2,9%.

No grupo de 40 a 49 anos, 3,2% das mulheres infectadas morreram, em comparação com 2,1% dos homens. Na faixa etária dos 5 aos 19 anos de idade, somente mulheres morreram.

As razões para esse caso especial indiano estão sendo intensamente investigadas atualmente. Suspeita-se que as mulheres sejam mais afetadas, entre outras coisas, porque simplesmente há mais mulheres mais velhas do que homens na Índia.

Além disso, na Índia, é dada menos atenção à saúde da mulher. As indianas visitam o médico com menos frequência e muitas vezes tentam se automedicar primeiro. Somente relativamente tarde é que elas podem ser testadas para covid ou tratadas.

"Não está claro quanto é devido a fatores biológicos e quanto está relacionado a fatores sociais", disse, em entrevista à BBC, SV Subramanian, professor de Saúde Pública da Universidade de Harvard. "O sexo pode ser um fator crítico no ambiente indiano", comentou. 

A gripe espanhola de 1918 matou significativamente mais mulheres do que homens na Índia. As mulheres eram mais suscetíveis à infecção porque muitas delas eram desnutridas e porque frequentemente eram mantidas trancadas em casas pouco higiênicas e mal ventiladas. Além disso, elas se ocupavam mais do que os homens dos cuidados com os doentes.

Por que as crianças estão menos em risco?

Surpreendentemente, as crianças não estão entre os membros mais vulneráveis da sociedade quando se trata do novo coronavírus – na maioria das crianças a doença é comparativamente leve e muitas vezes até assintomática. Das 8.882 pessoas que morreram de covid-19 na Alemanha desde o início da pandemia, apenas três tinham menos de 18 anos de idade.

A razão para isso ainda não foi totalmente compreendida. Os médicos acreditam que o "sistema não específico" inato é eficaz em crianças pequenas. Como proteção contra os primeiros patógenos, a mãe dá sua própria proteção imunológica específica ao feto e mais tarde ao recém-nascido via leite materno.

Essa defesa imunológica inata inclui, por exemplo, as "células assassinas" – glóbulos brancos que atacam todos os patógenos que entram no corpo através das membranas mucosas ou da pele.

Esta "imunização passiva" geralmente dura até que as crianças tenham construído seu próprio sistema de defesa. Até cerca de dez anos de idade, as crianças desenvolvem sua defesa imunológica específica. E mesmo depois disso, seu sistema de defesa permanece capaz de aprender ao longo de suas vidas quando surgem novos patógenos.

Crianças com proteção facial em escola em Angers, no oeste da França

Crianças com proteção facial em escola em Angers, no oeste da França

Mito das crianças como propagadoras

Em todo caso, a distribuição etária da covid-19 difere significativamente de outras doenças infecciosas, onde as crianças são muitas vezes consideradas "propulsoras de infecções", ao disseminarem um vírus rapidamente por toda a população.

Este não é o caso do novo coronavírus, de acordo com um estudo encomendado pelo governo do estado alemão de Baden-Württemberg. O estudo serve agora como base para um retorno rápido e abrangente ao funcionamento normal em creches e escolas, desde que os padrões de higiene e as regras de distanciamento sejam observados.

Entretanto, ainda não está claro se as crianças infectadas têm tantas chances de infectar alguém quanto os adultos infectados. Em um estudo que também tem sido muito discutido, o virologista Christian Drosten, do Hospital Charité, em Berlim, mostrou que as crianças carregam tanto vírus na garganta quanto os adultos. Outros estudos em outros países também chegaram a esta conclusão.

Porém, a mera presença de vírus no trato respiratório não prova que ele será transmitido na mesma extensão. Como as crianças têm menos sintomas, por exemplo, menos tosse, pode ser que estejam infectadas, mas que infectem menos pessoas, segundo afirmaram pediatras e especialistas em higiene em uma declaração conjunta de quatro sociedades médicas na Alemanha.

 

Fonte:dw.com.br

Algumas vacinas nasais contra a covid-19 estão sendo desenvolvidas, porém ainda em fases pré-clínicas, que são testes laboratoriais em animais. Segundo o pediatra infectologista Marco Sáfadi, membro da Comissão Técnica para Revisão dos Calendários Vacinais da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), a grande vantagem desse tipo de vacina é que ela pode gerar uma resposta imunológica nas mucosas, que protege não só da doença, mas também da infecção.

“As vacinas que estão em estágio mais avançados têm a proposta de proteger da doença, ou seja, evitar que a pessoa fique com sintomas, se hospitalize e possa até falecer. Existe a hipótese de que a vacina nasal gere uma resposta imunológica na mucosa, que impeça que a pessoa seja infectada pelo vírus, que ela carregue o vírus e transmita”, afirma.

 

Ele explica que, com uma vacina que promova esse tipo de resposta, a imunidade coletiva pode ser atingida mais rápido, já que haverá menos circulação do vírus. Sáfadi ressalta que existe apenas uma vacina atualmente que utiliza essa plataforma, que é um imunizante contra a gripe.

“Essa vacina tenta simular o processo natural de infecção. Se a pessoa fosse contaminada naturalmente seria pelo trato respiratório.”

A vacina nasal de gripe utiliza a tecnologia de vírus atenuado e, por esse motivo, não pode ser utilizada em determinados grupos como imunodeprimidos, pessoas em tratamento de câncer e gestantes.

As vacinas nasais para covid-19 utilizam a tecnologia de vetor de adenovírus não replicante. Um vírus que é modificado para carregar a informação para a produção de uma proteína do Sars-Cov-2.

“Esse vírus entra em contato com a nossa célula, ele tem a informação para a produção dessa proteína. Nossa célula produz essa proteína e aí geramos uma resposta contra ela.”

Esse tipo de tecnologia não tem a expectativa de ser contraindicada para imunodeprimidos, mas é necessário realizar testes. “Não é como uma vacina de vírus atenuado, que tem uma grande chance de não poder ser utilizada nesse grupo, mas ainda não podemos afirmar.”

Outra vantagem desse tipo de vacina é a facilidade de aplicação. “Para aplicar em crianças principalmente. É uma perspectiva muito mais amigável e rápida.”

O médico explica que, mesmo com outras vacinas aprovadas e em circulação, é interessante que as pesquisas de outras plataformas continuem. “Quanto mais vacinas tivermos melhor. Pode ser que sirva para um grupo que não poderia tomar outra, ou que tenha uma proposta diferente, como essa.”

Segundo Sáfadi, ainda é cedo para apontar desvantagens. “Vão aparecer com os testes. Por enquanto, a desvantagem é que vai demorar bastante para estar disponível, pois ainda nem começaram os testes clínicos.”

Uma vacina por spray nasal contra a covid-19 está sendo desenvolvida pela USP (Universidade de São Paulo). Essa plataforma de imunização já foi testada em camundongos contra a hepatite B com resultados positivos.

A Universidade de Oxford e o Imperial College, no Reino Unidos, também desenvolvem vacinas nasais.

 

R7

 

 

Um estudo que está sendo realizado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, busca identificar como a falta de vitamina D pode prolongar o tempo de internação, apresentar complicações e aumentar taxas de mortalidade entre idosos com o vírus da Covid-19.

O experimento está em andamento com cerca de 140 pacientes acima de 60 anos que têm analisado seus níveis da vitamina.
egundo o geriatra Alberto Frisoli, líder da pesquisa e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é comum que pacientes com mais de 60 anos apresentem deficiência de D e síndrome de fragilidade - caracterizada por sinais como fadiga, perda de peso e fraqueza.

No entanto, não se sabe ainda como isso pode contribuir para complicações em infectados com o vírus Sars-Cov-2.

Frisoli explica que o estudo está na fase de coleta de dados. "Basicamente, até o momento, estamos identificando que, entre pacientes graves, o índice de deficiência de vitamina D é muito alto".

A vitamina D é importante para metabolizar o cálcio e o fósforo no nosso organismo, sendo importante para a saúde dos ossos. Cerca de 80% da necessidade diária pode ser adquirida pela exposição diária ao sol e 20% pela ingestão alimentar.

A falta dessa vitamina pode causar problemas musculoesqueléticos, como raquitismo, osteoporose, e um maior risco em contrair infecções.

Até novembro deste ano os pesquisadores pretendem analisar dados de 200 pacientes e observar se sua ausência piora o quadro clínico.

Pesquisa nos EUA
No início de setembro, pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, publicaram um estudo que conseguiu avaliar a relação entre níveis de vitamina D e infecção por Covid-19.

E o resultado — que deve ser tomados com cautela, segundo os próprios autores — indicou que, entre pessoas com deficiência de vitamina D, o percentual de infectados foi maior do que na comparação com aqueles sem essa condição.


A pesquisa realizou testes moleculares (PCR) para Covid-19 em 489 pacientes e analisaram também os níveis de vitamina D de cada participante, que já constavam em um sistema da faculdade de medicina com dados de saúde. Por isso, o estudo é considerado do tipo retrospectivo e observacional — os autores se valeram de dados já registrados, buscando uma conexão entre eles.

Do total de pacientes incluídos no estudo, 71 (15%) testaram positivo para Covid-19. Entre os participantes considerados deficientes para vitamina D, 19% (32 participantes) testaram positivo, enquanto no grupo sem deficiência, o percentual foi de 12% (39).

 

G1

vacinacriançaBebês e crianças menores de 3 anos terão de aguardar mais tempo do que outros grupos para ter uma vacina contra a covid-19. O infectologista Marcelo Otsuka, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que essa faixa etária normalmente fica por último em testes de vacinas e medicamentos.

“Essa faixa etária normalmente sofre na questão de medicamentos, pois é muito mais difícil de analisar. Um dos fatores é que o paciente não expressa possíveis sintomas e sensações. Além disso, você precisa de um adulto responsável que concorde com o teste e leve a criança até o local da testagem.”


A empresa chinesa Sinovac, que desenvolve a vacina CoronaVac, que realiza testes no Brasil, anunciou na quinta-feira (17) que vai testar sua vacina em crianças de 3 a 17 anos. Segundo a empresa, a aplicação nessa faixa etária pode evitar surtos da doenças em escolas e creches. Os testes serão realizados a partir do dia 28 na China.


“Quanto mais grupos as vacinas puderem atingir, melhor. Mesmo que a covid-19 não seja tão frequente em crianças, elas também podem ficar hospitalizadas e ter quadros graves, além disso, podem contaminar pessoas do grupo de risco. Se estiverem vacinadas, isso contribui para diminuir a transmissão.”

O médico explica que os testes devem continuar e que, com o tempo, os menores de 3 anos também vão ser testados.

Otsuka lembra que não é recomendado que crianças menores de 2 anos usem máscaras por conta do risco de asfixia. Ele recomenda que essa faixa etária só saia de casa em caso de extrema necessidade e que todas as outras medidas de prevenção sejam mantidas, como distanciamento social e higiene das mãos.

 

R7

Roman Pilipey/EFE/EPA