vacinasA corrida das vacinas não é uma disputa entre laboratórios, mas contra o tempo. As novas ondas de covid-19 e as variantes emergentes do SARS-CoV-2 são alguns dos obstáculos que só serão superados com o maior número possível de vacinas no mercado. Essa foi uma das conclusões de um debate virtual realizado no dia 1º de março com cientistas envolvidos em estudos clínicos de quatro imunizantes, dois deles já disponíveis no Brasil.

O evento integra o Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, organizado por meio de parceria entre a Fundação e o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A íntegra do evento está disponível no YouTube.

“É uma corrida contra o tempo, não de uma vacina contra outra. Vamos precisar de vários imunizantes para conseguir a cobertura necessária para enfrentar o que vem pela frente, como novas ondas e variantes”, disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, mediador do encontro.

Os palestrantes participaram dos estudos clínicos de quatro vacinas contra a covid-19: CoronaVac (Sinovac Biotech com Instituto Butantan), Covidshield (AstraZeneca e Universidade de Oxford com Fundação Oswaldo Cruz), Ad26.CoV2 (Janssen/Johnson & Johnson) e Comirnaty (Pfizer/BioNTech).

“O estudo clínico [da vacina do Butantan] foi realizado com apoio da FAPESP em 16 centros espalhados pelo Brasil. Mais de 13 mil voluntários foram incluídos e, de todos os estudos realizados até então, certamente foi o mais complexo, o mais desafiador, porque escolheu como população-alvo exatamente os profissionais de saúde que estavam na linha de frente. E os critérios clínicos de inclusão e definição de covid-19 foram os mais amplos de todos. Isso caracterizou o que eu chamo de o maior estresse que uma vacina poderia ter sofrido nesse momento de pandemia. E os resultados são extremamente animadores”, disse Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.

Enquanto as outras três vacinas precisam de duas doses para ter a eficácia garantida, o imunizante da Janssen requer apenas uma aplicação. No estudo clínico de fase 3, preveniu novos casos sintomáticos em 85% dos voluntários de forma global, incluindo as variantes D614G e P.2. Os testes foram realizados no Brasil, África do Sul e Estados Unidos, onde a vacina foi aprovada para uso emergencial (em 27/02) pela Food and Drug Administration (FDA, agência de vigilância sanitária norte-americana).

“O estudo de fase 3 incluiu pouco mais de 44 mil participantes [no Brasil, África do Sul e Estados Unidos] e foi realizado no auge da pandemia. Essa vacina, no esquema de uma dose, oferece proteção substancial, especialmente contra a covid-19 grave, independentemente da variante viral. Foi bem tolerada, segura e tem esquema de armazenamento e transporte compatível com os canais de distribuição existentes”, explicou Beatriz Grinsztejn, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, no Rio de Janeiro, que coordena o estudo no Brasil.

 

Agência Fapesp

Foto: CHRISTOPHE PETIT TESSON/EFE/EPA

Um estudo realizado em Buenos Aires, cidade mais populosa da Argentina, revelou uma elevada resposta imunológica à primeira dose da vacina russa Sputnik V em pessoas anteriormente infectadas com a covid-19, que podem não precisar de uma segunda dose.

O estudo, liderado por pesquisadores do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) da Argentina e realizado sob a coordenação da Secretaria da Saúde da província de Buenos Aires, teve como voluntários profissionais da saúde da região.
O esquema de vacinação aprovado com a Sputnik V na Argentina - país que já recebeu 1.660.540 doses da vacina russa - consiste em um regime de dois componentes diferentes aplicados com intervalo mínimo de 21 dias.

De acordo com a pasta da Saúde, a investigação determinou que 100% das pessoas que participaram do estudo desenvolveram anticorpos específicos contra o novo coronavírus SARS-CoV-2 após receberem as duas doses da Sputnik V.
Mas também revelou que a quantidade de anticorpos em pessoas que já foram infectadas e receberam uma única dose da vacina era oito vezes maior do que aquelas sem infecção anterior que receberam as duas doses.

"Os resultados do estudo mostram que pessoas previamente expostas ao vírus, que mostraram ter anticorpos antes do início da vacinação, geram uma resposta imune humoral rápida ao receber uma dose da vacina Sputnik", disse a pesquisadora Andrea Gamarnik, membro da equipe que conduziu o estudo.

Gamarnik, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da Fundação Instituto Leloir (FIL), destacou que as pessoas anteriormente infectadas e depois vacinadas com uma única dose geram "níveis de anticorpos semelhantes e até superiores aos produzidos por pessoas não infectadas que receberam duas doses da vacina".

Para o pesquisador Jorge Geffner, do Instituto de Pesquisas Biomédicas em Retrovírus e Aids (INBIRS), "esses resultados sugerem que a infecção anterior gera memória imunológica que é evidenciada com a primeira dose da Sputnik V produzindo níveis aumentados de anticorpos em comparação com as pessoas não infectadas anteriormente".

 

Na primeira etapa do estudo, foi analisada a resposta imunológica de 142 profissionais da saúde com idades entre 18 e 59 anos, dos quais 22 já haviam sido infectados pelo novo coronavírus.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Buenos Aires, o resultado do estudo "apoiaria uma revisão do esquema de vacinação para aqueles com história confirmada de infecção" pela Covid-19, "o que permitiria otimizar recursos sem comprometer a eficácia da imunização".

"Os resultados preliminares deste estudo são muito empolgantes, são muito valiosos para a tomada de decisão em relação à campanha de vacinação e a doação de plasma como tratamento para Covid-19", disse a assessora de biotecnologia do Gabinete Consultivo da Secretaria da Saúde de Buenos Aires, Marina Pifano.

 

EFE

A Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, pediu à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) uma reunião no dia 16 de março no qual vai pedir autorização para uso emergencial da sua vacina, informou o diretor-presidente do órgão regulador brasileiro, Antonio Barra Torres.

A informação foi prestada por Torres próximo ao encerramento, na noite de quinta-feira (04), de audiência pública no Senado para discutir ações para o enfrentamento da pandemia de coronavírus, entre elas a vacinação no país.

"Dia 16 de março, para a submissão de autorização de uso emergencial", disse Torres. "Temos aí uma boa notícia referente a mais uma vacina para ser concretizada", reforçou.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), comemorou a notícia e chegou a sugerir se seria possível antecipar a reunião para uma data mais breve.
Na quarta-feira (03), o Ministério da Saúde oficializou a intenção de comprar 38 milhões de doses da vacina da Janssen no país. Essa discussão foi fruto de uma reunião do ministro da pasta, Eduardo Pazuello, com representantes do laboratório.

 

Nesta quinta, durante audiência do Senado, o secretário-executivo do ministério, Élcio Franco, apresentou aos senadores uma tabela com a previsão de que a pasta espera receber 16,9 milhões de doses da vacina da Janssen até o final de setembro e outros 21,1 milhões de doses até dezembro.

Até o momento, a Anvisa autorizou o uso emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZeneca-Oxford, que já têm sido usadas para imunizar grupos prioritários no país.

A agência também já deu o registro definitivo de uso da vacina da Pfizer, o que permite uma vacinação em massa da população. Entretanto, o ministério ainda não comprou doses desse imunizante - também na véspera foi formalizada a intenção de comprar 100 milhões de doses dele.

 

Reuters

atletaUm novo estudo divulgado na quinta-feira (04) pela revista "JAMA Cardiology" nos Estados Unidos mostra que os problemas cardíacos podem ser raros em atletas profissionais após terem tido casos leves de infecção pelo coronavírus e a maioria volta a competir normalmente.

O estudo foi conduzido pelas principais ligas esportivas profissionais dos EUA, e os resultados não são definitivos, segundo os especialistas. Eles ressaltaram que serão necessárias mais pesquisas independentes.


Mas o estudo é o maior desse tipo realizado até agora e tem como objetivo examinar problemas cardíacos em potencial. O vírus SARS-CoV-2 pode causar inflamação em muitos órgãos vitais, incluindo o coração.

A pesquisa envolveu atletas profissionais de futebol, hóquei, beisebol e basquetebol masculino e feminino. Todos deram positivo para o coronavírus antes de outubro e foram submetidos a testes cardíacos recomendados por uma diretriz, num total de quase 800 desportistas.


Nenhum deles teve infecção grave e 40% tinham poucos ou nenhum sintoma, o que poderia ser esperado de um grupo de atletas saudáveis de elite com uma idade média de 25 anos de idade.

 

Quase 4% tiveram resultados anormais no teste cardíaco após a recuperação, mas as ressonâncias magnéticas subsequentes encontraram inflamação cardíaca em menos de 1%. Não se sabe se seus problemas cardíacos foram causados pelo vírus, embora os pesquisadores acreditem que seja provável.

Após cerca de três meses de baixa, todos eles puderam voltar à competição sem qualquer impedimento. Estudos anteriores em atletas universitários afetados pela doença haviam sugerido que a inflamação do coração pode ser mais comum por causa do SARS-CoV-2.

Conhecer os efeitos da covid-19 sobre os atletas, que colocam stress adicional sobre os seus corações durante as competições, é muito importante, já que a inflamação cardíaca não detectada está ligada à morte súbita.

 

Médicos e estudiosos dizem que é vital ter certeza se os possíveis danos cardíacos da Covid-19 são temporários ou duradouros, enquanto acreditam que o estudo da "JAMA Cardiology" tem vários pontos fracos, incluindo a falta de especialistas objetivos que possam interpretar os resultados.

Além disso, muitos dos desportistas não tinham testes de imagem anteriores para comparar os resultados, portanto não há como saber ao certo se as anormalidades encontradas durante o estudo estavam relacionadas com o vírus.

 

EFE

Foto: REPRODUÇÃO/FREEPIK