A entrevista foi cedida ao Ivan Nunes, do Piauí Notícias, nessa sexta-feira. O médico Justino Moreira, diretor técnico do Hospital Tibério Nunes, em Florianio-PI, é um dos profissionais do Hospital que, desde o início da pandemia, tem procurado combater o novo coronavirus.
A Pfizer planeja pedir aos órgãos que regulamentam medicamentos dos EUA e da Europa que autorizem uma dose de reforço de sua vacina contra a covid-19, com base em evidências de maior risco de infecção 6 meses após a inoculação, diante da propagação da variante Delta, altamente contagiosa.
O FDA (Food and Drug Administration) e o CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças) afirmaram, no entanto, em uma declaração conjunta, que os norte-americanos que foram completamente imunizados não precisam de uma dose de reforço neste momento. A EMA (Agência Europeia de Medicamentos) não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto, até o momento. Alguns cientistas questionam a necessidade da dose de reforço.
O diretor científico da Pfizer, Mikael Dolsten, afirmou que a queda na eficácia da vacina, recentemente relatada em Israel, se deu principalmente em pessoas que foram vacinadas em janeiro ou fevereiro.
O Ministério da Saúde do país disse que a eficácia da vacina na prevenção de infecções e doenças sintomáticas caiu para 64% em junho. "A vacina da Pfizer é altamente ativa contra a variante Delta", afirmou Dolsten em uma entrevista. Mas depois de seis meses, acrescentou, "é provável que haja o risco de reinfecção, pois os anticorpos, conforme previsto, diminuem". Os dados serão enviados ao FDA no próximo, segundo ele.
A Pfizer não divulgou os dados completos sobre o estudo israelense na quinta-feira (8), mas apontou que será publicado em breve.
"É um pequeno conjunto de dados, mas acho que a tendência é precisa: devido à variante Delta ser mais contagiosa, há risco de infecções leves 6 meses depois da imunização completa, afirma disse Dolsten.
O FDA e o CDC, em declaração conjunta, disseram: "Estamos preparados para doses de reforço se e quando a ciência demonstrar que elas são necessárias."
A bula da vacina contra a covid-19 produzida pela Pfizer indica que o intervalo entre a primeira e a segunda doses seja feito em 21 dias. Mas, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) adotou a estratégia de 12 semanas entre as aplicações, a mesma utilizada no Reino Unido, Canadá, França e Alemanha. Já Estados Unidos, Israel, Chile e Uruguai seguem a orientação da bula.
A diferença entre as recomendações gera dúvidas, entre os brasileiros, sobre as razões que levaram a essa escolha e se isso alteraria a eficácia do imunizante, considerada 95% contra a doença, segundo o fabricante. A diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) Flavia Bravo explica que o contexto em que as vacinas começaram a ser aplicadas no Brasil levou à essa determinação do Ministério da Saúde. "A decisão não é tomada por uma pessoa, há um comitê técnico formado por especialistas que discutem até chegar a uma conclusão. Diante da escassez de vacinas que estávamos associada à situação epidemiológica brasileira e à resposta de primeira dose vigorosa das vacinas de RNA, a decisão de aumentar o intervalo foi uma escolha de saúde pública louvável porque conseguimos vacinar mais gente", explica a médica.
"Aliado à experiência de sucesso na Inglaterra e no Canadá, foi decidido adotar o mesmo esquema deles. Os dois países vacinaram rapidamente e conseguiram resultado rapidamente", acrescenta. A Pfizer/BioNTech explica que e "a segurança e a eficácia da vacina não foram avaliadas em esquemas de dosagem diferentes". Mas, segundo o Ministério da Saúde, recomendações recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde) confirmaram a eficácia da estratégia adotada pelo Brasil, já no início da campanha de vacinação. "Dados de estudos conduzidos nos Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, identificaram um maior pico de produção de anticorpos no esquema com intervalo de 12 semanas em relação ao esquema padrão de 21 dias", informou.
Eficácia é mantida? A especialista tranquiliza sobre a eficácia do imunizante e explica que a grande preocupação é respeitar o tempo mínimo de doses recomendado.
"Em vacinologia, sabemos que não respeitar intervalo mínimo prejudica a resposta imunológica. Já intervalo máximo não existe. Exatamente por isso nunca recomeçamos esquemas de transmissão. A máxima da vacinologia é 'dose dada é dose contada'. Pela experiência com outras vacinas, sabemos que o sistema imunológico desenvolve memória imunológica, de modo que, ao estimular novamente o sistema imune, as células de memória desencadeiam uma reação em um intervalo muito menor em relação à primeira dose", explica Flavia.
Como as vacinas contra a covid são recentes, ainda não houve tempo suficiente para fazer estudos diversos de fase 3, ressalta a infectologista. Mas, o conhecimento obtido com o uso de imunizantes para outras doenças ajuda na decisão de aumentar o intervalo entre as doses.
"Não tem plausibilidade biológica para acreditar que as vacinas anticovid não funcionarão do mesmo modo, porque o nosso sistema imune responde com as mesmas células de memória das outras vacinas", diz a médica.
Flávia Bravo ressalta, ainda, que colocar as vacinas para serem usadas rapidamente fez com que as farmacêuticas não escolhessem intervalos mais longo nos testes de terceira fase.
"A Pfizer foi estudada em curto período de fase 3 e não há como estudar esquemas diferentes para termos a resposta correta da imunidade. Então, ela optou por testar o intervalo de 21 dias foi comprovada a eficácia e a farmacêutica conseguiu a autorização assim", argumenta a médica.
A especialista completa: "Não podemos implantar uma estratégia sem ter certeza da segurança, que aquilo não vai fazer mal e vai fazer bem. Foi uma decisão de saúde pública pautada em experiência e resultados. Além do que considerou a escassez de doses e a situação epidemiológica", finaliza ela.
Variante Delta leva à antecipação da 2ª dose Diante do avanço da variante Delta do coronavírus, identificada originalmente na Índia, alguns locais no Reino Unido decidiram recentemente reduzir de 12 para 8 semanas — ou até menos — o intervalo entre as doses dos imunizantes contra covid-19 da AstraZeneca e da Pfizer/BioNTech.
Ao menos cinco Estados no Brasil decidiram antecipar o intervalo a aplicação da segunda dose das vacinas Pfizer e AstraZeneca, que também é administrada 3 meses após a primeira dose: Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Santa Catarina. O principal motivo é obter uma grande parcela da população imunizada o mais breve possível.
Em Santa Catarina, o intervalo entre as doses de AstraZeneca foi encurtado para dez semanas; no Mato Grosso do Sul, o prazo entre a 1ª e a 2ª dose foi encurtado para oito semanas (56 dias). A medida se aplica às vacinas de AstraZeneca e Pfizer.
Goiás informou que está antecipando a segunda dose "em alguns dias". O Maranhão autorizou aplicar a segunda dose da AstraZeneca oito semanas após a primeira, mas a medida só é valida para cidades que receberam lotes com a validade curta.
O Espírito Santo recomenda que os profissionais de saúde anotem na carteirinha de vacinação da população o prazo de 12 semanas (84 dias), mas permite que a segunda dose seja antecipada e aplicada dez semanas após a primeira (70 dias). Em Pernambuco, o estado autorizou que os municípios apliquem a 2ª dose da vacina entre 60 e 90 dias após a primeira.
Em São Paulo, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou, durante entrevista coletiva à imprensa, na quarta-feira (7), a possibilidade de antecipação está sendo estudada.
Saber qual a duração dos anticorpos após a infecção por covid-19 sempre foi alvo de pesquisas. Agora um novo estudo concluiu que essa proteção pode durar até 12 meses em mais de 70% dos pacientes que superaram a doença. O estudo foi realizado por uma subsidiária da farmacêutica estatal Sinopharm, que produz duas das vacinas aprovadas pelo governo chinês, e pelo Centro Nacional de Pesquisa para Medicina Translacional da Universidade Jiaotong, em Xangai, na China.
Para a pesquisa, os cientistas analisaram cerca de 1.800 amostras de plasma coletadas de 869 pessoas que tiveram a covid-19 em Wuhan, a cidade chinesa onde o primeiro surto global de covid-19 foi registado, em dezembro de 2019.
Os pesquisadores verificaram a presença e a quantidade nessas amostras de um tipo de anticorpo que indica a força da imunidade contra o vírus.
De acordo com os resultados, em nove meses os níveis de anticorpos caíram para 64,3%, em relação ao nível atingido após os pacientes contraírem o vírus e, a partir desse período, estabilizaram até o décimo segundo mês.
Um ponto interessante que os pesquisadores observaram foi que a resposta imunológica foi mais forte nos homens do que nas mulheres durante os estágios iniciais da infeção. Essa diferença, no entanto, diminuiu com o tempo, tornando-se praticamente igual após 12 meses.