Quando a pandemia se instalou e deixou o mundo em alerta de emergência, muito se falou sobre a possibilidade de uma imunidade de rebanho contra o Sars-CoV-2, isto é, uma defesa natural conquistada por meio da exposição em massa da população ao vírus.

Naquela época, quando ainda não se sabia da possibilidade de reinfecção pelo coronavírus, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já se posicionava como forte opositora a essa ideia que passou a ser debatida em diversos países, inclusive no Brasil.

No ano passado, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou a conduta do governo federal no combate à pandemia ouviu médicos, em grande parte contrários ao isolamento social, que defenderam a imunidade de rebanho. Entre eles estavam alguns dos profissionais apontados como integrantes de um “gabinete paralelo” de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

A certa altura, também foi discutida a hipótese de que uma imunidade coletiva seria alcançada quando, no mínimo, 70% da população estivesse vacinada contra a Covid-19. Atualmente, a vacinação no Brasil já ultrapassou esse percentual e avança com a aplicação da dose de reforço, mas, apesar da queda considerável do número de óbitos e internações, a imunidade de rebanho não foi alcançada, segundo especialistas ouvidas pelo R7.

O consenso é que a rapidez com que o Sars-CoV-2 sofre mutações impede até mesmo uma perspectiva em que a imunidade coletiva seja possível. Desse modo, a discussão muda de foco: de quando ela ocorrerá para se essa possibilidade pode ser aplicada ao cenário.

Mônica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que, na prática, uma imunidade coletiva ocorre quando o vírus para de infectar pessoas e, consequentemente, de circular pela comunidade.

“Essa imunidade nós já vimos acontecer com o sarampo, vírus que já teve ausência de circulação no Brasil, e com a rubéola. É possível interromper essa circulação por meio da vacinação em larga escala, mas o que acontece de diferente com a Covid, que nos deixa com uma grande dificuldade de previsão, é a ocorrência de novas variantes e a possibilidade de transmissão do vírus por vacinados”, destaca Mônica.

Vale dizer que, apesar de eficazes para prevenir internações e mortes pela doença, as vacinas em aplicação contra a Covid-19 não são esterilizantes, o que significa que não impedem que vacinados transmitam o vírus.

“Embora [os imunizantes] diminuam a carga viral de uma pessoa que se infecta, reduzindo a possibilidade de transmissão, ela ainda pode transmitir. Por isso não podemos abrir mão das medidas não farmacológicas [como uso de máscara e distanciamento social]”, alerta a especialista.

Ainda nesse sentido, a infectologista Lina Paola, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, destaca que as variantes do coronavírus, que surgem cada vez mais transmissíveis, a exemplo da Ômicron, têm dificultado a vacinação de bloqueio, que serviria para frear a circulação do vírus entre as pessoas.

“A vacinação diminuiu a mortalidade, o número de internações, [fez com que] as ondas fossem mais curtas, mas o coronavírus têm uma rapidez de mutação que não tínhamos visto em outros vírus. Então não sabemos quando vamos ter uma imunidade de rebanho completa, porque a imunidade [não tem] contemplado a velocidade de mutação”, explica.

Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou que pretende rebaixar a Covid-19 ao status de endemia, o que significaria, em tese, que a doença está controlada no Brasil e que a população pode conviver com surtos pontuais e previsíveis. No entanto, a proposta vai na contramão da análise feita por especialistas, que consideraram a decisão precoce e “equivocada”.

Ainda assim, se a doença for reclassificada no país, a infectologista Lina Paola ressalta que um cenário em que a Covid-19 é considerada endêmica não tem relação com uma imunidade coletiva alcançada.

“O que significaria é que o número de novos casos não geraria colapso do sistema de saúde. O fato de ser endêmica não quer dizer que podemos baixar a guarda, muito pelo contrário, teremos que estipular uma vacinação com uma periodicidade que nos permita ter a melhor imunidade para quando aparecer um surto ou uma onda”, afirma.

Em uma endemia, também não seria mais necessária a adoção de medidas não farmacológicas de proteção. A Prefeitura do Rio de Janeiro já decretou o fim da exigência de máscara em ambientes fechados e abertos, e alguns estados têm ido pelo mesmo caminho. Para Mônica Levi, ainda é cedo para considerar que a pandemia acabou.

“Nós estamos diante de uma doença que ninguém conhecia, porque não existia a Covid. Quando achamos que está controlada, diminuindo, fica todo mundo feliz e vem uma nova onda, algo que já vimos acontecer. O que podemos dizer agora é que certamente não basta ter 70% da população vacinada para controlar essa doença, ainda não podemos permitir aglomerações e eliminar o uso de máscara”, afirma.

A diretora da SBIm também destaca a importância do avanço da vacinação para crianças de 5 a 11 anos e da aplicação da dose de reforço contra a Covid-19, que permite um fortalecimento da imunidade conferida pelas vacinas.

R7

A Covid-19 pode fazer o cérebro encolher, reduzir a massa cinzenta nas regiões que controlam a emoção e a memória e danificar áreas que comandam o olfato, segundo estudo da Universidade de Oxford.

cerebro

Os cientistas disseram que os efeitos se verificaram até em pessoas que não foram hospitalizadas com Covid, e é preciso mais investigação para descobrir se o impacto pode ser parcialmente revertido ou se persistiria a longo prazo.

"Há fortes evidências de anormalidades relacionadas ao cérebro na Covid-19", afirmaram os pesquisadores em seu estudo, divulgado na última segunda-feira (7).

Mesmo em casos leves, os participantes da pesquisa mostraram "uma piora da função executiva" responsável pelo foco e organização e, em média, o tamanho do cérebro encolheu entre 0,2% e 2%.

O estudo revisado por pares, publicado na revista Nature, investigou alterações cerebrais em 785 participantes com idade entre 51 e 81 anos cujo cérebro foi examinado duas vezes, incluindo 401 pessoas que pegaram Covid entre os dois exames. O segundo exame foi feito, em média, 141 dias após o primeiro. A pesquisa foi realizada quando a variante Alpha era dominante no Reino Unido, e é improvável que inclua pessoas infectadas com a variante Delta.

O estudo mostrou que algumas pessoas que tiveram Covid sofriam de "confusão mental", o que incluía comprometimento da atenção, concentração, velocidade de processamento de informações e memória.

Reuters

Foto: Reuters

A redução da imunidade contra o Sars-CoV-2 registrada 75 dias após a segunda dose das vacinas CoronaVac e AstraZeneca pode ser revertida significativamente com o reforço da Pfizer/Biontech, de acordo com estudo conduzido na EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo).

vacina

A pesquisa mostrou que a terceira dose da Pfizer aumenta em até 25 vezes o nível de anticorpos medido depois das duas aplicações de CoronaVac e em até sete vezes o alcançado após a imunização completa com a AstraZeneca. Os resultados foram publicados no Journal of Infection. Apoiado pela Fapesp por meio de dois projetos (17/20106-9 e 20/08943-5), o estudo foi realizado com uma coorte não randomizada de 48 profissionais de saúde de hospitais e instituições regionais. Eles têm idade média de 30 anos, para os vacinados com CoronaVac, e 40 anos, para os que receberam a AstraZeneca.

“Temos visto que a adesão à dose de reforço da vacina contra a Covid-19 não está tão alta quanto poderia ser. Nosso estudo, no entanto, mostra a importância de a população tomar a terceira dose, porque há um aumento significativo da resposta imunológica e celular, indicando maiores níveis de proteção”, diz à Agência Fapesp Alexandre Keiji Tashima, professor do Departamento de Bioquímica da EPM-Unifesp e autor correspondente do artigo.

Até o dia 1º de março, o Brasil contava com 30,6% da população imunizada com a dose de reforço contra a Covid-19 (cerca de 65,073 milhões de pessoas). Com a vacinação completa (duas doses ou dose única) eram 73% dos brasileiros (155,071 milhões de pessoas), segundo dados do Our World in Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “Com a pandemia, montamos um grupo de pesquisadores na Unifesp para trabalhar em estudos envolvendo a Covid-19. O objetivo é fazer uma caracterização bioquímica completa dos anticorpos”, afirma Tashima, que é orientador do doutorado de Jackelinne Yuka Hayashi, primeira autora do artigo. O trabalho contou ainda com a participação de quatro pesquisadores da Euroimmun Brasil, empresa especializada em soluções para diagnóstico laboratorial.

Os resultados do grupo corroboram estudos já publicados por cientistas de Hong Kong e de universidades americanas.

Além disso, outras pesquisas haviam mostrado a eficácia da dose de reforço. Uma delas, publicada no início de fevereiro na Nature Medicine, mostrou que a aplicação da terceira dose da vacina da Pfizer seis meses após a imunização com duas da CoronaVac confere uma eficácia de 92,7% contra a doença. Já contra casos graves do Sars-CoV-2, a proteção sobe para 97,3%. Foram analisados dados de cerca de 14 milhões de brasileiros.

Avaliações

Os participantes da pesquisa do grupo da Unifesp tiveram amostras de sangue colhidas em cinco momentos: antes da vacinação; 28 dias após a primeira dose; 14 dias depois da segunda, 75 dias após a segunda dose e 14 dias depois do reforço da terceira. Foram realizados testes clínicos para IgG (que determina a presença e quantidade de anticorpos no organismo), com avaliação de anticorpos neutralizantes, capazes de impedir a infecção, e das respostas celulares.

No grupo imunizado com a CoronaVac e reforço da Pfizer, os valores médios de IgG aumentaram de 19,8 BAU/ml (unidades de anticorpos ligantes por mililitro de sangue), após a primeira dose, para 429 BAU/ml, com a segunda. Valores iguais ou acima de 35,2 BAU/ml são considerados positivos.

Essa proteção diminuiu significativamente nas dez semanas seguintes, caindo para 115,7 BAU/ml. Após o reforço, no entanto, a concentração de IgG voltou a subir, crescendo 25 vezes e atingindo 2.843 BAU/ml. Em relação aos níveis de anticorpos neutralizantes, houve aumento de 23,5%, no intervalo da segunda dose, para 99,3%, depois do reforço.

Entre os imunizados com a vacina da AstraZeneca e a terceira dose da Pfizer, as respostas medianas de IgG aumentaram de 86,8 BAU/ml para 648,9 BAU/ml durante as duas primeiras aplicações. Depois, caíram para 390,9 BAU/ml. Mas, com a dose de reforço, subiram sete vezes — para 2.799,2 BAU/ml. Já os níveis de anticorpos neutralizantes cresceram de 63,2% para 98,9%.

“É possível ver que mesmo com a redução da imunidade no período pós segunda dose ainda há uma resposta celular relevante contra os antígenos do coronavírus. No entanto, o interessante é que, após a terceira dose, os dois grupos tiveram aumento significativo tanto da resposta celular como da humoral [de anticorpos]. Isso foi algo que nos impressionou, indicando uma boa resposta nos dois grupos”, explica Tashima.

Uma das limitações do estudo foi o fato de não ter sido possível comparar os resultados com dados da população em geral ou de grupos específicos, como idosos.

Alguns voluntários que participaram do estudo foram contaminados pela variante Ômicron após o reforço da vacinação. Os pesquisadores estão agora em nova etapa de coleta de sangue dessas pessoas para analisar eventuais impactos da variante, que no início de janeiro respondeu por 97% dos casos de Covid-19 no Brasil.

Agência Fapesp

Foto: Dado Ruvic/Reuters

A confirmação é do coordenador regional da 10ª Gerência Regiona de Saúde, com sede em Floriano-PI, o ex-vereador Maurício Bezerra.

mauriciio

A entrevista sobre a chegada da nova remessa foi concedida nesta manhã. O município está com o processo de vacinação que envolve uma nova faixa etária de idade. Veja a entrevista com o coordenador Maurício. 

 Da redação