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A sensação de repulsa quando diante de um cheiro ruim pode ser um indicador da capacidade do organismo se proteger de substâncias nocivas e, com isso, viver mais. Pelo menos é o que acontece com os nematoides da espécie Caenorhabditis elegans.

longevidade

Embora na aparência sejam bem diferentes dos humanos, esses vermes têm sido usados há cerca de 50 anos como modelo para estudos biológicos. Entre as vantagens, possuem um sistema nervoso simples, além de poucas células e genes, muitos com as mesmas funções que possuímos. Além de um tempo de vida curto, em média 17 dias, ideal para estudos de envelhecimento. Um estudo publicado na revista Nature Aging demonstrou que um composto exalado por bactérias patogênicas gera não apenas a aversão do animal, que se afasta para evitar o perigo. O cheiro desencadeia um circuito neural que induz resposta em outros tecidos do C. elegans.

Essa resposta inclui o processamento mais eficiente de proteínas tóxicas, além de um controle da agregação dessas e de outras proteínas que ele mesmo produz. A relevância disso é que, em humanos, esse acúmulo é um dos fatores associados a doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.

“Ao usar o olfato para detectar perigos no ambiente, ele eleva as respostas de estresse antes mesmo de encontrar a bactéria patogênica. A percepção do cheiro preveniu ainda a agregação de proteínas, envolvida em doenças, e aumentou a longevidade”, comenta Evandro Araújo de Souza, primeiro autor do estudo realizado durante pós-doutorado no Laboratório de Biologia Molecular do MRC (Medical Research Council), no Reino Unido.

Cheiro de perigo

No estudo, os nematoides expostos ao odorante conhecido como 1-undeceno tiveram maior tempo de vida do que os que não tiveram contato com o cheiro exalado por bactérias. As respostas ao estímulo puderam ser visualizadas no intestino, mostrando a existência de um circuito ligando o olfato ao resto do corpo. “Esse trabalho sugere que manipular a percepção de substâncias químicas pode, um dia, ser uma rota para intervir em doenças neurodegenerativas e relacionadas à idade”, explica Rebecca Taylor, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular do MRC e coordenadora do estudo.

“No entanto, mais trabalhos precisam ser feitos para estabelecer se vias de sinalização celular e mecanismos similares operam em humanos”, diz.

Os pesquisadores ressaltam que outros estudos já demonstraram que camundongos possuem um circuito neural que liga o cérebro ao fígado quando esses animais sentem o cheiro de certos alimentos. Por isso, faz sentido pensar que o sistema nervoso de mamíferos, quando estimulado, também possa gerar respostas em outros órgãos, como acontece com os nematoides.

“Se encontrarmos uma molécula que faça a mediação desse circuito que vai da percepção do odor até a resposta do organismo, poderemos ter um caminho promissor na busca por novos tratamentos”, conta Souza. Circuito parcialmente desvendado

Para chegar aos resultados, os pesquisadores dispuseram os nematoides em placas diferentes das que estavam os odorantes. O procedimento era necessário para demonstrar que não era o contato direto com as substâncias que causava aversão, mas sim o cheiro delas.

Os odorantes usados são exalados por bactérias como Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus, prejudiciais ao animal. Três desses compostos, incluindo o 1-undeceno, foram ligados a respostas aversivas em C. elegans. Os pesquisadores decidiram focar os experimentos subsequentes no 1-undeceno, que induzia aversão sem demonstrar toxicidade.

Ao analisar os animais expostos à substância, os pesquisadores observaram a ativação da chamada resposta a proteínas mal enoveladas do retículo endoplasmático (UPRER, na sigla em inglês) no intestino dos animais. Esta é uma defesa do organismo que desencadeia mecanismos de reparo ou de eliminação de proteínas defeituosas.

Quando os nematoides sofriam mutações em dois genes que regulam a UPRER (ire-1 e xbp-1), não havia ativação da resposta na presença do 1-undeceno. Isso indica que essa via de sinalização celular é essencial para a ativação de UPRER pela substância. Outros experimentos confirmaram esse resultado.

Os pesquisadores então expuseram ao 1-undeceno outra série de animais mutantes, que apresentam defeito na produção de neurotransmissores importantes como serotonina, dopamina, glutamina, entre outras. Não foi possível identificar um papel para nenhuma dessas moléculas.

Foi então que os autores se debruçaram sobre a DAF-7. Em nematoides, a proteína e o gene de mesmo nome são equivalentes à TGF-beta encontrada em mamíferos, onde tem papel importante nos circuitos neurais que governam comportamentos como a aversão a patógenos.

Agência Fapesp

Freepik/stockking

As farmacêuticas MSD e Moderna anunciaram, nesta quarta-feira (26), o início da terceira e última fase de testes — antes do pedido de registro às agências reguladoras — de uma vacina contra o melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele.

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O imunizante utiliza a tecnologia de RNA mensageiro, a mesma de muitas vacinas contra a Covid-19, e a ideia é que ele faça parte de uma terapia combinada com o medicamento Keytruda, um anticorpo monoclonal.

Chamada de V940, a terapia visa células cancerígenas que produzem proteínas específicas que o sistema de defesa do nosso corpo não é capaz de reconhecer.

A nova fase dos testes clínicos prevê a inclusão de 1.089 pacientes, em 165 centros de pesquisa, localizados em mais de 25 países.

O objetivo principal do estudo é avaliar a sobrevida livre de recorrência, que é o tempo que um paciente vive sem que o câncer volte.

Os objetivos secundários incluem a sobrevida livre de metástase em outras partes do corpo, a sobrevida global e a segurança.

"O início do estudo V940-001 Fase 3 é um marco empolgante e importante para nós enquanto trabalhamos com nossos colegas da Merck [marca norte-americana da MSD] e a comunidade de pacientes com melanoma para investigar como a terapia individualizada com neoantígenos pode potencialmente transformar o tratamento da forma mais grave de câncer de pele", disse o vice-presidente sênior da Moderna e chefe de desenvolvimento, terapêutica e oncologia, Kyle Holen. Como funciona

O RNA mensageiro contido na vacina é uma molécula que carrega as instruções genéticas do DNA para as células. A terapia V940 (mRNA-4157) é projetada para codificar até 34 neoantígenos, que são proteínas produzidas por células tumorais e que o sistema imunológico não reconhece.

O paciente recebe a V940 por injeção. Após a administração, o RNA mensageiro é traduzido em proteínas, que são então apresentadas ao sistema imunológico. O sistema imunológico, então, reconhece as proteínas como estranhas e produz uma resposta imune para combatê-las.

As terapias de neoantígenos individualizadas são projetadas para treinar e ativar o sistema imunológico para que um paciente possa gerar uma resposta antitumoral específica para sua assinatura de mutação tumoral.

A vacina foi feita para estimular uma resposta imune gerando respostas específicas de células T com base na assinatura mutacional única do tumor de um paciente. As células T são um tipo de célula imunológica que desempenha um papel importante na luta contra o câncer.

O Keytruda é um anticorpo monoclonal que atua aumentando a capacidade do sistema imunológico do corpo para ajudar a detectar e combater as células tumorais.

O medicamento funciona bloqueando uma proteína chamada PD-1, que é encontrada na superfície das células T. O PD-1 ajuda as células tumorais a escapar do sistema imunológico. O Keytruda bloqueia o PD-1, o que permite que as células T ataquem as células tumorais.

Um estudo de fase anterior mostrou que a V940 (mRNA-4157) em combinação com Keytruda pode fornecer um benefício aditivo sobre o medicamento sozinho em pacientes com melanoma de alto risco (estágio IIB-IV) ressecado.

Os resultados mostraram que os pacientes que receberam essa combinação tiveram uma sobrevida livre de recorrência mais longa do que os pacientes que receberam apenas Keytruda. Melanoma no Brasil

O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que, em 2022, tenham sido diagnosticados 8.980 novos casos de melanoma no Brasil. As mortes decorrentes desse tipo de tumor, em 2020 (último número disponível), somaram 1.923.

O melanoma é um tipo de câncer de pele que se origina nos melanócitos, células que produzem melanina, determinando a cor da pele. É mais comum em adultos brancos e pode surgir como manchas, pintas ou sinais em qualquer parte do corpo, incluindo mucosas. Em pessoas de pele negra, é mais frequente em áreas claras, como palmas das mãos e plantas dos pés.

Apesar de o câncer de pele ser o mais comum no Brasil, o melanoma representa apenas 4% dos casos malignos desse tipo de câncer. É considerado o mais grave, pois tem alta probabilidade de disseminação para outros órgãos (metástase).

A detecção precoce do melanoma é crucial para um bom prognóstico. Nos últimos anos, a sobrevivência dos pacientes melhorou significativamente devido ao uso da dermatoscopia para diagnóstico precoce e à introdução de novos medicamentos imunoterápicos.

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Foto: Freepik

Pessoas que sofrem de psoríase – doença crônica que afeta a pele e é caracterizada pelo aparecimento de placas vermelhas e secas – podem se beneficiar da suplementação de vitamina D como forma de atenuar essa condição. A conclusão é de um estudo apresentado nesta terça-feira (25) durante a Nutrition 2023, a principal reunião anual da American Society for Nutrition.

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Os pesquisadores analisaram dados de aproximadamente 500 pacientes com psoríase incluídos na Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA (NHANES, na sigla em inglês). Eles encontraram uma relação linear entre a diminuição dos níveis de vitamina D e o aumento da gravidade da psoríase.

A vitamina D é uma substância importante para o nosso corpo, e acredita-se que ela tenha um papel significativo no desenvolvimento de doenças dermatológicas, afetando a resposta imune por meio de efeitos diretos nas células envolvidas no reparo da pele.

"Com o crescente interesse público na suplementação vitamínica, queríamos examinar mais a fundo a conexão entre os níveis de vitamina D e a gravidade da psoríase. [...] Poucos estudos procuraram essa associação em grupos de pessoas, especialmente em grandes populações dos EUA, ou examinaram essa relação por meio de uma lente de nutrição clínica", justificou uma das autoras do trabalho, a professora Eunyoung Cho, do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina Warren Alpert, da Universidade Brown, nos EUA.

Os achados abrem caminhos para futuros tratamentos da psoríase que tenham como foco a vitamina D, salienta outra autora do estudo, a pesquisadora Rachel K. Lim, também da Universidade Brown.

"Os cremes sintéticos tópicos de vitamina D estão surgindo como novas terapias para a psoríase, mas geralmente requerem receita médica. Nossos resultados sugerem que uma dieta rica em vitamina D ou suplementação oral de vitamina D também pode trazer algum benefício para pacientes com psoríase."

As pesquisadoras, porém, aconselham que a suplementação de vitamina seja sempre feita sob orientação e acompanhamento de um médico.

Segundo o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento, a psoríase é uma condição comum da pele que afeta de 1% a 5% da população global, com maior risco para pessoas com pele clara e entre 16 e 22 anos e 57 a 60 anos, embora possa afetar pessoas de todas as idades e raças.

Acredita-se que ela seja causada por um crescimento anormal das células da pele devido a problemas no sistema imunológico e fatores genéticos.

R7

Foto: Reprodução/Manual MSD

O novo medicamento ravidasvir, utilizado em combinação com sofosbuvir, que o Farmanguinhos (Instituto de Tecnologia em Fármacos) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) detém o registro, poderá reduzir em até 20% o custo do tratamento de hepatite C pelo SUS (Sistema Único de Saúde), hoje entre R$ 6,2 mil e R$ 6,5 mil por paciente. A estimativa é feita pelo diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça.

remediohepatite

Por intermédio de Farmanguinhos, a Fiocruz assinou nessa semana acordo de parceria para registro do ravidasvir na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A parceria técnica e científica foi firmada com a ONG (organização não governamental) DNDi (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas) e a farmacêutica egípcia Pharco Pharmaceuticals.

À Agência Brasil, Jorge Mendonça detalhou que a farmacêutica egípcia Pharco fez testes, em conjunto com a DNDi, para mostrar a efetividade do ravidasvir, juntamente com o sofosbuvir, nas populações da Tailândia e da Malásia. Foi registrado percentual de cura, na média, de 97%. “Uma média bastante alta, comparada com padrões mais modernos utilizados para tratamento efetivo da hepatite C”. A hepatite C é uma inflamação do fígado provocada pelo vírus HCV que, quando crônica, pode levar à cirrose, à insuficiência hepática e ao câncer.

Etapas

Após a assinatura do acordo, Mendonça explicou que a próxima etapa será submeter o medicamento para aprovação na Anvisa. Em seguida, esperar o registro ser publicado pela Agência para, posteriormente, fornecê-lo ao Ministério da Saúde para tratamento da hepatite C, em conjunto com o sofosbuvir. Jorge Mendonça estima que esse é um processo longo, que deverá levar entre um ano a um ano e meio.

“Contudo, a gente entende que quanto mais ofertas para o tratamento da hepatite C estiverem disponíveis no SUS, a gente traz mais possibilidades para os médicos e mais possibilidades para os pacientes usarem medicamentos que são de primeira linha e que podem trazer mais conforto e mais adesão ao tratamento por parte desses pacientes”, manifestou o diretor de Farmanguinhos.

Além do sofosbuvir, Farmanguinhos já detém o registro do antiviral daclatasvir, o que reforça o papel do Instituto como apoiador do Ceis (Complexo Econômico Industrial da Saúde) e promotor da independência nacional no tratamento da hepatite C. "Durante muito tempo, não havia muitas opções de tratamento eficazes para a hepatite C. Agora, porém, com os medicamentos desenvolvidos por Farmanguinhos, já há chances de cura", diz Mendonça.

“Hoje em dia, é um tratamento, em média, de 12 semanas, com taxa de cura efetiva acima de 95%”. O diretor analisou que com o registro do Ravidasvir, não haverá aumento da taxa de cura. “Mas a gente pode, no futuro, que é um dos objetivos da transferência do Ravidasvir também, reduzir o custo do tratamento para o SUS e, com isso, a chance de aumentar o acesso das populações atualmente não atendidas também se torna mais sustentável pelo SUS”.

O principal objetivo do registro do Favidasvir é que a Fiocruz consiga contribuir para a sustentabilidade orçamentária desse programa de tratamento das hepatites virais pelo SUS, que é bastante custoso para o Ministério da Saúde, argumentou Jorge Mendonça. Busca ativa

Segundo o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, divulgado pelo Ministério da Saúde em junho de 2022, foram confirmados 718.651 casos de hepatites virais no Brasil registrados no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no período de 2000 a 2021. Desse total, 168.175 (23,4%) são referentes aos casos de hepatite A, 264.640 (36,8%) aos de hepatite B, 279.872 (38,9%) aos de hepatite C e 4.259 (0,6%) aos de hepatite D.

Como se desconhecem os casos ocorridos durante a pandemia da covid-19, Jorge Mendonça disse que o próximo passo que os programas de hepatites virais do mundo vão dar é chamado de “busca ativa”. Ou seja, em vez de ficar esperando o paciente vir em busca de tratamento, serão feitas testagens em massa para tratar esses pacientes, já que a hepatite C, nos primeiros momentos e até nos primeiros anos da doença, não traz sintomas. A ideia é buscar esses indivíduos e tratar logo antes que a hepatite C fique crônica nele. “Isso é fundamental para efetividade do tratamento e para a saúde do paciente”, conclui Mendonça.

Agência Brasil

Foto: Freepik/brgfx