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Um dos adoçantes mais populares do mundo é um “possível carcinógeno", mas permanece seguro para consumir em níveis já acordados.

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É o que afirmam dois grupos ligados à OMS (Organização Mundial da Saúde), que se pronunciaram nesta quinta-feira (13), após uma série de reuniões.

O vídeo divulgado pela OMS mostrou especialistas dos painéis discutindo as descobertas em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.

"Portanto, o grupo de trabalho classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para humanos, ou seja, o Grupo 2B, com base em evidências limitadas de câncer em humanos", diz um dos representantes da agência.

O aspartame é um dos adoçantes mais utilizados pela indústria de alimentos e bebidas no mundo. A decisão põe o aspartame na mesma categoria que o extrato de aloe vera e os tradicionais vegetais asiáticos em conserva.

Embora as descobertas possam causar algum alarme, o chefe de nutrição da OMS, Francesco Branca, minimizou a probabilidade de produtos adoçados com aspartame realmente causarem câncer. "A conclusão desta avaliação não mostra que o consumo de produtos que contêm adoçantes leva automaticamente a um impacto na saúde. Tendo uma ingestão diária aceitável, significa que é possível consumir certa quantidade de aspartame sem ter efeitos apreciáveis na saúde. Essa quantidade é uma boa grande quantidade."

A ingestão diária aceitável é de 40 mg de aspartame por quilo de peso corpóreo. Na prática, um indivíduo adulto com 60 kg pode consumir até 2,4 g sem risco à saúde.

Vários cientistas não associados às análises disseram que as evidências que ligam o aspartame ao câncer são fracas.

As associações da indústria de alimentos e bebidas afirmaram que as decisões mostraram que o aspartame é seguro e uma boa opção para pessoas que desejam reduzir o açúcar em sua dieta.

Mas outros disseram que as descobertas devem levar a mudanças, incluindo o CSPI (Centro de Ciência de Interesse Público) dos EUA e um de seus principais cientistas, Thomas Galligan.

"Isso é algo que a indústria, os consumidores e os reguladores realmente precisam tomar conhecimento. Isso é muito preocupante. O CSPI gostaria que a indústria começasse a reformular seus produtos, usar alternativas mais seguras e ajudar os consumidores a evitar e minimizar sua exposição ao aspartame. Da mesma forma, os formuladores de políticas também podem levar em consideração essa avaliação muito importante e confiável e começar a tomar medidas para proteger os consumidores também."

Antes do anúncio, alguns médicos expressaram preocupação de que os consumidores de refrigerantes dietéticos pudessem agora mudar para bebidas calóricas e açucaradas.

Therese Bevers, diretora médica do Centro de Prevenção do Câncer da Universidade do Texas, em Houston, disse à Reuters:

"A possibilidade de ganho de peso e obesidade é um problema muito maior e um fator de risco maior do que o aspartame jamais poderia ser".

Mas a OMS e outros ressaltam que os consumidores confrontados com a decisão entre uma bebida açucarada e uma com adoçantes devem considerar uma terceira opção.

Um dos órgãos envolvidos na decisão foi a Apic (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer), um braço da OMS. A entidade, todavia, é criticada por causar preocupações desnecessárias na população com suas afirmações.

A agência já incluiu o trabalho noturno, o consumo de carne vermelha e o uso de telefones celulares como potenciais causadores de câncer. Brasil

No Brasil, a Abiad (Associação Brasileira de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres) emitiu uma nota em que concorda com a decisão dos órgãos ligados à OMS.

"A Abiad reitera seu compromisso em promover a disseminação de informações embasadas em evidências científicas e a garantia da segurança alimentar. Continuaremos monitorando atentamente os avanços científicos nessa área e colaborando com as autoridades competentes para assegurar que os consumidores tenham acesso a alimentos seguros e de qualidade", diz a associação.

Reuters

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Uma versão de baixo custo do anestésico cetamina para tratar a depressão grave apresentou resultados positivos em um teste duplo-cego comparando-a com o placebo.

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A cetamina é um medicamento utilizado como alternativa no tratamento da depressão para pacientes que não obtiveram sucesso com tratamentos convencionais. Ela age de forma rápida e diferente dos antidepressivos tradicionais, afetando diretamente o sistema glutamatérgico do cérebro. Estudos mostram que a cetamina pode aliviar rapidamente os sintomas depressivos em pacientes, inclusive os considerados resistentes a tratamentos anteriores. Ela pode ser administrada por injeção intravenosa ou intramuscular.

Pesquisadores liderados pela Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW Sydney) e pelo Instituto Black Dog, afiliado à universidade, descobriram que mais de um em cada cinco participantes do estudo alcançou remissão total dos sintomas da depressão após um mês de injeções quinzenais, enquanto um terço viu seus sintomas melhorarem em pelo menos 50%. Os achados foram publicados nesta quinta-feira (13) no British Journal of Psychiatry.

"Para pessoas com depressão resistente ao tratamento – aquelas que não se beneficiaram de diferentes formas de terapia, antidepressivos comumente prescritos ou eletroconvulsoterapia – uma remissão de 20% é realmente bastante boa", afirma a pesquisadora principal, professora Colleen Loo.

Os autores do trabalho descobriram que a cetamina teve um desempenho claramente superior ao placebo, com 20% dos participantes relatando que não tinham mais depressão clínica, em comparação com apenas 2% do grupo placebo.

"Essa é uma diferença enorme e muito evidente, trazendo uma evidência definitiva para o campo, que antes só contava com estudos menores que comparavam a cetamina com o placebo", complementa a pesquisadora. Como foi feito o teste

Os pesquisadores recrutaram 179 pessoas com depressão resistente ao tratamento. A todos foi administrada uma injeção de uma forma genérica de cetamina que já está amplamente disponível na Austrália como medicamento para anestesia e sedação, ou um placebo.

Os participantes receberam duas injeções por semana em uma clínica, onde foram monitorados por cerca de duas horas enquanto os efeitos dissociativos e sedativos agudos diminuíam, geralmente dentro da primeira hora.

O tratamento durou um mês e os participantes foram solicitados a avaliar seu humor ao final do teste e um mês depois.

Como foi um teste duplo-cego, nem os participantes nem os pesquisadores que administraram o medicamento sabiam quais pacientes receberam cetamina genérica ou placebo, para garantir que os viéses psicológicos fossem minimizados.

Importante destacar que um placebo que também causa sedação foi escolhido para melhorar o mascaramento do tratamento.

O midazolam é um sedativo normalmente administrado antes de uma anestesia geral, enquanto em muitos estudos anteriores o placebo era uma solução salina.

"Porque não há efeitos subjetivos da solução salina, em estudos anteriores ficou óbvio quem estava recebendo a cetamina e quem estava recebendo o placebo", explica a professora.

"Ao usar midazolam – que não é um tratamento para a depressão, mas faz você se sentir um pouco tonto e fora de si – há muito menos chance de saber se você recebeu cetamina, que tem efeitos agudos semelhantes", pontua.

Outros aspectos do teste recente que o diferenciaram de estudos anteriores incluíram a aceitação de pessoas que já haviam recebido ECT (eletroconvulsoterapia).

"As pessoas são recomendadas a fazer a ECT para tratar sua depressão quando todos os outros tratamentos foram ineficazes", argumenta Colleen. "A maioria dos estudos exclui pessoas que já fizeram ECT, porque é muito difícil para um novo tratamento funcionar quando a ECT não funcionou", complementa.

Outra diferença deste teste foi a entrega do medicamento por via subcutânea (injeção na pele), em vez de gotejamento, o que reduziu muito o tempo e a complexidade médica.

O estudo também é o maior do mundo até o momento que compara cetamina genérica com placebo no tratamento da depressão grave. Tratamento acessível

Além dos resultados positivos, um dos principais benefícios do uso da cetamina genérica no tratamento da depressão resistente é que ela é muito mais barata do que o spray nasal de cetamina patenteado atualmente usado na Austrália.

Enquanto o S-cetamina (versão spray) custa cerca de US$ 800 (cerca de R$ 3.800) por dose, a cetamina genérica é uma fração disso, custando apenas US$ 5 (R$ 24), dependendo do fornecedor e se o hospital a compra no atacado.

A autora do trabalho acrescenta que tanto a S-cetamina quanto os tratamentos com cetamina genérica geralmente têm efeitos positivos que desaparecem após alguns dias ou semanas, então um tratamento contínuo pode ser necessário, dependendo da situação clínica de cada pessoa.

No entanto, os custos proibitivos do medicamento e do procedimento tornam essa uma proposta insustentável para a maioria dos australianos.

"É por isso que estamos solicitando um número de item do Medicare [plano de saúde local] para financiar este tratamento agora, porque ele é tão poderoso."

"E se você considerar que muitas dessas pessoas podem passar vários meses no hospital, ou não conseguem trabalhar e muitas vezes estão bastante suicidas, é bastante econômico quando você vê o quão rapidamente e poderosamente funciona. Já vimos pessoas voltarem ao trabalho, aos estudos ou saírem do hospital por causa deste tratamento em questão de semanas."

Os pesquisadores agora pretendem realizar testes maiores de cetamina genérica em períodos mais longos e aprimorar o monitoramento de segurança do tratamento.

R7

Foto: Freepik

O fim da Aids é uma escolha política e financeira dos países e lideranças que estão seguindo esse caminho e estão obtendo resultados extraordinários, o que pode levar ao fim da pandemia de Aids até 2030. É o que mostra um novo relatório divulgado nesta quinta-feira (13) pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids).

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O relatório - denominado O Caminho que põe fim à Aids - expõe dados e estudos de casos sobre a situação atual da doença no mundo e os caminhos para acabar com a epidemia de Aids até 2030, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Segundo a entidade, esse objetivo também ajudará o mundo a estar bem preparado para enfrentar futuras pandemias e a avançar no progresso em direção à conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

O Unaids lidera e inspira o mundo a alcançar sua visão compartilhada de zero novas infecções por HIV, zero discriminação e zero mortes relacionadas à Aids. O programa atua em colaboração com parceiros globais e nacionais para combater a doença. Meta: 95-95-95

Países como Botsuana, Essuatíni, Ruanda, República Unida da Tanzânia e Zimbábue já alcançaram as metas 95-95-95. Isso significa que, nesses países, 95% das pessoas que vivem com HIV conhecem seu status sorológico; 95% das pessoas que sabem que vivem com HIV estão em tratamento antirretroviral que salva vidas; e 95% das pessoas em tratamento estão com a carga viral suprimida.

Outras 16 nações, oito das quais na África subsaariana - região que representa 65% de todas as pessoas vivendo com HIV - também estão perto de alcançar essas metas. Brasil: 88-83-95

O Brasil, por sua vez, também está no caminho, com suas metas na casa de 88-83-95. Mas o país ainda enfrenta obstáculos, causados especialmente pelas desigualdades, que impedem que pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade tenham pleno acesso aos recursos de prevenção e tratamento do HIV que salvam vidas.

Na visão da Oficial de Igualdades e Direitos do Unaids Brasil, Ariadne Ribeiro Ferreira, o movimento em casas legislativas municipais, estaduais e no Congresso Nacional de apresentar legislações criminalizadoras e punitivas que afetam diretamente a comunidade LGBTQIA+, especialmente pessoas trans, pode aumentar o estigma. “Este movimento soma-se às desigualdades, aumentando o estigma e discriminação de determinadas populações e pode contribuir para impedir o Brasil de alcançar as metas de acabar com a Aids até 2030”, diz ele. Lideranças

"O fim da Aids é uma oportunidade para as lideranças de hoje deixarem um legado extraordinariamente poderoso para o futuro", defende a diretora executiva do Unaids, Winnie Byanyima.

"Essas lideranças podem ser lembradas pelas gerações futuras como aquelas que puseram fim à pandemia mais mortal do mundo. Podem salvar milhões de vidas e proteger a saúde de todas as pessoas", acrescenta.

O relatório destaca que as respostas ao HIV têm sucesso quando baseadas em uma forte liderança política com ações como respeitar a ciência, dados e evidências; enfrentar as desigualdades que impedem o progresso na resposta ao HIV e outras pandemias; fortalecer as comunidades e as organizações da sociedade civil em seu papel vital na resposta; e garantir financiamento suficiente e sustentável. Investimentos

O relatório do Unaids mostra, também, que o progresso rumo ao fim da Aids tem sido mais forte nos países e regiões com maior investimento financeiro. Na África Oriental e Austral, por exemplo, as novas infecções por HIV foram reduzidas em 57% desde 2010 e o número de pessoas em tratamento antirretroviral triplicou, passando de 7,7 milhões em 2010 para 29,8 milhões em 2022.

Com o apoio e investimento no combate à Aids em crianças, 82% das mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV em todo o mundo tiveram acesso ao tratamento antirretroviral em 2022, em comparação com 46% em 2010, o que levou a uma redução de 58% nas novas infecções por HIV em crianças de 2010 a 2022, o número mais baixo desde a década de 1980. Marcos legais

Segundo o relatório, o fortalecimento do progresso na resposta ao HIV passa pela garantia de que os marcos legais e políticos não comprometam os direitos humanos, mas os protejam. Vários países revogaram leis prejudiciais em 2022 e 2023, incluindo Antígua e Barbuda, Ilhas Cook, Barbados, São Cristóvão e Nevis e Singapura que criminalizavam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Financiamento

O financiamento para o HIV também diminuiu em 2022, tanto de fontes internacionais quanto domésticas, retornando ao mesmo nível de 2013. Os recursos totalizaram US$ 20,8 bilhões em 2022, muito aquém dos US$ 29,3 bilhões necessários até 2025, afirma o documento.

O relatório expõe, no entanto, que existe agora uma oportunidade para acabar com a Aids na medida em que a vontade política é estimulada por meio dos investimentos em resposta sustentável ao HIV.

Esses recursos devem ser focados no que mais importa, reforça o Unaids: integração dos sistemas de saúde, leis não discriminatórias, igualdade de gênero e fortalecimento das redes comunitárias de assistência e apoio.

"Os fatos e os números compartilhados neste relatório não mostram que o mundo já está no caminho certo, mas indicam claramente que podemos chegar lá. O caminho a seguir é muito claro”, observa a diretora executiva do Unaids, Winnie Byanyima.

Agência Brasil

Foto: arquivo/Agência Brasil

Alterações no tecido adiposo materno durante o desenvolvimento fetal, provocadas tanto por carência quanto por excesso de ingestão alimentar, podem levar a doenças metabólicas na fase adulta. Esse é o alerta de um artigo publicado na revista Nature Reviews Endocrinology, que descreve os inúmeros mecanismos envolvidos em um conceito conhecido como programação metabólica – em que células do tecido adiposo (adipócitos) regulam a exposição a nutrientes, trazendo consequências de longo prazo.

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"São dois casos opostos, mas que seguem mecanismos idênticos: a reprogramação metabólica. Filhos de mulheres que passaram fome na gravidez tendem a nascer com baixo peso e desenvolver hipertensão, alterações na resposta ao estresse, problemas cardíacos, maior propensão a diabetes e aumento da resistência insulínica. Na outra ponta, filhos de mulheres com obesidade gestacional tendem a nascer com alto peso, mas também a apresentar problemas metabólicos na fase adulta", explica José Donato Júnior, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

No artigo, a partir de diferentes estudos – alguns deles conduzidos por seu grupo de pesquisa –, o pesquisador junta as peças para esclarecer a intrincada relação entre os adipócitos e a reprogramação metabólica. O trabalho é apoiado pela FAPESP, por meio de um Projeto Temático.

O entendimento desse passo a passo pode auxiliar a estabelecer estratégias futuras para a prevenção e o tratamento de doenças metabólicas, como diabetes, obesidade, hipertensão e dislipidemia (colesterol alto). "Entender esses mecanismos possibilita que intervenções sejam feitas, pois a manipulação de hormônios do tecido adiposo pode ser o embrião de futuras terapias. Veja o caso do diabetes gestacional, por exemplo: a despeito de sua alta prevalência, ainda não existe uma terapia. A indicação é controle da dieta e, se não for suficiente, administrar insulina, o que é extremamente adipogênico [favorece a formação de novos adipócitos] para a mãe e o bebê. A responsabilidade fica muito em cima das mães. Parece que não damos a mesma atenção para os cuidados maternos que damos a outras doenças", avalia o pesquisador.

Dois lados de uma moeda

Donato explica que, por muitos anos, o tecido adiposo – as famosas gordurinhas – foi considerado um mero depósito de energia, onde a gordura era armazenada para ser usada quando necessário. Essa visão, no entanto, começou a mudar com os estudos que descobriram que o tecido adiposo produz hormônios importantes para o controle do metabolismo, como a leptina e a adiponectina. A essa classe de compostos deu-se o nome de adipocinas. São essas substâncias que fazem a intermediação entre a saúde da gestante e o desenvolvimento dos filhos, sobretudo em uma área de pesquisa chamada “origens desenvolvimentistas da saúde e doença” (DOHaD, na sigla em inglês).

A relação entre alimentação materna e doença dos filhos quando adultos foi observada pela primeira vez durante a chamada "fome holandesa", que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, após o exército nazista cortar o suprimento de alimentos para o país.

Nesses primeiros estudos, sugeriu-se que a carência alimentar das mães levava a um atraso no desenvolvimento dos filhos, como resultado de um processo adaptativo ao baixo nível de nutrientes que recebiam durante a fase fetal e o início da vida.

A linha de pesquisa, que começou com estudos sobre desnutrição, avançou nas últimas décadas para a obesidade. "Vamos supor que, anos depois, esse mesmo indivíduo que passou por uma programação metabólica comece a ter acesso a alimentos altamente palatáveis, ultraprocessados e cheios de calorias. O organismo que estava adaptado para lidar com a escassez se depara com o excesso. Talvez isso ajude a explicar a epidemia de obesidade que temos atualmente", diz.

De acordo com Donato, estudos mais recentes têm mostrado também que a obesidade materna, a diabetes gestacional e o ganho de peso excessivo durante a gravidez produzem no feto um efeito parecido com o da desnutrição, por também afetar a sensibilidade e os níveis de leptina e adiponectina circulantes na mãe e no feto. "Alguns dos hormônios ligados ao tecido adiposo estão baixos ou apresentam alteração em sua ação, como é o caso da leptina, que promove a adaptação do gasto de energia relacionada à escassez ou ao excesso", comenta.

Donato ressalta no texto que a leptina provavelmente programa o metabolismo do bebê no início da vida, controlando o desenvolvimento de neurônios que regulam o balanço energético, induzindo mudanças permanentes na preferência por alimentos hiperpalatáveis e diminuindo o gasto energético.

Já os efeitos da adiponectina ocorrem na mãe e na placenta, regulando a exposição fetal a nutrientes e, consequentemente, o crescimento e a nutrição fetal, trazendo consequências de longo prazo para o metabolismo e a predisposição a doenças.

É o que os cientistas chamam de mudanças epigenéticas, ou seja, modificações bioquímicas nas células ocasionadas por estímulos ambientais que promovem a ativação ou o silenciamento de genes sem provocar mudanças no genoma do indivíduo. No caso das adipocinas, elas são capazes de alterar a capacidade de alguns genes serem mais ou menos expressos e também fatores de transcrição que, por sua vez, afetam genes relacionados a como as proteínas interagem com o DNA.

"Preencher essa lacuna de conhecimento é particularmente relevante no que diz respeito às alterações epigenéticas em órgãos que controlam o metabolismo, como o cérebro, o tecido adiposo, o fígado e os músculos. Entender e identificar os mecanismos específicos afetados pela sinalização de adipocinas que levam à programação metabólica são de fundamental interesse para orientar o desenvolvimento de estratégias futuras para prevenir e tratar a obesidade, diabetes e suas inúmeras comorbidades", afirma o pesquisador.

Agência Fapesp

Foto: reprodução Freepik