Um estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública de Harvard em conjunto com a Clínica de Fertilidade do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, constatou que homens que usam cuecas mais largas possuem maior concentração de espermatozoides.
A pesquisa, publicada na revista Human Reproduction, sugere que determinados tipos de cueca que sejam muito apertadas podem inibir a produção de espermatozoides.
O estudo, que contou com a participação de quase 660 homens entre 32 e 39 anos que buscavam tratamento para fertilidade, coletou amostras dos sêmens dos participantes e contou com um questionário sobre o tipo de cueca que usaram nos três meses anteriores, como boxer e samba-canção.
Segundo Lidia Mínguez-Alarcón, principal autora do estudo e pesquisadora de Harvard, os resultados podem ajudar casais que buscam engravidar com apenas uma mudança simples.
Entre os participantes, 53% usavam samba-canção, e as análises mostraram que aqueles que usavam esse tipo de cueca tiveram 25% mais espermatozoides do que aqueles que usavam cuecas mais justas, como as boxers. Os homens que usavam cuecas samba-canção também tinham maior taxa de espermatozoides capazes de fertilizar um óvulo.
Os pesquisadores também coletaram amostras de sangue de cerca de 300 participantes, e as análises mostraram que aqueles que usavam samba-canção tinham 14% menos hormônio folículo estimulante (FSH). Este hormônio está relacionado com a sinalização de quando o corpo necessita intensificar a produção de espermatozoides.Esse resultado sugere que os homens que usam cuecas mais apertadas possuem maior contagem de FSH como maneira compensatória para aumentar a produção de espermatozoides para aumentar a fertilidade.
Testosterona é um hormônio produzido nos testículos, responsável por algumas características do sexo masculino. Tem papel fundamental na produção e no amadurecimento dos testículos, além de controlar o desejo e a potência sexual.
A diminuição da testosterona no organismo está ligada a alterações físicas e psíquicas do processo de envelhecimento, como fraqueza, redução da massa muscular e da vitalidade, depressão e perda das funções cognitivas.
Por outro lado, o excesso do hormônio também pode trazer prejuízos, como infertilidade, aumento da pressão sanguínea, acne severa, retenção de líquidos, aumento da próstata, diminuição dos testículos, impotência e alterações de humor.
Os anabolizantes, frequentemente usados por pessoas que buscam o aumento rápido da massa muscular, são drogas derivadas da testosterona. A reposição do testosterona também é utilizada em homens com baixa produção desse hormônio.
O endocrinologista Evandro de Souza Portes, da Sben (Sociedade Brasileira de Endocrinologia) e do serviço de endocrinologia do Hospital dos Servidores Públicos de São Paulo, explica que o consumo de doses elevadas de anabolizantes e, consequentemente, testosterona, sem acompanhamento médico, pode aumentar o nível de agressividade e impulsividade de uma pessoa.
“A testosterona em doses exageradas faz com que as pessoas fiquem mais agressivas. Elas passam a ter uma sensação de força maior, ficam mais suscetíveis a momentos de explosão, ficam mais nervosos”, diz. As doses de testosterona devem ser determinadas por um médico e varia de acordo com o paciente.
Mas o próprio especialista salienta que essa mudança acontece a partir de doses elevadas do hormônio. É diferente, por exemplo, do paciente que, por algum motivo de saúde, deixa de produzir testosterona e precisa fazer a reposição – este indivíduo vai ficar com um nível normal do hormônio, segundo ele.
"Tudo depende da dose de testosterona. O hormônio é uma medicação para muitos pacientes, pessoas que, por causa de alguma doença, deixam de produzir a testosterona e precisam repor. Quando isso é feito em doses adequadas, a pessoa não vai ficar agressiva, mas quando se faz uso de doses muito elevadas, a pessoa pode ficar muito agressiva".
Na última semana, a Polícia Civil do Paraná encontrou diversos frascos de anabolizantes na casa do biólogo Luís Felipe Manvailer, 32. Na segunda-feira (6) ele foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná por feminicídio (nome que se dá ao assassinato de uma mulher, quando causado pelo fato de ela ser mulher) com três qualificadoras: motivo fútil, morte mediante asfixia e uso de meio que dificultou a defesa da vítima. Além disso, ele também foi denunciado por cárcere privado e fraude processual.
O biólogo é acusado de matar a esposa, a edvogada Tatiane Spitzner, 29. Câmeras do condomínio onde eles moravam registraram cenas de extrema violência. Por mais de 20 minutos, o biólogo agride a advogada na garagem e no elevador.
Luís Felipe está preso na Penitenciária Industrial de Guarapuava. Dias antes do crime, em mensagem para uma amiga, Tatiane contou que desconfiava que o marido estava fazendo uso de anabolizantes. “Mudou completamente, não conheço mais a pessoa que tenho do meu lado”, disse a advogada, como divulgou o RicMais, parceiro da RecordTV no Paraná.
Substância pode potencializar características agressivas
Além de mudar o comportamento de uma pessoa, a testosterona presente nos anabolizantes também pode potencializar algumas características como a irritabilidade, a agressividade e a impulsionalidade.
O psiquiatra Diego Tavares, do Hospital das Clínicas da USP, explica que tudo depende da predisposição do indivíduo para doenças psiquiatras. "Se a pessoa tiver risco para doença psiquiátrica, o uso de doses exageradas de anabolizantes podem levar a quadros de obsessão e ciúmes patológicos", diz.
Segundo o especialista, a testosterona que está presente nos anabolizantes causa efeito no sistema nervoso central, mas isso depende da quantidade de receptores e da sensibilidade que cada indivíduo tem para o hormônio. "E isso não tem como prever porque o indivíduo só vai saber que têm essa sensibilidade quando entrar em contato com a substância”, diz Tavares.
O médico explica que em grande parte das pessoas o efeito no cérebro é pequeno, ficam mais evidentes apenas os efeitos anabólicos, aqueles que afetam o crescimento muscular. Mas, em alguns indivíduos com predisposição, podem surgir mudanças no comportamento. São alterações chamadas de "quadros maníacos induzidos por substâncias" e que se caracterizam por mudanças de humor, aumento de energia e impulsividade.
"A pessoa fica com humor agressivo, pavio-curto e sensível a brigar. Tende a responder aos estímulos sem prever as consequências, perde o filtro, sabe distinguir o certo e o errado, mas, às vezes, não consegue filtrar o comportamento e fica com energia aumentada podendo, inclusive, dormir menos”.
O psiquiatra explica que essas alterações podem ocorrer com outras substâncias de maneira diferente, por exemplo, no uso de álcool. Ao ingerir uma bebida alcóolica, alguns infivíduos ficam com as mesmas alterações, mas com humor eufórico: alegria excessiva, empolgação e exagero. O álcool também pode favorecer a impulsividade e a reação exagerada, mas o efeito da bebida costuma desaparecer assim que passa o efeito da substância.
Já as substâncias contidas nos anabolizantes podem permanecer no organismo por cerca de quatro a seis meses, dependendo do tipo de testosterona injetada. Por isso a mudança de comportamento pode perdurar durante longos períodos, não apenas por algumas horas.
“Quem convive com uma pessoa que não tinha um comportamento agressivo prévio nem sempre percebe uma mudança no humor e na impulsividade por serem mudanças leves e muitas vezes reativas a eventos realmente estressantes", diz.
Segundo o psiquiatra, o que auxilia na identificação de quadros maníacos induzidos por substâncias é uma mudança no comportamento prévio e a presença de alterações persistentes de comportamento. Mesmo que sejam reações a fatores estressantes, são claramente desproporcionais, como ficar intolerante, procurando briga, agressivo e hostil.
"Mesmo que as reações intensas e exageradas sejam pontuais, a pessoa permanece com a predisposição para mudar o humor na maior parte do tempo, enquanto durar o efeito da substância”, explica Tavares.
Má alimentação, falta de exercício, obesidade e até a hereditariedade são fatores de risco conhecidos do diabetes tipo 2. E a fumaça liberada pelo escapamento dos automóveis?
Uma equipe da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, conduziu um estudo, o maior realizado até hoje, relacionando a doença com as emissões de dióxido de carbono (CO2).
De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica The Lancet Planetary Health, 14% dos casos de diabetes registrados no mundo em 2016 estavam relacionados a partículas poluentes na atmosfera.
Ou seja, 3,2 milhões de pessoas contraíram diabetes tipo 2 devido à poluição do ar. Apenas nos Estados Unidos, observa o estudo, a contaminação atmosférica levou ao surgimento de 150 mil novos casos em 2016.
"Nossa pesquisa mostra um vínculo significativo entre a poluição do ar e o diabetes em todo o mundo", disse Ziyad Al Aly, professor de medicina da Universidade de Washington e principal autor da pesquisa.
Mas de onde vem essa conexão?
Partículas minúsculas
Os cientistas examinaram uma partícula chamada PM2.5, cerca de 30 vezes menor que um fio de cabelo humano. Elas são emitidas pela maioria das fábricas ao redor do mundo e também emanam de carros e caminhões de carga nos Estados Unidos.
O tamanho é exatamente o que torna a partícula mais perigosa. Carregada com metais tóxicos, a PM2.5 pode penetrar facilmente nos pulmões e, a partir daí, entrar na corrente sanguínea. Dessa forma, pode passar para diferentes órgãos e causar inflamação, condição que favorece a resistência à insulina.Com o tempo, pode afetar o pâncreas, que não consegue bombear insulina suficiente para compensar. É então que o diabetes aparece.
"A exposição a poluentes do ar pode levar a alterações significativas no sistema nervoso, estresse devido à oxidação, inflamação, estresse do retículo endoplasmático, morte celular programada e levar a alterações metabólicas na homeostase da glicose e insulina, incluindo intolerância à glicose e menor sensibilidade à insulina", diz o texto.
As consequências das partículas PM2.5 podem ser muito piores em países e cidades com altos níveis de poluição atmosférica, e onde o controle da emissão de CO2 não existe ou não é respeitado.
No México, as cidades de Monterrey, Toluca, Salamanca, León, Irapuato, Silao, Puebla, além da capital Cidade do México, excedem bastante os níveis de PM2.5 recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), afirma um relatório de 2016.Ainda segundo a OMS, existem 420 milhões de pessoas no mundo com diabetes, a grande maioria do tipo 2. No caso do México, 14% da população sofre com a doença, que também é a principal causa de morte entre os mexicanos, segundo a organização.
No Brasil, o número de pessoas com os diabetes tipo 1 e 2 subiu 61,8% na última década, de acordo com o Ministério da Saúde.
O método
Estudos anteriores tentaram vincular a poluição e o diabetes tipo 2, mas nenhum foi tão extenso quanto esse.
Para chegar às conclusões, os cientistas examinaram 1,7 milhão de americanos durante oito anos, período em que monitoraram seu índice de massa corporal.
As informações obtidas foram cruzadas com os dados das partículas encontradas no ar, coletado pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) e pela Nasa, agência espacial americana.
A repercussão de casos de suicídio e tentativas de autolesão entre jovens, principalmente estudantes, aumentou a percepção entre gestores e especialistas de que é preciso falar mais sobre o tema, ainda muito estigmatizado. Eles afirmam que o número de ocorrências segue uma tendência mundial de crescimento de mortes autoprovocadas na faixa etária mais jovem.
As entidades educacionais não divulgam levantamento específico sobre casos de suicídio entre universitários, mas em vários estados, perdas abruptas recentes têm motivado a adoção de medidas e estratégias para debater o tema e prevenir mortes precoces.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que jovens são mais suscetíveis aos sofrimentos emocionais e transtornos mentais, porque nesta fase há muita expectativa e insegurança em relação ao futuro. Além disso, são submetidos a muita pressão sobre decisões importantes que devem ser tomadas cada vez mais cedo, quando ainda não apresentam experiência e habilidades psíquicas para lidar com frustrações e situações de muita responsabilidade. “Essa fase de transição entre adolescência e a vida adulta acaba sendo conturbada, ainda mais na universidade, que é o lugar em que a pressão fica muito alta. Eu vejo por colegas do meu curso, pessoas que ficam adoecidas mentalmente pela exigência da academia”, explicou o psicólogo Renan Lyra, mestrando da Universidade de Brasília.
Os psicólogos explicam que as ocorrências podem estar relacionadas também a um sofrimento psíquico, que não chega a ser uma doença mental.
Apesar da falta de pesquisas sobre o assunto, outro fator que pode estar levando os jovens a atentarem contra a própria vida são as exigências do mundo para ter sucesso e ser perfeito em tudo e a uma cultura que estimula a competitividade entre as pessoas e não proporciona a aceitação do diferente.
“Esse momento tem exigido muito dos jovens. Eles precisam estar hiperconectados, ser empreendedores, ter sucesso, dar conta de mil coisas ao mesmo tempo. E aí tem uma série de questões, tanto mais voltadas para o sucesso acadêmico, emprego e também as relações familiares e com os outros. As pessoas estão mais intolerantes com o diferente e isso também causa sofrimento”, explicou o psicólogo Paulo Aguiar, membro do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Emergência médica
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o preconceito e o tabu em torno do tema ainda são os principais empecilhos para o diagnóstico precoce dos fatores de risco que podem levar a pessoa ao suicídio. A entidade alerta que cerca de 97% dos casos estão relacionados a transtornos mentais, como depressão (37%), bipolaridade, uso de substâncias psicoativas (23%), esquizofrenia e ansiedade (11%), entre outros.
“O índice de suicídio entre os jovens cresceu muito, porque nós temos hoje um consumo muito maior em relação ao uso de drogas, de álcool, de substâncias psicoativas de uma maneira geral. Isso levou a um desencadeamento maior de quadros psiquiátricos nos jovens, supressão do sono, pressão muito alta, ansiedade por resultado e performance. Isso fez com que os jovens ficassem mais sujeitos ao adoecimento”, explicou o diretor e superintendente técnico da ABP, Antônio Geraldo da Silva.
O médico alerta que as doenças psiquiátricas têm ficado mais prevalentes, porque as pessoas não procuram ajuda e, assim, não têm acesso ao tratamento adequado. “Tem gente que vai precisar só de medicamento, tem gente que vai precisar só de psicoterapia e tem gente que vai precisar de psicoterapia e medicamento. Varia de pessoa para pessoa e do diagnóstico que é feito”, completou o psiquiatra que é coordenador nacional da Campanha Setembro Amarelo (de prevenção ao suicídio)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida, número que representa 1,4% de todas as mortes do mundo. Depois da violência, o suicídio é o fator que mais mata jovens entre 15 e 29 anos. Para cada suicídio, ocorrem 20 tentativas.
Segundo o Ministério da Saúde, o índice de lesões autoprovocadas, entre elas, as tentativas de suicídio, predomina em mulheres brancas, na faixa etária da adolescência (10 a 19 anos) e adultos jovens (20 a 39). O número pode ser maior, já que, segundo o ministério, apenas uma em cada três pessoas que tentam suicídio é atendida por um serviço médico de urgência que deve notificar os casos.
“Está mais do que claro que o suicídio é uma emergência médica. Se alguém falar sobre esse assunto, tem que levar para o médico, tem que procurar um psiquiatra, é um fato, é uma doença que mata”, alertou o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva.
Atendimento especializado
Em Brasília, seis em cada dez atendimentos de crise psíquica realizados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) são relativos a pacientes entre 14 e 39 anos. A maioria deles foi atendida por apresentar comportamento suicida.
O serviço de urgência da capital federal é pioneiro no país em disponibilizar uma viatura exclusiva para atender casos de saúde mental. A equipe da viatura especializada conta com médicos psiquiatras, um assistente social ou psicólogo e um enfermeiro, todos capacitados para lidar com a chamada intervenção em crise.
Segundo Brenda Carla, enfermeira e gerente da Central de Informações Toxicológicas e Atendimento Psicossocial do Samu-DF, a viatura especializada atende a uma média de 150 casos por dia. Os chamados para intervenção em episódios de crises de saúde mental (com possibilidade de atentado à própria vida) duplicaram do ano passado para cá.
A enfermeira avalia que o aumento pode ter ocorrido pela maior sensibilização da sociedade ou de profissionais da saúde que têm notificado melhor as tentativas de autolesão. Ela ressalta que os números podem ser ainda maiores, uma vez que os casos são subnotificados e muitas ocorrências de suicídio são tratadas pelas outras viaturas como casos de atropelamento ou outro tipo de acidente.
Outro dado considerado preocupante é o aumento de chamados pelas escolas. Segundo a enfermeira, nos últimos meses, o Samu-DF atendeu pelo menos uma ocorrência por dia em ambiente escolar para socorrer adolescentes em crise.
A tendência motivou o serviço a estruturar um novo projeto para atualizar o chamado Samuzinho e trabalhar a prevenção de suicídios nas escolas. “Suicídio é uma das preocupações que a gestão pública tem que ter. Há 20, 30 anos nós não tínhamos o foco e a preocupação de que o quadro psíquico adoecia e matava”, alerta Brenda Carla.
“Os quadros psíquicos geram grande impacto para saúde pública e a população tem tido quadros depressivos que desencadeiam quadro suicida. É uma realidade que precisa ser tratada e prevenida”, completou Brenda.
O crescimento dos casos de saúde mental também motivou o Samu-DF a disponibilizar um profissional especializado em comunicação terapêutica no atendimento telefônico na Central 192. Esse profissional atua 24 horas para auxiliar no manejo de pacientes psiquiátricos, que demandam um tempo maior de atendimento do que a média normal - de dois a três minutos - que geralmente dispõem os outros médicos do Samu para decidir se enviam a viatura para a ocorrência.
Prevenção
A OMS alerta que 90% dos casos de suicídio poderiam ter sido evitados. E o Ministério da Saúde ressalta que as pessoas que já tentaram o suicídio devem ser o principal foco das ações de vigilância e de ações preventivas dos profissionais e serviços de saúde.
Em Brasília, o Samu acompanha os pacientes que sobreviveram à tentativa de suicídio. Os profissionais de saúde e assistentes sociais são orientados a ligar de três a cinco vezes para o paciente ou para algum contato de sua família para saber se ele está em tratamento.
“Não adianta o Samu ir lá atender se ele [o paciente] não for acompanhado. A gente volta a ligar para o paciente para monitorar e evitar que ele tenha reincidência ou recaída de comportamento. Se ele relatar alguma dificuldade, a gente faz contato com a rede para ver se consegue garantir o atendimento e evitar que o paciente recorra ao 192, ou seja, uma urgência”, explicou Brenda.
Depois do atendimento de urgência pelo Samu, os pacientes são encaminhados para serviços da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), como os Centros de Atendimento Psicossocial (Caps) ou o Adolescentro, serviço do DF que atende adolescentes de 10 a 18 anos de idade que tenham algum transtorno mental, tenham sido vítimas de violência ou necessitem de acompanhamento em outras áreas, como nutrição e ginecologia.
A gerente do Samu, entretanto, se queixa da pouca sensibilização dos profissionais de saúde, principalmente os que atuam nos prontos socorros, onde muitas vezes os pacientes psiquiátricos ou os que estão em risco iminente de tirar a própria vida não são classificados de maneira adequada e não são acolhidos com a mesma urgência que outros casos devido à ausência de traumas físicos, preconceito ou falta de informação.
“O que acontece muito é que a gente pega paciente com tentativa de suicídio visualizada, com planejamento, leva para o hospital para garantir sua integridade física e o tratamento. Mas o pessoal acha que esse paciente é um peso a mais na unidade de saúde e que é um absurdo atender ele e deixar outro com infarto”, relatou Brenda.
“A própria população não tem entendimento e a gente tem trabalhado na humanização. Esse paciente é grave. É uma doença como as outras que precisam ser tratadas, acompanhadas e medicadas”, completou.
É preciso falar
Uma das abordagens de prevenção aos fatores de risco do suicídio é falar sobre o assunto com pessoas próximas e profissionais especializados. Segundo especialistas, a questão de saúde mental, no entanto, ainda é estigmatizada e pouco compreendida não só no meio acadêmico, mas na sociedade de forma geral.
“As pessoas não querem falar das doenças mentais. E o que mata são as doenças mentais, isso é óbito por suicídio e as pessoas não estão prestando atenção nisso”, alertou o psiquiatra Antônio Geraldo.
Para transformar esse imaginário social, alguns especialistas recomendam que a sociedade dialogue com mais naturalidade sobre as imperfeições, frustrações e saúde mental sem mitos, estigmatizações e preconceitos e crie ambientes que possam incorporar e aproximar as pessoas que têm passado por dificuldades emocionais ou psíquicas.
“A gente precisa entender que saúde mental faz parte da saúde do sujeito como um todo, não é uma coisa separada. E geralmente a gente separa, porque existe ainda, infelizmente, um imaginário social sobre o que é a doença ou o transtorno psíquico carregado de muito preconceito. Há um imaginário de que as pessoas que apresentam transtorno não vão dar conta, são fracassadas e, a partir disso, de alguma forma a sociedade isola e afasta essas pessoas”, explicou o representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP) Paulo Aguiar.
Para os psicólogos, a família e a escola podem ter papéis importantes se permitirem ou facilitarem o desenvolvimento da subjetividade e da saúde mental das pessoas, de forma que elas tenham capacidade para lidar com as situações difíceis de forma mais tranquila.
“O sujeito desenvolvendo sua subjetividade num ambiente que possa se expressar, ser respeitado, emitir sua opinião, construir suas ideias, tenha liberdade, isso tudo vai dando condição para que ele construa processos de subjetivação que possam deixá-lo mais fortalecido para enfrentar a vida”, afirmou Aguiar.
Veja abaixo uma lista de serviços que atuam na prevenção a suicídios:
Entidades
- Associação Brasileira de Psiquiatria
- Conselhos Federal e Regionais de Psicologia
Serviços de saúde da rede pública
- Caps (Centros de Atenção Psicosocial)
- Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, postos e centros de Saúde)
Emergência
- Samu 192
- Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e prontos socorros de hospitais