reinfecaopermanenciaCientistas confirmaram três casos de reinfecção pelo novo coronavírus em Hong Kong, na Bélgica e na Holanda. Há outros relatos do tipo em países como Brasil e Estados Unidos, mas eles ainda não foram confirmados por análises de pesquisadores. Ser reinfectado é diferente de apresentar melhora, mas permanecer com o vírus no corpo e meses depois voltar a ter sintomas.

"[Reinfecção] é quando o indivíduo se contamina duas vezes com um vírus, mas um pouquinho mudado. Ao olhar o código genético, é possível ver diferenças pequenas", explica a infectologista Ingrid Cotta da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.


Os cientistas de Hong Kong, por exemplo, afirmaram ter encontrado 23 nucleotídeos diferentes, estruturas que compõem o RNA (material genético) do vírus. Essas foi uma das distinções que permitiram identificar linhagens diferentes do coronavírus e confirmar o primeiro caso de reinfecção.

“Nossos resultados provam que a segunda infecção é causada por um novo vírus que ele adquiriu recentemente, em vez de uma disseminação viral prolongada”, explicou Kelvin Kai-Wang To, microbiologista clínico da Universidade de Hong Kong, ao The New York Times.

Análise de relações entre espécies e mutações
De acordo com Ingrid, para confirmar um caso de reinfecção é preciso estudar a árvore filogenética, que detalha as relações entre as espécies de vírus e suas mutações. Ela destaca ainda que o novo coronavírus tem poucas possibilidades de mutação.

"Quanto mais distante da origem [da árvore] maior a chance de ser um vírus de linhagem diferente", pondera.

A especialista afirma que, a princípio, todas as pessoas estão sujeitas a uma reinfecção, porém são necessários mais estudos sobre esses casos. "Tudo isso é importante para a gente analisar o quanto [essas descobertas] impactam no controle da pandemia. A imunidade de rebanho pode não ser possível", destaca.

Além disso, verificar se essas linhagens distintas respondem da mesma forma às vacinas permitirá saber se casos de reinfecção podem afetar a busca por um imunizante seguro e eficaz contra a covid-19, como explicou em entrevista ao R7.

Reinfecção, reativação e sequelas
A médica ainda ressalta que é preciso diferenciar casos de reinfecção, reativação e sequelas deixadas pela covid-19.

"O conceito de reativação a gente usa para outras doenças. No caso do coronavírus, a gente não entende que ele esteja escondido, como o HIV [vírus que causa a Aids] faz para não ser atacado", explica.

"A outra coisa é que pode ter sequelas, porque a covid-19 é viral e depois passa a ser inflamatória. Então, discernir uma sequela de uma reinfecção é importante", completa.


Essa reação inflamatória é causada pela reação exacerbada do sistema imunológico à ação do novo coronavírus. Tal situação desencadeia um efeito cascata e provoca quadros mais graves da infecção.

 

R7

Foto: Pixabay/reprodução

Após analisar o caso de uma menina de 11 anos de idade que contraiu covid-19 e foi a óbito, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram que o Sars-CoV-2, nome científico do novo coronavírus,  chegou a atingir células cardíacas. O resultado do estudo foi publicado no periódico The Lancet Child & Adolescent Health, associando, pela primeira vez, a infecção pelo vírus ao quadro de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), que pode acometer vários órgãos, tanto em crianças como em adolescentes.

Conforme relatam os cientistas, integrantes do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, a criança não tinha doenças preexistentes e, mesmo assim, desenvolveu um quadro grave de saúde. Apenas 28 horas depois de ter sido internada em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), apresentou disfunção cardíaca e choque cardiogênico, precisando de ventilação mecânica pulmonar e medicações para estabilizar seu sistema cardiovascular. A situação, classifica a médica Juliana Ferranti, que participou do estudo, é "muito rara dentro da pediatria".

A equipe médica que atendeu a paciente realizou exames de sangue, radiografia, tomografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma, que confirmaram a presença de um processo inflamatório e o comprometimento severo do coração. Após o falecimento da criança, foram feitas uma análise microscópica de tecidos de diversos órgãos do corpo e uma pesquisa de RNA viral em pulmões e coração. Essa segunda bateria de exames confirmou a relação entre covid-19 e a SIM-P, revelando que a menina teve de fato um quadro leve de pneumonia, causada pelo vírus Sars-CoV-2, e a presença de microtrombose pulmonar. Concluiu-se também que a causa de morte foi a inflamação [miocardite] do coração, que chegou ao estágio de necrose e perda de fibras cardíacas.

Segundo a professora Marisa Dolhnikoff, uma das autoras do artigo, o que se observa por outras pesquisas é que a maioria das crianças com SIM-P consegue se recuperar da doença, se tiverem o devido tratamento. Ela acrescenta, porém, que o trabalho alerta para a possibilidade de que sequelas cardíacas remanesçam, ainda que recebam cuidados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem alertando sobre a possibilidade de haver ligação entre a covid-19 e a SIM-P, tema que chegou a ser tratado em seminários, por especialistas da Espanha. No início deste mês, o Ministério da Saúde emitiu nota em que destaca o aviso da OMS e informa que tem monitorado casos da síndrome em crianças e adolescentes com idade entre 7 meses e 16 anos. Até julho, 71 casos foram registrados em quatro estados, sendo 29 no Ceará, 22 no Rio de Janeiro, 18 no Pará e 2 no Piauí, além de três óbitos no Rio de Janeiro.

 

Agência Brasil

Uma notícia que circula nas redes sociais afirma que o laser infravermelho dos termômetros utilizados na porta de estabelecimentos comerciais como forma de prevenção à covid-19 pode causar danos ao cérebro e à glândula pineal, que produz o hormônio melatonina, que regula o ciclo do sono. A informação atribuída a uma suposta enfermeira australiana é falsa e não tem nenhum indício científico, segundo o infectologista Marcelo Otsuka, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Ele explica que o laser não tem capacidade de atravessar a pele nem a calota craniana. “Esses instrumentos são largamente testados e avaliados. Não haveria razão para ter essa autorização se ele tivesse algum perigo. Tem autorização da Anvisa, da Organização Mundial da Saúde, do grupo europeu…”.


O infectologista alerta que o aparelho não deve ser apontado diretamente para os olhos. “Aí sim poderia causar uma lesão na retina, mas, se usado adequadamente, não traz riscos", afirma.


Segundo o médico, esse tipo de termômetro é o mais indicado como forma de prevenção na porta de estabelecimentos, pois evita o contato entre as pessoas. “Ele tem vantagens e desvantagens. A grande desvantagem é que ele não é tão sensível, então pode dar diferença na medição se for feito muito de longe.”

O médico explica que essa é uma medida importante de prevenção enquanto junção de fatores. “Tudo que você puder fazer para minimizar o risco vale, mesmo sabendo que apenas 20% a 30% das pessoas vão apresentar febre.”

Segundo ele, cerca de 60% das crianças infectadas não vão apresentar manifestação nenhuma; entre as que apresentam sintomas, de 30% a 40% vão ter febre. Entre os adultos, de 40% a 50% não apresentam sintomas.

“O termômetro tem que ser utilizado, mas junto com outras medidas de prevenção, como o distanciamento, o uso de máscaras e a higiene das mãos, que nesses locais é mais fácil por meio do álcool em gel. Além disso, principalmente, a consciência de que se eu tenho contato com alguém que está doente ou eu apresento sintomas, não devo sair de casa.”

 

R7

 

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi reticente, nessa segunda-feira (24, ao o uso de plasma de pacientes recuperados de covid-19 para tratar os doentes. Segundo a OMS,  os indícios que apontam sua eficiência continuam sendo de "baixa qualidade", apesar de os Estados Unidos (EUA) erem emitido uma autorização emergencial para essa terapia.

O chamado plasma convalescente, que é usado há tempos para tratar doenças, surgiu como a polêmica mais recente da corrida por terapias contra a covid-19.

No domingo (23), a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de remédios dos Estados Unidos, autorizou seu uso depois de o presidente Donald Trump acusar a agência de segurar o lançamento de vacinas e terapias por motivos políticos.

A técnica envolve a retirada de plasma rico em anticorpos de pacientes que se recuperaram da covid-19 para dá-los àqueles que estão sofrendo infecções ativas graves, na esperança de que se recuperem mais rapidamente.

Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, disse que só alguns testes clínicos com plasma convalescente produziram resultados, e que até agora os indícios não foram convincentes o bastante para aprová-lo, a não ser como terapia experimental. Embora alguns testes tenham mostrado algum benefício, explicou ela, foram pequenos e seus dados são inconclusivos por enquanto.

"No momento, ainda são indícios de muito baixa qualidade", disse Swaminathan em entrevista coletiva. "Por isso, recomendamos que o plasma convalescente ainda seja uma terapia experimental, ele deveria continuar sendo avaliado em testes clínicos aleatórios bem concebidos."

Os estudos são conflitantes: um estudo chinês indicou que o plasma de duas pessoas que se recuperaram do novo coronavírus não fez diferença em pacientes hospitalizados, enquanto outra análise de diversos estudos mostrou que ele pode diminuir o risco de morte.

Um desafio, acrescentou Swaminathan, é a variabilidade do plasma, já que ele é colhido de muitas pessoas, produzindo um resultado menos padronizado do que os anticorpos monoclonais criados em laboratório.

Bruce Aylward, conselheiro-sênior da OMS, acrescentou que, além da eficiência do plasma, também existem riscos de segurança em potencial que precisam ser verificados. "Existem vários efeitos colaterais", disse ele, que vão de febres suaves a lesões pulmonares graves ou sobrecarga circulatória. "Por essa razão, os resultados de testes clínicos são extremamente importantes."

Neste mês, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA anunciou que está concedendo milhões de dólares para um teste de estágio intermediário de plasma convalescente.

 

Reuters