Apesar de ter o pulmão como principal alvo, a covid-19 se mostrou uma doença sistêmica capaz de afetar diversos órgãos. Ela gera uma inflamação em todo o organismo - principalmente nos casos mais graves - que pode deixar sequelas ou trazer à tona doenças silenciosas, como a pressão alta e o diabetes.
O cardiologista Hélio Castello, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que a covid-19 não causa essas doenças, mas pode fazer com que elas saiam de um estado latente e comecem a dar sinais de existência no organismo de quem teve.
"Pode ser uma pessoa com predisposição para a hipertensão. Quando ela teve a infecção, houve uma descompensação do organismo, por causa de uma série de alterações desencadeadas pela covid-19, e o aparecimento de uma doença que estava latente", detalha. A pressão alta e o diabetes, inclusive, colocam os indivíduos no grupo de risco da covid-19, conforme lembra o médico.
O especialista destaca ainda que a hipertensão é uma doença crônica que, de início, é discreta. Por essa razão, pode ser imperceptível. "Vai aumentando muito lentamente. Então, o organismo vai se adaptando e a pessoa não percebe", descreve.
Em um adulto, a média normal de pressão arterial é de 120 mmHG milímetros de mercúrio para sístole (contração do coração) e de 80 mmHG para diástole (relaxamento do coração). "Quanto mais jovem [a pessoa], mais baixa tende a ser a pressão. A partir dos 40 anos de idade uma pressão de 13/9, normalmente considerada alta, é aceitável", afirma Castello.
De acordo com ele, ter familiares hipertensos, em especial pessoas próximas - como mãe, pai e irmãos - é o fator de risco mais importante para a doença. Por isso, é preciso ter atenção redobrada aos primeiros sintomas, que incluem dor de cabeça, perda de fôlego, cansaço, inchaço discreto nas pernas, visão embaçada e muita vontade de urinar, principalmente à noite.
Uma infecção anterior pelo vírus da zika pode deixar um paciente mais vulnerável à versão grave da dengue, apontam pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, em estudo publicado nesta quinta-feira (27) pela revista "Science".
Os dois vírus são transmitidos pelo Aedes aegypti, mosquito facilmente encontrado no Brasil. Em dezembro de 2019, 2,6 mil casos suspeitos de pacientes com malformações do zika ainda eram investigados. A doença impactou a gestação de mães infectadas e milhares de bebês nasceram com microcefalia entre 2015 e 2016. No caso da dengue, 840 pessoas morreram devido à infecção no ano passado - mais de 6,4 mil desde 2008.
O estudo da instituição americana observou os dados de dois grupos de crianças no Nicarágua que viveram o auge da pandemia do zika em 2016 no país, e também do surto de dengue em 2019. Os resultados mostraram que anticorpos gerados pelo corpo contra o zika podem interagir com o vírus da dengue negativamente, piorando o quadro. De acordo com os pesquisadores, essa informação precisa ser levada em consideração durante a produção de vacinas contra as doenças.
"O principal ponto que o nosso estudo estabelece é que a infecção anterior do zika aumenta significativamente o risco de formas sintomáticas e mais graves da dengue", disse a autora principal do estudo, Leah Katzelnick, pós-doutoranda da Universidade da Califórnia, na Escola de Saúde Pública de Berkeley.
"A descoberta levanta as seguintes questões: uma vacina direcionada para o zika pode colocar as pessoas em risco de desenvolver a versão grave da dengue? Como é possível desenvolver uma vacina contra o zika que induza apenas 'anticorpos bons' e não induzam a versões prejudiciais de outras doenças?", explicou.
A dengue é causada por quatro tipos de flavivírus - gênero da dengue, zika, chikungunya - que são intimamente relacionados com sintomas e gravidade ligeiramente diferentes. Há uma chance maior de desenvolver a versão mais grave caso a pessoa seja infectada pela segunda vez. Desde 2015, quando o zika foi detectado no Brasil pela primeira vez, os cientistas tentam entender se isso também é possível enter outros "vírus parentes".
Os dados utilizados são resultado de uma coleta que iniciou em 2004, com cerca de 3.800 crianças que foram permanentemente monitoradas em Manágua, capital da Nicarágua.
"O zika ainda é um problema horrível que tem muitas considerações éticas complicadas, em parte devido à forma como as mulheres grávidas são afetadas, assim como os seus filhos", disse Katzelnick.
"Eu realmente espero que os cientistas continuem a trabalhar para encontrar maneiras de desenvolver uma vacina segura, mesmo que seja mais desafiador do que a gente pensava no início".
A Rússia está se preparando para aprovar uma segunda vacina contra covid-19 no final de setembro ou início de outubro, disse a vice-primeira-ministra, Tatiana Golikova, nesta quarta-feira (26).
Falando em uma reunião de governo televisionada, Golikova disse ao presidente Vladimir Putin que testes clínicos de estágio inicial da vacina, desenvolvida pelo Instituto de Virologia Vector da Sibéria, serão finalizados até o final do mês que vem.
"Até o dia de hoje, não houve complicações entre aqueles vacinados nos estágios inicial e intermediário dos testes", disse ela.
No início deste mês, a Rússia se tornou o primeiro país a conceder uma aprovação regulatória a uma vacina contra covid-19 depois de menos de dois meses de testes em humanos.
A vacina aprovada, batizada de "Sputnik V" em homenagem ao primeiro satélite do mundo, um feito da antiga União Soviética, foi elogiada pelas autoridades russas por ser segura e eficiente.
Mas especialistas ocidentais estão céticos com a aprovação russa da "Sputnik V", desaconselhando seu uso até que ela passe por todos os testes e etapas regulatórias internacionalmente aprovados.
O fundo soberano da Rússia disse nesta quarta-feira (26) que a fase final dos testes clínicos da "Sputnik V" estão começando.
O fundo ainda disse que 40 mil pessoas participarão dos testes finais e que testes semelhantes também serão realizados em outros cinco países.
Sergei Sobyanin, prefeito de Moscou, disse que os moradores da capital russa podem se inscrever para participar dos testes.
Os testes finais, realizados em um número grande de pessoas, normalmente são considerados precursores essenciais para uma vacina obter aprovação regulatória.
Após um levantamento do Imperial College London, que apontou que o Brasil, pela primeira vez na pandemia, teve uma desaceleração na taxa de transmissão da Covid-19, uma discussão veio a tona: estamos atingindo a chamada imunidade de rebanho ou imunidade coletiva? Imunidade de rebanho é o que acontece quando muitas pessoas ficam imunes a uma determinada doença, seja porque foram vacinadas ou porque foram contaminadas pelo vírus em si e adquiriram imunidade (leia mais abaixo).
O sarampo, por exemplo, que é uma doença muito contagiosa, precisa ter mais de 90% das pessoas imunizadas para que o vírus pare de circular. Já sobre a Covid-19, os números ainda são incertos. Estudos iniciais apontavam que essa imunidade precisaria ser de 60%. Outros trabalhos dizem que a porcentagem pode ser de 50%, 40% e até menos de 20%.
Além do estudo do índice do Imperial College London, a possibilidade de a imunidade coletiva estar ocorrendo no Brasil vem também dos números de casos que estão caindo em alguns lugares. A média móvel de casos confirmados no dia 25 de agosto teve uma queda de 15% em relação aos casos registrados em 14 dias.
“Em muitos estados houve uma circulação do vírus sem controle, com muitos óbitos. E mesmo com a flexibilização, não está tendo um aumento importante no número de casos. Um exemplo é o Norte. A maioria dos estados tem curvas descendentes. Alguns estados do Nordeste também. É um indicativo de controle da doença”, afirma o infectologista da Fiocruz Julio Croda.
Na terça-feira (25), a Secretaria de Saúde do Maranhão (SES) divulgou um inquérito sorológico que estima que 40% da população do estado foi infectada pelo coronavírus. O número divulgado é 19 vezes maior que o número atual de casos notificados no estado, que chegou a 144.895 infectados na segunda (24).
Para Croda, a imunidade coletiva pode ser a explicação para o que está acontecendo no Brasil. Entretanto, vale ressaltar que isso não deve ser motivo de comemoração e relaxamento das medidas de prevenção. “Isso não significa que não teremos muitos casos e que não vai morrer muita gente. Vamos diminuir a velocidade, mas muita gente vai ficar doente e muita gente vai morrer."
Renato Kfouri, presidente do departamento de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, também acredita que algumas cidades estão perto de atingir a imunidade coletiva. "Essa imunidade está se instalando em cidades como Manaus, São Paulo". Mas ele alerta que ainda não conhecemos a duração dessa imunidade.
Outro problema para chegar ao número real de casos no Brasil é a falta de teste. O Brasil testa pouco a população e o número de infectados e mortos pode ser muito maior do que o registrado. "Os testes são falhos e devemos ter mais pessoas infectadas", completa Kfouri. E qual o custo dessa imunidade coletiva? Desde o começo da pandemia no Brasil, mais de 117 mil pessoas morreram e os casos confirmados de Covid-19 passam de 3,7 milhões. A imunidade de rebanho vem junto com todos esses óbitos.
Para Julio Croda, não dá para tratar a imunidade de rebanho como política pública de saúde.
“Nós estamos atingindo essa imunidade coletiva à custa de muitas vidas. Somos o segundo país com mais casos e óbitos [o Brasil está atrás só dos EUA]. Essa imunidade não anula tudo que aconteceu”, enfatiza Croda.
Essa também é a opinião da infectologista do Instituto Emílio Ribas Rosana Richtmann. Atingir a imunidade coletiva naturalmente tem um custo muito alto, com muitas vidas perdidas. “Você pode adquirir essa imunidade com todo mundo doente, infectado naturalmente. Nesse caso, o preço é muito alto, à custa de muitas vidas."
O infectologista da Fiocruz alerta que não podemos relaxar e que as medidas de prevenção devem continuar, como lavar as mãos regularmente, usar máscaras, manter o distanciamento social. “Só teremos segurança quando tivermos a vacina."
“O importante é seguir com as medidas de prevenção para ganhar tempo até ter a vacina” - Rosana Richtmann.
O que é a imunidade de rebanho? A imunidade de rebanho é o termo usado para se referir à situação em que muitas pessoas adquirem anticorpos ou uma resposta imunológica a uma determinada doença infecciosa. Geralmente, o termo é usado para vacinas. O agente patogênico passa a encontrar menos pessoas sem imunidade e encontra dificuldade em se propagar, ou seja a cadeia de transmissão da enfermidade é interrompida.
“É basicamente fazer alguma barreira imunológica. Bloquear a cadeia de infecção”, explica Rosana Richtmann.
O sarampo, por exemplo, que é uma doença muito contagiosa, precisa ter mais de 90% das pessoas imunizadas para que o vírus pare de circular. Já sobre a Covid-19, os primeiros estudos mostravam que essa imunidade precisa ser de 60%. Outros trabalham com a porcentagem de 50%, 40% e até menos de 20%.
Existem duas maneiras de atingir essa imunidade: a vacina, que no caso da Covid-19 não está disponível, ou quando a epidemia sai de controle e contagia muita gente. No segundo caso, mais e mais pessoas vão se contaminando, até que se atinge a imunidade coletiva, porque são tantas pessoas contaminadas que o vírus "não acha" mais ninguém para infectar.