Um estudo publicado na revista "Nature" nesta quinta-feira (8) investigou se uma mutação detectada na proteína Spike, responsável pela entrada do novo coronavírus nas células, poderia influenciar os resultados de uma futura vacina contra a Covid-19. As evidências mostraram, pelo menos em laboratório, que a mudança genética não deverá reduzir a eficácia.
A proteína Spike é responsável pela ligação com o receptor ACE2 presente nas células, a porta de entrada para o vírus. Por isso, ela é o alvo principal de vacinas em desenvolvimento contra a doença. A Spike tem formato parecido com um espinho e fica localizada na coroa do SARS CoV-2.
Nos últimos meses, alguns estudos relataram uma mutação no código genético da proteína S. Uma única mudança de nucleotídeo - a base para a formação do RNA - ocorreu na posição 23.403 do genoma. A sequência onde ocorreu a troca está em 75% dos códigos dos coronavírus publicados no mundo até 1º de julho.
A mutação, chamada de "D614D", tem uma vantagem estrutural que poderia estar associada a um aumento da transmissibilidade e da carga viral, da transferência do código genético entre vírus e células humanas, e também na letalidade. Os pesquisadores passaram a publicar uma série de estudos questionando o efeito sobre os projetos de vacina.
A presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Nísia Trindade, disse nesta quinta-feira (8) que prevê a produção de até 265 milhões de doses da vacina desenvolvida em parceria com a universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca contra a covid-19 no ano que vem.
O número citado por Nísia leva em conta a previsão de finalização das 30 milhões de doses iniciais da vacina já em janeiro de 2021. "O acordo prevê a distribuição de 100 milhões de doses no primeiro semestre e a produção totalmente nacional a partir do segundo semestre de 2021", destacou a presidente da Fiocruz.
“É um trabalho incansável que a nossa equipe está realizando, com a possibilidade de 100 a 165 milhões de dose para o segundo semestre, dependendo da complexidade do processo de incorporação da tecnologia”, afirmou. Ela revela custo de cada dose do imunizante é de US$ 3,16.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, disse que as parcerias firmadas pelo governo federal já garantem 140 milhões de doses de vacina contra a covid-19. “Já temos garantido, para o primeiro semestre de 2021, o acesso para 140 milhões de doses de vacina para aderir ao nosso programa nacional de imunização", disse Franco, que vê uma movimentação favorável para o início da vacinação no primeiro trimestre do ano que vem.
Além do acordo com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para a produção de 100,4 milhões de doses do imunizante, o número leva em conta e da inserção do Brasil na da aliança Covax Facility, iniciativa que visa impulsionar o desenvolvimento de vacinas para combater a covid-19.
Segundo o secretário, a contratação das doses da Covax tem o objetivo de atender pelo menos mínimo de 10% da população brasileira. Do total, 4,441 milhões de doses serão destinadas a maiores de 80 anos, 10,766 milhões a pessoas com morbidade e 5,034 milhões a profissionais da saúde.
O secretário de vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, admite que "toda vacina tem um risco", mas garante que ele "não pode ser maior do que o benefício". "Precisamos de uma resposta rápida, sem abrir mão de critérios técnicos de segurança, qualidade e eficácia", afirmou.
Medeiros, no entanto, não descarta a "flexibilização dos critérios" e permitir a disponibilização de vacinas com eficácia menor do que 70% devido à gravidade da situação. "Flexibilizar não quer dizer abrir mão dos critérios de segurança. "Qualquer uma das tecnologias escolhidas para ser trazida precisará ter seus dados avaliados pela agência reguladora", garantiu o secretário de vigilância em saúde.
Os anticorpos contra o novo coronavírus gerados por pessoas infectadas continuam presentes no sangue e na saliva destes indivíduos por pelo menos três meses após a manifestação dos primeiros sintomas da doença, segundo dois estudos publicados na quinta-feira (8) pela revista Science.
As pesquisas, que buscam respostas para uma das perguntas mais comuns sobre a Covid-19, se somam a outras já existentes sobre a imunidade ao vírus em pessoas curadas, e algumas delas apontam que os anticorpos podem continuar protegendo os organismos por até seis meses.
Ambos os estudos publicados na quinta-feira (8) concluíram que as imunoglobulinas G (IgG) são os anticorpos de maior duração e que podem ser detectados no sangue e na saliva dos pacientes por pelo menos três meses, o que faz com que sejam índices "promissores" para a detecção e avaliação das respostas imunológicas à Covid-19.
Além disso, o fato de que os níveis desses anticorpos sejam semelhantes tanto no sangue como na saliva, sugere que esta última poderia passar a ser utilizada como alternativa para a realização de testes de IgG.Um dos estudos, conduzido pela imunologista Anita Iyer, da Universidade de Boston (EUA), analisou 343 pacientes americanos com Covid-19 - 93% dos quais tiveram que ser internados pela doença -, durante um máximo de 122 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas, e comparou seus níveis de anticorpos com os encontrados em amostras de sangue de 1.548 pessoas coletadas antes da pandemia.
Os resultados obtidos apontaram que as imunoglobulinas M (IgM) e A (IgA) permaneciam ativas por um curto período, se equiparando a níveis de concentração insignificantes 49 e 71 dias, respectivamente, após os primeiros sintomas.
Por outro lado, o número de imunoglobulinas G contra a proteína Spike do coronavírus - recurso que o vírus usa para invadir as células humanas - "apresentou uma queda lenta durante um período de 90 dias", e apenas três dos voluntários que participaram do estudo zeraram os níveis de IgG dentro deste prazo.
A outra pesquisa, liderada pela imunologista Baweleta Isho, da Universidade de Toronto, que analisou amostras de sangue de 739 pessoas e a saliva de 247, entre infectadas e saudáveis, e constatou que os níveis de IgG permaneciam "relativamente estáveis" durante um período de 115 dias após a aparição dos primeiros sintomas, apesar de apresentarem uma "queda brusca nos últimos 10 dias deste intervalo de tempo", o que "reflete" as reduções de IgA e IgM.
Os dados mostraram ainda que picos de IgG se produziam entre o 16º e o 30º dia, tanto no sangue como na saliva dos pacientes contaminados.
De acordo com Jennifer Gommerman, coautora deste artigo científico e professora da Universidade de Toronto, o estudo conduzido no Canadá mostra que "os anticorpos IgG contra a proteína Spike do vírus são relativamente duradouros tanto no sangue como na saliva".
Este é o primeiro estudo que, segundo Gommerman, comprova que os anticorpos podem ser encontrados na saliva em níveis que correspondem diretamente aos detectados no sangue, o que poderia facilitar a coleta de amostras para a realização de testes de IgG, feitos atualmente apenas com o plasma sanguíneo.
Mais da metade das pessoas - 51% - consultadas em uma pesquisa do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) indicou que a pandemia da Covid-19 teve um impacto negativo na sua saúde mental, informou nesta quinta-feira (8) a organização.
O estudo, elaborado antes da celebração, no próximo sábado (10), do Dia Mundial da Saúde Mental, aponta que o surto do novo coronavírus "agravou doenças mentais existentes, gerou novas doenças e limitou ainda mais o acesso aos serviços de saúde mental". Em resposta a esta situação, "é necessário um financiamento urgente e maior para a saúde mental e o apoio psicossocial nas respostas humanitárias", disse a organização, em um comunicado.
O estudo, realizado em sete países (Colômbia, Líbano, Filipinas, África do Sul, Suíça, Ucrânia e Reino Unido) também indica que três em cada quatro pessoas consideram ser necessário dar apoio especial à saúde mental aos trabalhadores da linha de frente da pandemia, tais como profissionais da saúde.
"Estão frequentemente expostos diretamente ao vírus, trabalham longas horas e inevitavelmente testemunham eventos traumáticos", e ainda "são estigmatizados por fornecer apoio às comunidades afetadas por desastres", disse o CICV.
"Hoje, mais do que nunca, devemos investir na saúde mental e no apoio psicossocial, tanto às comunidades quanto aos responsáveis por seus cuidados, para ajudá-los a enfrentar sua situação, reconstruir suas vidas e superar esta crise", frisou o secretário-geral do CICV, Jagan Chapagain.