superfungoUnidades de Terapia Intensiva (UTIs) lotadas e equipes de saúde trabalhando no limite da exaustão física e mental. Esse contexto de caos hospitalar imposto pela pandemia de covid-19 criou no Brasil condições ideais para a emergência da Candida auris, microrganismo que ganhou a alcunha de “superfungo” pela rapidez com que desenvolve resistência aos principais medicamentos usados em seu combate.

Os dois primeiros casos confirmados em dezembro, em um hospital de Salvador (BA), foram recentemente descritos no Journal of Fungi por um grupo de pesquisadores liderado por Arnaldo Colombo, que coordena o Laboratório Especial de Micologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O trabalho conta com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). “Já foram identificados outros nove casos no mesmo hospital, entre colonizados [quando o fungo está no organismo sem causar danos] e infectados. Embora ainda não exista registro desse agente em outros centros no país, há motivos para preocupação: estamos monitorando as características evolutivas de isolados de C. auris de pacientes internados naquele hospital baiano e notamos que já há amostras exibindo menor sensibilidade ao fluconazol e às equinocandinas, estas últimas pertencentes à principal classe de fármacos usada no tratamento de candidíase invasiva”, revela Colombo à Agência Fapesp.

Como explica o pesquisador, os fungos do gênero Candida (com exceção da C. auris) fazem parte da microbiota intestinal humana e só costumam causar problemas quando há um desequilíbrio no organismo. O mais comum é o surgimento de infecções superficiais na mucosa da vagina (candidíase) ou da boca (sapinho), geralmente associadas à espécie C. albicans.

Em alguns casos, porém, o fungo invade a corrente sanguínea e desencadeia um quadro de infecção sistêmica – conhecido como candidemia – semelhante ao da sepse bacteriana. A invasão da corrente sanguínea e a resposta exagerada do sistema imune ao patógeno podem causar lesões em diversos órgãos e até mesmo levar à morte. As evidências científicas apontam que, quando a candidemia ocorre em pacientes infectados pela C. auris, até 60% não sobrevivem.

“Essa espécie rapidamente se torna resistente a múltiplos fármacos, sendo pouco sensível a produtos desinfetantes utilizados em centros médicos. Dessa forma, consegue persistir no ambiente hospitalar, onde coloniza profissionais de saúde e, posteriormente, pacientes críticos que necessitam de internação prolongada, a exemplo dos portadores de formas graves da covid-19”, diz Colombo.

Diversos fatores tornam os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 alvos ideais para a C. auris, entre eles a internação prolongada, o uso de sondas vesicais e cateteres para acesso venoso central (uma porta de entrada para a corrente sanguínea), corticoides (que suprimem a resposta imune) e antibióticos (que desequilibram a microbiota intestinal).

“O próprio vírus pode causar lesões na mucosa do intestino de pacientes com formas graves da covid-19 [facilitando o acesso de patógenos à corrente sanguínea], predispondo o paciente à candidemia”, afirma Colombo.

O pesquisador destaca que vários países estão relatando a emergência da C. auris no contexto da covid-19 e alerta para a necessidade de intensificar as ações para controle de infecção hospitalar em todo o país, bem como de promover o uso racional de medicamentos antimicrobianos em unidades de terapia intensiva. Desde o início da pandemia, antibióticos como a azitromicina têm sido amplamente prescritos – a grande maioria das vezes sem qualquer necessidade.

Monitoramento

A C. auris foi isolada pela primeira vez no Japão em 2009 e só despertou a atenção da comunidade científica alguns anos depois, quando surtos de candidemia causados por este agente começaram a aparecer em diversos países asiáticos e europeus. Em 2016, o grupo da Unifesp descreveu no Journal of Infection a chegada da espécie nas Américas, que se deu pela Venezuela. Na sequência, o superfungo foi identificado na Colômbia, no Panamá e no Chile.

“Em 2017, participamos de uma força-tarefa do Ministério da Saúde/Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e elaboramos uma norma técnica [o Comunicado de Risco Nº 01/2017] que alertava sobre os cuidados necessários para monitorar a possível chegada da C. auris ao Brasil, que se confirmou somente no fim do ano passado”, diz Colombo.

Desde esse momento, a equipe do Laboratório Especial de Micologia da Unifesp vem monitorando a emergência de novos patógenos fúngicos em infecções de corrente sanguínea documentadas em diferentes centros médicos no país e, até então, a C. auris não havia sido detectada.

Já foram descritas cinco diferentes linhagens (clados) de C. auris no mundo. Segundo Colombo, a que foi isolada em Salvador é mais parecida com a original asiática do que com a encontrada na Venezuela e nos demais países sul-americanos – o que sugere ter havido uma segunda entrada independente do superfungo no continente.

“Ou talvez tenhamos uma fonte local ambiental para esse agente, visto que nenhum dos pacientes brasileiros apresenta histórico de viagem internacional ou contato familiar com tal histórico”, diz o pesquisador.

Todos os meses, desde dezembro, os pesquisadores da Unifesp recebem amostras da cepa isolada no hospital baiano e testam in vitro sua sensibilidade a fármacos antifúngicos.

“Nesses ensaios, expomos o microrganismo cultivado a concentrações progressivas de antifúngicos, com o objetivo de determinar a menor dose do fármaco capaz de inativá-lo. No caso da C. auris presente em amostras recentemente isoladas em Salvador, por exemplo, é necessária uma concentração entre quatro e cinco vezes maior do que a usada para inativar o isolado cultivado em dezembro de 2020”, conta Colombo.

Em parceria com pesquisadores dos Países Baixos, o grupo da Unifesp está sequenciando o gene que confere resistência à C. auris para avaliar se ele sofreu mutação nesse período.

“O mecanismo de resistência da espécie não é por degradação enzimática, como ocorre em muitos casos de bactérias resistentes a antibióticos. O fungo desenvolve modificações estruturais nas proteínas em que o fármaco se liga para inibir a síntese de parede celular [glucana sintase, no caso de equinocandinas], estrutura importante para a sua sobrevivência. E estamos vendo esse fenômeno acontecer aqui no Brasil”, alerta Colombo.

Além de redobrar os cuidados com a higiene, Colombo defende ser necessário neste momento aumentar a vigilância sobre patógenos suspeitos. Confirmar a presença da C. auris em uma amostra não é algo trivial e requer equipamentos específicos. O mais usado é um espectrômetro de massas do tipo MALDI-TOF (sigla em inglês para tempo de voo por ionização e dessorção a laser assistida por matriz), bastante utilizado em análises de microbiologia, mas nem sempre presente nos hospitais do Brasil.

“Se a análise for feita por métodos automatizados convencionais, a C. auris pode ser confundida com outras espécies, como C. haemulonii, ou C. lusitaniae. Por isso o ideal é que qualquer cepa de Candida que apresente resistência a fármacos seja enviada para análise em laboratório de referência”, afirma.

Agência fapesp

Foto: REPRODUÇÃO/CDC

 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltou a alertar para a importância de profissionais de saúde e cidadãos comunicarem eventuais reações adversas causadas pelo uso de medicamentos ou tratamentos, incluindo vacinas.

Segundo a gerente de farmacovigilância da autarquia, Helaine Capucho, a pandemia da covid-19 conferiu ainda mais importância à farmacovigilância, já que a urgência tem obrigado autoridades sanitárias dos diversos países a, excepcionalmente, encurtarem prazos de processos e analisarem, em tempo recorde, pedidos de uso de medicamentos desenvolvidos em curto espaço de tempo.

“Isto aumenta os riscos e a necessidade de farmacovigilância”, disse Helaine, durante seminário virtual que a Anvisa realizou na manhã de hoje (20), no qual foi discutido o monitoramento de medicamentos e os desafios para a vigilância sanitária em tempos de pandemia.

“Para trazer as respostas de que precisamos, os prazos para realização de estudos [científicos] estão sendo encurtados. Em alguns casos, há também uma redução do número de participantes e do tempo de acompanhamento destes participantes”, acrescentou a gerente, mencionando também o uso dos chamados medicamentos off-label, ou seja, de produtos que os médicos, a partir da observação clínica, passam a prescrever para fins não previstos pelo fabricante e que, portanto, não constam da bula.

“Além disso, há também os casos em que, pesando os riscos e os benefícios, são empregados alguns medicamentos que já não mais vinham sendo utilizados”, disse Helaine, admitindo que o uso de remédios off-label, bem como de outros considerados menos eficazes que os mais modernos, pode ser uma resposta ao risco de desabastecimento.

“Por isso, a Anvisa vem conversando com as produtoras e importadoras destes medicamentos, para tentar evitar o desabastecimento”, disse Helaine, reforçando a importância de cidadãos e profissionais de saúde relatarem quaisquer efeitos colaterais causados por remédios ou tratamentos. O que pode ser feito por meio do VigiMed, sistema gratuito de informações que pode ser acessado a partir da página da Anvisa, na internet.

“Temos produtos novos e precisamos monitorar o que está acontecendo. Muitas vezes, ficamos sabendo dos efeitos adversos pela mídia”, comentou Helena, destacando a necessidade dos hospitais acompanharem com atenção os efeitos de medicamentos aprovados para uso em pacientes com a covid-19.

Atualmente, apenas o Remdesivir e o uso combinado dos medicamentos Banlanivimabe e Etesevimabe contam com o aval da Anvisa, para uso em algumas situações.

“É muito importante que estes medicamentos entrem na monitoração intensiva por parte dos hospitais que os adotarem. Que eles monitorem intensivamente [o emprego conforme recomendado] e notifiquem [eventuais reações adversas]. Até porque, isso pode subsidiar futuras decisões”, explicou a gerente da Anvisa, pedindo aos profissionais de saúde que sempre orientem seus pacientes a relatarem possíveis efeitos adversos de qualquer medicamento ou tratamento.

“Os cidadãos devem ser orientados a reportar efeitos adversos a qualquer tempo. Se [for um efeito] grave, a pessoa provavelmente vai voltar a procurar a instituição de saúde, mas é importante orientar as pessoas a notificarem também as reações menos graves; a informarem [a vigilância sanitária] o que tomou, quando tomou, quando começaram os sintomas e de que tipo foram”, alertou Helena, lembrando que quem não é médico também pode utilizar o sistema VigiMed para notificar eventuais reações colaterais.

Agência Brasil

O Grupo Jorge Batista, nessa quinta-feira, dia 20/05/2021, realizou uma campanha de vacinação em combate ao H1N1. A ação foi direcionada aos colaboradores das empresas de Floriano-PI e Barão de Grajaú-MA.

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No contexto da pandemia, essa imunização se faz ainda mais necessária. Além de estimular o sistema imunológico, conferindo maior proteção aos trabalhadores, contribui para o diagnóstico e controle dos sintomas entre as viroses que circulam atualmente, incluindo a Covid-19.

“Agradecemos à Secretaria de Saúde que nos apoiou nesta ação, e em especial aos enfermeiros que contribuíram de maneira imprescindível para o sucesso desta campanha”, externou um dos colaboradores do Grupo Jorge Batista.

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Depois de reunir-se com governadores para tratar da liberação de insumos para produção de vacina contra a covid-19, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, postou em rede social que o país asiático liberou novos lotes de IFA (insumo farmacêutico ativo) suficientes para fabricar 16,6 milhões de doses de vacinas CoronaVac e da Oxford/AstraZeneca. Os lotes de matéria-prima para produção dos fármacos "chegarão nos próximos dias" ao Instituto Butantan e Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), escreveu o diplomata.

Conforme fontes ouvidas pelo R7 Planalto, durante a reunião com o embaixador, João Doria, governador de São Paulo, propôs uma viagem para o país oriental com uma comitiva brasileira. O tucano avalia que a compra de imunizantes chineses aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) seja feita pelo Fórum dos Governadores, em vez do Ministério da Saúde. A notícia da liberação do IFA foi comentada na CPI da Covid, que ouve nesta quinta-feira (20) o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Também hoje a Fiocruz interrompeu a produção da vacina Oxford/AstraZeneca justamente por falta de insumos importados da China.

O Ministério da Saúde afirma que já foram distribuídas cerca de 90 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, que já matou mais de 440 mil brasileiros, desde o início da campanha de vacinação, em 18 de janeiro. Segundo a pasta, até ontem foram distribuídas mais de 85,2 milhões de doses aos estados e Distrito Federal. Além da CoronaVac e da Oxford/AstraZeneca, também começou a distribuição da Pfizer em maio.

R7