Com a variante delta, muito mais contagiosa que a cepa original, parece ilusório alcançar a imunidade coletiva apenas com as vacinas anticovid-19, embora os imunizantes continuem sendo cruciais para conter a pandemia - destacam especialistas ouvidos pela AFP.

Há vários meses, a imunidade coletiva - ou seja, o nível de pessoas imunizadas a partir do qual a epidemia é controlada - é considerada o "santo graal" para uma saída da crise sanitária mundial. Mas, assim como graal, não se trata de uma quimera? Tudo depende da definição adotada, respondem os cientistas.

"Se a pergunta é 'apenas as vacinas permitirão o retrocesso e o controle da epidemia?', a resposta é não", disse à AFP o epidemiologista Mircea Sofonea.

De fato, "há dois parâmetros: a contagiosidade intrínseca do vírus e a eficácia da vacina contra a infecção. E não são suficientes", acrescenta.

Por quê? A variante delta, agora dominante, é considerada 60% mais transmissível que a precedente (alfa), e duas vezes mais, que a cepa original. E, quanto mais contagioso é um vírus, mais elevado é o nível necessário para alcançar a imunidade coletiva, obtida por meio das vacinas, ou da infecção natural.

AFP

coronavaccUm estudo feito por pesquisadores da Universidade Médica de Chongqing, na China, mostrou que a CoronaVac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac contra a covid-19, fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan, é capaz de dobrar, em quem já teve a doença, a quantidade de anticorpos neutralizantes e multiplicar em 4,4 vezes o nível de imunoglobulina IgG.

Anticorpos neutralizantes são responsáveis por combater uma eventual reinfecção pelo SARS-CoV-2). Já o IgG está ligado ao processo de defesa do organismo no qual atuam as imunoglobulinas encontradas na corrente sanguínea, e também desempenha papel fundamental na prevenção de reinfecção viral. Os resultados preliminares da pesquisa, feita com 85 pacientes recuperados da covid-19, foram divulgados na Cell Discovery, publicação que faz parte do grupo britânico Nature. Os participantes do estudo tinham entre 3 e 84 anos e tinham contraído a doença, em sua maioria, no início de 2020.

De acordo com os resultados da pesquisa, o nível de anticorpos neutralizantes entre as pessoas que tiveram covid-19, que era de 36 um dia antes da primeira dose, foi subindo até atingir 108 duas semanas após a segunda dose. No grupo de controle, esse indicador alcançou 56 – ou seja, a quantidade de anticorpos neutralizantes gerados pela vacina em quem já havia se contaminado com covid-19 foi o dobro na comparação com quem não havia tido a doença.

Entre os convalescentes, o nível da imunoglobulina IgG, que era de 3,68 um dia antes da vacina, subiu para 47,74 duas semanas após a segunda dose de CoronaVac. É uma quantidade 4,4 vezes superior ao nível de 10,81 detectado no grupo controle.

No entanto, ao longo dos 12 meses de acompanhamento dos 85 pacientes analisados, os níveis dos anticorpos neutralizantes diminuíram de 631, no fim do primeiro mês, para 84 no último mês. No caso da imunoglobulina IgG, o indicador caiu de 28,6 para 7,2 no mesmo período.

Agência Brasil

Foto: SEDAT SUNA/EFE/EPA

Uma nova vacina contra covid-19 desenvolvida por laboratórios dos Estados Unidos e da Índia, em parceria com o Senai Cimatec (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) da Bahia, obteve autorização de testes em humanos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nesta quinta-feira (26).

O estudo é de fase 1 e será feito com 90 voluntários adultos saudáveis, com idades entre 18 e 55 anos. O trabalho será conduzido no Hospital da Bahia, em Salvador.

Este é o 13º ensaio clínico de uma vacina anticovid autorizado no Brasil pela Anvisa.

Nos Estados Unidos, outros 78 voluntários vão participar desta fase de teste, que verifica a segurança e o regime de dose.

"A vacina será avaliada em um cronograma de dose única e duas doses com intervalos diferentes. O primeiro grupo receberá duas doses com intervalo de 29 dias. Já o segundo grupo receberá duas doses com intervalo de 57 dias. O terceiro grupo de voluntários receberá uma dose única da vacina. Serão avaliados três níveis de dose (1 μg, 5 μg ou 25 μg) no ensaio clínico aprovado", acrescenta a agência reguladora em nota.

A vacina é baseada em uma tecnologia de RNA replicon (repRNA) auto amplificante, capaz de codificar a proteína spike do coronavírus causador da covid-19.

Induzir resposta imune a esta proteína é o alvo da maioria das vacinas anticovid, já que a spike é responsável pela ligação do vírus com receptores nas células humanas.

O projeto da vacina é da empresa norte-americana HDT Bio Corp. da indiana Gennova Biopharmaceuticals e tem apoio do MCTI (Ministério de Ciência e Tecnologia) brasileiro, por meio do Senai Cimatec da Bahia.

R7

vacincaiimunideA proteção contra o coronavírus conferida pelas vacinas Pfizer e AstraZeneca diminui significativamente após 6 meses, indicou um estudo britânico nesta quarta-feira (25), cujos autores defendem doses de reforço.

Um mês após a segunda dose, a eficácia da vacina Pfizer é de 88%, uma proteção contra possíveis infecções que cai para 74% entre cinco e seis meses após a injeção, de acordo com a última análise do estudo Zoe Covid.

Para a vacina AstraZeneca, a eficácia vai de 77% um mês após a segunda dose a 67% entre quatro e cinco meses depois.

O estudo foi realizado com dados de cerca de 1 milhão de usuários do aplicativo Zoe, lançado por um grupo privado de mesmo nome.

Pesquisadores do King's College London e a equipe de Zoe analisaram os dados de infecções que ocorreram entre 26 de maio e 31 de julho de 2021 em pessoas vacinadas que baixaram o aplicativo entre 8 de dezembro e 3 de julho de 2021.

A campanha de vacinação britânica, que aplicou uma segunda dose a 77% dos maiores de 16 anos, deu prioridade a idosos e pessoas em situação de risco, assim como profissionais de saúde.

Na opinião dos pesquisadores do King's College, a proteção, portanto, diminuiu mais nesses grupos.

O professor Tim Spector, cientista que liderou o projeto, alertou que isso poderia ser "menos de 50% em idosos e trabalhadores de saúde para o inverno".

Se este número se referir a infecções e não a formas graves, pode significar "um aumento das hospitalizações e dos óbitos" se o país enfrentar níveis elevados de infecção e uma variante altamente contagiosa.

A pesquisadora considera, então, "urgente fornecer doses de reforço", bem como estudar se é conveniente imunizar menores com base nas vacinas disponíveis.

Vários países estudam administrar uma dose de reforço, inclusive o Reino Unido que quer propor a vacina para pessoas em situação de risco a partir de setembro, apesar da relutância da OMS (Organização Mundial da Saúde).

AFP

Foto: André Coelho EFE