A endometriose é um problema ginecológico doloroso e que, segundo informações do Ministério da Saúde, acomete uma em cada 10 mulheres. O ginecologista Alexandre Pupo, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que a condição trata-se do tecido endometrial, que reveste o útero antes da menstruação e protege o feto quando o óvulo é fecundado, se encontra fora do órgão.
Dessa maneira, o tecido endometrial pode se acoplar em outros órgãos, como a bexiga, intestino, atrás do útero, nos ovários e trompas uterinas. Isso gera processos inflamatórios, que podem ser extremamente dolorosos para as pacientes com tal diagnóstico.
Assim como Pupo, o ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, também da Febrasgo, alega que a ciência não sabe, ao certo, a origem da condição, que pode ou não ter relação familiar para o seu desenvolvimento.
Caldeira afirma que a endometriose é mais comum a partir dos 35 anos. No entanto, a partir da menstruação, pode-se apresentar o problema ainda na adolescência.
Pupo complementa que a endometriose é uma doença caracterizada por diagnóstico tardio, pois as pacientes começam a relatar os sintomas e, após um período de cinco a nove anos, os médicos levantam a hipótese do problema.
Ainda, é possível que pacientes apresentem o quadro após a menopausa, inclusive naquelas que estiverem fazendo o uso de terapias hormonais. Entre os principais sintomas, os especialistas elencam cólicas intensas que surgem de um a três dias antes da menstruação e que persistem por todo o período, dores fora do período menstrual, dores durante as relações sexuais, e até infertilidade, devido ao processo inflamatório na pelve.
"Essa infertilidade pode ocorrer devido às consequências da inflamação, que podem dificultar a ovulação; e as substâncias inflamatórias podem adentrar o útero e continuar tal processo dentro do órgão. O processo inflamatório crônico acaba, também, por alterar a anatomia da pelve feminina, causando aderências entre os órgãos, que passam a se grudar, dificultando a ovulação e a passagem do óvulo pela trompa", esclarece Pupo.
Caso o tecido endometrial se ligue ao intestino, ele pode provocar alterações no seu funcionamento, causando disquesia, em que a paciente apresenta distensão abdominal, aumento de gases, alterações nos hábitos intestinais, geralmente ficando mais solto, todos durante o período menstrual.
Já em casos em que o endométrio afeta a área da bexiga, pode haver ardência e aumento de vontade de urinar, e sangramentos nas micções.
No entanto, Caldeira afirma que muitas pacientes podem ser assintomáticas.
O diagnóstico da doença começa a partir do relato dos sintomas da paciente. A partir disso, é preciso realizar os exames de toque vaginal, ultrassom transvaginal com preparo intestinal e ressonância nuclear magnética de pelve. Determinado o problema e sua extensão, é preciso iniciar o tratamento, que envolve intervenções cirúrgicas para a remoção desse tecido endometrial — geralmente feito por laparoscopia. Outra opção é o tratamento paliativo dos sinais da doença, minimizando-os, com uso de anticoncepcionais e métodos hormonais.
Crianças e adolescentes estão apresentando sintomas de ansiedade e depressão mais cedo e com uma duração mais prolongada do que há dez anos. Isso é o que revela um estudo inédito que avaliou a mudança geracional dos transtornos mentais, recém-publicado no The Lancet e conduzido pelas universidades de Cardiff, Edimburgo e Bristol, no Reino Unido.
Os autores compararam dados de dois grupos avaliados com uma diferença de dez anos: o primeiro com cerca de 10 mil indivíduos nascidos entre 1991 e 1992 e o segundo com quase 18 mil nascidos entre 2000 e 2002. Os estudos utilizaram questionários sobre as dificuldades e habilidades das crianças e jovens, capazes de mapear uma série de sintomas de transtornos emocionais. Isso inclui sentimentos como nervosismo e medo, bem como sintomas físicos, como dor de estômago. As perguntas foram respondidas pelos principais cuidadores em diversos momentos da infância e adolescência.
Ao avaliar os dois grupos, os pesquisadores observaram que aqueles nascidos nos anos 1990 mantiveram uma estabilidade emocional até bem depois do início da adolescência. Por outro lado, a geração dos anos 2000 começou a apresentar problemas emocionais a partir dos 9 anos de idade, com um pico por volta dos 14 anos. As meninas foram as mais afetadas.
“O estudo tem um rigor metodológico e apresenta informações que a gente vem observando na prática clínica”, diz Fernando Asbahr, coordenador do Ambulatório de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
“Embora os dados obtidos – o aumento de problemas emocionais – não representem necessariamente diagnósticos de transtornos depressivos e ansiosos, sem dúvida eles sugerem que houve uma mudança nas gerações”, completa o especialista.
Fatores estressantes Vários estudos mostram um aumento dos casos de transtornos mentais após a pandemia da Covid-19, principalmente por conta do isolamento social. Além disso, o artigo aponta fatores como mudanças no estilo de vida, uso de tecnologia, questões de imagem corporal e pressões acadêmicas, além do aumento da desigualdade social.
“O estresse crônico é um gatilho conhecido para os problemas de saúde mental”, diz Asbahr. “Isso é pior quando há persistência de fatores estressantes em uma idade em que a pessoa é mais vulnerável.”
Segundo o especialista, é preciso ficar atento a mudanças de comportamento ou quando a pessoa está diferente do que costuma ser e que são duradouras. “Se está mais isolado, mais recluso, mais irritado, se perde interesse pelas coisas que fazia antes ou por encontrar amigos. Ou quando apresenta medos exagerados que limitam a vida social”, exemplifica. Na dúvida, a orientação é sempre procurar ajuda especializada.
Antes que sanitaristas como Vital Brazil e Oswaldo Cruz liderassem mudanças no cenário da saúde pública no Brasil, no final do século 19 e início do século 20, o país tinha uma fama assustadora no exterior: “Túmulo de estrangeiros”. O motivo era a enorme quantidade de doenças infecciosas que incidiam de forma epidêmica sobre sua população, causando milhares de vítimas. Entre elas, uma das mais temidas era a febre amarela urbana, arbovirose cuja letalidade ainda hoje pode beirar os 50% em casos graves. Somente na capital federal da época, o Rio de Janeiro, a doença matava mais de mil pessoas por ano no início do século 20.
Os esforços para combater essa doença incluíram uma caça aos mosquitos e fizeram com que ela fosse eliminada em 1942. O que trouxe maior resultado para manter essa conquista, porém, foi a vacinação, desenvolvida em 1937 e disponível no calendário infantil do PNI (Programa Nacional de Imunizações), que completa 50 anos em 18 de setembro. A indicação para as aplicações é aos 9 meses e aos 4 anos de idade. Acima dos 5 anos, a recomendação é de apenas uma dose.
A vacina contra a febre amarela utilizada pela rede pública é produzida pelo Bio-Manguinhos/Fiocruz (Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos) e também pela farmacêutica Sanofi Pasteur, que fornece tanto para o PNI quanto para as clínicas privadas. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, as duas têm perfis de segurança e eficácia semelhantes, estimados em mais de 95% para maiores de 2 anos.
Doença não vai desaparecer Apesar do sucesso no caso da febre amarela urbana, a doença em sua forma silvestre não pode ser erradicada. O vírus causador da febre amarela não depende dos seres humanos para continuar existindo - ele infecta primatas e outros mamíferos em florestas, onde é transmitido pelo mosquito Haemagogus sabethes. Esses mosquitos também picam humanos que entram nas matas, e o risco é que, com o retorno dessas pessoas às cidades, elas sejam picadas por mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, que podem fazer o vírus voltar a circular em áreas urbanas.
A coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Lurdinha Maia, ressalta que, por esse motivo, é preciso que a cobertura vacinal contra a doença seja mantida em todo o país, uma vez que o ecoturismo, a pesca, o desmatamento e outros fatores têm aumentado o contato entre o ser humano e os mosquitos que transmitem a febre amarela silvestre.
“O Brasil é um país endêmico. Isso significa que a gente não vai acabar com a febre amarela. Ela está nas matas. Em 1942, a gente acabou com a febre amarela urbana, mas ainda é um risco, principalmente porque hoje há muitas entradas nas matas”, afirma.
“Anteriormente, o Programa Nacional de Imunizações preconizava a vacinação em vários estados e dizia que não era obrigatório no Nordeste. Mas, o PNI já atualizou o calendário de vacinação e todo o Brasil tem a recomendação de ser vacinado contra a febre amarela.”
Ser um país endêmico faz com que alguns países só permitam a entrada de viajantes brasileiros que apresentem o CIVP (Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia), com registro de dose aplicada no mínimo dez dias antes da viagem.
Hemorragias O vírus da febre amarela demora de três a seis dias incubado no corpo. Quando a infecção gera sintomas, os mais comuns são febre, dores musculares com dor lombar proeminente, dor de cabeça, perda de apetite, náusea ou vômito. A maioria das pessoas melhora em até quatro dias.
Uma pequena parte dos pacientes, porém, evolui para um segundo estágio da doença, 24 horas após essa melhora. A febre alta retorna, e a infecção afeta o fígado e os rins. Por isso, um sintoma comum nessa fase é a icterícia (“amarelamento” da pele e dos olhos), urina escura e dores abdominais com vômitos.
A letalidade entre esses pacientes é elevada, e metade dos que apresentam essas complicações morre em até dez dias. A doença evolui até causar hemorragias graves, com sangramentos a partir da boca, nariz, olhos ou estômago.
Uma dificuldade para os serviços de saúde é diagnosticar a febre amarela em seus estágios iniciais. É comum que seja confundida com malária, leptospirose, hepatite viral, ou outras febres hemorrágicas, como a dengue.
Por todos esses motivos, a infectologista Eliana Bicudo destaca que a doença é uma ameaça de saúde pública grave, e que a vacinação precisa ser objeto de atenção da população.
“Qualquer pessoa não imunizada está ameaçada pela febre amarela, porque ela tem alta letalidade. Um número bem grande de pacientes vem a óbito.”
Contraindicações A vacina da febre amarela é eficaz e segura, mas utiliza a tecnologia do vírus atenuado, o que significa que restringe seu uso às pessoas com boa capacidade imunológica. O Ministério da Saúde contraindica essa vacina para: crianças menores de 9 meses de idade; mulheres amamentando crianças menores de 6 meses de idade; pessoas com alergia grave ao ovo; pessoas que vivem com HIV e que têm contagem de células CD4 menor que 350; pessoas em tratamento com quimioterapia/ radioterapia; e pessoas submetidas a tratamento com imunossupressores (que diminuem a defesa do corpo).
Caso essas pessoas vivam ou precisem se deslocar para áreas de maior risco de transmissão, é necessário que profissionais de saúde façam uma avaliação de risco-benefício, uma vez que as complicações ao adoecer podem ser ainda mais graves. Essa avaliação também deve ser feita para a vacinação de pessoas com 60 anos ou mais contra a doença.
“A vacina de febre amarela é um exemplo clássico de como uma vacina pode controlar uma doença. Esse é um dado histórico. Até 2017, a gente entendia que a febre amarela no Brasil estava restrita a algumas regiões. Mas tivemos alguns surtos relacionados à febre amarela silvestre associados a parques na periferia de São Paulo. Ao entrarem naqueles parques, os homens contraíram a febre amarela”, descreve a infectologista.
“A partir desse evento, a gente entende que o Brasil é um país endêmico e que a imunização não deve ser só em áreas como o Centro-Oeste ou a região amazônica. O Programa Nacional de Imunizações incluiu para todo o Brasil a vacina da febre amarela no primeiro ano de vida.” Além da vacinação, a prevenção da febre amarela deve contar com os esforços para conter outras arboviroses, como a dengue e a zika. Deve-se evitar que água parada fique exposta em lugares públicos, casas e estabelecimentos empresariais, para que os mosquitos vetores desses vírus não a utilizem como criadouro.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), por meio das Regionais de Saúde, está capacitando os profissionais de saúde no microplanejamento da multivacinação, que tem como objetivo melhorar as estratégias de vacinação nos municípios.
Já foram qualificados agentes de 60 cidades piauienses que fazem parte dos territórios de saúde atendidos pelas regionais de Teresina, Campo Maior, Parnaíba e Bom Jesus. Os treinamentos serão realizados nos 11 territórios de saúde do Piauí.
"Após receberem o treinamento, junto ao Ministério da Saúde, objetivando desenvolver estratégias para melhorar as coberturas vacinais na Campanha de Multivacinação, nossas equipes técnicas estão capacitando todos os 224 municípios piauienses, desde o de 31 de agosto e vamos até 14 de setembro. É de suma importância participação de todos os municípios”,lembra a coordenadora de Imunização da Sesapi, Bárbara Pinheiro.
Nesta terça-feira (12) foram treinados profissionais que vão atuar no território de saúde Entre Rios, que engloba a capital Teresina e mais 29 municípios. A superintendente de Atenção Primária à Saúde e Municípios da Sesapi, Leila Santos, destaca que a capacitação será essencial para que o estado melhore os resultados da campanha de Multivacinação.
“O programa Saúde em Dia tem como um de seus objetivos melhorar os índices de vacinação no nosso estado e ter os profissionais de todos os nossos municípios treinados e alinhados para traçar ações de vacinação durante a campanha será essencial para que a nossa cobertura aumente”, destaca a superintendente.
A Campanha de Multivacinação vai de 30 de setembro a 14 de outubro no Piauí, e tem a intenção de atualizar o calendário de vacinas de crianças e adolescentes até os 15 anos de idade e retomar as altas coberturas vacinais.