A Moderna afirmou na terça-feira (18) que recebeu um relatório do Departamento de Saúde da Califórnia, nos Estados Unidos, sobre possíveis reações alérgicas à vacina contra a covid-19 observadas em várias pessoas que podem estar relacionadas a um determinado lote.

O anúncio da empresa foi feito depois que o principal epidemiologista da Califórnia divulgou, no domingo (17), um comunicado recomendando aos provedores pausarem a vacinação do lote nº. 41L20A devido a possíveis reações alérgicas que estão sob investigação.
"Um número maior do que o normal de possíveis reações alérgicas foi relatado com um lote específico da vacina Moderna administrada em uma clínica de vacinação. Cerca de 10 indivíduos necessitaram de atenção médica ao longo de 24 horas", afirmou o epidemiologista em um comunicado.

O fabricante disse não ter conhecimento de casos semelhantes ​​de eventos adversos em outros centros de vacinação que podem ter administrado vacinas do mesmo lote ou de outros lotes da vacina.

Um total de 307.300 doses do lote permanecem em armazenamento, disse a Moderna, do total de 1.272.200 doses produzidas.

A Moderna divulgou que está trabalhando em estreita colaboração com os reguladores de saúde dos EUA para entender os casos e se a pausa no uso do lote se justifica.

Quase um milhão de doses do lote já foram distribuídas para cerca de 1.700 postos de vacinação em 37 estados, disse a Moderna.

 

Reuters

inflamaçaoCasos severos e fatais de covid-19 têm como característica um quadro de inflamação sistêmica que, além dos pulmões, leva ao colapso diferentes órgãos do paciente. Trata-se de uma reação inflamatória fora de controle, que envolve elevadas taxas de moléculas pró-inflamatórias circulantes no sangue – fato conhecido como tempestade de citocinas. Essa resposta imunológica exacerbada tende a causar danos ainda maiores que o próprio vírus.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) demonstraram, pela primeira vez, que o processo inflamatório pulmonar, a tempestade de citocinas e a gravidade da doença estão associados ao aumento exagerado de mediadores lipídicos (derivados de ácido araquidônico) e de acetilcolina – substância normalmente produzida no sistema nervoso central e que participa da comunicação entre neurônios.

 

O trabalho foi apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) por meio de um projeto que investiga biomarcadores e novos alvos terapêuticos para a covid-19. Os resultados foram publicados na plataforma medRxiv , em artigo ainda sem revisão por pares.

“Ao encontrar uma alta concentração desses componentes moleculares no soro de pacientes com quadros graves de covid-19, podemos supor que células pulmonares e leucócitos [do sistema imunológico] liberam, além de citocinas, a acetilcolina, o acido araquidônico e seus derivados. Isso foi uma grande surpresa, pois nunca esses compostos lipídicos tinham sido descritos atuando no pulmão na covid-19”, diz Lúcia Helena Faccioli , professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP).

A pesquisa faz parte dos objetivos do consórcio ImunoCovid – coalizão multidisciplinar que envolve dez pesquisadores da USP e um da UFSCar, além de profissionais de saúde da Santa Casa de Misericórdia e do Hospital São Paulo em Ribeirão Preto, que trabalham em colaboração e com o compartilhamento de dados e de amostras.

 

De acordo com a pesquisadora, o achado abre caminho para novos estudos sobre a participação de mediadores lipídicos nesse tipo de inflamação, bem como possíveis marcadores de gravidade e tratamento da covid-19.

Além dos dois componentes moleculares, os pesquisadores da USP identificaram o decréscimo na expressão CD14 e CD36, glicoproteínas da membrana de células de defesa (leucócitos). Também descobriram que o uso de corticoides no tratamento da inflamação reduz apenas as taxas de acetilcolina, não interferindo no ácido araquidônico e seus derivados.

“Dessa forma, apesar de ser benéfico para muitos pacientes, o uso de corticoides para tratar a hiperinflamação não induz os mesmos resultados para todos os doentes. Por isso, com base no que vimos em nosso estudo, é de se sugerir que o tratamento com corticoides seja iniciado o quanto antes em indivíduos hospitalizados e com quadros graves e críticos, em combinação com inibidores do metabolismo de ácido araquidônico”, diz Faccioli.

Vale ressaltar que o uso inadequado de corticoides pode trazer riscos relevantes para o organismo. É importante buscar orientação médica no que diz respeito à dose, ao período de início e à duração do tratamento. Usar esse tipo de medicamento sem prescrição médica na fase viral da doença, que vem antes da fase inflamatória, pode agravar a infecção.

Quebra-cabeça

A descoberta adiciona peças importantes ao quebra-cabeça que envolve diferentes moléculas em cascata até que ocorra a tempestade de citocina. Estudo realizado por outro grupo da USP, também em Ribeirão Preto, já havia demonstrado a participação de um mecanismo imunológico conhecido como inflamassoma nesse processo.

Para determinar se a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 alterava o metabolismo dos mediadores lipídicos, o grupo de Faccioli realizou análises por meio de uma técnica conhecida como espectrometria de massa de alta resolução. Os pesquisadores estudaram o lipidoma (conjunto de moléculas de origem lipídica) no plasma sanguíneo de pacientes com covid-19 e de voluntários saudáveis. No total, 8.791 metabólitos do tipo estavam presentes em pelo menos 50% de todas as amostras.

Em seguida, os cientistas acompanharam a produção de mediadores no soro sanguíneo de 190 pacientes com covid-19 (de 16 a 97 anos), sendo 43 assintomáticos, 44 moderados, 54 graves e 49 críticos. Dessa forma, foi possível estratificar os doentes em quatro fases ou graus diferentes da infecção: leves, moderados, graves e críticos. Soma-se aos dados a análise de 39 participantes saudáveis e 13 hospitalizados sem covid-19 (não infectados), que formaram o grupo controle.

Os resultados do estudo foram confirmados com a análise de dados de expressão gênica de biópsias pulmonares de pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 depositados em repositórios públicos e publicados em artigos científicos. Embora mais estudos sejam necessários, os resultados abrem novas perspectivas para o tratamento da covid-19.

 

Agência Fapesp

Foto: ALISSA ECKERT, MS; DAN HIGGINS, MAM/CDC/REUTERS

Com o início da campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil, milhões de brasileiros serão imunizados nos próximos meses. Mas alguns grupos não poderão receber doses neste primeiro momento.

O infectologista Leonardo Weissmann, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), ressalta que a maioria da população pode ser vacinada, mas ainda há necessidade de estudos complementares dos imunizantes para uma parcela específica.

Quem ainda não pode ser vacinado
Gestantes e puérperas

Como nenhuma vacina contra covid-19 foi testada em gestantes ou em mulheres que haviam acabado de dar à luz, não há dados consolidados até agora sobre a segurança e eficácia dos imunizantes nelas.

"Acredita-se que, talvez, essas vacinas não vão ser um problema. Porque nós já temos outras vacinas de vírus atenuado [usadas por gestantes]. Mas por enquanto a recomendação ainda é não usar a vacina", explica Weissmann.

Crianças

Estudos de vacinas em crianças e adolescentes ainda não estão concluídos. A maioria dos países autorizou a vacinação em pessoas acima de 18 anos.

Além da ausência de dados mais completos sobre a segurança e eficácia em crianças, os mais jovens têm menos chance de adoecimento pela covid-19, embora também possam desenvolver quadros graves.

 

Quem talvez não possa tomar
Pessoas com alergias severas

Após casos de choque anafilático com a vacina da Pfizer/BioNTech, feita de RNA mensageiro, o governo britânico emitiu um alerta para pessoas que sabem que têm alergias graves não fossem vacinadas.

Esses imunizantes não serão usados no Brasil neste primeiro momento. Weissmann acrescenta que as reações alérgicas podem acontecer a qualquer medicamento ou vacina, mas que os estudos comprovaram até agora a segurança dos produtos que serão usados na população brasileira.

Ao contrário de algumas vacinas que não podem ser aplicadas em pessoas alérgicas a ovo, as vacinas de covid-19 não possuem esse tipo de restrição, afirma o médico.

"Existem algumas vacinas que usam componentes do ovo na sua elaboração, mas não é o caso dessas vacinas contra covid-19."

Quem pode tomar
O infectologista enfatiza que a maior parte das pessoas deve se vacinar, principalmente aquelas pertencentes a grupos de risco, que inclui idosos e portadores de doenças crônicas.

Imunossuprimidos

Pacientes em tratamento de câncer, HIV positivo, transplantados ou aqueles que sofrem de doenças autoimunes (reumatológicas) devem ser vacinados, segundo Weissmann.

A questão que ainda não está respondida, acrescenta, é o nível de proteção que as vacinas conferem a esse grupo.

Da mesma forma que a vacina contra a gripe também é de vírus inativado [como a CoronaVac] e se incentiva que esses grupos também sejam vacinados. Agora, a gente não sabe exatamente qual é a eficácia da vacina dentro desses grupos.

Pessoas que já tiveram covid-19

Há quem justifique a decisão de não se vacinar no fato de já ter sido infectado anteriormente. Ocorre que estudos comprovam que a imunidade conferida pela covid-19 pode ser de curta duração, além de haver o risco de reinfecção por variante diferente.

Por estas razões, o infectologista orienta a vacinação de todos que já foram infectados pelo coronavírus.

"Se a gente considerar o risco de reinfecção, então é indicado que seja feita a vacinação. Até porque a imunidade que é provocada pela vacina é mais específica do que a imunidade produzida pela doença."

Ele também frisa que caso uma pessoa tenha covid-19 entre a primeira e a segunda doses da vacina (período que pode chegar a três meses no caso da Oxford/AstraZeneca), deve ainda assim tomar a dose de reforço.

"Não é imediato que a pessoa toma a vacina e já está imune. Pode acontecer de a pessoa tomar a vacina e já ter tido contato com o vírus ou ter o contato logo em seguida. Mas deve tomar a segunda dose normalmente."

 

R7

 

coronavacipiPousou na tarde desta segunda-feira, 18, o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com as primeiras 61.160 mil doses da vacina Coronavac, por volta das 15:00h, no Aeroporto Petrônio Portella, localizado na zona norte de Teresina.

A aeronave decolou do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por volta das 10h30 de hoje, logo após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello autorizar o início da vacinação já nesta segunda em todo o país.

O Piauí inicia ainda hoje a vacinação com a Coronavac. Cinco profissionais da saúde que trabalham nas unidades hospitalares que compõem a Rede Estadual serão os primeiros que serão vacinados. A cerimônia será realizada no pátio da Sesapi, às 17 horas.

Os profissionais atuam nos Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella; Hospital Getúlio Vargas; Hospital da Polícia Militar; Hospital Infantil Lucídio Portella e Maternidade Dona Evangelina Rosa.

Uso emergencial aprovado

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na tarde deste domingo (17), por unanimidade, o uso emergencial da Coronavac e da vacina de Oxford/AstraZeneca.

A reunião extraordinária que teve início às 10h10 e terminou às 15h20, contou com a votação de cinco diretores: Meiruze Sousa Freitas (relatora); Antonio Barra Torres (diretor-presidente); Cristiane Rose Jourdan Gomes (médica e bacharel em direito); Romison Rodrigues Mota - substituto (servidor da Anvisa); e Alex Machado Campos (advogado).

A diretora da Anvisa e relatora, Meiruze Freitas, votou pela aprovação e destacou que é preciso que o Instituto Butantan assine um termo de compromisso para apresentar dados de imunogenicidade da vacina até 28 de fevereiro (os relatórios sobre o tema foram considerados insuficientes). O termo assinado foi publicado em Diário Oficial da União.

Já a decisão sobre a vacina de Oxford vale apenas para o uso das 2 milhões de doses que o governo ainda tenta importar da Índia.

 

GP1