Uma investigação policial desmontou uma quadrilha de hackers, especialistas em invadir computadores. As pistas sobre o furto das fotos levaram a polícia do Rio ao interior de São Paulo. Foram quase 800 quilômetros até o pequeno município de Macatuba. E na casa de um dos suspeitos os agentes nem precisaram fazer perguntas.
Com um mandado de busca e apreensão, os policias entraram no quarto de Diego Fernando Cruz, de 25 anos. O lugar parecia uma central de informática: CDs, softwares, cinco computadores. Um lap top - repare - estava aberto numa página só com fotos da atriz. E uma das pastas foi registrada como "Carola".
Mas a maioria dos arquivos tinha sido completamente apagada. Ou na linguagem técnica, alguns computadores foram formatados.
Polícia: Quando é que você formatou sua máquina, Diego?
Diego: Eu formatei ontem.
Polícia: Ontem? Então estava esperando a chegada da polícia?
A polícia já sabia que Diego não estava sozinho na ação. Carolina Dieckmann procurou a polícia no último dia 7, uma segunda-feira: 36 fotos pessoais da atriz tinham sido publicadas na internet na sexta anterior. Carolina vinha recebendo ameaças de extorsão desde o fim de março, mas disse que não tinha registrado queixa até então para evitar ainda mais exposição. Na delegacia, ela contou que estava tendo problemas nas suas contas em sites de relacionamentos desde o ano passado. Disse que foi a empregada que atendeu o telefonema de um homem que dizia ter fotos dela. Em seguida, o homem mandou duas imagens para o empresário de Carolina e pediu R$ 10 mil para não divulgar.
A primeira suspeita da atriz foi de que as fotos pudessem ter sido copiadas - há dois meses - quando o equipamento foi levado para conserto. Técnicos e responsáveis pela loja chegaram a ser ouvidos. Os advogados dela tentaram impedir na Justiça que sites continuassem divulgando as fotos. “Esses crimes deixam rastro. Esses crimes deixam uma série de rastros, que provavelmente nós conseguiremos chegar mais cedo do que se pensa a esse autor”, disse o advogado de Carolina, Antônio Carlos de Almeida Castro, em 07 de maio. No mesmo dia que a atriz prestou queixa, a Delegacia de Repressão Contra Crimes de Internet, sob o comando do delegado Gilson Perdigão, começou uma investigação.
Um grupo especializado de policiais civis usou programas de contra-espionagem para chegar ao grupo responsável pelo vazamento das fotos. Foi então que os agentes descobriram que Carolina Dieckmann tinha sido, na verdade, vítima de hackers - que invadiram a caixa de e-mails da atriz. No grupo, quatro rapazes, um deles menor de idade. O principal suspeito de ter furtado as fotos da atriz é Leonam Santos, de 20 anos.
Fomos até a casa dele na tarde deste domingo na cidade de Córrego Danta, em Minas Gerais.
“A Polícia Civil do Rio de Janeiro tem informação de que você é que teria conseguido invadir o computador da Carolina Dieckmann e espalhado as fotos na internet”, diz o repórter. “Não, não fiz isso não. Conforme as investigações vão comprovar quem fez isso”, defende-se. Leonam vive numa casa simples. Ele convidou a equipe para entrar. Mostrou um computador que está com a tela quebrada. Disse que já é investigado numa outra ação de hackers que teriam desviado dinheiro, mas disse que é inocente. “As investigações vão provar que não sou o culpado. Teve uma denúncia que eu estava desviando dinheiro de contas bancárias. Meu computador tá na Polícia Civil, deve ter uns dois meses que está lá. Denúncia falsa, né?”, diz Leonam.
Os outros acusados de espionagem virtual começaram a ser descobertos. O menor de idade - que não pode ter o nome revelado - é suspeito de ter feito as ligações para chantagear Carolina Dieckmann. Diego, encontrado em Macatuba, no interior paulista, que você viu no início da reportagem, foi o primeiro a divulgar as fotos da atriz para um site pornográfico, segundo a polícia. O site seria de Pedro Henrique Mathias. O outro envolvido não teve a identificação revelada pela polícia. A varredura feita no computador da atriz detectou que o invasor furtou, ao todo, 60 arquivos. Os investigadores interceptaram uma troca de mensagens frenética pela internet entre o grupo. Diego admite que passou as fotos adiante.
Diego: “Eu passei pro cara na quinta à noite. Ele pôs no site dele sexta de tarde. Na mesma hora estava em todos os jornais”. Numa outra conversa, os suspeitos contam como teriam conseguido as fotos.
Diego: Foi apenas invasão de email, não de PC. Acho que ele pegou nos enviados dela”, diz Diego.
Como esse rapaz conseguiu furtar as fotos no computador da Carolina Dieckmann?
“Foi por uso de um software mal intencionado enviado pra conta de email dela, que a gente chama de spam, e a vítima fatalmente clicou nesse spam, ela abriu esse spam no computador ou no portátil dela ou no próprio PC e provavelmente ela tenha deixado esse arquivo ser reenviado, respondido pro autor”, explica Rodrigo Valle, inspetor do Grupo de Operações de Portais.
Mas os hackers estavam preocupados com a repercussão do caso. E começaram a temer as consequências da extorsão.
Diego escreve: “A pena grave aí é essa extorsão. isso aí eu nunca fiz. Só se foi o outro”.
O homem apontado como o dono do site que divulgou as fotos também dá a entender que não sabia da extorsão. Na conversa com Diego, Pedro Henrique diz: “Prevejo problemas”. E pergunta: “Viu o noticiário? Ela alega ter sido chantageada. Aí a coisa muda de figura e em uma das fotos, sem ver, publiquei um print, onde apareceu seu MSN”.
E foram as informações deixadas pelos próprios hackers nos acessos aos emails de Carolina Dieckmann que os investigadores encontraram uma espécie de impressão digital eletrônica dos suspeitos. Cada computador tem um número de identificação, o chamado IP, e foi através dele que Leonam e Diego foram descobertos.
“Não podem se esconder tanto como acham que estão escondidos, estão protegidos. Acham que conseguem mascarar o endereço de IP e acham que com isso a polícia não vai chegar. A polícia chega sim. Pode levar um pouco mais de tempo, um pouco menos de tempo, mas a polícia chega”, afirma Valle.
O Brasil não tem lei específica para crimes de informática. Mas isso não significa que quem comete crime virtual fique sem punição. A Justiça se baseia no Código Penal, e no caso da atriz os envolvidos serão indiciados por furto, extorsão qualificada e difamação. O grupo de hackers sabia que era investigado, mas eles duvidavam que seriam pegos.
Diego: “Boa noite. Qualquer coisa vai na cadeia fazer uma visitinha lá pra mim. Hauhauhau”.
“E eles acreditavam que a polícia não teria recursos de detectar a ação deles. Nós chegamos e batemos na porta da casa de um deles e já identificamos os outros três”, conta Valle. “Deixaram rastro. Todo crime sempre tem um vestígio. Na internet não é diferente. Crime na internet também deixa vestígio”.
Nós tentamos entrar em contato com Pedro Henrique Matias, acusado de ter divulgado as fotos de Carolina Dieckmann num site pornográfico. Nossa produção recebeu uma resposta sem assinatura, por e-mail. O autor da mensagem diz que o site não foi o primeiro a divulgar as fotos. Que repudia qualquer tipo de chantagem e que está disposto a colaborar com as investigações.
A polícia ainda não conclui o inquérito. Os investigadores agora esperam os laudos da perícia tanto do computador da atriz quanto dos apreendidos com os hackers. Os suspeitos vão ser intimados a depor nas cidades onde vivem. Se forem condenados pelos crimes de difamação, furto e extorsão, eles podem pegar até 15 anos de cadeia.
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