Artilheiro do campeonato estadual e patrocinado por uma grande fornecedora de material esportivo. Essa é a situação de alguns atacantes de renome no futebol nacional. Porém, não para alguém que ainda mescla bola e chuteira com cadernos e livros. Essa realidade é vivenciada para uma das novas promessas do Santos, que, logo aos 11 anos, chama a atenção desde cedo e atende pelo nome de Kaio Jorge ou Kaio Recife.
O segundo nome, obviamente, não deixa dúvidas quanto à sua origem. Talentoso com a bola nos pés desde cedo na capital pernambucana, o garoto com cinco anos já disputava competições sub-12, segundo o pai Jorge Ramos relatou em entrevista ao ESPN.com.br. "Ele sempre foi avantajado fisicamente."
Chamando atenção em menores competições, despertou o interesse do Náutico, pelo qual começaria a jogar no final de 2007. Foram quatro anos de muitos títulos coletivos e individuais, como o seu blog pessoal indica. A página foi criada pelo pai com o intuito de promover o promissor talento desde cedo.
"Eu fui jogador profissional e sei dessa parte fora de campo, tem que se tratar. A gente sabe que se não tiver alguém por trás, desanda. A mãe dele também está de olho nisso sempre", conta Jorge.
Mesmo com apenas 11 anos, o garoto tem assessoria de gente grande. Os vídeos no YouTube com descrição em inglês, as fotos e o currículo em sua página ‘oficial' não deixam mentir.
Em 2011, saiu do Náutico para manter o sucesso no Sport e, um ano depois, a família decidiu tentar a sorte no Sudeste. Não tiveram sucesso ao bater na porta do São Paulo, que o indicou ao Vitória. A alternativa foi um contato com um empresário em Santos.
O teste marcado em novembro do ano passado pelo time da Vila Belmiro (com o qual "teve um namoro quando tinha sete anos") não seria grande obstáculo para Kaio Jorge. "Ele foi aprovado com cinco minutos. Quem consegue isso é porque é de alto rendimento. A diretoria já sabia o potencial que tinha na mão", diz o orgulhoso pai.
Jogando futebol de salão e campo, o garoto acumulou mais títulos e prêmios para a lista que poderiam muito bem preencher o seu blog, caso este não estivesse deixado um pouco de lado. Apesar de o menino praticar os dois esportes, a preferência é clara. "O salão só ajuda em alguma coisa, na bolsa de escola. O campo é o que dá respaldo."
A ideia da família em destacar o jovem talento é nítida. Não à toa, ele já é patrocinado pela Puma, que o fornece equipamentos esportivos. Em troca, o garoto aparece em eventos da marca. No entanto, apesar dessa assessoria e, por que não, marketing em cima de Kaio Jorge, o pai quer que o filho encare isso sem se pressionar e criar expectativas para ser um grande talento.
"Eu sempre falo para ele, com essa saída do Neymar, estão sempre procurando jogador. Eu falo: ‘Kaio, não quero que você se compare a ninguém, seja você mesmo'. Eu passo para ele não ter responsabilidade, para jogar bola com alegria. A gente não passa responsabilidade, porque ele é muito novo. Muitos jogadores se perdem hoje por isso. A família deposita uma esperança muito grande no atleta, que não consegue render o esperado", afirma.
O título mais recente de Kaio Recife no Santos veio no último domingo, quando ele deu uma assistência e marcou um gol na vitória por 2 a 0 sobre a Portuguesa, que decretou a conquista do time praiano no Campeonato Paulista sub-11. De quebra, o atacante, dono de grande habilidade e um raciocínio para criar jogadas e dribles além de sua idade, terminou como artilheiro com 17 bolas na rede ao longo da competição.
O bom desempenho em campo só tem sido possível também porque o garoto tem feito sua parte na sala de aula. Afinal, para jogar no Santos, tem de mostrar que as notas no boletim estão todas azuis.
"Ele é uma criança normal, brinca normal. Tem o horário de estudo, de treinar. Ele melhorou muito depois que chegou aqui. Isso na escola e como pessoa, ele é mais responsável, e a tendência é que cresça cada vez mais."
Se o clube se preocupa com a vida fora dos campos, também mostra a precaução quanto a uma superexposição dele. A reportagem do ESPN.com.br entrou em contato com a assessoria do Santos para poder entrevistar Kaio Jorge após a final contra a Portuguesa, mas, por essa razão, foi aconselhada a não o fazer.
Fonte: ESPN