Pouco antes de deixar o MEC (Ministério da Educação), Fernando Haddad reconheceu falhas no ensino médio e na educação rural em entrevista à Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira, 23. Haddad, que vai disputar a Prefeitura de São Paulo, passa o cargo a Aloizio Mercadante na terça-feira, 24.
Depois de quase sete anos no comando do MEC, Haddad afirmou ao jornal que o número de matrículas no ensino médio ainda é insuficiente. Menos da metade dos jovens com 19 anos concluiu o nível. Segundo ele, “a partir dos 15 anos, a matrícula não é obrigatória. A obrigatoriedade só entra em vigor em 2016".
O ministro disse ainda que “algo que gostaria de ter feito mais seria na educação no campo, a pescadores, quilombolas, indígenas e população ribeirinha”. É principalmente na zona rural que ainda persiste o analfabetismo no Brasil. Segundo o Censo Demográfico de 2010, 9,6% da população com 15 anos ou mais é analfabeta. A meta era zerar o índice.
Ao jornal, Haddad afirmou que os problemas no Enem desde 2009 foram "pontuais". Naquele ano, o roubo das provas teria provocado um prejuízo de R$ 46 milhões aos cofres públicos. A descoberta da fraude levou ao cancelamento do Enem, que teve de ser refeito e remarcado.
Na ocasião, o então presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Reynaldo Fernandes, deixou o cargo. A remarcação da prova levou os estudantes a protestarem nas ruas contra a confusão - as novas datas coincidiam com alguns vestibulares - e a abstenção chegou a 1,5 milhões de inscritos.
Em 2010, houve erros na impressão das provas, perguntas repetidas e sequências erradas. Foram encontrados também problemas nas folhas de resposta. No mesmo ano, uma professora de Remanso (BA) teve acesso ao tema da redação e avisou o marido, que depois de uma pesquisa na internet teria orientado o filho que iria fazer a prova. Como consequência, o presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto, também deixou o cargo em janeiro de 2011.
A edição 2011 do Enem foi marcada por mais um episódio de vazamento. No ano passado, 639 alunos do colégio Christus, em Fortaleza, tiveram acesso a 14 questões da prova. Os itens estavam em apostila distribuída pela escola semanas antes da aplicação do Enem e vazaram da fase de pré-testes do exame, realizada na instituição de ensino em outubro de 2010.
Outras polêmicas
Haddad, porém, não é criticado apenas pela instabilidade do Enem. Ele se envolveu recentemente em duas polêmicas. Em maio do ano passado, o MEC planejava enviar para 6.000 escolas públicas do país um kit batizado de Escola sem Homofobia, destinado a alunos e professores do ensino médio, nível em que estão estudantes com idades entre 14 e 18 anos.
O material continha vídeos - divulgados na internet - que tratavam de forma explícita de questões como transexualidade, bissexualidade, relações entre gays e lésbicas. O material foi duramente criticado no Congresso, no qual passou a ser denominado de kit gay. Diante da polêmica, a presidente Dilma Rousseff suspendeu a produção do material e a distribuição do kit em planejamento pelo Ministério da Educação.
Ainda em maio, o ministro se viu mais uma vez no centro da polêmica como alvo por causa de um livro didático distribuído pelo governo em mais de 4.000 escolas com erros intencionais de concordância, para aproximar os alunos da linguagem popular.
Entre os erros gramaticais e incorreções, havia frases como “nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”. O ministro defendeu a publicação e reagiu contra seus críticos.
R7