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Velório e sepultamento de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, foi realizado no Cemitério de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, neste sábado
Enterro de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, no Cemitério de Campo Grande — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo |
A despedida de Paulo Roberto Braga, de 68 anos, foi acompanhada por cerca de 15 pessoas na manhã deste sábado no Cemitério de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. O idoso foi levado por Erika de Souza Vieira Nunes a uma agência bancária, na última terça-feira, para fazer um empréstimo de R$ 17 mil quando teve a morte constata. Exames do Instituto Médicos-Legal (IML) apontaram que ele morreu antes de chegar à agência. O caso ganhou grande repercussão nos últimos dias, inclusive pela demora na liberação do corpo do idoso por falta de documentação a ser entregue pela família. Nesta manhã, o velório e o sepultamento, que durou cerca de 40 minutos, foi acompanhado pelo pequeno grupo, entre eles, uma pessoa que se sensibilizou com a história, mesmo sem conhecer a família ou Paulo Roberto.
A pedagoga Cláudia Dias decidiu ir ao enterro para dar apoio à família após tomar conhecimento do caso por meio das redes sociais.
— Vim dar meu apoio moral e soube nas redes sociais que o enterro aconteceria às 11h30 e não tive dúvida. Sou campo-grandense, moro aqui do lado. A gente acaba ficando com pena de ver uma história assim, mexe com os nossos sentimentos. Não conhecia ele ou a família, mas resolvi vir— disse Cláudia.
Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo |
Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo |
Sob forte comoção, parentes do idoso realizaram uma corrente de oração durante o sepultamento. Paulo Roberto foi velado na capela 1 do cemitério, e a cerimônia durou cerca de 40 minutos. Depois, os parentes, que não quiseram conversar com a imprensa, seguiram em cortejo.
Durante o enterro, um pastor também fez orações para Erika, que se identificou como sobrinha da vítima. O corpo do "Tio Paulo" permaneceu por quase dois dias no IML de Campo Grande, aguardando o envio de documentação de parentes para que fosse feito o sepultamento social solicitado por seus familiares à prefeitura do Rio. A declaração de sepultamento foi assinada por Ana Fátima, uma sobrinha de Paulo Roberto.
Érika foi presa em flagrante por vilipêndio de cadáver e furto mediante fraude. Na tarde da última quinta-feira, a 2ª Vara Criminal da Regional de Bangu converteu em preventiva a prisão da suspeita. Era a mulher que acompanhava o idoso ao banco e foi gravada pedindo que ele assinasse os papeis para realizar o empréstimo. Em depoimento à polícia, Érika disse que atendia a um pedido de Paulo Roberto que queria comprar um aparelho de televisão e fazer obra na casa. Na agência bancária, no entanto, foi constatado pelo Serviço de Atendimento Móvel (Samu) que o idoso estava morto.
Advogada da suspeita, Ana Carla de Souza Corrêa afirmou que os parentes acreditam na inocência de Érika, que faz uso de forte medicação para tratar uma depressão. Eles acreditam que isso tenha alguma influência no desenrolar da situação, mas descartam qualquer possibilidade de uma tentativa de golpe.
— Ela não era uma cuidadora dele, existe de fato uma ligação familiar entre eles. Se ela quisesse ter praticado um golpe, seria mais fácil ter assinado uma procuração e isso não aconteceu. E essa história de que ele passava por dificuldades para se manter é mentira. É uma família pobre, mas ele nunca precisou da ajuda de vizinhos para se alimentar — afirmou.
Uma investigação da 34ª DP (Bangu) busca esclarecer mais detalhes sobre o episódio, entre eles se há mais envolvidos.
O delegado que investiga o caso, Fábio Luiz da Silva Souza, da 34ª DP (Bangu), diz que entre os dias 15 — quando o idoso teve alta da UPA onde estava internado há uma semana — e 16 de abril, Érika esteve com ele em três instituições financeiras em busca de crédito.
Além de agências do Itaú e do BMG, ambas em Bangu, os dois teriam passado ainda, segundo o delegado, em uma filial da Crefisa, cuja localização não foi revelada. Foram identificadas também tentativas de compra de celulares. A polícia pediu a quebra do sigilo bancário para saber se outras movimentações na conta de Paulo Roberto foram feitas anteriormente.
Causa da morte
A broncoaspiração é a causa da morte de Paulo Roberto Braga. A condição se dá quando o conteúdo do estômago — normalmente suco gástrico com ou sem restos alimentares — é aspirado e entra nas vias respiratórias. Entre os sintomas que podem ser observados estão: tosse, engasgo, falta de ar e sufocamento. Segundo o laudo cadavérico, produzido pelo IML, a aparência dele era a de um "homem caquético", ou seja, enfraquecido e debilitado.
Véspera da morte
Na última segunda-feira, dia anterior à morte, Paulo recebeu alta da UPA de Bangu, onde estava internado há uma semana com pneumonia. No prontuário hospitalar, há a informação de que ele chegou à unidade com dificuldade de andar, de falar e com pressão baixa. No hospital, o idoso precisou de aparelhos para ajudar na oxigenação.
Há o registro de que ele havia "apresentado engasgos, mantendo alimentos na cavidade oral". Além disso, ele estava "desorientado, pouco responsivo e com pouca interação com o examinador". O registro de engasgos é recorrente em todo prontuário desde o dia 8, quando o idoso chegou à Unidade de Pronto Atendimento.
Horas antes da morte
Imagens de câmeras de segurança mostram Érika andando pelo Shopping Real, em Bangu, com o idoso perto das 12h50. Ele chegou a ficar sozinho na cadeira de rodas por duas vezes, no meio do centro comercial. Perto da entrada do estabelecimento, ele parece estar orientado e levanta o braço esquerdo na direção da porta de vidro.
Ele mexe a cabeça e olha para um homem que passa pelo local e parece parar para falar com eles. Uma pessoa que não quis se identificar afirmou que conversou com uma funcionária de uma agência financeira e soube que o idoso estava com a aparência fraca, mas que chegou a tomar um café. A polícia afirma que Erika e Paulo teriam visitado três instituições financeiras em busca de crédito.
Com informações O Globo