A Saúde Pública da Inglaterra disse nesta sexta-feira (6) que indícios iniciais levam a crer que os níveis de coronavírus encontrados em pessoas infectadas com a variante Delta são semelhantes quer tenham sido vacinadas ou não, o que pode ter implicações em sua transmissibilidade.
"Algumas descobertas iniciais... indicam que os níveis do vírus naqueles que se tornam infectados com a Delta já tendo sido vacinados podem ser semelhantes aos níveis encontrados em pessoas não-vacinadas", informou a Saúde Pública da Inglaterra em um comunicado.
"Isto pode ter implicações na transmissibilidade das pessoas, quer tenham sido vacinadas ou não. Entretanto, esta é uma análise exploratória inicial, e novos estudos direcionados são necessários para confirmar se é este o caso."
O aumento do número de internações por covid-19 de idosos acima dos 80 anos em São Paulo e no Rio de Janeiro, observado por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), expôs uma preocupação que existe entre cientistas desde o começo da vacinação: por quanto tempo a imunização contra a covid-19 permanece após o esquema vacinal completo?
Para a infectologista Rosana Ritchman, diretora clínica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, a volta de casos de infectados entre os idosos não é surpreendente.
“Imaginávamos que as novas internações dos idosos começariam a acontecer. Porque essas pessoas receberam o imunizante há mais tempo e sabemos que, com o passar dos meses, a quantidade de proteção vai declinando”, explica a médica.
O infectologista Carlos Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp, pede cautela na análise dos dados levantados pelo Grupo de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica da Fiocruz.
“Isso é uma coisa muito sutil para dizer que é uma tendência. Tenho muito cuidado para fazer esse tipo de avaliaçã. É preciso esperar um tempo para ter dados robustos. Existe uma variação normal, uma semana mais, outras, menos. Se toda semana a mais eu falar de aumentou e na semana a menos eu comemorar que melhorou, estarei sempre falando alguma coisa com dados de curto tempo”, afirma Fortaleza.
Os motivos para esta volta podem estar ligados a dois fatores, segundo os especialistas: ação menor de imunizantes entre os idosos e o uso da CoronaVac na faixa etária, que, de acordo com estudos, a eficácia é menor com o passar do tempo e nos mais velhos.
“Alguém de 80 anos responde pior à vacina do que alguém jovem. A duração de proteção em alguém de 80 anos, eu imagino que seja mais curta mesmo. Juntamos ao fato de que muitas pessoas nesta faixa etária tomou a CoronaVac, que sabemos que tem uma proteção inferior ao ser comparada com as outras. Não para doença grave, mas de uma maneira geral. Não é surpreendente que após seis, sete meses as pessoas comecem a adoecer”, diz Rosana.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 5,07 milhões de pessoas acima de 80 anos receberam o imunizante produzido pelo Instituto Butantan; enquanto 3,41 milhões foram vacinadas com a AstraZeneca, fabricada no Brasil pela Fiocruz.
O tema discutido pelo Ministério da Saúde e por especialistas é sobre a necessidade da dose de reforço para os mais velhos e qual imunizante seria o mais indicado para garantir o controle da doença. Fortaleza ressalta que o momento do país não é confortável para usar vacinas revacinando pessoas mais velhas.
“Tem gente estudando isso e temos de esperar. Agora, no Brasil, precisamos de uma força-tarefa para vacinar todo mundo. A proteção contra a covid não é individual e sim coletiva. Se muita gente estiver vacinada, o vírus circula menos e protege todo mundo. Não dá para desviar doses antes de vacinar a população inteira. Pode reduzir os problemas em alguns grupos, mas dificultar o controle da covid como um todo”, observa o infectologista.
Na última quarta-feira (4), a OMS (Organização Mundial da Saúde) pediu aos países que estão aplicando doses de reforço que parem a vacinação e doe para os países mais pobres que ainda não têm produtos suficientes para aplicar na população.
O ministro da Saúde Marcelo Queiroga anunciou, no dia 28 de julho, que a pasta está financiando um estudo, que será feito pela Universidade de Oxford, sem participação do Instituto Butantan, para definir a estratégia de vacinação no país.
“O ideal seria que tivéssemos vacina para todo mundo, tanto para completar a imunização quanto para dar o reforço em quem precisa. Em termos de saúde pública, creio que Ministério vai querer acabar logo com a vacinação, pelo menos de primeira dose, da população adulta. Em termos individuais, é claro que seria ideal a terceira dose”, afirma Rosana.
A empresa de biotecnologia norte-americana Moderna informou nesta quinta-feira (5) que a proteção contra casos sintomáticos de covid-19 da vacina desenvolvida por ela se mantém em 93%, muito próximo dos 94,1% observados logo após a vacinação.
Com isto, a vacina da Moderna é a que mais mantém a eficácia mais alta no período. A da Pfizer, que apresentou cerca de 95% de proteção contra casos sintomáticos alguns dias após a segunda dose, apresentou uma redução média para 83,4% depois de seis meses.
"Estamos satisfeitos que nossa vacina contra covid-19 esteja mostrando eficácia durável de 93% por seis meses, mas reconhecemos que a variante Delta é uma nova ameaça significativa, portanto, devemos permanecer vigilantes", afirmou o diretor-executivo da Moderna, Stéphane Bancel, em comunicado ao mercado financeiro no balanço de resultados da empresa no segundo trimestre.
As vacinas da Moderna e da Pfizer utilizam tecnologia de RNA mensageiro e são as que, nos estudos até o momento, conferiram as mais altas taxas de proteção contra a covid-19.
Estudo feito por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com pacientes imunossuprimidos mostrou que a vacina CoronaVac aumenta os níveis de anticorpos contra a covid-19 em até 70,4%. A pesquisa foi publicada, em julho, na revista científica britânica Nature.
Os imunossuprimidos são as pessoas que apresentam comprometimento no mecanismo de defesa do organismo contra infecções.
Os cientistas estudaram 910 pacientes com doenças reumatológicas autoimunes e 182 pessoas saudáveis de um grupo de controle. A conclusão foi que a vacina é capaz de aumentar em 70,4% o percentual de anticorpos IgG que combatem o vírus. No grupo de controle, a elevação no número de anticorpos chegou a 95,5%.
Em relação aos anticorpos neutralizantes, o estudo indicou uma elevação de 56,3% entre os imunossuprimidos e de 79,3% no grupo de controle de adultos saudáveis.
O ensaio destaca, ainda, que pessoas com doenças autoimunes, em que o sistema imunológico ataca o próprio organismo, são tratadas frequentemente com medicamentos que reduzem os níveis de anticorpos e, consequentemente, a capacidade de resposta do corpo à doença.
Reações adversas
Também não foram anotadas reações adversas moderadas ou graves após aplicação da vacina, produzida no Brasil em uma parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac.
As reações mais relatadas foram dor no local da injeção, por 19,8% dos imunossuprimidos e 17% do grupo de controle, dores de cabeça (20,2% entre os imunossuprimidos e 11% no grupo de controle) e sonolência (13,6% nos imunossuprimidos e 10,4% no grupo de controle).
Os pesquisadores apontam, também, no texto da publicação científica, que o levantamento comprovou a capacidade da vacina de reduzir no curto prazo o número de casos sintomáticos de covid-19. No entanto, o grupo disse que os efeitos a longo prazo ainda estão sendo estudados, inclusive a necessidade de um reforço vacinal.