A região do Cerrado pode ser a solução para o abastecimento de carne e grãos no Brasil, sem precisar derrubar uma única árvore em florestas virgens. Segundo maior bioma do país, o cerrado ocupa 24% do território nacional, em um total de 2 milhões de quilômetros quadrados (km²).
Pelo menos 48% desse território já foram desmatados, praticamente tudo nos últimos 50 anos. Entre 2002 e 2008, a área desmatada foi 14 mil quilômetros quadrados (km²) ao ano e caiu para 6,4 mil km² entre 2009 e 2010.
Em setembro de 2010, o bioma passou a receber maior atenção do governo, com o lançamento, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Plano de Ação para Prevenção do Desmatamento e Controle das Queimadas no Cerrado, (PPCerrado). De acordo com o MMA, a lavoura e a pecuária são as principais atividades responsáveis por essa devastação - 54 milhões de hectares de cerrado deram lugar a pastagens e 22 milhões estão ocupados por plantações de grãos.
Para a professora da Universidade de Brasília Mercedes Bustamente, o problema é a grande extensão de pastagens degradadas, que precisam ser recuperadas. “São pastagens que ainda estão em uso, mas que têm baixa produtividade. Então, de que forma a gente pode recuperar a produtividade dessas áreas, seja para pastagem ou para outros usos agrícolas e, dessa forma, minimizar o impacto da abertura de novas áreas de cerrado? Porque isso tem um impacto não só sobre a questão climática, na capacidade de retenção de água, de uso de água, mas também sobre a biodiversidade, já que o cerrado é a savana mais rica, mais biodiversa do mundo”.
Uma resposta possível vem da Embrapa Arroz e Feijão. Na sede em Goiânia, o pesquisador João Kluthcouski ensina e incentiva os produtores a adotar a integração lavoura-pecuária para tornar essas áreas produtivas novamente. “Uma das alternativas é pegar essas áreas degradadas e fazer o consórcio de grãos com pasto, com gramíneas forrageiras tropicais - pode ser o arroz, que é a espécie mais adaptada, pode ser o milho, pode ser o sorgo, isso em pastos e solos degradados também”, explica.
O pesquisador da Embrapa Cerrados Lourival Vilela diz que um dos motivos que impedem a expansão rápida dessa técnica é a complexidade de administrar mais de um sistema produtivo. “Quando, por exemplo, um produtor de grãos sai de um sistema especializado e começa a introduzir outros elementos, como pecuária e floresta, dentro da propriedade, é evidente que o sistema começa a se tornar mais complexo. Isso exige não só investimentos, como também uma capacidade gerencial muito maior".
De acordo com as pesquisas da Embrapa, esta é a solução mais viável economicamente a curto prazo. Para Kluthcouski, o recurso gerado pela colheita desses grãos é suficiente para pagar todos os insumos e serviços necessários à recuperação.
Agência Brasil