• Hospital Clinicor
  • Vamol
  • Roma

A automedicação feita na tentativa de driblar o contágio ou os sintomas da covid-19 pode provocar efeitos colaterais como a falência do fígado, em decorrência de uma lesão hepática, além de não evitar a doença, já que não existe tratamento preventivo. É o que explica a imunologista Ekaterini Simões Goudouris, diretora da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

Não é recomendado o uso de nenhum remédio sem prescrição médica, no entanto, em fases diferentes da pandemia, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) passou a exigir a apresentação de receita para liberação de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina em decorrência da alta procura nas farmácias. A retenção da receita de ivermectina foi suspensa meses depois.
“Quando um médico receita um medicamento, ele está ciente de todos os efeitos colaterais que podem acontecer e vai monitorar. Se a pessoa usa um remédio por conta própria, sem o acompanhamento, quando perceber, já teve uma lesão irreversível no fígado e foi parar no hospital”, explica Ekaterini.

A médica ressalta que o uso sem orientação ou acompanhamento médico desses remédios contra a covid-19 podem causar problemas como arritmia cardíaca e hepatite medicamentosa.

“A hidroxicloroquina e a azitromicina, que é um antibiótico que também tem sido usado por conta própria por várias pessoas na tentativa de prevenir ou tratar a covid, juntas tem um efeito chamado de interação medicamentosa que favorece e aumenta a chance de ter algum efeito colateral cardíaco”, diz Ekaterini.

 

“Usar a ivermectina, que pode ter toxicidade hepática, com outro medicamento que também tenha essa toxicidade, pode provocar um acúmulo e causar um dano maior no fígado”, explica a especialista.

A hepatite medicamentosa é uma inflamação do fígado que acontece por conta de alguns medicamentos que podem ter toxicidade e agredir o órgão. Se essa agressão ocorrer de forma intensa, pode acabar comprometendo em definitivo a função do fígado e exigir um transplante.

“No caso do fígado, o monitoramento é feito por meio de exame de sangue. Se aparecer alguma alteração, o médico faz uma interferência, reduz o uso da medicação ou interrompe por um tempo. Se o remédio tem algum efeito ruim no coração, será feita a mesma coisa, vai depender da medicação”, afirma Ekaterini.

A imunologista ressalta que qualquer remédio, em qualquer dose, pode causar uma lesão não necessariamente pelo uso excessivo. “Às vezes, a medicação pode ser danosa mesmo sendo usada na dosagem certa. O trabalho do médico não é só receitar o medicamento correto para determinada doença, é também acompanhar o paciente que está usando o tratamento que ele receitou. A automedicação impede que alguém seja responsável e acompanhe esses possíveis danos”, explica a especialista.

Segundo o hepatologista Rogério Alves, médico do hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, o risco de lesões no fígado aumentam ainda mais se associadas à covid-19. Isso porque cerca de 30% dos pacientes diagnosticados com a doença têm sintomas gastrointestinais, como diarreia, náusea, vômitos e alterações no funcionamento do fígado.

“Pacientes que tomam ivermectina por outros problemas, independentemente de ter covid, podem desenvolver algum tipo de hepatite medicamentosa, mas é algo que acontece raramente”, diz o especialista. “Às vezes a pessoa tem alguma doença no fígado e não sabe, ao fazer uso sem prescrição, pode ter esse efeito indesejado”.

O hepatologista alerta, ainda, que não há nenhuma recomendação de tratamento precoce para evitar a doença. “Quando você usa a medicação sem supervisão, você está sujeito a um risco maior. Nem todo remédio que parece inofensivo, realmente é”, afirma o médico.

 

R7