O Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FMUSP) da Universidade de São Paulo (USP), pretende iniciar em março de 2021 testes para identificar os efeitos terapêuticos da magnetoconvulsoterapia no tratamento de depressão grave.
A técnica permite a indução de convulsões para a estimulação do cérebro com ondas magnéticas, semelhantes às utilizadas nos aparelhos de ressonância magnética.
"Essa ação difusa - em teoria - leva a uma despolarização do cérebro, o que causa a crise convulsiva. A vantagem da nova técnica em relação à ECT (eletroconvulsoterapia), é que ela provoca menos efeitos colaterais, como perda de memória. Com a magnetoconvulsoterapia os pacientes recuperam sua orientação mais rapidamente", afirma o psiquiatra José Gallucci Neto, um dos coordenadores do estudo.
O tratamento libera neurotransmissores como a serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato, que são responsáveis por propagar os impulsos nervosos do cérebro, mantendo o bem-estar emocional.
Segundo o pesquisador, o procedimento experimental irá comparar os efeitos da magnetoconvulsoterapia com eletroconvulsoterapia (ECT).
O estudo contará com 100 voluntários que sofrem de depressão grave, metade deles será submetida à ECT e os outros 50 serão tratados com a nova técnica. A pesquisa já foi aprovado e está prevista para entrar em execução em março de 2021.
Os pacientes irão realizar, gratuitamente, seis a doze sessões de tratamento. No final das sessões os pesquisadores vão avaliar a melhora clínica dos voluntários obtida em cada uma das técnicas e os efeitos cognitivos e na memória.
Eletroconvulsoterapia (ECT)
A ECT é um tratamento psiquiátrico no qual são provocadas alterações na atividade elétrica do cérebro, induzidas através da passagem de corrente elétrica. O paciente submetido a esse tratamento precisa estar sob condição de anestesia geral.
Atualmente, a ECT é vista com frequência com reservas pela medicina. Mas ainda é um tratamento com eficácia para um pequeno grupo de doenças mentais.
Apesar de não estar totalmente claro seu funcionamento, a terapia de choque pode ajudar, em mais de 80% dos casos, a eliminar os piores sintomas da mania, da catatonia (condição mental que deixa os pacientes retraídos, mudos e apáticos) ou da depressão grave, que pode levar ao suicídio.
"A magnetoconvulsoterapia não causa nenhum tipo de dano ou prejuízo para o cérebro, os pacientes não recebem choques elétricos e recuperam sua orientação mais rapidamente", afirma Neto.
"Na depressão temos tratamentos eficazes. Os antidepressivos funcionam em até 70% dos casos, com o uso da terapia você aumenta a efetividade. A ideia da magnetoconvulsoterapia é entregar um tratamento eficaz e também diminuir o estigma a cerca do uso de ECT - que é muito visto como algo perigoso, quando, na verdade, é um dos métodos mais seguros que existem no tratamento para a depressão" , afirma Neto.
O equipamento produz um campo magnético, semelhante ao aparelho usado para estimulação magnética transcraniana, por meio de duas bobinas especiais, em forma de cone. A ferramenta de magnetoconvulsoterapia foi disponibilizado para pesquisas por meio de uma parceria com uma empresa dinamarquesa.
Se for comprovada a eficácia do tratamento, o equipamento precisará ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser disponibilizado na rede pública de saúde.
G1