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Uma pesquisa conduzida por uma cientista brasileira conseguiu devolver parte da visão a camundongos cegos. Os animais usados na experiência tinham uma lesão no nervo óptico, semelhante à que ocorre no glaucoma, entre os seres humanos. Os resultados foram apresentados na edição desta terça-feira, 22, da revista da Academia Americana de Ciências, a PNAS.

 

O estudo foi conduzido por Silmara de Lima, aluna de doutorado no programa de ciências morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela foi orientada por Ana Maria Blanco Martinez, e a pesquisa contou com a parceria da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

 

Os roedores não recuperaram a visão completamente, mas tiveram de volta três importantes reflexos visuais. Pela luz, eles foram capazes de distinguir dia e noite. Eles também adquiriram um pouco de acuidade visual, que é a capacidade de acompanhar o movimento de objetos. Além disso, recuperaram a noção de profundidade.

 

Para devolver essas funções, os pesquisadores tiveram que recuperar completamente os neurônios do nervo óptico e reconectá-los às células que levam os sinais ao cérebro. A façanha foi obtida com a aplicação casada de três técnicas que, separadas, tinham sucesso parcial comprovado.

 

Três técnicas

Uma dessas técnicas causa uma inflamação controlada dentro do olho. As células de defesa vão até o local combater a inflamação. Essas células secretam substâncias conhecidas como fatores tróficos, dentro do olho, que estimulam o neurônio a se regenerar. Outra técnica usada consiste em injetar dentro do olho uma substância chamada AMPc. Essa molécula facilita a ligação entre os fatores tróficos e os neurônios e, portanto, potencializa a primeira técnica. A substância existe naturalmente no olho, mas a injeção acelera o processo.

 

A terceira técnica utilizada foi a retirada de um gene chamado PTEN. O gene, que foi removido já na fase adulta com ajuda de um vírus, produz uma proteína que impede a regeneração do neurônio. Sem essa proteína, e com as outras duas técnicas, os neurônios puderam se regenerar completamente.

 

Aplicações

“É um resultado muito importante porque dá um sinal do que pode ser feito para tratamento em humanos”, apontou Silmara, ressaltando que um longo caminho ainda precisa ser percorrido até lá. Porém, ao mesmo tempo em que pede cautela com a atual descoberta, a autora aponta que os usos futuros podem ir além dos tratamentos dos olhos.

 

“O nervo óptico serve como modelo para outras partes do sistema nervoso, como o cérebro e a medula”, afirmou. “O que a gente viu que o axônio [parte do neurônio que conduz os sinais elétricos] pode se regenerar em distâncias muito longas. Isso sugere que nós podemos fazer o mesmo tratamento na medula”, indicou. O uso de técnicas regenerativas do sistema nervoso nessa parte no corpo poderia levar ao tratamento de paraplégicos, por exemplo.