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Uma pesquisa realizada por cientistas chineses detectou partículas de diferentes tipos de microplásticos no sêmen de homens, levantando preocupações sobre os efeitos potenciais desses contaminantes na saúde reprodutiva masculina. Com outros estudos sobre o assunto, em diferentes locais — como na própria Universidade de São Paulo —, eles documentaram a presença de microplásticos em várias partes do corpo humano.

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Segundo o professor Jorge Hallak, do Departamento de Patologia da FM (Faculdade de Medicina) e do Grupo de Estudo em Saúde Masculina do IEA (Instituto de Estudos Avançados), ambos da USP, a comunidade científica tem estudado substâncias conhecidas como xenobióticos há mais de duas décadas. Referentes a algo externo, ele explica que essas substâncias são estranhas ao organismo, como os microplásticos e outros poluentes atmosféricos que podem provocar efeitos prejudiciais.

“Isso é incorporado no nosso corpo de todas as maneiras possíveis. Alimentação, quando você come com aquele prato de plástico aquecido, quando você bebe uma água mineral em uma garrafa de plástico, então o nosso dia a dia é cheio de microplástico. Além dessas fontes, nós também vimos uma grande quantidade de microplástico nos oceanos, e mesmo em peixes de águas profundas, não só peixes superficiais, então é muito difícil fugir dos microplásticos em qualquer fonte”, explica. Hallak afirma que essas substâncias xenobióticas estão associadas ao aumento da incidência de certas doenças, principalmente no mundo industrializado.

Consequências na saúde humana O impacto dos microplásticos no sistema reprodutivo masculino é particularmente alarmante: “Hoje, na América Latina, dos casais que não conseguem engravidar, 52% é por causa masculina, ou seja, os homens estão passando as mulheres em termos de infertilidade no casal”.

De acordo com o professor, essas partículas não só foram encontradas no sêmen, mas também nos testículos e até nos espermatozoides. A presença de microplásticos pode causar uma microrreação inflamatória local, a qual leva a um estresse oxidativo, que é o radical livre de oxigênio.

Além dos efeitos locais, os microplásticos também têm impacto sistêmico, já que podem ser absorvidos pela corrente sanguínea e distribuir-se pelo corpo, onde podem desbalancear os hormônios do homem — ligados à maior incidência de câncer — e desencadear processos inflamatórios em outros órgãos, incluindo o cérebro.

Hallak mencionou que a exposição a microplásticos está associada a um aumento na incidência de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, já que, assim como as células testiculares, as células nervosas são ricas em ácidos graxos suscetíveis a danos.

Medidas a serem tomadas “O mecanismo de combater isso, pelo menos o efeito temporário para o homem conseguir ganhar fertilidade ou diminuir a chance de perder a capacidade reprodutiva, seria com o uso seletivo de alguns antioxidantes. A causa, que é muito difícil de ser tratada, está em todos os ambientes, mas o efeito nós temos como, dentro da andrologia, conseguir melhorar isso em termos de substâncias antioxidantes e, evidentemente, um pouco de mudança de hábito e estilo de vida”, afirma o especialista.

Apesar disso, ele reconhece que é praticamente impossível, no mundo moderno, evitar completamente a exposição a microplásticos.

Mesmo assim, Hallak destacou a importância de políticas públicas e de conscientização social para reduzir o uso de plásticos e minimizar os impactos sobre a saúde, sugerindo substituir o plástico por materiais mais amigáveis ao corpo humano — como o vidro — e evitar aquecer alimentos em recipientes plásticos — como, por exemplo, no micro-ondas.

“Teria que ser um movimento muito grande da sociedade, no sentido de você, mesmo que não fuja do plástico, usar tipos de plástico livres de BPA, de bisfenol A. Individualmente, cada um de nós podemos tomar essas atitudes”, concluiu.

Do Jornal da USP

Foto: Marcos Santos/USP Imagens