Os anestésicos são uma grande invenção da humanidade. Basicamente, eles têm o poder de "nocautear" o cérebro temporariamente, aniquilando as sensações (a palavra, aliás, vem do grego antigo an, que quer dizer sem, e aesthesis, que quer dizer sensação).
Trata-se de um componente químico capaz de criar um efeito complexo: uma combinação de paralisia (a falta de movimento), analgesia (a falta de dor), amnésia (a falta de memória) e inconsciência. Agora, a ciência tem levantado mais informações sobre como a anestesia funciona.
Como nosso cérebro responde à anestesia?
Nossos cérebros são capazes de passar por uma série de estados diariamente: uma campainha tocando, ou a notificação do seu celular, por exemplo, são capazes de gerar uma série de atividades neurais de uma hora para a outra. Mas, quando estamos sob o efeito da anestesia, é bem provável que não ouviremos nada, mesmo que não estejamos dormindo – o que nos levaria a outro estado neural totalmente diferente. Um estudo recente tentou levantar pistas sobre as diferenças entre um cérebro que está desacordado e quando está sob anestesia.
Isso foi feito a partir da análise da atividade cerebral para medir a estabilidade, um conceito matemático que verifica a capacidade de um sistema de se recuperar de perturbações e retornar a um estado de base. Quando um sistema está estável, ele pode mudar a posição, mas sempre volta à posição original, como um pêndulo.
Essa metodologia foi usada, segundo o professor Earl Miller, um dos autores seniores do estudo, porque esta é uma métrica útil para este tipo de avaliação. “O cérebro tem que operar neste fio da navalha entre a excitabilidade e o caos. Ele tem que ser excitável o suficiente para que seus neurônios influenciem uns aos outros, mas se ele ficar muito excitável, ele se transforma em caos", explicou em uma nota para a imprensa.
O experimento feito com macacos
Para observar isso, os pesquisadores observaram os cérebros de dois macacos enquanto eles recebiam propofol, um anestésico que normalmente é usado em cirurgias. À medida que os primatas se aprofundavam na anestesia, a atividade em seus cérebros se tornava cada vez mais instável.
De modo geral, a ciência explica que há duas classes de neurônios no seu cérebro: os que aumentam a atividade em outros neurônios (excitatórios) e os que a diminuem (inibitórios). O propofol atua no sistema inibitório, aumentando-o e desequilibrando o sistema.
Em seguida, os pesquisadores tocaram sons para os macacos que estavam sob o efeito do propofol. O que eles notaram que é, sob anestesia, as respostas no cérebro eram mais lentas e longas. O cérebro deles apresentava uma atividade errática, o que poderia significar que o órgão não era mais capaz de processar informações de forma eficaz.
Ou seja, a sugestão aqui é que o "caos" gerado no cérebro pode ser o responsável pelo fato de que não percebermos o ambiente em nosso entorno enquanto estamos anestesiados. Segundo a neurocientista Ila Fiete, também autora do estudo, esse método que foi usado no estudo pode servir para avaliar "diferentes estados cerebrais, diferentes tipos de anestésicos e também outras condições neuropsiquiátricas, como depressão e esquizofrenia”, conclui.
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