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O toque retal, o exame mais comum para rastrear o câncer de próstata, pode não ser tão eficaz quanto se imaginava. Pesquisadores descobriram que o método pode estar deixando passar despercebido casos precoces da doença.

O achado foi apresentado nesta quarta-feira (8), no Congresso Anual da Associação Europeia de Urologia, em Milão, na Itália.

"Uma das principais razões para o rastreamento do câncer de próstata é detectá-lo nos pacientes o mais cedo possível, pois isso pode levar a melhores resultados do tratamento. Mas nosso estudo sugere que o exame de toque simplesmente não é sensível o suficiente para detectar esses cânceres em estágio inicial", disse Agne Krilaviciute, a principal autora do estudo, em um comunicado.

No Brasil, o câncer de próstata é o mais incidente em homens, com 71,3 mil novos novos casos em 2022, segundo estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

Também é o segundo tipo que mais provoca óbitos em indivíduos do sexo masculino — atrás apenas de câncer de traqueia, brônquios e pulmões —, com 15,8 mil mortes em 2020. No estudo alemão, os cientistas reuniram informações de 46.495 homens, de 45 anos de idade, disponíveis na base de dados de quatro universidades — Technische Universität München, Hannover, Heidelberg e Düsseldorf — entre 2014 e 2019.

Metade dos voluntários passou pelo teste de Antigénio Específico da Próstata (PSA, na sigla em inglês), que mede o nível de glicoproteína — produzida pelas células da próstata – no sangue, logo após terem completado 45 anos.

Já os demais, chamados de grupo de rastreamento tardio, fizeram, inicialmente, apenas o toque retal e, aos 50 anos, o PSA.

Dentre os 6.537 homens que foram submetidos ao exame de toque, 57 apresentaram alguma suspeita da doença e foram encaminhados para uma biópsia. Desse total, apenas três foram diagnosticados com câncer de próstata.

Esse número, porém, quando comparado a outros métodos, como o PSA, foi considerado baixo.

"O toque retal deu resultado negativo em 99% dos casos, e mesmo aqueles considerados suspeitos tiveram uma baixa taxa de detecção. Os resultados que vimos do estudo mostram que o teste de PSA aos 45 anos detectou quatro vezes mais cânceres de próstata", relatou a autora.

Outra forma mais efetiva que o toque retal para detectar a doença de forma precoce é a ressonância magnética.

"A análise separada, que usou exames de ressonância magnética antes das biópsias para localizar cânceres na próstata, mostrou que cerca de 80% deles estão em uma área que deveria ser fácil de alcançar com um dedo, e ainda assim os cânceres não foram detectados pelo exame de toque", explica Krilaviciute.

Uma das possíveis explicações para essa situação é que as mudanças no tecido da próstata, especialmente em homens mais jovens, podem ser tão pequenas que impossibilitam a percepção com o dedo. Além disso, alguns tipos de câncer também ocorrem em áreas de difícil alcance para o dedo.

Vale lembrar que o urologista faz o toque retal para buscar algum inchaço incomum ou caroço no reto que possa indicar um sinal da doença.

"O câncer em estágio inicial pode não ter tamanho e rigidez para ser palpável", alertou Peter Albers, autor sênior do estudo e urologista da Universidade de Düsseldorf. Para que se aumentem as chances de encontrar a doença, os pesquisadores recomendam que os programas governamentais integrem o PSA e o exame de ressonância magnética na triagem de câncer de próstata.

Segundo o urologista, substituir o toque retal também pode fazer com que mais homens compareçam às consultas e estejam dispostos a rastrear a doença, já que são métodos menos invasivos.

"Na Alemanha, por exemplo, a taxa de participação é inferior a 20% no programa de triagem para homens de 45 a 50 anos. Se em vez disso fossem oferecidos testes de PSA, mais deles poderiam estar dispostos a vir", exemplifica Albers.

A recomendação médica geral é que homens acima de 50 anos façam periodicamente consultas para o rastreamento de câncer de próstata.

No caso de negros, obesos mórbidos ou com histórico familiar (parentes de primeiro grau) desse tipo de tumor, os exames devem começar aos 45 anos.

R7