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Conhecido por inúmeros benefícios, o mel é um ingrediente que se faz presente em muitos lares brasileiros. Entretanto, onde há crianças, o produto pode não apenas se fazer essencial, como até salvar vidas. Isso porque o mel é um grande aliado nos acidentes em que os pequenos engolem pilhas e baterias, por exemplo, de brinquedos.

De acordo com um estudo de 2019, feito por pesquisadores do Hospital Infantil da Filadéfia e do Nationwide Children's Hospital, ambos nos Estados Unidos, o mel seria um importante protetor dos tecidos esofágicos e gastrointestinais quando houvesse tal tipo de ingestão.

"O mel age como um revestimento protetor, pela sua viscosidade, e retarda a geração de hidróxido", explica a farmacêutica bioquímica Eliane de Castro, do Ciatox do HCFMUSP (Centro de Informação e Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Entretanto, apesar de ajudar, o mel não substitui a retirada imediata da bateria alojada no esôfago.

"As pilhas e baterias são constituídas por solução eletrolítica (hidróxido de sódio ou de potássio) e metais pesados (mercúrio, prata, zinco, cádmio, lítio etc.). Quando engolidas ou aspiradas, podem causar impactação no esôfago, causando dificuldade para engolir, vômitos, falta de ar, febre e queimaduras graves, além do risco de necrose ou perfuração dos órgãos", afirma Eliane.

De acordo com o farmacêutico bioquímico Alaor Aparecido Almeida, do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica) do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"), as ocorrências são mais comuns com pilhas e baterias do tipo disco, entre crianças de 2 a 8 anos, mas também ocorrem com idosos.

Quando o incidente acontece com baterias com diâmetro de 6 mm a 12 mm, há maior recorrência de lesões leves a moderadas, que totalizam cerca de 8% dos casos. Já nos casos de baterias com diâmetro entre 15 mm e 25 mm, as lesões vão de moderadas a graves em cerca de 25% das ocorrências.

Constatada a ingestão ou aspiração de bateria ou pilha, pais ou adultos responsáveis devem cessar a alimentação da criança e buscar o atendimento médico.

Durante a espera até o atendimento, pode ser recomendada a ingestão do mel, administrado em 10 ml (duas colheres de chá) por via oral a cada dez minutos, até completar seis doses, entre o tempo decorrido da ingestão e a chegada ao hospital.

Entretanto, o mel só é recomendado para crianças a partir de 2 anos de idade. A orientação ocorre porque, até 1 ano de idade, há o risco de botulismo infantil, causado por esporos da bactéria Clostridium botulinum, eventualmente contidos no mel e muito agressivos para o lactente. "O desenvolvimento dos órgãos ainda incompletos torna esse grupo etário mais vulnerável ao botulismo infantil", afirma Eliane.

Os médicos advertem que a utilização do mel, no entanto, só deve ser feita se já houver o ingrediente em casa. Caso não haja, eles orientam a ida imediata ao hospital, sem parar para comprá-lo.

Almeida alega que o procedimento para a retirada da bateria é de caráter de urgência, antes de completar 6 horas de exposição, visto que estudos apontam para possível perfuração esofágica após esse tempo.

Eliane explica que, iniciado o atendimento médico, a bateria é localizada por meio de exame de raio-X. Detectada, a bateria é extraída, geralmente, por meio da realização de uma endoscopia.

Após a retirada, a criança deve ser mantida em observação pelos pais — para que possam relatar possíveis novos sintomas e buscar novo atendimento médico — e ter uma dieta leve.

Por fim, a recomendação para que não haja esse tipo de problema é evitar oferecer brinquedos com pilhas a crianças menores de 5 anos anos, e, se ofertados, que sejam aqueles em que as baterias não são facilmente removíveis; manter trancados os locais de armazenamento de controles remotos, relógios e supervisionar quando brincam com brinquedos eletrônicos; verificar se os compartimentos das baterias estão bem fechados e, se necessário, lacrá-los; e realizar o descarte adequado das pilhas e baterias, sempre fora do alcance da criança.

R7

Foto: Freepik