Um estudo conduzido por pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e publicado no último dia 12 na revista científica BMC Pregnancy and Childbirth mostra que o Brasil registrou um excesso de 40% das mortes maternas (gestantes e puérperas) em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, na comparação com o período entre 2015 e 2019.
Naquele ano, o país contabilizou 549 óbitos maternos por Covid-19, principalmente no primeiro trimestre. Comparadas aos pacientes em geral, as gestantes e puérperas com Covid-19 tiveram 337% mais probabilidade de serem hospitalizadas, sendo 73% maiores em UTI. Além disso, o risco de serem intubadas foi 64% mais elevado.
O artigo mostra que, além da própria infecção pelo coronavírus, causas indiretas podem ter contribuído para esse resultado.
"Mesmo com ajuste para o excesso esperado de mortalidade por Covid-19 em mulheres em idade reprodutiva, o número de óbitos maternos supera as expectativas, sugerindo que houve mortes entre gestantes e puérperas causadas indiretamente pela pandemia, comprometendo o acesso ao pré-natal, parto adequado e puerpério", escrevem os autores.
Para o pesquisador Raphael Guimarães, um dos autores do estudo, o cenário observado no primeiro ano de pandemia no país prejudica o Brasil nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas), até 2030.
“A rede de serviços parece ter sido mais protetiva às gestantes e puérperas, garantindo internações mais imediatas e direcionamento para a terapia intensiva e invasiva. Contudo, o atraso do início da vacinação entre as grávidas e puérperas pode ter sido decisivo na maior penalização dessas mulheres. Destacamos ainda que o excesso de óbitos teve a Covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao pré-natal e condições adequadas de realização do seu parto no país", complementa Guimarães em comunicado.
O estudo também aponta diferenças sociodemográficas. Mulheres negras, que residiam em zona rural ou estavam internadas fora do município de residência, tiveram risco maior de óbito, que variou entre 28% e 61%.
Por essa razão, Guimarães afirma que as estratégias de monitoramento e intervenção devem ser direcionadas a perfis e demandas específicas.
"O estudo mostrou que a morte materna é marcada pelas iniquidades sociais, que têm relação estreita com a oferta de serviços de qualidade", diz a Fiocruz em nota.
R7
Foto: divulgação