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José, para chegar numa Universidade, atropelou o sentido da existência, passou por cima de todas as vaidades, andou no matagal, pisou em canteiros de obras, caminhou por vielas e morou em favelas, laborou na construção de casas e apartamentos, viveu quase sem alimentos, passou fome, frio e um monte de tormentos. Foi conseguir o propósito do conhecimento, acendeu uma luz na escuridão da intelectualidade, a fim de ver o fim da prepotência, da arrogância e da maldade.

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O que ele tinha era uma mão machucada, os dedos que sangravam de tanto labor. A vida foi um desconsolo humano, chorou de dor e de fome. Passou tanta necessidade que, em alguns momentos, esquecia o seu nome, mas nunca deixou de cultivar o amor, o caráter e a dignidade.

As duas Universidades de José mostraram-lhe dois mundos, uma população que vive no universo real e outra que reside num mundo marginal, que não faz parte da mesma sociedade. A primeira preenche todos os requisitos vitais do corpo de um ser, a última suprime a existência material mediante a fome, o desemprego e a esperança de mudar esse mundo animal para um mundo normal.

Qualquer corpo pondera a parte do fardo que precisa carregar, muitas vezes não almoça e nem janta, nada possui para alimentar-se, traz consigo apenas a esperança e o desejo de mudar.

José, como qualquer outro ser, entendeu que ninguém evolui se não estudar, que a única forma de crescer internamente é através do conhecimento. Mas, esse também é muito incômodo, porque ensina a pensar, é áspero e muitas vezes incomoda aqueles que sofrem de alienação. Quanto mais estudamos, mais nos decepcionamos com os nossos semelhantes, por isso sofremos de uma dor maior. Mas, cada aprendizado nos mostra o significado para cada ferida, que machuca o corpo, mas serve de lição para a vida.

Após percorrer essa longa estrada, em busca da educação, José descobriu que somente o conhecimento causa impacto em todas as áreas da vida humana, menos nos Poderes Executivo e Legislativo, pois esses poderes não precisam da educação, visto que no Brasil não se exige quase nada para um cidadão ser legislador ou gestor do Poder Executivo, nem mesmo conduta ilibada, imagine conhecimento convencional ou empírico.

A educação de boa qualidade é o fenômeno mais importante da vida de um cidadão, é ela que combate a pobreza, que faz a economia crescer, que promove a saúde, que diminui a violência, que garante o acesso a outros direitos, que ajuda a proteger o meio ambiente, que aumenta a felicidade de quem estuda com afinco e vontade, que fortalece a democracia e a cidadania, que ajuda a compreender o mundo e as pessoas e, por outro lado, uma educação de verdade contribui no senso comum e crítico de cada indivíduo, criando cidadãos éticos, dignos de caráter e de princípios morais. Mas, infelizmente, estes últimos adjetivos são totalmente desconhecidos no mundo político e institucional do povo brasileiro.

Narrativa Alan Carlos, da Rádio Alvorada FM

Da redação